segunda-feira, 20 de outubro de 2008

UMA VISITA AO MUSEU DE ARQUEOLOGIA DE MONTE ALTO-SP

Macaco-prego nas cercanias de Monte Alto-SP






Professor Eduardo Melander Filho


Realizamos, entre os dias 10 e 14 de setembro último, uma viagem à cidade de Monte Alto-SP, situada na região conhecida como noroeste paulista, próxima a Jaboticabal, Barretos e Ribeirão Preto, distante 370 km da capital do Estado.
Durante nossa estadia naquela cidade, trabalhamos por mais de 12 horas diárias no Museu de Arqueologia Municipal, juntamente com a Arqueóloga e Curadora do Museu Profa. Dra. Márcia Angelina Alves e técnicos especializados, organizando uma nova exposição de peças arqueológicas, na restauração de uma urna funerária e na higienização (limpeza), tombamento (numeração individual) e classificação de fragmentos de cerâmicas, líticos (instrumentos de pedra) e materiais faunísticos (ossos de animais) integrantes do acervo coletado durante as escavações arqueológicas do Sítio Água Limpa, em 2006.
O Museu de Arqueologia está localizado no Centro Cultural da cidade, que além dele possui também um Museu Histórico e um Museu de Paleontologia, pois a região é rica em restos de animais pré-históricos, sendo encontrados centenas de ossos fossilizados de dinossauros de diversas espécies e de animais mais recentes, do pleistoceno (idade do gelo), como o Megatério (preguiça gigante).
O acervo arqueológico em exposição no Museu, refere-se a uma cultura pré-colonial dos povos que viveram naquela região há mais ou menos 2.000 atrás e que desenvolveram uma cultura cerâmica chamada de Aratú-Sapucaí, encontrada também nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Encontram-se em exibição nas vitrines: instrumentos de pedra; cerâmicas várias; ossos de animais que serviram de alimentação como quatis, preás, cotias, peixes, macaco prego (que ainda é comum nas cercanias da cidade) e outros; urnas funerárias com ossos humanos dos enterramentos e até um sepultamento completo, com um esqueleto em sua posição original.
A cultura cerâmica Aratú-Sapucaí é caracterizada por uma série de artefatos que são encontrados nas escavações, chamados de “artefatos guia”. A cerâmica representada nos “vasos piriformes” (em forma de pêra) empregados em enterramentos primários ou armazenamento de sementes possui pouquíssima decoração e ausência de pintura. Encontram-se fusos de fiar e cuscuzeiros (cerâmica com perfurações), indicando que esses povos eram produtores de tecidos (de algodão americano?) e milho. Presença de vasos germinados, sepultamentos primários em posição fetal e tembetás horizontais e circulares (decoração para perfurações labiais), são outras características típicas dessa cultura.
Apesar disso, os doze sepultamentos encontrados nas escavações do Sítio Água Limpa estavam não em urnas, mas em posição horizontal e diretamente na terra, evidenciando que ainda temos muito que estudar e pesquisar sobre os povos pré-históricos do Brasil.


FONTES:

MELANDER FILHO, Eduardo. Uma Visita ao Museu de Arqueologia de Monte Alto-SP. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 17 out 2008 a 30 out 2008. História, p. 2.

MELANDER FILHO, Eduardo. Uma Visita ao Museu de Arqueologia de Monte Alto-SP. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 17 out 2008 a 30 out 2008. P. 2. Disponível em: <
http://www.gazetadeinterlagos.com.br/colunadoleitor.html#2>. Acesso em: 20 out 2008.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A ARQUEOLOGIA ESCREVENDO A HISTÓRIA DOS ÍNDIOS

Índias Guaranis de Santa Catarina


Prof. Lic. Eduardo Melander Filho


A Arqueologia pré-histórica brasileira não apenas pode escrever a História dos indígenas como possivelmente já esteja escrevendo, na medida em que não existem fontes escritas, principalmente das épocas antes do descobrimento do Brasil.
O arqueólogo Eduardo Góes Neves faz algumas colocações importantes nesse sentido. A principal delas é a do mito do indígena estático (imóvel perante a História), como se não tivesse passado, eternamente no Mesolítico (entre a idade da pedra lascada e polida), digno de proteção a fim de preservar sua cultura contra a contaminação cultural do homem branco. Como se os indígenas estivessem numa eterna “estática histórica” e como também a História admitisse essa estranha categoria de “estática”. História é movimento e os povos indígenas têm sim sua História. Mas é preciso atentar: que tipo de Arqueologia pode ajudar a escrever a História desses povos? Somente uma Arqueologia baseada na cultura material (artefatos e coisas produzidas pelo homem), que se proponha ao diacronismo (dinâmica histórica), que pretenda a reconstrução da totalidade social, do modo de vida, do modo de produção. Que seja histórica, enfim.
Eduardo Neves propõe uma Arqueologia com base nos restos materiais. Explicita, contudo, que a Arqueologia é interdisciplinar e que, portanto, o arqueólogo deve ter conhecimentos amplos que transitem desde a Antropologia a algum conhecimento de Biologia. As evidências contidas nos sítios arqueológicos constituem de fato a matéria prima, verdadeiros documentos materiais, que devidamente manuseados e contextualizados, reconstroem a História.
Neves também admite a utilização de outros documentos, como os escritos pelos colonos europeus no primeiro momento do contato (descobrimento do Brasil) e também as tradições orais da população branca e dos próprios indígenas, mas impõe limites na sua utilização.
É fato que o contato produziu mortes por violência direta ou por doenças, mas também causou uma profunda mudança nos padrões culturais dos povos aborígines e tudo isso deve ser levado em consideração.
Há já um critério estabelecido no estudo das populações de antes do contato.
Os paleoíndios que vêem desde a ocupação primária da América – primeira ocupação – até o início do Holoceno (final do Pleistoceno ou há 10.000 atrás). Depois, o período Arcaico, que corresponde ao Holoceno propriamente dito, e, por último, o período Formativo, quando a agricultura já ocupa um lugar importante.
Vestígios de plantas domesticadas (várias no Amazonas que hoje são consideradas selvagens), sambaquis, líticos (instrumentos feitos de pedra), cerâmicas e outros vestígios materiais, constituem um rico depósito cultural e histórico, alguns já descobertos e outros a serem, a espera de sua decifração, como a imagem enigmática da esfinge.


FONTES:

MELANDER FILHO, Eduardo. A Arqueologia Escrevendo a História dos Índios. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 03 out 2008 a 16 out 2008. História, p. 2.

MELANDER FILHO, Eduardo. A Arqueologia Escrevendo a História dos Índios. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 03 out 2008 a 16 out 2008. P. 2. Disponível em: <
http://www.gazetadeinterlagos.com.br/colunadoleitor.html#2>. Acesso em: 06 out 2008.