tag:blogger.com,1999:blog-57332405292602064672024-03-25T11:05:48.261-03:00Eduardo Melander FilhoHONESTE VIVERE ET PIE MORIedmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.comBlogger75125tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-38245990516508081102013-01-14T11:07:00.001-02:002013-01-14T11:07:17.471-02:00UM OLHAR SOBRE ANGOLA: Contexto histórico pós guerra civil<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-xOap62kd2IY/UPQCky6sdbI/AAAAAAAACZI/clmc-aujLBM/s1600/Crian%C3%A7as-soldado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-xOap62kd2IY/UPQCky6sdbI/AAAAAAAACZI/clmc-aujLBM/s1600/Crian%C3%A7as-soldado.jpg" height="320" width="208" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: xx-small;">Crianças soldado africanas</span></div>
<style>
st1\:*{behavior:url(#ieooui) }
</style>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 150%;"><br /></span></b><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: x-small;"><b>Professor Eduardo Melander Filho </b>(1)</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 27pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><b>INDICADORES GERAIS</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Angola é uma ex-colônia portuguesa situada na porção sul-ocidental da
África, que mantém limites territoriais com<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>a Namíbia, Zâmbia, Congo (ex Zaire), República Popular do Congo
(Brazzaville) e o Oceano Atlântico.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Organiza-se
administrativamente em 18 províncias, 163 municípios e 475 comunas, que são
equivalentes aos nossos distritos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Tem
como língua oficial o português, que é falado por 70% da população, mas existem
mais ou menos outros 100 grupos etnolinguísticos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As principais línguas nacionais são: o
umbundu; o kimbundu; o kikongo; o fiote; o tchokwe; o n’ganguela; o nyaneka e o
kwanyama.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sua população é de 13.900.000
habitantes, segundo estimativas da ONU de 2002, cuja grande maioria é ligada a
grupos de origem lingüística bantú, destacando-se dentre eles: os ovimbungos
falantes do umbundu, que são de 36% a 37% da população total; os kimbungos, que
são de 20% a 25% e os bankongos falantes do kikongo, que são de 13% a 15% da
população, segundo diferentes fontes. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Indicadores
econômicos otimistas apontam uma taxa de crescimento demográfico de 2,8%, com
esperança de vida à nascença de 45 anos para os homens e 48 anos para as
mulheres.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mesmos indicadores acusam uma
população economicamente ativa de 53% e a taxa de mortalidade infantil de
20,2/1000.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No entanto, indicadores
demográficos oficiais , segundo as estimativas de 2002, inferem uma taxa de mortalidade
infantil de 191/1000 e expectativa de vida de 37,62 anos para os homens e 40,18
anos para as mulheres.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estimativas de
1998 indicam que 42% da população acima de 15 anos é alfabetizada, de acordo
com as mesmas fontes oficiais.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Luanda, capital do país, que ficou conhecida na segunda metade do século
XIX como a “Paris da África”, é uma cidade cercada por grandes bairros
populares, os “musseques”, que se desenvolveram em torno da <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>cidade projetada inicialmente para 600.000
habitantes.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os bairros, que por volta de
1962 eram habitados por trabalhadores oriundos do interior do país, tiveram a
partir do início da guerra civil em 1975 um crescimento desordenado, causado
pela fuga da população interiorana em direção à cidade onde havia mais
segurança, se agrupando nesses espaços segundo sua origem e cultura.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como resultado do aumento populacional
decorrente da guerra, Luanda possuí hoje por volta 4.500.000 de habitantes.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><b>A HISTÓRIA</b></span> </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A história de Angola é rica e muito antiga.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Foram encontrados instrumentos feitos de
pedra há milhares de anos, assim como as pinturas rupestres do deserto do
Namibe, atribuídos segundo alguns aos antepassados dos Khoisan.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O território que hoje constitui o país era
habitado pelos bosquímanos e mukuankalas até 5.000 anos atrás.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A partir desta data outros povos começaram a ocupar a região, em migrações
que ocorreram por transformações climáticas causadas pelos movimentos glaciais
que aconteceram entre os VIII e III milênios aC, cuja maior conseqüência para o
continente foi o surgimento do deserto do Saara.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Foi nesse contexto que surgiu o movimento
migratório dos povos bantús da África central em direção ao leste e ao sul, que
se intensificou nos últimos séculos.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Eram povos que já dominavam a tecnologia de fabricação do ferro, assim
como eram possuidores de técnicas agrícolas avançadas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A expansão dos bantús em Angola se deu em várias levas de ocupação,
disputando os territórios com os povos já instalados e também entre os grupos
desse mesmo tronco lingüístico.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Historicamente, temos o registro de várias delas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No século XIII dC., os kikongos ocuparam o nordeste.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No século XVI dC, os nyanekas migraram do sul
em direção à Huíla e em 1568 os jagas penetraram pelo norte em combate aos
kikongos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No século XVII dC, os nyangelas
dos Grandes Lagos se dirigiram ao Cuneme.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>No século XVIII dC. os ovambos do baixo Cubango se transferiram ao Alto
Cubango e Cuneme e os kyokos da Katanga ao sul de Angola.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No século XIX dC. houve a imigração dos
cuangares ou ovakwangali do Orange em 1840, conseqüência das lutas com os boers
que estavam fundando uma república “branca” naquela região.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Os europeus começaram a penetrar a partir de 1484, ano em que Diogo Cão chegou à foz do
Rio Zaire, mantendo contato com o Reino do Congo, um dos muitos reinos bantús
da região.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Dois deles, o Reino de Ndongo
e Reino de Matamba, se fundiram em 1559 e formaram o Reino de Angola.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Os portugueses fizeram uma série de ocupações no litoral angolano durante
o século XVI dC, fundando inclusive a cidade de São Paulo de Assumpção de
Luanda no ano de 1576, que serviu como a principal base de fornecimento de
escravos ao Brasil até o século XIX dC, integrando-se no sistema econômico
chamado por Fernando Novaes de comércio triangular Portugal-Brasil-África (2).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Os Países Baixos ocuparam algumas cidades costeiras, dentre elas Luanda,
entre os anos de 1641 e 1648, período em que Portugal lutava
pela independência contra a Espanha e mantinha com os batavos uma trégua de 10
anos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Com o tráfico de escravos
interrompido, comerciantes do Rio de Janeiro financiaram por conta própria uma
expedição para expulsar os invasores composta por 12 navios e 1200 homens de
armas, incluindo guerreiros flecheiros tupi.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Seu comandante, Salvador Correia da Sá, era governador do Rio de Janeiro
e membro da família de Men e Estácio de Sá.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Foi o primeiro de uma série de governadores<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de Angola procedentes do Brasil colônia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Somente na segunda metade do século XVIII dC.
é que o Marquês de Pombal reinstaurou o vínculo dos novos governadores
diretamente com Lisboa.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Os laços econômico-culturais estabelecidos entre o Brasil e Angola
permaneceram fortes até o final da primeira metade do século XIX dC. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Com a independência do Brasil em 1822, houve
muitas propostas no sentido de Angola permanecer “brasileira” como província,
desvinculada das Cortes de Lisboa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A
proposição só não foi levada a cabo em função do Tratado anglo-brasileiro de
1826, que previa o fim do tráfico negreiro a partir de 1830, embora continuasse
sendo feito clandestinamente até 1850, quando de fato foi extinto.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A partir desta data, os vínculos entre os
dois povos se arrefeceram.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
O Congresso de Berlim de 1869 impulsionou a expansão européia para o
interior da África.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Portugal, que até
aquele momento havia se preocupado apenas com o litoral, foi forçado a
acompanhar o resto das nações.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Importante ressaltar que muitos dos povos do interior de Angola jamais
foram conquistados pelos portugueses.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A necessidade nova de se explorar economicamente a “província de
ultramar” se iniciou em 1910 com a mineração de diamantes.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A agricultura se desenvolveu a partir de 1930
em grandes plantações de café, sisal, cana de açúcar e milho.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Durante e depois da II guerra mundial houve
um aumento do número de imigrantes portugueses. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A guerra colonial que se desenrolou a partir de 1961 devastou o
país.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A Revolução dos Cravos em Portugal
de 1974 abriu as possibilidades para a assinatura em janeiro de 1975 dos
Acordos de Alvor, que estabeleceu um governo de transição com os três principais
movimentos de libertação e os portugueses até a independência, com a data
marcada de 11/11/1975.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não se evitou,
contudo, a guerra civil aberta entre os grupos guerrilheiros pelo controle da
capital Luanda, muito antes da retirada definitiva do exército português.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><b>A GUERRA CÍVIL</b> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A guerra civil em Angola teve como protagonistas os três maiores grupos
políticos armados: o MPLA; a UNITA e a FNLA.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
O MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola – foi apoiado pela
extinta URSS e por Cuba, sendo que este último interviu diretamente no
conflito.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Manteve o controle de Luanda,
Lobito e Benguela.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Apoiava-se no grupo
étnico kimbundo, que foi o que mais assimilou a influência européia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Muitos deles hoje falam apenas o português,
não sabendo mais a sua língua materna.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Apesar disso, o MPLA não assumiu uma prática tribal ou racista.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
As figuras de maior destaque dessa agremiação foram: Agostinho Neto,
médico pela Universidade de Lisboa, que foi Presidente de Angola de 1975 a 1979 e José Eduardo
dos Santos, engenheiro de petróleo que sucedeu a Agostinho Neto após seu falecimento,
sendo ainda o atual Presidente.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola – teve
respaldo da África do Sul e dos EUA, que através da CIA apoiaram este movimento
até 1993.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Identificava-se com os Ovimbundos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Manteve a guerra ao governo do MPLA até 2002.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A figura emblemática desse grupo armado foi Jonas Savimbi.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A paz só foi possível de se estabelecer após
sua morte em uma emboscada, por mercenários e membros das FAA - Forças Armadas
de Angola.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola – obteve apoio do Zaire,
China, África do Sul, EUA através da CIA e de mercenários portugueses e
ingleses.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Associado aos bankongos, era
um grupo regionalista e racista.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Realizou ataques a fazendas de café no norte do país em 1961, massacrando
os fazendeiros brancos e seus empregados negros de outras etnias.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Movimentos similares como a UPNA e a UPA
foram absorvidos pela FNLA.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
O maior destaque deste grupo foi Holdem Roberto, que era cunhado de
Mobuto do Zaire.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nos anos 1980 refugiou-se
em Paris. Curiosamente foi condecorado como Herói Nacional da Libertação em
2005, quando retornou de seu exílio.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Diferentes concepções de construção da nacionalidade se alinharam junto
aos diferentes grupos em conflito, assim como os diferentes agrupamentos
etnolinguísticos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Negros, mestiços e
brancos também se dividiram nessa luta que assumiu conotações também
raciais.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ao mesmo tempo foi uma luta
política em que os diversos movimentos se identificaram com as grandes
potências em conflito na guerra fria, adotando suas concepções econômicas e
ideológicas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A guerra aberta se iniciou quando em 14/10/1975 a Coluna Zulu da África
do Sul invadiu o território angolano e se dirigiu em direção a Luanda com o
objetivo de controlá-la.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quase que ao
mesmo tempo, A FNLA e soldados regulares do Congo de Mobuto avançaram do norte
em direção também a capital.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Com a
chegada dos Cubanos a pedido de Agostinho Neto, imediatamente se dirigiram à
frente de combate, derrotando os sul africanos em Quifangondo em 10/11/1975, um
dia antes da independência.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A FNLA e os
soldados do Congo foram também barrados a poucos quilômetros de Luanda.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em 11/11/1975 o MPLA declarou a
independência, sendo reconhecido como governo legítimo pela ONU e a maioria dos
países.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A UNITA e a FNLA também fizeram
suas declarações de independência em outras cidades.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A tentativa de golpe de estado de Mito Alves em 1977, que surgiu dentro
das fileiras do próprio MPLA, se transformou numa verdadeira carnificina.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No final do mesmo ano foi realizado o I Congresso
do MPLA, onde a organização se definiu pelo “Marxismo-Leninismo”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
A África do Sul invadiu novamente o país em 1981, dirigindo-se ao Cuneme
para ajudar a UNITA, sob o pretexto de desalojar membros da SWAPO, movimento de
libertação da Namíbia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Após a derrota
definitiva dos sul africanos em Cuanavale em 1988 (3), foi assinado um acordo
entre Angola, Cuba e África do Sul, onde se decidiu pela independência da
Namíbia e a retirada dos cubanos, que deixaram no país notável influência
cultural, perceptível na música até os dias de hoje.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Depois da queda do muro de Berlim em 1989, surgiram mudanças na
política.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os Acordos de Bicesse
estabelecendo o fim da guerra civil e eleições foram assinados em 1991 pelos
beligerantes, Portugal, EUA, URSS e ONU.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>O próprio MPLA abandonou em 1992 o Marxismo-Leninismo, adotando a
economia de mercado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No entanto, a UNITA
não reconheceu os resultados das eleições de 1992, que deu vitória a José
Eduardo dos Santos, reiniciando o conflito.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Nova oportunidade de entendimento surgiu com os Protocolos de Paz de Luzaka,
em 1994.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A UNITA, porém, aproveitou o
período de trégua para adquirir armamentos nos anos de 1996 e 1997, rompendo o acordo
firmado entre as facções.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Novamente a guerra
aberta recomeçou em 1998 com toda a sua violência.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Finalmente a paz é assinada em 04/04/2002, depois da morte de Jonas Savimbi
em uma emboscada ocorrida duas semanas antes. Somente assim a paz foi possível.
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><b>PROBLEMAS ATUAIS </b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os acordos conhecidos como<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“A Paz de Luena” se basearam na premissa de
que a “paz negativa é preferível à ausência de paz”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A lógica militar que prevaleceu durante a
guerra trouxe dificuldades na implantação de um autêntico processo
democrático.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Assim, membros das facções
inimigas ao governo do MPLA passaram a integrar o governo. Foi também oferecida
ajuda aos ex-combatentes inimigos através das “DDR” – Desmobilização,
Desarmamento e Reintegração. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
O regresso dos combatentes desmobilizados às suas antigas localidades nem
sempre se deu de maneira tranqüila, fazendo com que aumentasse as
possibilidades de conflitos nesses locais.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Grupos de defesa civil, mobilizados durante a guerra para a defesa da
capital não receberam esses benefícios, pois não foram considerados combatentes
como os da UNITA.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A anistia geral concedida
no final do conflito, apenas agravou o grande sentimento de injustiça sentido pelos
milhares de vítimas dos massacres que ocorreram.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Paradoxalmente, as “crianças soldado” não receberam nenhum tipo de ajuda,
pois não foram consideradas combatentes, pela idade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O recrutamento de crianças, prática comum em
todo o mundo, ainda hoje é utilizado porque acreditam que as crianças são mais
obedientes, fáceis de controlar, possuem mais energia e não têm medo de perder a
vida.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Grande parte delas foi raptada nas
ruas e vilas, muitas vezes arrancadas de seus pais que tiveram de ceder diante
das ameaças.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Embora em Angola elas não
tenham entrado nos programas de reintegração, algumas foram adotadas
temporariamente, quando confinadas em “campos”.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Fora deles, as crianças se perderam no “sistema”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Grande parte das crianças de rua o é em
conseqüência direta ou indireta da guerra, que separou famílias e localidades
inteiras. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
As estatísticas da guerra também não são nada alentadoras: de 500.000 a 1.000.000 de
pessoas mortas (150.000 pelas minas); 4.000.000 de armas não recolhidas;
10.000.000 de minas explosivas terrestres (estimativas da ONU de 2006) e
centenas de milhares de vítimas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Angola
possui a maior taxa per capita de amputações do mundo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Antigas contradições ainda não foram superadas completamente. O “Paradoxo
Angolano”, segundo o qual o estabelecimento do partido único e do socialismo
como meta se oporia a exploração do petróleo por empresas norte americanas, foi
superado parcialmente, segundo alguns, com a adoção do pluripartidarismo e da
economia de mercado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A persistência de
uma economia baseada na indústria extrativista em detrimento de uma política
desenvolvimentista é outro dos problemas crônicos, assim como o desemprego
atual em oposição à mobilização de trabalhadores nas plantações pelos
colonialistas portugueses. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Muitos são os desafios.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A opção
por um projeto de nação pluriracial e multiétnica e pela adoção do conceito de
“nacionalismo territorial”, foi no sentido de combater o regionalismo e o racismo,
considerados ameaças à unidade nacional.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Porém, não é de tarefa fácil conciliar coisas aparentemente opostas:
unidade nacional com diversidade étnica; sociedade tradicional com sociedade
ocidental moderna; descendência pela linha uterina, poligamia, circuncisão e
excisão clitoriana por amputação (que é proibida) da cultura bantú com
descendência pela linha paterna, monogamia e outras características da cultura
judaico-cristã ocidental; a formação da solidariedade socialista em torno do
conceito de “Homem Novo” com a política de inclusão social do conceito de
“cidadania” ligado à globalização; dentre outras.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
Angola é hoje um país onde se vê veículos sofisticados circulando pelas
ruas e muitas residências luxuosas, pelo menos em seu interior.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os filhos de algumas famílias estudam na
Europa ou África do Sul.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Há mesmo uma
elite emergente que detém um grande poderio econômico.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ao mesmo tempo a imensa maioria da população
vive na miséria, desempregada, sem educação, sem acesso à saúde, recebendo salários
irrisórios.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os serviços públicos
oferecidos nas áreas da educação, saneamento e saúde, são de baixa
qualidade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os benefícios gerados pela
exportação do petróleo não chegam a todos. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 27pt;">
É um país onde os conflitos étnicos, raciais, políticos e sociais ainda
existem em sua potencialidade.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b><span style="line-height: 150%;">NOTAS DE RODAPÉ</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 36pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: x-small;">1-<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-family: "Times New Roman"; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span>Este texto foi escrito no ano de 2007 e seria um dos
capítulos de um livro sobre a intervenção de um grupo da Foccus – Núcleo de
Psicologia Aplicada em Angola que o Professor Mestre Othon Vieira Neto e a
Professora Doutora Cláudia Sodré Vieira pretendiam organizar. Este autor
pertencia a este grupo de intervenção, cujo projeto era o de trabalhar na
reintegração social de crianças de rua em Luanda, parte delas ex combatentes
dos diversos grupos armados que intervieram na guerra civil angolana, nos
centros recém construídos pelo governo de abrigo e ensino formal e
profissional. O projeto, que não saiu do papel por falta de liberação de verba
por parte do governo de Angola, envolvia atendimento direto das crianças nas
ruas e nestes centros, além de utilizar professores brasileiros para a formação
de profissionais qualificados, na recuperação de técnicas que se perderam
durante a guerra civil. Posteriormente se apresentaram novos projetos de
reintegração social de ex combatentes adultos nas cidades de Lobito, Benguela e
Huambo, ainda no aguardo de aprovação. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 36pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: x-small;">2-<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-family: "Times New Roman"; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span>O Professor Livre Docente Fernando Antônio Novaes foi
catedrático da Universidade de São Paulo e da Unicamp. É dele a tese do
“comércio triangular entre Portugal, Brasil e África”, segundo o qual havia
toda uma circulação comercial onde escravos eram adquiridos na África em troca
de escambo e trocados no Brasil por açúcar que era encaminhado à metrópole e,
em seguida, para a Holanda onde era beneficiado e distribuído no resto da
Europa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 36pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: x-small;">3-<span style="-moz-font-feature-settings: normal; -moz-font-language-override: normal; font-family: "Times New Roman"; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;">
</span>Os cubanos e o MPLA que enfrentaram e venceram os sul
africanos e a UNITA em Cuanavale foram comandados pelo General <span class="st"><span style="color: #222222;">Arnaldo </span></span><i><span style="color: #222222; font-weight: normal;">Ochoa</span></i><span class="st"><span style="color: #222222;"> Sanchez, que após a vitória, segundo consta, recusou a
orientação de Fidel Castro de continuar a ofensiva em direção a Johanesburgo e
Pretória a fim de tomar aquelas cidades, o que causaria a queda do regime sul
africano. Essa “recusa” por uma solução militar, optando por uma solução
negociada e a conseqüente retirada das tropas cubanas de Angola teria causado a
“desgraça” do general Ochoa que foi condenado à morte por tráfico de drogas e
executado por fuzilamento em 1989. </span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-large;"><b>BIBLIOGRAFIA</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">ABRANCHES, Henrique. Kissoko de guerra. Porto: Edições Asa,
1989.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">ATLAS Histórico Mundial. Madrid: Istmo, 1975, 2v.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">CARVALHO FILHO,
Sílvio de Almeida. Angola: nação e literatura, 1975-1985. São Paulo, 1994.
767p. Tese (Doutorado em
História Econômica) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">CGA-RJ/BR –
Consulado Geral de Angola no Rio de Janeiro – Brasil. Desenvolvido pelo
Ministério do Exterior da República de Angola. Apresenta os serviços oferecidos
e o panorama geral do país. Disponível em: <a href="http://www.consuladodeangola.org/">http://www.consuladodeangola.org/</a>.
Acesso em: 01 set 2007. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">CONCEIÇÃO , José Maria Nunes Pereira. Estudos
africanos no Brasil e as relações com a África: um estudo de caso o ceaa,
1973-1986. São Paulo, 1991. 159p. Dissertação (Mestrado em Sociologia) –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">____________________.
Angola: uma política externa em contexto de crise (1975-1994). São Paulo, 1999.
183p. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">CUTRUFELLI,
Maria Rosa. Mama África: Stori di donne e di utopie. Milano: Giangiacomo
Feltrinelli Editore, 1993.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">JIKA. Reflexões
sobre a Luta de Libertação Nacional. Lisboa: Edições 70, 1979.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">LIBERATTI , Marco Antônio. A guerra civil em Angola:
dimensões históricas e contemporâneas. São Paulo, 1999. 145p. Dissertação
(Mestrado em
Ciências Políticas) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">MANTOLVANI,
Rosangela Manhas. Guerrilheiros, heróis, angolanos: as personagens de
Pepetela. Assis, 2005. 263p. Dissertação
(Mestrado em Letras) – Faculdade de Ciências e Letras de Assis da Universidade
Estadual Paulista.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">MENEZES,
Solival. Mamma Angola: sociedade e economia de um país nascente. São Paulo: Editora
USP, 2000.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">MILHEIROS,
Mário. A família tribal. Luanda: Imp. Nacional de Angola, 1960.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">_________________.
Etnografia angolana. Luanda: Inst. de Invest. Científica de Angola, 1967.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">SANTOS, Antônia
de Lourdes dos. Angolanos em
São Paulo: socialização, rede familiar e suas histórias de
vida e de luta. São Paulo, 2005. 107p. Dissertação (Mestrado em Sociologia) -
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">SERRANO, Carlos
Moreira Henriques. Angola: nasce uma
nação – um estudo sobre a construção da identidade nacional. São Paulo, 1988. 352p.
Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.</span></div>
edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-54585918410646190482012-01-14T10:24:00.006-02:002012-01-14T11:25:25.163-02:00A Era Vargas<a href="http://2.bp.blogspot.com/-GxrP8XDCgJ8/TxGCK5oD_fI/AAAAAAAACR4/Xs77F-YRvG8/s1600/getuliovargas.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; width: 400px; height: 384px; text-align: center; display: block; cursor: pointer;" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5697478127379545586" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/-GxrP8XDCgJ8/TxGCK5oD_fI/AAAAAAAACR4/Xs77F-YRvG8/s400/getuliovargas.jpg" /></a><br /><div><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Professor Eduardo Melander Filho<br /></span><br />APRESENTAÇÃO<br /><br />Procuramos trabalhar na temática “Era Vargas” porque lá estão as principais questões do Brasil contemporâneo, cujas respostas elucidariam até às do presente.<br /><br />Neste escrito, selecionamos alguns textos de diversos historiadores que discutem aspectos gerais do período: desde os antecedentes da Revolução de 1930 até o final do Estado Novo em 1945. São interpretações consagradas dentro da historiografia.<br /><br />O professor Boris Fausto, de quem fomos aluno entre 1976 e 1978, já na época era bem conhecido por suas posições conservadoras, embora reconhecido como um intelectual de esquerda. Ele nega a luta de classes no período em questão, na justificativa de que ela só poderia existir como agente histórico se houvesse alguma manifestação organizada. Ora, a “condição” histórica não pode estar submetida à “realização” histórica, até porque essa realização, caso se efetivasse, seria a própria revolução proletária. Aliás, segundo ele, nenhuma classe social estava organizada. Em suma, ele trabalha na idéia da “organização de classe” como passível de ser locomotora ou não da história e não da “luta de classes” em si como locomotora potencial ou efetiva.<br /><br />Zélia Lopes da Silva contradiz esse pensamento: “Para Zélia, a bibliografia que vê a gestão da Nação como uma imposição do Estado à burguesia e aos trabalhadores, parte do entendimento de que a burguesia, tal qual o operariado, é pensada como frágil e desorganizada, incapaz de formular um projeto político, donde a gestão do Estado só pode ter ocorrido à revelia”.<br /><br />Os textos, no conjunto, tratam de algumas questões que consideramos fundamentais em termos de discussão, mesmo que estejam respondidas mais ou menos por acontecimentos e articulações recentes, em termos históricos.<br /><br />O primeiro desses temas tratados é a questão da nação sujeito ou objeto. Para nós é uma discussão, que embora distinta, não responde à questão básica que procuramos em termos de conceito histórico: o da luta de classes como locomotora da história e das transformações sociais. Portanto, a idéia de que o Estado ou a Nação possam ter uma identidade quase que “humana” e que, ao contrário de uma classe social, tenham dinâmicas próprias, independentes e determinantes no processo histórico como um todo, para nós é uma conclusão muitíssimo questionável.<br /><br />O segundo tema recidivamente tratado é o do liberalismo versus autoritarismo político. É um tema recorrente que se baseia em afirmações de que o comunismo e o fascismo são “farinha do mesmo saco”, ou seja, regimes autoritários. Tirando Hannah Arendt, que tem uma interpretação própria do autoritarismo e que é dirigida ao fascismo, outras, em geral, partem de uma noção ideológica da realidade, segundo a qual os conflitos se dão ao nível político e não econômico. Nessa visão, que nega a luta de classes, a redução “democracia x autoritarismo” vem em oposição ao “capitalismo x socialismo”. São linguagens distintas.<br /><br />O terceiro tema, que não iremos aprofundar, embora não esteja sequer no início da superação discursiva, é o tema do racismo enquanto ideologia arraigada em termos nacionais. No entanto, os autores dos textos apontam, de maneira bem clara, as relações entre o fascismo e o racismo. Juntamente a esse tema, as questões da inspiração do regime brasileiro no fascismo italiano, assim como a do papel da Igreja Católica no apoio ao Varguismo, sob influência da Concordata do Vaticano com o regime fascista de Mussolini em 1929, que preservou propriedades religiosas e a representação territorial em troca da não participação política de católicos e a desarticulação de partidos políticos e movimentos sociais ligados à Igreja, ficaram também evidentes.<br /><br />Há um quarto tema muito abordado pelos autores, que é o conceito de nação (povo).<br /><br />Enfim, nosso trabalho possui três partes: esta Apresentação; os Textos Referência e os Comentários Finais.<br /><br />Obviamente, independente do tema, este é um trabalho comprometido com a nossa maneira de viver e com os ideais pelos quais temos vivido.<br /><br />Os descaminhos de nossos pseudos dirigentes, alguns que se apresentaram como verdadeiros gigantes, mas que hoje se revelam em suas reais dimensões, anões que são, embora nos tirem parte da esperança num mundo futuro muitíssimo melhor, não nos condenam completamente ao esquecimento ou inatividade.<br /><br />A história não se repete. Nem tampouco acabou ou acabará.<br /><br />Aqueles que desejam repetir a história, naquilo que Marx escreveu em “O Dezoito de Brumário de Luiz Napoleão”, que façam e engulam sua farsa.<br /><br />O problema maior é que no Brasil os acontecimentos vêm se transformando cada vez mais, assustadoramente, de farsa numa uma gigantesca tragédia histórica.<br /><br />TEXTOS REFERÊNCIA<br /><br />Boris Fausto em seu “Prefácio” de “Revolução de trinta” reafirma seus escritos originais de anos anteriores, não aceitando com isso as explicações baseadas na luta de classes enquanto locomotora da história. Para ele, nenhuma das classes tinha organização ou consciência de si o suficiente para dirigir qualquer revolução e, como conseqüência, que o Estado adviesse dessa. Tais explicações sobre a revolução de trinta baseadas no conceito de luta de classes revelam uma visão presa a um etapismo histórico (escravismo, feudalismo, capitalismo e socialismo) (o autor não cita o modo de produção asiático), visão essa com clara inspiração política marxista e que tenta explicar, dando suporte científico, a aliança entre burguesia nacional e a classe operária, cimentada pelo Estado, contra os latifundiários e imperialistas, responsáveis pela espoliação do país e a manutenção da estrutura agrária feudal ou semifeudal.<br /><br />Sobre a interpretação de que a revolução de trinta refletia a ascensão da classe média urbana, hoje descartada segundo o autor, isso seria reduzir a mesma a uma expressão de classe de caráter empobrecedora em termos de interpretação. Tenentes são, acima de tudo, tenentes.<br /><br />Critica também certa tradição da esquerda, por sua interpretação simplista, por atribuir que as revoluções contemporâneas na Europa devam passar também pelo Brasil, numa tentativa de enquadrar a revolução de trinta no modelo da revolução burguesa, conduzida por uma burguesia industrial ou classe média, ou ambas.<br /><br />Sobre a perspectiva de uma corrente parlamentar organizada em representação do proletariado (Bloco Operário Camponês) e o desenlace negativo, para ele, o BOC, de uma conjuntura revolucionária que deixou aberto o caminho a uma classe dominante, diz que não havia conjuntura revolucionária (favorável à esquerda) e que o BOC era “minúsculo”.<br /><br />A perspectiva do autor é a de que o Estado não é reflexo da sociedade e nem tampouco instituição sobreposta à sociedade.<br /><br />Caracterizando a primeira República, ao longo do período as economias regionais se desenvolveram, havendo um grande surto migratório nas regiões centro-sul, desenvolvendo-se o fenômeno da urbanização. Em decorrência, cresceu a classe média urbana e surgiu um primeiro contingente da classe operária. Ao mesmo tempo, a expansão e especialização do setor agro-exportador demarcaram quem eram os produtores, os comerciantes do setor exportador e o setor financeiro. Em termos sócio-políticos, ganhou força a opinião pública da classe média urbana.<br /><br />O entendimento das relações Estado/sociedade após 1930 passa necessariamente pelo entendimento, em primeiro lugar, da crise de 1929, que forçou o controle do câmbio e a destruição dos estoques de café, incentivando a centralização e concentração do poder do Estado e, em segundo lugar, de que o governo provisório teve de enfrentar várias dificuldades, descontentamentos regionais, revolta dos quadros inferiores, pressões dos tenentistas, a guerra paulista, etc. No entanto, esse processo político levou ao reforço do poder central e à reconstrução do Estado.<br /><br />Citando Francisco Weffort e a implantação do “Estado de compromisso” após 1930, afirma que nenhum setor ou classe poderia construir sua hegemonia, dada a crise da burguesia cafeeira, fraqueza dos demais setores agrários e a dependência das classes médias. Foi um Estado em crise que se “forma e se reforma” em busca de resposta à crise agrária e à crise das instituições liberais.<br /><br />A industrialização impulsionada pela crise beneficiada pela dificuldade sujeita às importações foi uma opção do governo em afirmar o setor industrial. Houve investimentos em infra-estrutura e em uma indústria básica por pressão não dos empresários industriais, mas de outros setores como a cúpula das forças armadas e os técnicos do governo. A ordem urbano-industrial foi implantada tendo como agente o “Estado” e não as “classes sociais”.<br /><br />Edgar Salvadori de Decca, em “A dissolução da memória histórica”, observa caminhos interpretativos diferentes.<br /><br />Aponta no sentido de destruir o discurso sobre a revolução de 1930, pois é um discurso do poder, e, portanto, no de construir um contra discurso que assuma a ótica e a dimensão simbólica de outra classe social, o proletariado.<br /><br />Esse discurso do poder, que periodiza trinta como uma espécie de divisor de águas entre o antes e depois, é um discurso ideológico que visa justificar um período, qualificando o antes de uma república oligárquica e o depois de um “sujeito histórico” que caminha sobre seus próprios passos, a Nação. O antes, a ausência da Nação. O depois, seu despertar. O passado, o domínio das oligarquias. O presente, uma revolução sem data para acabar.<br /><br />Diversos enfoques históricos são dados no sentido de justificar esse discurso de exercício de poder, como o estabelecimento de oposições entre Nação objeto x Nação sujeito, economia agro-exportadora x industrialização, mercado interno e inorganicidade das classes sociais x Estado criador das classes, liberalismo x autoritarismo. Em resumo, a revolução de 1930 seria a representação da idéia de construção da Nação sujeito.<br /><br />Na verdade, em 1930 há o “ocultamento da luta de classes” e a origem disso tudo temos de buscar em 1928, quando realmente um processo de construção da revolução estava em curso e a prática política das “classes” a orientava para tal, inserindo-se na concepção de revolução democrático-burguesa.<br /><br />Três observações o autor sugere na elucidação argumentativa da compreensão desse processo.<br />Em primeiro lugar, “o partido operário” representado pelo BOC, definiu a estratégia de sua luta política, determinando o “seu real” e o “dos outros”, numa orientação em rumo à “revolução democrático-burguesa”.<br /><br />Em segundo, na análise que o autor desenvolve, esse movimento partiu da cidade de São Paulo, pelo fato da já existência de uma classe operária e da contradição capital x trabalho estar presente nessa cidade.<br /><br />Por último, define 1928 como “data referência” e não 1930, porque nessa época todos os grupos se jogaram na perspectiva de uma revolução em cima de dois delineamentos básicos: a luta contra a oligarquia e a aceitação de Luis Carlos Prestes como seu líder máximo. Houve uma conjugação de forcas contra o PRP (Partido Republicano Paulista). Além disso, uma dessas forças políticas que trabalharam pela revolução, o BOC (Bloco Operário Camponês), braço parlamentar do PCB (Partido Comunista Brasileiro), na época PC do B (Seção brasileira da III Internacional ou Internacional Comunista), após ter firmado comitês em todas as partes do Brasil, em São Paulo atuou na organização sindical dos têxteis e batalhou em prol a leis sociais, juntamente com a luta parlamentar. A existência de uma “CIESP” forte também reforça essa relação histórica.<br /><br />Três grupos políticos se articulavam num sentido revolucionário: o BOC, o PD (Partido Democrático) e os tenentes, que representavam os setores médios urbanos da sociedade.<br /><br />Os tenentes são os revoltosos de 1922 e 1924, que integraram, após a última, a coluna Prestes, unida sob um programa genérico de combate às oligarquias. Tinham eles várias visões de revolução e o que os unia e os definia era exatamente as luta contra as oligarquias e a liderança de Prestes. Adquiriram “status” próprio no campo da revolução, passando de “tenentes” a “revolucionários”, esse seu novo estatuto que os definiu como “sujeito político”.<br /><br />O Partido Democrático era formado por setores da classe dominante que se posicionavam favoravelmente à revolução, sem, contudo, assumí-la diretamente. No momento em que o tema da revolução entrou em polarização defendeu o mais geral da proposta, ou seja: uma revolução contra as oligarquias em aliança com os “revolucionários”, sob comando de Prestes. Na verdade jogava na indefinição e no sentido de ganhar tempo, pois necessitava de ampliar as bases partidárias em vista às eleições que se aproximavam. Daí a sua aproximação com os “revolucionários” e “operários” (BOC) que se sentiam próximos do PD. Para ele (o PD) o eixo da revolução não passaria de fato pela classe operária. Era como se ela estivesse fora da revolução. Para Prestes, ao contrário, necessariamente a revolução passaria pelo proletariado. O PD também liderou a campanha de anistia para os revolucionários (da Coluna Prestes) no sentido de trazer Prestes de volta para liderar a revolução.<br /><br />Ambas as tendências, revolucionários e PD, queriam ganhar a classe operária para, em seguida, esvaziá-la de seu conteúdo.<br /><br />O BOC se definiu como porta voz do proletariado, tentando, de um lado, isolar o movimento anarquista que era forte e de outro, lançar a classe na luta político-parlamentar, propondo a revolução democrático burguesa. Propôs a aliança entre os três blocos: BOC; PD e “revolucionários”. Defendeu propostas dos revolucionários através de Prestes e incentivou o PD para uma tomada mais decisiva de posição política.<br /><br />A “revolução democrático-burguesa” foi adotada pelo BOC muito antes da realização do Congresso da Secção Sul Americana da Internacional Comunista, realizado em 1929. Em seu programa, o BOC assumiu a aliança entre o proletariado e a uma burguesia industrial, que pelo fato de ser “débil”, a burguesia, associou-se aos setores agrários e aos interesses imperialistas. Dessa maneira, foi eleita a luta contra o feudalismo e o imperialismo que barravam o desenvolvimento das forças produtivas. Em cumprimento dessa etapa histórica (a revolução democrático-burguesa), condição prévia para a futura revolução socialista (proletária), se abria mão da “luta de classes”. Segundo o BOC era necessária uma “aliança de classes” para a criação do Estado Nacional na etapa do imperialismo e o banimento da luta de classes se daria pela debilidade da burguesia nacional. A luta contra o imperialismo era uma prioridade maior do que a luta de classes.<br /><br />Mesmo assim, a partir de 1928 o BOC, já reconhecido como porta voz do operariado, distanciou-se da proposta de revolução democrático-burguesa, pois ao realizar tarefas da burguesia, não desenvolveu a luta contra o capital. A atuação do PCB (o BOC era seu braço parlamentar) dentro dos sindicatos em defesa de direitos políticos e leis sociais, assim como participação e direção das greves de 1929 e a fundação da CGT (Confederação Geral do Trabalho) com mais de 60.000 filiados, mais a greve de setenta dias dos operários em São Paulo levaram os seus aliados, primeiro ao distanciamento, acusando os oligarcas de fazerem “vista grossa” ao perigo vermelho e depois, em unidade geral contra o proletariado, a se unificarem aglutinados na luta contra o “comunismo”.<br /><br />Assim, o conjunto da sociedade, num primeiro momento, dividiu-se em relação à oligarquia, mas, num segundo momento, uniu-se para combater o comunismo.<br /><br />Wanderley Guilherme dos Santos em “Matizes do pensamento autoritário” traça uma discussão mais engendrada no caráter ideológico dos sujeitos e agentes políticos da revolução de trinta, esquadrinhando as forças que atuaram na dita cuja revolução.<br /><br />Os “liberais doutrinários” defendiam o legalismo no escopo do Estado liberal. Para eles a reforma político institucional se daria e se concretizaria através da formulação e concepção de “regras legais” (a transformação através da regulamentação). “Boas leis criam eficientes instituições”.<br /><br />Os “tenentes” não possuíam matrizes políticas unificadas e faziam política de acordo com a lógica dos acontecimentos e das circunstâncias. Preencheram cargos políticos importantes. Ideologicamente queriam o fim da corrupção. Daí defendiam que a burocracia deveria deixar de ser um sistema de nomeações políticas, que levavam ao reforço do paternalismo e ao conformismo político. Em detrimento desse sistema, defendiam uma burocracia estabelecida por mérito (assim como nas forças armadas) e técnica, portanto, apolítica. Entendiam, também, que a descentralização não era um método desejável para impedir a corrupção. Não possuíam, segundo sua visão, os “meios liberais” para continuar seus “fins liberais”, em contraposição aos liberais doutrinários.<br /><br />Todos os liberais, depois de 1945, viraram-se contra Vargas e as medidas trabalhistas, compondo a UDN (União Democrática Nacional). Segundo eles, a conseqüência da intervenção do Estado fora longe demais, criando corrupção maior do que antes de trinta, uma burocracia incompetente e contaminada pelo nepotismo, que atingiu as instituições como um todo. Pela explicação liberal, o período passado era baseado num sistema de privilégios concedido aos políticos corruptos que apoiavam o autoritarismo.<br /><br />Os doutrinários, que antes de trinta defendiam reformas que seriam executadas por “meios liberais”, após quarenta e cinco avaliaram que Vargas, no período anterior, planejou, criou partidos e legou uma sociedade cuja interação propiciou somente aos políticos corruptos a possibilidade de vencer. Nesse sistema era impossível não “romper com os métodos legais”. Dessa maneira, a UDN, partido liberal por excelência, tornou-se o mais subversivo partido, que junto ao PL (partido libertador) e PRP (partido da representação popular) tentaram evitar que vários presidentes eleitos assumissem seu cargo entre 1945 e 1964. Em suma, a remoção de mecanismos que impediam a operação liberal era a meta dos doutrinários.<br /><br />Havia também os “autoritários instrumentais”, que consideravam que os políticos requeriam algumas “habilidades especiais” e por isso teriam acesso privilegiado ao poder. Somente os melhores deveriam governar, conforme a literatura integralista dos anos trinta. Segundo Azevedo Amaral, numa explicação não naturalista, “o autoritarismo moderno brotou de determinadas condições históricas e não de uma estratificação política natural entre os homens”, numa explicação biológica para os fenômenos sociais, econômicos e políticos. O conflito social seria uma ameaça à sobrevivência da sociedade inteira se sua solução dependesse de agentes privados do Estado liberal. Como não haveria mais conflitos entre empresas familiares e pequenos grupos de trabalhadores, mas sim entre grandes corporações e grandes sindicatos, os sistemas autoritários, livres da necessidade de “consentimento” da população, seriam ágeis para enfrentar esses desafios de uma sociedade industrial e de massa.<br />Tanto os “biológicos” de Azevedo Amaral como os integralistas, acreditavam que o autoritarismo não era transitório devido a causas conjunturais, pois quanto mais a sociedade progredisse, mais necessários regimes autoritários a fim de administrar conflitos. Essa era a diferença entre esses e os autoritários instrumentais.<br /><br />Diferentemente também dos liberais doutrinários e autoritários de outros tipos, os autoritários instrumentais trabalhavam com duas idéias chaves. A primeira era a formulação de que as sociedades não apresentam uma forma natural de desenvolvimento. Daí a inevitabilidade do Estado em se intrometer em assuntos da sociedade, para garantir metas de representação dessa sociedade e a legitimidade dele regular e administrar a vida social, o que os distinguia dos liberais. A segunda é a de que o exercício autoritário do poder era a maneira mais rápida para implantar uma sociedade liberal, quando logo após o autoritarismo deveria ser abolido. Era a idéia de que o Estado deveria fixar metas porque a sociedade não teria capacidade de fixá-las (tanto as elites como os liberais).<br /><br />Em citação à Oliveira Viana, que avaliava o passado como uma história de um território amplo em que se estabeleceram clãs familiares, formando autarquias territoriais com economias isoladas e auto-suficientes, ou seja, clãs parentais sem comunicação entre si. Nessas condições a vida urbana não poderia se desenvolver. A dependência dos trabalhadores rurais dos proprietários de terras na época da separação de Portugal, exatamente quando os conservadores iniciaram a centralização imperial, nesse processo perderam os senhores de terra e ganharam os cidadãos, segundo o autor deste trecho. No entanto, a república não alterou o padrão básico de uma sociedade familística, oligárquica e autoritária e, nesse sentido, a intervenção do Estado não representava ameaça aos cidadãos, mas sim sua única esperança, num prelúdio justificativo ao que estaria acontecendo após trinta.<br /><br />A tese era a de que o liberalismo político fornecia poder aos oligarcas em detrimento dos cidadãos. O liberalismo político seria inviável na ausência de uma sociedade liberal previamente estabelecida no Brasil, cuja efetiva edificação requeria um Estado forte o suficiente para romper com a sociedade familística, exigia também a transformação política da sociedade através de uma elite política nova (que surgiria “sabe-se lá de onde”) e de uma maciça conversão cultural.<br /><br />Virgínio de Santa Rosa concordava com Oliveira Viana. Era favorável a um governo autoritário e centralizado. Considerava somente possível a implantação do liberalismo após prévias reformas sociais e econômicas. Mas também associava à sua agenda liberalizante a realização da reforma agrária, como condição básica para a efetivação dessa mesma agenda.<br /><br />Esses analistas sabiam que criar uma sociedade liberal significava estimular relações de mercado, prover estruturas institucionais favoráveis ao desenvolvimento, destruir relações pré-mercantis na economia e relações sociais.<br /><br />O Estado Novo de 1937 deu forma ao Estado forte dos autoritários instrumentais, mas nem a elite dirigente se atraiu pela transitoriedade, como também não tomou medidas que liberalizasse a sociedade. Não optou pela reforma agrária e nem, por outro lado, rompeu com a agricultura tradicional. Houve algumas medidas liberalizantes e regulatórias da sociedade, como em relação aos operários que foram reconhecidos como membros da sociedade, embora sob controle, indicando um comportamento heterodoxo e ambíguo desse novo sistema. Após 1945, a aliança entre PSD e PTB de apoio ao Varguismo, indicou uma política de forte apoio ao desenvolvimento industrial, mais proteção aos setores agrícolas tradicionais, interesse pela educação, saúde e habitação.<br /><br />O Estado liberal não surgiu por acaso e nem por necessidade lógica ou dialética. Como as demais instituições, foi provisório e resultado do choque de interesses vários.<br /><br />O autor sustenta que a burguesia nacional, que na Europa e em outros lugares facilitou e modelou novas sociedades impondo a lógica da competição, no Brasil, após trinta, essa burguesia, que deveria estar organizada para moldar o aparelho do Estado com a lógica do mercado, não existiu até recentemente enquanto classe política organizada e como ator político, que tem, ou deveria ter, como meta última de classe de qualquer burguesia, o domínio das relações de mercado através do controle da oferta e demanda, ou seja, o controle das instrumentalidades.<br /><br />O burguês, que na Primeira República desprezou as instituições do Estado, pois se sentia inserido no sistema capitalista mundial, dentro da divisão internacional do trabalho promovido pela Inglaterra, nunca quis “capturar o Estado”. Segundo o autor, não estava ligado a um mercado nacional que dependeria da ação do Estado, mas ligado ao mercado internacional, que era mediado por outros Estados nacionais. Era uma burguesia nacional não organizada e periférica do capitalismo internacional.<br /><br />Sempre segundo o autor, que lida com o conceito de “classe organizada”, a burguesia brasileira, como autora política, não revelou expressão unificada e nem comportamento inequívoco e homogêneo. Critica os “marxistas ortodoxos”, afirmando que a burguesia, embora beneficiária da ordem capitalista, não é propriamente “uma classe” (não é organizada e, por isso, não é atora política determinante), estabelecendo uma oposição conceptual entre a “luta de classes” e os “reais atores organizados”. Em suma, abandona o conceito de “luta de classes” como unidade de análise, substituindo-o pelos “reais atores mais ou menos organizados”.<br /><br />A burguesia, pelo fato de não estar organizada e participando da gestão do Estado, se desinteressou pelos três pilares básicos de reprodução de uma sociedade liberal: a organização militar, o sistema educacional e a burocracia pública.<br /><br />O exercito se constituiu como organização, com contornos de supra-instituição, fora e independente da burguesia. Foi levado (sic!), por isso mesmo, como definidor dos limites constitucionais brasileiros.<br /><br />O sistema educacional servia para distribuição de status social. Na Europa, ele tinha servido, na revolução industrial, para articular a produção de conhecimento com a de bens materiais. No Brasil, o sistema educacional não foi submetido à hegemonia burguesa como na Europa e Estados Unidos da América do Norte.<br /><br />A burocracia, que antes de trinta era um “filão de emprego”, foi imiscuída com os critérios de meritoriedade. A burguesia, também nesse segmento, não produziu influência relevante.<br /><br />Roberto M. Levine aborda a problemática que gira em torno de trinta, enfocando os pontos que as forças opositoras da oligarquia pré trinta, tão dispares entre si, tinham mais em comum: exatamente essa oposição. O movimento, que de certa forma refletia as aspirações das novas forças sociais, permaneceu, entretanto, conservador e paternalista (Getúlio o era).<br /><br />Em 1929, a crise internacional derrubou quatro governos republicanos latino-americanos, inclusive o da Argentina.<br /><br />No Brasil, a dissidência entre os militares de 1922, com os "dezoito do forte", que deu origem ao “tenentismo”, marcou o início do movimento contra os fazendeiros. Após a revolução de 1924 foi formada a “Coluna Prestes”, que era composta de oitocentos a mil homens de armas, a qual percorreu durante anos o Brasil afora até se internar na Bolívia. Participaram desse evento histórico, dentre outros, Miguel Costa como comandante geral, Siqueira Campos, João Alberto, Djalma Dutra e Cordeiro de Farias, comandantes de colunas, além do próprio Prestes, chefe de estado maior e também comandante de uma coluna.<br /><br />Os tenentes, a maioria, voltaram do exílio nas vésperas das eleições de 1930, colocando-se à disposição de Vargas. Eles advinham de posições militares secundárias dos Estados periféricos e se originavam da classe média. A Aliança Liberal, enquanto revolta organizada, teve como participantes muitos desses tenentes gaúchos: Aranha, Góis Monteiro, Fontoura, Luzardo, Lindolfo Collor, etc.<br /><br />Prestes, todavia, condena a Aliança Liberal e solta seu próprio manifesto em Buenos Aires. Em conseqüência, Osvaldo Aranha renuncia ao cargo estadual de Secretário do Interior do RS, de cujo posto tinha ordenado anteriormente a compra de armas da Checoslováquia para a rebelião.<br /><br />Fato novo colocou de novo a revolução na agenda geral, que foi o assassinato de João Pessoa (possivelmente por motivos não políticos), governador da Paraíba e candidato à vice-presidente de Vargas, causando a reunificação da Aliança Liberal em rumo à revolução.<br /><br />O primeiro ministério de Vargas dependia de vários grupos de apoio. No dia onze de novembro de trinta, com um decreto lei, Vargas adquiriu poderes ditatoriais, dissolvendo o congresso e órgãos estaduais e municipais e com a faculdade de demitir e nomear funcionários.<br /><br />A divisão da Aliança Liberal após trinta, teve, de um lado, os tenentes, que eram pela reorganização nacional e contra o retorno dos liberais ortodoxos, influenciados notadamente pelo exército, e, de outro, a ala constitucionalista, que era por reformas políticas que apontassem o fim da ditadura, através de uma constituinte.<br /><br />Houve também a instalação de “legiões” de feições semifascistas (sic!) em lugares de bases tenentistas, com o propósito de substituir aos “velhos partidos políticos”, pelas inabilidades que os fizeram fracassar. Plínio Salgado dirigia a “legião” de São Paulo.<br /><br />O “clube três de outubro”, formado por oficiais do exército, dividiu-se ideologicamente logo na primeira eleição. De um lado estavam os “tenentes radicais”: Miguel Costa; Hercolino Castardo; etc., que exaltavam a coluna Prestes e viam na reforma socialista a pré-condição para a destruição do controle político da oligarquia. Do outro lado, estavam os “tenentes conservadores” (Góis Monteiro, chefe do clube), que eram favoráveis à continuidade do governo por decreto e possuíam um programa de cunho corporativista para o desenvolvimento nacional.<br /><br />Em 1932 surge a “questão paulista”, com as exigências de uma constituinte e do fim do governo provisório. O levante armado subseqüente foi comandado pelos generais: Euclides Figueiredo, que havia se recusado a comandar a Aliança Liberal em 1930; Isidoro Dias Lopes, comandante das revoltas de 1893 e 1924 e Kinger, antitenentista. No Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros (apoiador do movimento) foi preso e exilado. Com a influência do Partido Republicano do RS em decadência em decorrência da prisão de Borges, Flores assume o controle da situação no Estado, recusando-se à aliança com São Paulo, salvando, assim, a União.<br /><br />Apesar da derrota Paulista, a repressão não foi tão dura como seria de se esperar. O Banco do Brasil assumiu as dívidas dos Bônus de Guerra Paulista, demonstrando assim a “grandeza de Vargas” (sic!) com os vencidos.<br /><br />Em novembro de 1933 foi instalada a Constituinte, tendo Afrânio de Melo como seu Presidente, que inclusive rejeitou a representação classista de 40 deputados nomeados. Vargas não se intimidou e mudou a decisão de Afrânio. Assim, a Constituinte se instalou finalmente com 214 deputados eleitos nos Estados e mais 40 classistas, discutindo diversas regulamentações, mas calando-se sobre o equilíbrio de poderes entre o executivo e legislativo e entre os Estados e União. Os tenentes gostaram dos conceitos de organização corporativista geral aprovados, tais como a proteção dos sindicatos baseada num paternalismo de controle. A igreja católica conseguiu passar a educação confessional, numa vitória da LEG (Liga Eleitoral Católica), indo de confronto com o conceito de separação Igreja Estado. Foram aprovados também os deputados classistas (cinqüenta), a restrição à imigração, a restrição de cargos públicos a não brasileiros (reivindicação tenentista) e a anistia geral. Após a promulgação da nova Constituição, partidários dos tenentes reclamaram que a oligarquia ameaçava voltar ao poder pela via eleitoral.<br /><br />Na economia, Vargas exerceu grande autoridade, delegando poderes ao Banco do Brasil. Com o declínio do comércio exterior e depressão do setor agrícola, houve a expansão da industrialização e crescimento do mercado interno (injeções oficiais de dinheiro, segundo Celso Furtado).<br /><br />O Clube três de outubro entrou em declínio após a saída do governo de proeminentes figuras: Oswaldo Aranha; Lindolfo Collor; Maurício Cardoso; etc. Os tenentes radicais voltaram-se para Prestes, que já optara pelo comunismo a partir de 1931.<br /><br />Os produtores de café viam com esperanças a atuação do governo federal, aprovando os esforços para a implantação da diversificação de culturas agrícolas, estímulo ao consumo interno e aumento da produção.<br /><br />Os trabalhadores também foram beneficiados com a implantação de medidas de proteção social, tais como: seguro social; pensões; férias pagas e licença saúde.<br /><br />Também o exército apoiou Vargas em troca do fortalecimento do poder militar.<br /><br />As principais questões levantadas pelo golpe de trinta ainda estavam por resolver em 1934: Estados x União; a posição ideológica dúbia de Vargas; papel das forças armadas; etc.<br /><br />Após a intentona de 1935, o poder de Vargas se consolidou com a classe média abrindo mão, em sacrifício, das liberdades civis, pois havia o perigo de que a oligarquia retornasse ao poder pela via eleitoral, pois controlavam o voto nos municípios.<br /><br />Em 1937, com a instituição do Estado Novo, o poder se instalou definitivamente até o fim do período (1945), com a condenação da democracia liberal e adoção do planejamento central em nome do desenvolvimento nacional.<br /><br />Maria Helena Capelato apresenta em seu texto um quadro social e ideológico da época.<br /><br />Em 1920, 65% dos brasileiros eram analfabetos. Em 1940, dois terços dos brasileiros viviam na zona rural. Somente as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro possuíam mais de um milhão de habitantes. As endemias proliferavam no interior. As refeições da classe média se constituíam de feijão preto, farinha de mandioca e charque, o que representava menos de 200 calorias por dia. São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, representavam mais da metade do PNB – Produto Nacional Bruto. Os pobres urbanos tinham pouquíssimo acesso aos serviços públicos essenciais e a Igreja Católica (Cardeal Leme) não reivindicava qualquer papel social.<br /><br />Os professores se formavam com quatro anos de Escola Normal, aos dezoito anos de idade. Das 74.000 professoras em 1937, 65% não tinham o curso completo. O Ministério da Guerra recebia 25% do orçamento nacional, enquanto que o Ministério da Educação e Saúde Pública recebia 5% na década de trinta.<br /><br />A educação secundária estava nas mãos de particulares. Os colégios preparavam seus alunos para os exames de admissão e mesmo as academias militares exigiam proeficiência em línguas, geografia, história, ciências e matemáticas. A tônica geral do ensino era o saber como um ornamento das elites e não como chave da mobilidade popular, com ênfase na memorização.<br /><br />Os ricos estudavam em escolas particulares, além de não pagarem impostos. Os pobres viviam com salários miseráveis.<br /><br />A vida social no Rio de Janeiro girava em torno às boates e restaurantes, dos três cassinos de praia, dos clubes e embaixadas. No verão, os ricos iam para Petrópolis. Havia 8.900 automóveis em 1925 e 25.700 automóveis em 1935, todos importados dos Estados Unidos ou Europa. O Rio de Janeiro possuía também 13 estações de rádio, 45 telefones por mil habitantes e 19 jornais.<br /><br />A classe média demonstrava certo constrangimento com a Umbanda e a Macumba. A elite evitava a “pecha de mulatice” no exterior. Alguns intelectuais eram orgulhosos do “amalgamento social” de Gilberto Freire e Afonso Celso, mas, no entanto, os dignitários eram inevitavelmente brancos.<br /><br />Oswaldo Aranha, escrevendo de Washington, comentou: “...precisamos nada de outras raças...”. Louvava os Estados Unidos por ser uma “sociedade nórdica”, lamentando-se com Vargas pela “fraqueza do caráter brasileiro”.<br /><br />Na década de trinta, a xenofobia e o anti-semitismo manifestaram-se principalmente por parte de membros da elite intelectual desconcertada com o espectro marxista. Os judeus eram 7.000 em 1917 e sete vezes mais entre 1928 e 1934. Após essa data, a restrição à imigração reduziu drasticamente a entrada deles no país.<br /><br />Afonso Arinos de Melo Franco catalogou séculos de agitação promovidas pelos judeus. Marx, Marat, Danton, Robespierre e Rousseau, dentre outros, eram os mais eminentes representantes.<br /><br />Miguel Couto, médico e deputado, condenou com veemência a imigração japonesa.<br /><br />Havia também aqueles, que indignados, se opunham a essas considerações, como o sociólogo Guerreiro Ramos, que acusou Graça Aranha, Alberto Torres e outros, de “envergonhados” das raízes brasileiras.<br /><br />Afonso Arinos escreveu em 1936: “...a contribuição do índio, consistiu na imprevidência e dissipação e do negro, obsessão sexual e ocultismo...”.<br /><br />Azevedo Amaral escreveu em 1935: “...desde o século XIX, o Brasil sofrera uma desnacionalização progressiva, portanto carecia de consciência nacional”.<br /><br />Dois movimentos propunham na década de trinta transformações drásticas: a AIB (Ação Integralista Brasileira) e ANL (Aliança Nacional Libertadora).<br /><br />A classe média urbana compartilhava os valores e aspirações da elite. Compunha-se de burocracia governante, do alto comércio, clero, oficialidade mediana e funcionalismo civil. Manteve-se indiferente a Vargas por medo de ascensão dos trabalhadores. Aceitou passivamente o rebaixamento de salários e ao aumento de impostos.<br /><br />A classe baixa era formada por negros, mulatos e brancos, dos setores urbano e rural.<br />A classe trabalhadora, que em 1920 somava 275.000, em 1938 era de 700.000.<br /><br />Os sindicatos eram apenas um por categoria e de inspiração corporativista. Só os membros dos sindicatos reconhecidos podiam postular nos Tribunais do Trabalho. Em 1934 foram instituídas as férias pagas e só os filiados dos sindicatos oficiais é que tinham direito. Os comunistas controlavam alguns sindicatos não legais. Houve também várias greves ilegais na década de trinta, mas não eram noticiadas. Havia um “pacto de silêncio” por parte da imprensa. Os trabalhadores rurais estavam literalmente fora da legislação trabalhista.<br /><br />Em maio de 1938, o movimento integralista foi destruído, embora Vargas tenha adotado algumas medidas nacionalistas de direita e também de esquerda.<br /><br />O nacional socialismo (nazismo) no Brasil possuía de 800.000 a 1.000.000 de militantes de origem alemã, dos quais 200.000 eram alemães e 100.000 deles ainda mantinham a nacionalidade original.<br /><br />Italianos, espanhóis e portugueses evitaram a militância fascista, embora grupos culturais ítalo-brasileiros aplaudissem Mussolini.<br /><br />Poloneses, alemães e italianos mantinham escolas secundárias com a linguagem materna.<br /><br />Os movimentos de juventude teuto-brasileiros promoviam acampamentos e treinamento militar com pequenas armas. Alguns iam à Alemanha para treinamento complementar. Em princípios de 1938, Vargas suprime o “volksdeutsche”, prendendo seus líderes e, pelo decreto de 18 de abril, declara fora da lei as organizações com sede fora do país. Na verdade estavam envolvidos na tentativa de golpe em 1938 juntamente com os integralistas.<br /><br />Os poloneses, que se referenciavam no herói nacional “Pilsudski”, recebiam apoio financeiro da Polônia e nazistas alemães, através dos consulados em São Paulo e Curitiba. Agentes poloneses tinham grande influência junto ao clero polonês do Paraná. A União Central dos Poloneses do Brasil tinha sede em Curitiba. A organização paramilitar JUNAK (juventude polonesa) possuía 84 grupos no país. Após 1935 as atividades polonesas entraram em declínio.<br /><br />O integralismo era composto por membros advindos da classe média, acadêmicos, descendentes de alemães e italianos, das forças armadas (principalmente da marinha).<br /><br />A igreja católica patrocinou, através de D. Sebastião Leme, a Liga Eleitoral Católica, organização militante e muito ativa na Assembléia Constituinte, onde obteve a aprovação do ensino religioso. Em 1934, Leme permitiu que a política de influência diminuísse, incorporando a LEC na Ação Católica.<br /><br />O exército, em função da missão francesa do General Gamelin antes da primeira guerra (Góis Monteiro era seu discípulo) aceitou o ponto de vista “tenentista” de fortalecimento do exército. Mesmo assim, havia um abismo que separava oficiais de praças.<br /><br />A marinha, a mais tradicionalista das instituições, era pouco simpática a Vargas e à reforma. Alguns oficiais aderiram ao Partido Monarquista Brasileiro, que reivindicava a restauração monárquica. <br /><br /> Segundo a autora, Vargas, no princípio, era hostil aos industriais, pelo desejo de ser o pai dos pobres, mas depois, a aliança foi estabelecida por uma necessidade política.<br /><br />O Bloco Parlamentar de Oposição de 1934 refletia o desejo de limitar o poder federal. Encabeçado por Artur Bernardes, representava os liberais oligarcas.<br /><br />O PCB (Partido Comunista Brasileiro), carente agora de base sindical, sofria de uma divisão interna insanável. Formado por intelectuais de classe média e de imigrantes urbanos da Europa central e oriental, construiu-se na base dos movimentos anarco-sindicalista. Os conflitos entre stalinistas e trotskistas debilitaram enormemente o partido. Colocado fora da lei em 1927 durante o governo Washington Luiz, continuou na clandestinidade dirigido por Otávio Brandão e com Astrogildo Pereira na secretaria geral. Fundou a CGT e o BOC, seu braço parlamentar. O cisma interno e a repressão enfraqueceram a esquerda radical. Entre 1931 e 1934 aconteceram vários expurgos internos.<br /><br />Em carta a Góis Monteiro, Oswaldo Aranha escreveu que: “...as fraquezas civis, militares e econômicas... (...) ...são fruto da ignorância, doença, da incapacidade pessoal...”. Em outro trecho: “...se o Brasil não se livrasse da desorganização interna, iria nos passos da Itália...”.<br /><br />Góis Monteiro escreveu: “...a tendência nacional ao autoritarismo advém da falta de confiança no brasileiro de governar-se...”.<br /><br />Viriato Vargas escreveu ao irmão em 1936, citando Nietzche: “...o democratismo é uma forma de decadência e de decomposição da força organizada...”.<br /><br />Ângela de Castro Gomes em “O redescobrimento do Brasil” escreve sobre a fundação do Depto. de Imprensa e Propaganda (DIP) na época de Vargas. Era formado por seis seções: propaganda; rádio difusão; cinema e teatro; turismo; imprensa e serviços auxiliares.<br /><br />Durante a Primeira República, o Estado liberal não conseguiu integrar o homem à terra brasileira. As instituições colidiam com a realidade brasileira, formando dois mundos distintos: o homem e a natureza. O mundo da política era distante de tudo e de todos. Havia desordem em todos os campos da realidade social, com a ruptura de um caminho evolutivo justo e bom. Ao Estado natureza se opunha o Estado guerra (Hobbes) e a revolução de trinta veio em resposta à crise, levando ao fim essa sociedade do conflito. Foi uma demarcação de fronteiras entre a anarquia e a ordem.<br /><br />A contemporização (antes de trinta) somente foi possível no plano político, mas com o advento da massa proletária, conseqüência por sua vez da industrialização pós I guerra, a questão se agravou, até por influência de agitadores profissionais. A revolução, assim, veio interromper o curso dos acontecimentos.<br /><br />A ameaça da anarquia era real, visualizada como a perda do curso da evolução normal do país. O descontento popular foi materializado na “questão social”.<br /><br />Houve a preservação da personalidade nacional do risco de uma catástrofe anarquizante. O sentido restaurador da revolução (Azevedo Amaral) era evidente, dando a ela um caráter duplo de ordem e revolução, tradição e inovação. O projeto do Estado Novo (em 1937) tornou mais evidente a sua dimensão transformadora e conformadora da realidade nacional. Era a retomada da vocação histórica e da continuação da construção da nossa nacionalidade.<br /><br />Os liberais desacreditavam dos nossos homens, que teriam uma atitude comodista pela “lei do menor esforço”, explicando tudo pela negação de nossa raça (a preguiça do brasileiro, uma raça de bugres).<br /><br />O retorno à realidade equivalia ao reconhecimento do brasileiro, de suas necessidades e potencialidades, pois ele guardaria as virtudes mais puras do país, estabelecendo a oposição liberalismo europeizante x valores brasileiros.<br /><br />Antes de 1930, as elites se opunham ao povo. Depois de 1930 e 1937, houve comunicação entre elites e massas, pois era uma revolução “autentica” que reunia a todos (povo).<br /><br />Restaurar a sociedade brasileira era retirá-la do estado de natureza e organizá-la pelo poder político, o que implicava num retorno à natureza, que eram as riquezas potenciais do país e a cultura nacional.<br /><br />Essa restauração, enquanto ato de construção da terra e do homem, deu-se pela exploração da terra e da formação do homem, ambos os processos coordenados por “novas elites políticas”.<br /><br />Nessa nova etapa, a obra da revolução foi perturbada em 1932 e 1934, tendo sua segunda fase implantada em 1937 com a constituição de uma nova ordem política. A Constituição de 1934 foi considerada como um malogro revolucionário, pois os ideais reformadores eram considerados desvios.<br /><br />Com a revolução, a finalidade do Estado devia ser encontrada fora da política, na promoção do bem estar nacional, na realização do bem comum e no enfrentamento da questão social. Se antes não elegeram a questão social como prioridade é porque encaravam a pobreza como “inevitável”. A questão social como questão política só se resolveria pela intervenção do Estado.<br /><br />A missão histórica do novo regime era a de salvar a tempo a situação do operariado, dando certa feição democrática ao regime. A democracia social foi considerada como o reinício dos tempos.<br /><br />O abandono da idéia da existência de doutrinas permanentes com base na mutabilidade no desenvolvimento das idéias era também uma das características ideológicas do regime. Mudança era um indicador de força social.<br /><br />Nessa nova democracia, que tinha o ser humano como alvo, não se desejava a desintegração do homem, como no liberalismo e nem a estatização, como no totalitarismo. Seria a humanização do Estado Moderno.<br /><br />O trabalho, outrora escravo, era o meio de emancipação da personalidade, pois quanto maior o dever, mais alta a virtude.<br /><br />No projeto liberal democrático, os homens eram livres pela natureza, mas tornados diferentes pelas injunções sociais e políticas. Na nova democracia, a sociedade era formada por indivíduos desiguais por natureza. A missão do Estado era a de torná-los iguais artificialmente, atingindo assim a igualdade social. Estabelecia-se assim a independência entre os conceitos de democracia e liberal-democracia. Procurar meios de tornar a autoridade mais justa e a prevalência do principio de autoridade como meio legítimo da realização da liberdade individual, eram as metas desejáveis. A nova democracia era a democracia das corporações, girando em torno dos centros de organização e orientação dos indivíduos para o bem público.<br /><br />A idéia do Estado neutro (face aos interesses de mercado) ou do Estado que negava o mercado (comunismo), precisavam ser combatidas.<br /><br />Desenvolveu-se também o combate ao formalismo político, com a substituição do conceito de separação de poderes pelo de harmonia de poderes e pela impossibilidade de proliferarem partidos políticos, pois eles seriam a manifestação de antagonismos sociais. A nação não seria redutível às partes que a compõem (sentido universal).<br /><br />Quanto aos sindicatos, eles são transformados em órgãos públicos, de tutela Estatal e restritos a questões técnicas.<br /><br />Alcir Lenharo em “A pátria como família”, escreve sobre o Estado, que como sujeito histórico nasce do vazio político, surgindo como único sujeito político e único agente histórico, antecipando-se às classes.<br /><br />O Estado Novo se proclamava como o único agente capaz de intervir no fluxo histórico e estancar a luta de classes, concordando com os integralistas que apontavam na solução autoritária como a única possível. Para os liberais e marxistas, essa foi a única solução encontrada pela classe dominante, impossibilitada de exercer seu próprio poder.<br /><br />A substituição do conceito de luta de classes pelo conceito positivo de colaboração de classes foi a tônica do regime, no sentido de romper com o processo de anarquia liberal. Francisco Campos afirma que “o corporativismo mata o comunismo, assim como o liberalismo cria o comunismo”.<br /><br />O Estado Novo levou a sério a existência da luta de classes e as possibilidades da classe operária no jogo do poder. O integralismo, dessa maneira, agiu como um freio às mobilizações operárias. Marilena Chauí relaciona a classe média como ponta de lança para a repressão contra o proletariado.<br /><br />Fugindo à luta de classes, os sindicatos se apresentavam como um instrumento dessa harmonia, dessa simbiose perfeita. Assim, as forças produtivas se movimentavam harmonicamente no sentido do progresso, num movimento coletivo acima dos indivíduos.<br /><br />Mesmo assim, a intervenção do Estado nas negociações é inevitável, pois a fragilidade dos negociadores ou a irredutibilidade das partes (anarquistas) forçavam sua intervenção.<br /><br />Antes de 1930, o BOC (Bloco Operário Camponês) entrou em luta comum com as oposições contra as oligarquias. Depois os aliados se voltaram contra ao eleger “o fantasma do comunismo” como inimigo comum. Todos se aliaram contra a classe operária. Após 1930, ao operariado coube duas decisões possíveis: ou aceitava a mentalidade nova (corporativismo) ou se considerava como dentro da “questão de polícia”.<br /><br />Após a instituição da “lei de segurança nacional”, corriam o risco de serem enquadrados em crimes contra a ordem, todos aqueles acusados por incitação ao ódio de classe ou paralisação dos serviços públicos. A instituição da Carteira de Trabalho também foi um ato de controle, pois os patrões não respeitavam a diferença entre a vida social e profissional, podendo “sujar” a Carteira, arruinando profissionalmente o empregado. Além disso, raramente os empresários respeitavam o direito dos trabalhadores, como demonstram as várias greves que surgiram entre 1931 e 1935, por cumprimento de direitos adquiridos. Em 1942, com a economia de guerra, houve o aumento da jornada de trabalho para dez horas diárias.<br /><br />O PCB (Partido Comunista Brasileiro) ganhou a guerra contra os anarco sindicalistas nos sindicatos, reforçando-os e criando outros. Criou também o BOC como seu braço político eleitoral. No entanto, a maior parte das greves era de organização “espontânea” (sic!), independente dos sindicatos, operadas por “comissões de fábrica”. O peleguismo era reinante nos sindicatos (direções biônicas), fazendo com que, por desinteresse dessas direções, não se interessassem no crescimento das filiações: o imposto sindical sustentava os aparelhos.<br /><br />O conceito de nação (todos) se instaurou e o Estado era solitário e sem partidos políticos. Os operários não precisavam mais fazer nada, pois tudo estava dado, cientificamente determinado por especialistas competentes, na pretensão de que os trabalhadores exercitassem uma prática de seu próprio “emparedamento”.<br /><br />O plano Cohen, segundo o qual uma potência estrangeira invadiria o Brasil, apoiada por traidores brasileiros, teve o estabelecimento dessa mentira como verdade inconteste, seguindo uma prática muita afeita ao nazismo.<br /><br />A criação do DIP em 1939, teve como finalidade o controle, a propaganda, a censura, a promoção de atividades cívicas e culturais. Sérgio Cabral afirmou: “...o Estado Novo utilizou o rádio como Hitler”. O DIP intervinha nos desfiles carnavalescos, gravadoras e rádios. Convencia aos letristas de músicas populares a não incorporarem alguns temas a suas obras, dentre os quais o “culto à malandragem”.<br /><br />A propaganda, seguindo orientações de Hitler, devia levar em consideração o sentimento das massas, para alcançar os fins que se propunha. O Estado Novo utilizou-a tal qual e também como tarefa preventiva da máquina repressora, mandando mensagens familiares.<br /><br />A igreja disseminava a angústia religiosa e o sentimento de culpa sexual e repulsa aos instintos, que o poder aprovou e reproduziu. Segundo Willian Reich (psicólogo comunista revolucionário), a família é o microcosmo do Estado autoritário e sua célula reacionária central. Plínio Salgado dizia: “...o Estado capta na família a força de que precisa na sua constituição”.<br /><br />Houve também o culto à personalidade de Vargas, cujo nome foi dado a logradouros, praças, estabelecimentos, provas esportivas, etc. Sua vida é descrita nos mínimos detalhes.<br /><br />Nas escolas, os livros escolares evidenciavam o labor quotidiano, cuidados do lar, tenacidade, grande virtude militar, a disciplina, etc. O espaço escolar era elaborado de maneira neutralizadora, como uma redoma defensiva do mundo exterior, pleno de tensão e conflitos.<br /><br />COMENTÁRIOS FINAIS<br /><br />Vamos, a seguir, relacionar algumas das mais importantes questões tratadas nos diversos temas. Vamos, também, caracterizá-las e contextualizá-las na medida do possível.<br /><br />Segundo Boris, a esquerda força para enquadrar a revolução brasileira (democrático-burguesa) nos padrões revolucionários da Europa. Parte evidentemente de uma avaliação de que o processo histórico na Europa é distinto e diferente do processo brasileiro. Nega, portanto, não apenas a revolução baseada em classes sociais como também ao etapismo stalinista, segundo o qual há a necessidade de primeiro se fazer a revolução capitalista e depois a socialista. Fausto tem razão na segunda parte, pois o cumprimento de etapas históricas, não é necessariamente um dogma marxista e nem leninista.<br /><br />O mesmo autor, além do que já abordamos no primeiro tópico (as classes não existem porque não são organizadas) afirma também que o Estado autoritário de Vargas assumiu o papel que as “classes” deveriam ter, ou seja, de sujeito histórico. De Decca se contrapõe a essa teoria, afirmando, corretamente, que esse Estado vem justamente para sufocar a classe operária, que era razoavelmente atuante (vide o exemplo do BOC).<br /><br />No entanto, Decca constrói uma “aliança” contra os liberais, que deixa a sugerir a construção de um movimento de caráter autoritário. Mesmo sua tentativa de explicar a situação posterior<br />(a aliança se vira contra seu real inimigo, o comunismo) esbarra muito numa justificativa a la “Arendt”.<br /><br />A questão do Estado como locomotor da industrialização se insere no contexto da explicação de que as classes não existiam como atores históricos (não eram organizadas) e que os reais sujeitos históricos eram o Estado e os militares (um Estado dentro do Estado). Essa mesma justificativa ideológica foi uma das bases para o golpe de 1964.<br /><br />Em relação à estratégia internacional do PCB, na época PC do B ou secção do Brasil da Internacional Comunista, a partir de 1928 seguiu a orientação do VI Congresso do “Komintern” realizado no mesmo ano e que traçou algumas diretrizes básicas internacionais, dentre as quais a da aliança com setores das burguesias nacionais. O exemplo clássico é a aliança do PC Chinês com o Kuomitang. Aliás, segundo Mao, a longa marcha realizada posteriormente foi inspirada na Coluna Prestes.<br /><br />Outra questão é a de que o PCB, a partir da estratégia da revolução democrático-burguesa (uma opção reformista e não revolucionária) nunca mais abraçou a tese da revolução socialista como estratégia de transformação da sociedade, o que nos parece verdade, na medida em que nem durante a ditadura militar de 1964 o partido optou pela luta armada, embora grupos dissidentes o tenham feito.<br /><br />Wanderlei Guilherme Santos faz uma explicação da ideologia reinante no período, mas cai no risco de justificar simplesmente o caráter “sujeito histórico” do Estado autoritário.<br /><br />Pelos textos, o tenentismo, ora produto da classe média, ora um “sujeito histórico distinto”, (novamente uma instituição transformada em ator político) permanece uma figura histórica indefinida até hoje. Indecifrável, à primeira vista, pelo fato de terem alimentado, fornecendo quadros, tanto à esquerda quando à direita reacionária.<br /><br />A outra questão fundamental que permanece em discussão até hoje é a do caráter da sociedade brasileira naquele período: feudal; capitalista ou ambas? Uma outra seria a idéia de que a burguesia nacional tinha interesses nacionais. A revolução de 1964 provou bem que a burguesia nacional pensa estrategicamente como burguesia. Eventualmente se apresenta, em termos táticos, ao longo da história, como nacional ou internacional. Essa é a grande lição.<br /><br /><br />BIBLIOGRAFIA<br /><br />CAPELATO, Maria Helena. “Estado Novo: novas histórias”. In: FREITAS, Marcos (org.). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo, Contexto, 1998.<br /><br />DE DECCA, Edgard. “A dissolução da memória histórica”. In: 1930: O silencio dos vencidos. São Paulo, Brasiliense, 1980.<br /><br />FAUSTO, Boris. “Prefácio à edição de 1997”. In: Revolução de 30. História e historiografia. São Paulo, Brasiliense, 1979.<br /><br />GOMES, Ângela de Castro. “O redescobrimento do Brasil”. In: A invenção do trabalhismo. IUPERJ?Vértice, 1988.<br /><br />LENHARO, Alcir. “A pátria como família”. In: A sacralização da política. Campinas, Ed. Unicamp/Papirus, 1987.<br /><br />LEVINE, Robert. “Introdução”. In: O regime Vargas: os anos críticos 1934/1938. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980.<br /><br />SANTOS, Wanderley Guilherme. “Matizes do pensamento autoritário” In: Ordem burguesa e liberalismo político. São Paulo, Duas Cidades, 1978.<br /><br />SILVA, Zélia Lopes da. “A Domesticação dos Trabalhadores nos anos 30”. Marco Zero, São Paulo, 1991.</div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-25691302760810085462011-06-21T13:09:00.014-03:002011-06-21T13:52:34.325-03:00Guerra Civil Espanhola: O papel da Galícia e galegos no conflito e no regime franquista<div><div align="center"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz7K5nzuyxlOrdAcUyyijjHUbUxdGjBKjgCos3r-YXu-nsGUS0DFK8TJCblSXy_jPNco-M2v4B0SoSLkQbRc9DFDe9EcQi1ctiqWSEwessd3hepj7Y_vwMh_84PUKsv7vzwb16GrCLmpDA/s1600/fransisco_franco_y_adolf_hitler.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; width: 304px; height: 316px; text-align: center; display: block; cursor: pointer;" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5620711546948720098" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz7K5nzuyxlOrdAcUyyijjHUbUxdGjBKjgCos3r-YXu-nsGUS0DFK8TJCblSXy_jPNco-M2v4B0SoSLkQbRc9DFDe9EcQi1ctiqWSEwessd3hepj7Y_vwMh_84PUKsv7vzwb16GrCLmpDA/s400/fransisco_franco_y_adolf_hitler.jpg" /></a>Francisco Franco e Hitler: uma aliança das mais terríveis.<br /><div align="justify"> </div><div align="justify">Professor Eduardo Melander Filho<br /><br /></div><div align="justify">CONSIDERAÇÕES INICIAIS<br /><br />A Guerra Civil Espanhola é tema extremamente amplo e de vasta bibliografia. Muito se tem estudado a respeito e, provavelmente, muito ainda se estudará. É um assunto empolgante, seja pelas paixões políticas que envolvem ainda hoje sua interpretação, seja porque ainda as vozes que falam do conflito são, na maioria das vezes, a do vencedor.<br /><br />Quando escutamos falar sobre a Galícia e os galegos então, as vozes são do preconceito baseado num discurso naturalizante. Temos urgência de uma leitura mais comprometida, senão com a neutralidade, com uma postura crítica e privada de misticismo sobre o assunto.<br /><br />Os antecedentes da Guerra Civil remontam há séculos atrás, particularmente focados no século XIX, quando se desenvolveram as lutas entre liberais e os absolutistas refletidas nas disputas entre isabelistas e carlistas, ambas correntes oriundas da mesma rama Bourbon.<br /><br />O conflito entre republicanos e a direita monarquista apoiada por uma Igreja de estrutura medieval, contra reformas sociais e a favor das elites agrárias, foi uma continuação encarniçada onde se confrontaram as grandes contradições seculares, tendo como pano de fundo as disputas pela posse das áreas de rapinagem do capital, condição essa necessária para o estabelecimento deste sistema baseado na exploração do homem pelo homem.<br /><br />Nas páginas adiante, tentaremos escrever um pouco sobre essas questões. Particularmente, insistimos que a Guerra Civil Espanhola não foi a guerra da Galícia reacionária contra a Catalúnia revolucionária, por suposto, mas em última análise, a luta do trabalhador oprimido contra seu opressor. Foi uma luta de classes.<br /><br />A II REPÚBLICA<br /><br />A vitória dos republicanos e socialistas nas eleições municipais de 1931 fez com que Alfonso XIII abdicasse do trono por receio de uma guerra civil. Assumiu, em seguida, um governo provisório sob a presidência de Alcala Zamora com Azana como ministro da guerra. O cardeal Segura, autoridade religiosa mais importante da Espanha, abandonou o país logo após a proclamação da “liberdade religiosa”.<br /><br />As eleições gerais realizadas em junho do mesmo ano foram vencidas por uma coalizão de republicanos de esquerda e socialistas. A Assembléia Constituinte que se instaurou no mesmo mês tomou importantes deliberações, dentre as quais: separação da Igreja e Estado; fim da Cia. de Jesus e a proibição do ensino pelas ordens religiosas. Não obstante, a Confederação Nacional dos Trabalhadores, central sindical controlada pelos anarco-sindicalistas, decretou a greve dos telefônicos. Os anarquistas começaram também a incendiar igrejas, sendo os piores inimigos do clero reacionário de então.<br /><br />O projeto de Constituição ficou pronto em agosto e tinha como características principais: a definição da Espanha como República Democrática, laica, descentralizada, com câmara única; a participação nas eleições pela forma do sufrágio eleitoral. O artigo 3º garantia a separação da Igreja e Estado e o artigo 26º proibia as ordens religiosas de exercer o comércio, indústria e ensino. Alcala Zamora pediu demissão no mês de outubro, em conseqüência dos debates em torno do artigo 26º.<br /><br />A nova Constituição foi aprovada em dezembro pelas Cortes. Novo governo também tomou posse, com Alcala Zamora como presidente do país e Manoel Azana como presidente do conselho de ministros, numa coalizão de socialistas e republicanos liberais. Os anarquistas, como sempre, ficaram à margem do processo eleitoral. Foi registrado o choque entre a Guarda Civil e os camponeses.<br /><br />Novas leis laicas são decretadas em janeiro de 1932: divórcio; secularização dos cemitérios e expulsão dos jesuítas. Note-se que os cemitérios foram secularizados na França ainda na primeira metade do século XIX, assim como os registros civis e o ensino. Novamente aconteceu o choque entre a Guarda Civil e os trabalhadores na cidade de Arnedo.<br />O general Santurjo, chefe supremo da Guarda Civil, tentou dar um golpe de Estado em Sevilha no mês de agosto, sendo derrotado graças a uma greve geral que foi decretada em oposição à intentona.<br /><br />No mês seguinte foi aprovado o Estatuto da Catalúnia, com a garantia da autonomia lingüística e administrativa, paridade do castelhano e catalão, controle compartilhado do ensino e controle local dos governos municipais, obras e ordem públicas. Foi aprovada também a lei de bases da reforma agrária, onde se garantia a desapropriação sem indenização das terras de senhorio e da Grandeza de Espanha. A reforma agrária, juntamente com as leis contra a Igreja, foram os principais motivos que geraram a guerra civil de 1936, mesmo que a reforma tenha sido barrada a partir de 1933, com a vitória da direita.<br /><br />Após a matança de anarquistas em Casas Viejas no mês de janeiro de 1933, foram realizadas eleições municipais em abril, com os republicanos obtendo maioria e com significativo avanço da direita.<br /><br />As eleições gerais de novembro foram vencidas pela direita. Uma das causas dessa vitória foi a não participação dos anarquistas, que chamaram a “greve pelo voto”, abrindo espaço dessa maneira ao avanço fascista. Lerroux do Partido Radical formou governo com apoio da CEDA de Gil Robles, da Renovação Espanhola, dos monarquistas de Calvo Sotelo e da Comunhão Tradicionalista. No mês anterior havia sido fundada a Falange por Primo de Rivera, antigo ditador que caiu juntamente com a monarquia em 1931. Como primeira medida, o novo governo suspendeu a reforma agrária.<br /><br />O ano de 1934 começou com a CNT convocando uma greve geral em Zaragoça no mês de março, cidade essa que era sede da Federação Anarquista Internacional. Novo governo foi formado em abril em conseqüência da reação causada pela anistia concedida aos militares golpistas de 1932, tendo o general Santurjo como cabeça. Samper assumiu a presidência do Conselho de ministros.<br /><br />Nova greve geral de camponeses foi convocada no mês de junho pela União Geral dos Trabalhadores (comunista) e CNT. Houve grande repressão, com a deportação de camponeses e detenção de deputados.<br /><br />O governo Samper caiu no mês de outubro logo após Gil Robles exigir participação. O novo governo formado por Lerroux convocou três elementos da CEDA para compor o ministério. A reação republicana foi imediata. Socialistas chamaram a greve geral e Companys declarou a independência da Catalúnia, naquilo que ficou conhecido como “Revolução de Outubro”. A greve foi dominada em praticamente todo o território espanhol, a não ser em Astúrias, onde os anarquistas instauraram “Sovietes” por vários dias, controlando a região. A repressão foi violentíssima, empregando tropas do exército e da Legião Estrangeira.<br /><br />Lerroux formou outro governo em março de 1935, com Gil Robles como Ministro da Guerra.<br /><br />As cortes foram dissolvidas em janeiro de 1936 em função da crise instaurada a partir da demissão de Lerroux em outubro do ano anterior. Eleições gerais realizadas em fevereiro deram vitória à Frente Popular, uma coalizão antifascista formada por partidos de centro-esquerda e esquerda. Azana assumiu como presidente do Conselho de ministros. Importante papel exerceu os anarquistas nessas eleições, que decidiram votar na Frente Popular na esperança de barrar a direita e conseguir anistia para os seus militantes prisioneiros desde a Revolução de Outubro. O novo governo não só concedeu anistia a 30.000 revolucionários, como também retomou a reforma agrária e restabeleceu o “status” catalão.<br /><br />Azana foi eleito Presidente da República em maio, chamando Casares Quiroga para formar novo governo.<br /><br />No dia 18/07/1936 aconteceu o golpe de Estado contra os republicanos, com o levante da guarnição da cidade de Melila na África, após os assassinatos do tenente José Castillo da Guarda de Assalto e de Calvo Sotelo.<br /><br /><br />GUERRA CIVIL<br /><br />A rebelião dos militares de extrema direita na Espanha deu resultado imediato praticamente nas áreas onde a direita ganhou as últimas eleições de 1936. As milícias armadas formadas por socialistas, comunistas e, principalmente, anarquistas, garantiram pela força os territórios onde a Frente Popular venceu. No geral, a direita venceu em regiões de economia agrária e atrasada e a esquerda venceu nas regiões mais industrializadas, onde havia um operariado organizado.<br /><br />Logo no início, os focos de concentração nacionalista foram: Marrocos; Canárias; Baleares; o oeste da Espanha, incluindo a Galícia; Andaluzia; Sevilha; Cádis; Granada; Córdoba. Os focos iniciais de resistência republicana foram: Madri; Barcelona; Múrcia; Astúrias; Cantábria; País Basco e Catalúnia.<br /></div><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyw80qHNsupI4Sjp1zVsSlu86BYMuFLR8b6Pky8GMQv0BbOIW3cHv-NoqEjF4PoyX79PHNojc_pZlMglJe7EjvguPPG5oE6JHad_-0JO9f6sQI3Bb7XJu73nZ681t6S0caBknScvi4ncOo/s1600/guerra+civil+1.png"><img style="margin: 0px auto 10px; width: 400px; height: 331px; text-align: center; display: block; cursor: pointer;" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5620710878676535938" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyw80qHNsupI4Sjp1zVsSlu86BYMuFLR8b6Pky8GMQv0BbOIW3cHv-NoqEjF4PoyX79PHNojc_pZlMglJe7EjvguPPG5oE6JHad_-0JO9f6sQI3Bb7XJu73nZ681t6S0caBknScvi4ncOo/s400/guerra+civil+1.png" /></a>Posição das tropas em setembro de 1936<br /><div align="justify"> </div><div align="justify">OPERAÇÕES MILITARES<br /><br />Após a rebelião da guarnição de Melila, as tropas de Franco nas Canárias e de Gudeb nas Baleares aderiram ao movimento. Em seguida, Franco tomou o comando do exército do Marrocos. No continente europeu, Queipo de Llano dominou a situação em Sevilha. A rebelião teve sucesso também nas cidades de Pamplona, Oviedo e Zaragoça. Nesse mesmo mês de julho Giral formou um governo de “concentração nacional”.<br /><br />Tropas marroquinas da Legião Estrangeira cruzaram o estreito de Gibraltar em agosto, sob o comando de Franco, após bombardeio da Marinha republicana por aviões alemães. O general Yague tomou Mérida, se dirigindo em seguida à Badajós, em confluência com tropas que vinham do sul. Caindo essa cidade, toda Extremadura foi ocupada pelos nacionais, unindo as tropas de norte e sul que se encontravam isolada uma da outra, formando fronteira com a totalidade de Portugal.<br /><br />No mês seguinte, a Junta de Burgos nomeou Franco chefe de todas as forças nacionais revoltosas, depois da morte do General Santurjo num acidente aéreo, quando se transladava de Portugal. Mola, seguindo desde Navarra, tomou Irun. Caíram também San Sebastian, Toledo e Talavera de La Reina.<br /><br />Os republicanos criaram o Exército Popular em outubro, iniciando a militarização das milícias, embora com resistência dos anarquistas. Começaram a chegar nesse período os primeiros quadros russos e as primeiras armas. Primeira linha de defesa de Madri sofreu rompimento, sendo ocupada a Cidade Universitária pelas tropas nacionais. O governo autorizou também a criação das Brigadas Internacionais.<br /><br /><br />BATALHA DE MADRI<br /><br />Representantes da CNT anarquista entraram no governo Largo Caballero em novembro de 1936, que se transferiu à Valência pelo motivo da capital do país se encontrar ameaçada pelas tropas dos nacionais. Depois de formada uma “Junta de Defesa de Madri”, a ofensiva que sofria a cidade foi contida. Iniciou-se então a ofensiva de Jarana, onde tropas de voluntários italianos tomaram parte. Málaga foi tomada pelos italianos em fevereiro de 1937. As Brigadas Internacionais formadas por voluntários estrangeiros destruíram em março uma divisão blindada italiana em Guadalajara, aliviando o cerco de Madri.<br /></div><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/-Z74DJKamBjM/TgDGRwitsmI/AAAAAAAACQY/VJkSdFVRVSc/s1600/Mil%25C3%25ADcias%2Barmadas.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; width: 400px; height: 236px; text-align: center; display: block; cursor: pointer;" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5620710343348957794" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/-Z74DJKamBjM/TgDGRwitsmI/AAAAAAAACQY/VJkSdFVRVSc/s400/Mil%25C3%25ADcias%2Barmadas.jpg" /></a>As milícias armadas<br /><div align="justify"> </div><div align="justify">OFENSIVA AO NORTE<br /><br />Ao norte, tropas de italianos e nacionais penetraram em Vizcaya no mês de março, com a Legião Condor, formada por aviões bombardeiros Stukas cedidos juntamente com seus pilotos pela Alemanha Nazista, bombardeando Guernica e Durango em abril.<br /><br />O governo Largo Caballero foi substituído em maio por outro comandado por Juan Negrin, que buscou apoio no Partido Comunista Espanhol e na URSS, que forneceu ajuda significativa, embora de pequena monta e insuficiente. Ao mesmo tempo, estourou uma pequena “guerra civil” entre as forças republicanas em Barcelona, motivada pela tentativa do governo em substituir as milícias por tropas regulares controladas por quadros comunistas. Tropas do governo e militantes comunistas enfrentaram em combate as milícias anarquistas e trotskistas. A repressão subseqüente foi violenta, principalmente por parte dos comunistas. Grande quantidade de milicianos foram fusilados, principalmente os militantes trotskistas do Partido Operário Unificado Marxista, o POUM, acusados injustamente de serem um braço do fascismo. A repressão foi uma extensão do que acontecia na própria URSS, onde ocorriam os “Grandes Processos” contra membros do partido. Lá, a cúpula da “oposição de esquerda” já havia sido executada em 1936. O próprio Trotsky seria assassinado no México em 1940 a mando de Stalin.<br /><br />A fim de barrar o avanço dos nacionais, os republicanos iniciaram em julho a Ofensiva de Brunete e em agosto a Ofensiva de Belchite, usando como estratégia o uso de forças regulares em combates convencionais, desprezando a utilização dos guerrilheiros anarquistas, tendo como conseqüência grande perda de equipamentos e homens. Na verdade o que estava em jogo no lado republicano eram duas concepções estratégicas: ganhar primeiramente a guerra e fazer depois a revolução ou fazer a guerra combinada com a revolução. Obviamente o governo da Frente Popular não estava interessado numa revolução, mas sim numa reforma, no máximo. Os próprios partidos comunistas, seguindo a orientação do VII Congresso da Internacional Comunista – III Internacional – realizado em 1935, tinham como linha de atuação a aliança com partidos liberais em frentes populares a fim de combater o avanço fascista e nazista. O binômio “reforma” ou “revolução” foi um dos grandes causadores da derrota republicana.<br /></div><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/-Wh4w2yaHfBQ/TgDF2ZkSQlI/AAAAAAAACQQ/YNU66Xs-h9w/s1600/guerra%2Bcivil%2B2.png"><img style="margin: 0px auto 10px; width: 378px; height: 400px; text-align: center; display: block; cursor: pointer;" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5620709873325064786" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/-Wh4w2yaHfBQ/TgDF2ZkSQlI/AAAAAAAACQQ/YNU66Xs-h9w/s400/guerra%2Bcivil%2B2.png" /></a>Posição das tropas em outubro de 1937<br /><div align="justify">Bilbao caiu em junho, Santander em agosto e Gijón em outubro, desaparecendo assim a Frente Norte, agora ocupada pelos nacionais. O governo se transladou à Barcelona em outubro. A ofensiva de Teruel pelos nacionais teve início em dezembro, tendo como objetivo cortar em dois a Espanha mediterrânea, isolando a Catalunia do resto do país.<br /><br />Teruel caiu em fevereiro de 1938, juntamente com Viñaroz. Ainda nesse mês, o general Yague dos nacionais conquistou Lérida e outras tropas chegaram ao Mediterrâneo, isolando a Catalúnia. Castellón caiu no mês de junho em conseqüência da Ofensiva Nacional do Levante.<br /><br /><br />CONQUISTA DA CATALÚNIA<br /><br />Os republicanos iniciaram em julho de 1938 a Ofensiva do Ebro. Sete divisões atravessaram o rio do mesmo nome, atacando as forças dos nacionais. As Brigadas Internacionais foram dissolvidas em setembro, numa tentativa sem resultado de atrair o apoio da França e da Inglaterra. Seus integrantes foram enviados para a França e alocados em campos de concentração. Muitos deles foram posteriormente enviados para a morte depois da ocupação alemã, principalmente os de origem germânica ou dos países ocupados. Não devemos nos esquecer que o contingente de comunistas alemães foi, depois do francês, o maior a compor as Brigadas.<br /><br />A Ofensiva do Ebro terminou em novembro com a retirada republicana, depois de cerca de 70.000 baixas.<br /></div><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3bCHakycVzjnxQUIFFi7O1rMJ2o0c0zIpJ-0nsMPRn0uLooIPo5bF1rySI4XxaQBiisC9oSpm8AwX9UimTTJJZPy9bI5S4D12o7Hagn7ZwvwCWuA9dmpM-MIiJ5Izke2N2OSN9oOVlIOo/s1600/guerra+civil+3.png"><img style="margin: 0px auto 10px; width: 378px; height: 400px; text-align: center; display: block; cursor: pointer;" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5620709169161630370" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3bCHakycVzjnxQUIFFi7O1rMJ2o0c0zIpJ-0nsMPRn0uLooIPo5bF1rySI4XxaQBiisC9oSpm8AwX9UimTTJJZPy9bI5S4D12o7Hagn7ZwvwCWuA9dmpM-MIiJ5Izke2N2OSN9oOVlIOo/s400/guerra+civil+3.png" /></a>Posição das tropas em novembro de 1938<br /><div align="justify">Os nacionais então iniciaram a Ofensiva Nacional da Catalúnia em dezembro, caindo Tarragona logo em seguida. Barcelona caiu janeiro de 1939 juntamente com Réus. Toda a Catalúnia caiu em fevereiro.<br /><br />No dia 1 de abril de 1939 terminou a guerra. Antes, numa tentativa frustrada conseguir negociação com os nacionais, o Cel. Casado deu um golpe de Estado em Madri, sem resultados conseqüentes. As últimas cidades que se renderam aos nacionais foram Madri, Valência, Alicante e Múrcia.<br /><br />A Guerra Civil espanhola foi, num certo sentido, um teatro de ensaio para a II Guerra Mundial que já despontava na Europa. O confronto envolveu, de um lado, comunistas, anarquistas, trotskistas, o governo liberal-democrático e os nacionalistas do País Basco, Catalúnia e Galícia, e de outro, monarquistas, falangistas, a extrema direita militar e a Igreja Católica. Os republicanos receberam apoio da URSS e de militantes de todo o mundo que compuseram as Brigadas Internacionais. Os nacionais receberam ajuda da Alemanha Nazista, da Itália fascista, de Portugal de Salazar que mandou a Legião Viriato, dos Camisas Azuis da Irlanda e o apoio de Pio XI.<br /><br /><br />O PAPEL DA GALÍCIA<br /><br />O historiador John Patrick Thompson levanta algumas questões sobre a participação da Galícia na Guerra Civil. Basicamente são duas as que nos interessam.<br /><br />A primeira é sobre o papel da Galícia e do possível alinhamento com os nacionais de Franco, refletido até recentemente pelo mandato prolongado de Manuel Fraga Iribarne, notório franquista que sempre se alardeou dessa condição, que foi eleito pelo voto popular como Presidente da Xunta de Galícia entre 1990 e 2005. Manuel Fraga escreveu o epílogo do livro “La mentira histórica” (1994), que nega o Holocausto e o genocídio da Espanha nas Américas.<br /><br />A segunda é sobre a exumação de valas onde foram enterrados as vítimas do regime e os efeitos na memória coletiva causados por esses descobrimentos recentes. Nesse sentido, a Constituição de 1978 selou um “Pacto de Esquecimento”.<br /><br />É paradoxal que a Galícia tenha exercido papel fundamental na defesa da democracia durante a II República e, logo em seguida, jogado também papel fundamental na vitória de Franco. Eminentes figuras políticas eram nascidas na Galícia: Castelao, um dos fundadores do Partido Galeguista e o principal idealizador do Estatuto de Autonomia; Santiago Casares Quiroga, membro da Izquierda Republicana; Portela Valladares, membro do centrismo; Calvo Sotelo, da Renovação Espanhola e o próprio Franco, que era de Ferrol.<br /><br />A Galícia caiu nos cinco primeiros dias do levante nacional. Considerada “despensa y criadero”, forneceu comida e soldados às tropas falangistas. No entanto, durante o regime franquista, teve 5.000 dos seus assassinados pelos adidos do regime. Pelo fato de não ter havido batalhas em seu território, tornou-se praticamente invisível. A Galícia foi uma verdadeira ratoeira pelo seu isolamento geopolítico. Não havia lugar para onde se fugir, pois todos os limites do território davam para o mar, para a retaguarda dos nacionais ou para Portugal de Salazar, aliado de Franco.<br /><br />A vitória imediata dos nacionais em território Galego e a repressão subseqüente deixaram cicatrizes profundas até hoje na memória coletiva e nas atitudes que tem o galego hoje na política, muito tendente à direita representada pelo Partido Popular, nicho passado e presente do antigo regime.<br /><br />O estigma secular da Galícia como passiva e domável virou esteriótipo alimentado pelo franquismo, pecha existente até os dias presentes. M. Marino teve a audácia de dizer que:<br /><br />“um dos maiores méritos da Galícia foi a naturalidade com que somou ao movimento”.<br /><br />Essa percepção se mantém hoje ainda na memória coletiva. No entanto, a Frente Popular ganhou as eleições em 1936 na Galícia e dois terços dos votantes optaram pelo Estatuto da Autonomia, um mês antes do levante dos nacionais.<br /><br />A população, principalmente a rural, ainda tem medo de falar sobre a guerra ou de denunciar os crimes passados.<br /><br />Porém, essa situação começa a se dissipar após 30 anos de “democracia” baseada num “Pacto de Esquecimento” garantido pela Constituição de 1978. Esse “espírito de conciliação” se traduz na seguinte frase publicada por um periódico da Galícia:<br /><br />“El espíritu de reconciliación y concordia, y de respeto al pluralismo y a la<br />defensa pacífica de todas las ideas, que guió la Transición, nos permitió<br />dotarnos de una Constitución, la de 1978, que tradujo jurídicamente esa<br />voluntad de reencuentro de los españoles articulando un Estado social y<br />democrático de derecho con clara vocación integradora”.<br /><br />Essa situação começou a mudar a partir da promulgação da Lei de Memória Histórica e do descobrimento de valas onde foram enterrados os assassinados pelo regime franquista, durante e depois da Guerra Civil. Estimam-se em 30.000 os corpos ainda não identificados.<br /><br />Por outro lado, O PSOE só recentemente demonstrou interesse nessa questão. Desnecessário dizer que o PP não foi e nem tem sido nada receptivo no assunto. Jornais como El Pais e La Voz de Galícia têm dado cobertura aos eventos. Os jornais de direita, no entanto, como ABC, El Mundo e El Correo Gallego, quase nada tem publicado a respeito.<br /><br />O pacto do esquecimento se traduz numa verdadeira “amnésia histórica” e foi desenhado para suprimir a memória da guerra e dos crimes do regime. A esquerda ao aceitar a igualdade de culpa pelos acontecimentos durante a guerra, admitiu a co-responsabilidade por ela, ficando implícito o esquecimento também da II República. Por isso mesmo o papel democrático exercido pela Galícia durante aquele período, através da Izquierda Republicana e do Partido Galeguista, também caíram no esquecimento.<br /><br />Devemos também destacar o papel importante que a guerrilha teve na resistência ao regime que se instaurou após o término da Guerra Civil. Idêntico destaque à resistência política clandestina dentro e fora do país, em especial à figura carismática de Castelao e Boveda.<br /></div><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/-rHwwhm0PHks/TgDEcKLWehI/AAAAAAAACQA/nmsE7lhKISQ/s1600/guerrilheiros%2Bda%2Bgal%25C3%25ADcia%2Be%2Bleon.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; width: 400px; height: 260px; text-align: center; display: block; cursor: pointer;" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5620708323005725202" border="0" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/-rHwwhm0PHks/TgDEcKLWehI/AAAAAAAACQA/nmsE7lhKISQ/s400/guerrilheiros%2Bda%2Bgal%25C3%25ADcia%2Be%2Bleon.jpg" /></a>Guerrilheiros da Galícia e Leon<br /><div align="justify"> </div><div align="justify">A GUERRILHA GALEGA<br /><br />A guerrilha foi uma das formas de resistência utilizada para combater o regime. Sabemos que ela passou a existir desde o início da Guerra Civil. A partir de 1940, quando havia alta repressão com fuzilamentos e “passeios”, ela aparece mais claramente de forma sempre crescente até 1956. Depois dessa data, começa a decrescer de intensidade.<br /><br />Documentos acusam a criação da “Federación de Guerrillas de Leon-Galicia” em 1946, quando o guerrilheiro anarquista Abelardo Gutiérrez Alba se juntou a Xosé Castro Veiga, o famoso Piloto.<br /><br />Guerrilheiros famosos construíram a mítica de toda essa época: Loucelas, fuzilado em 1951; Piloto, morto em 1965 e Curuxas, morto em 1967 no último episódio da guerrilha.<br /><br />Mais de 10.000 pessoas foram presas ou mortas em episódios relacionados com a guerrilha na Galícia, muitos pelo método do passeio noturno, fuzilamento e enterro em valas comuns clandestinas. No total, somando passeios, execuções por Conselhos de Guerra, fuzilamentos sumários de prisioneiros de guerra e confrontos com a guerrilha, causaram 197.000 mortes na Galícia e mais 200.000 fugitivos exilados no exterior. Existiram vários campos de concentração onde os prisioneiros trabalhavam em regime de escravidão: Lubián; Barvacolla em Santiago de Compostela e Ilha de São Simão em Vigo.<br /><br />Diferentemente de outras regiões, na Galícia são encontrados poucos corpos nas valas localizadas, numa média de cinco por local, enquanto que em outras regiões chegam a 40. Há também grande dispersão de locais de enterramento, que ficam distantes entre si.<br /><br />Os mortos durante a Guerra Civil na Espanha ultrapassaram os 400.000. Os mortos durante o regime de Franco no país ultrapassaram os 2.000.000.<br /></div><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/-CgN_B81oPJw/TgDD4rRRWTI/AAAAAAAACP4/7PqXFWh9Wh8/s1600/Alexandre%2BB%25C3%25B3veda.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; width: 300px; height: 400px; text-align: center; display: block; cursor: pointer;" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5620707713413634354" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/-CgN_B81oPJw/TgDD4rRRWTI/AAAAAAAACP4/7PqXFWh9Wh8/s400/Alexandre%2BB%25C3%25B3veda.jpg" /></a>Estátua de Alexandre Boveda<br /><div align="justify"> </div><div align="justify">ALEXANDRE BOVEDA IGLESIAS E ALFONSO DANIEL RODRIGUES CASTELAO<br /><br />Alexandre Boveda nasceu em 07/06/1903 em Ourense e faleceu em 17/08/36 em Monte de Caiera.<br /><br />Intelectual e funcionário público de carreira por diversos concursos públicos foi também deputado pelo Partido Galeguista.<br /><br />“Motor do Partido Galeguista”, segundo palavras do próprio Castelao, foi fuzilado logo nos primeiros dias da rebelião, após ser julgado por um Conselho de Guerra inimigo. É um dos heróis da Galícia atual, juntamente com Castelao.<br /></div><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/-9Hd5GTkgrOQ/TgDDGsh_MvI/AAAAAAAACPw/WYcROF24kOY/s1600/Castelao.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; width: 304px; height: 400px; text-align: center; display: block; cursor: pointer;" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5620706854758724338" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/-9Hd5GTkgrOQ/TgDDGsh_MvI/AAAAAAAACPw/WYcROF24kOY/s400/Castelao.jpg" /></a>Castelao<br /><div align="justify">Alfonso Castelao nasceu em 30/01/1886 em Rianxo e morreu em 27/01/1950 em Bos Aires (Buenos Aires da Argentina).<br /><br />Considerado o pai do nacionalismo galego, foi médico, caricaturista, escritor, desenhista, pintor, teórico da arte, político e novelista.<br /><br />Morou na Argentina entre 1895 e 1900.<br /><br />Foi eleito deputado na II República em 1931, como Galeguista independente. Nesse mesmo ano, participou ativamente da constituição do Partido Galeguista.<br /><br />Candidato novamente pela Frente Popular foi eleito deputado em 1936, quando apresentou o Estatuto de Autonomia da Galícia, aprovado em plebiscito. A rebelião estourou quando estava em Madri entregando os Estatutos aprovados às Cortes. Organizou então as Milícias Galegas juntamente com o Partido Comunista da Espanha. Transferiu-se juntamente com o governo da Republica para Valência e depois Barcelona.<br /><br />Realizou uma viagem em 1938 para a URSS e outra para New York, quando organizou a Frente Popular Antifascista Galega. Radicou-se em seguida em Bos Aires.<br /><br />Após o final da II Guerra Mundial, se transladou para Paris, onde assumiu a pasta de Ministro Sem Carteira do governo Republicano Espanhol no exílio, entre 1946 e 1947.<br /><br />Castelao é um mito ainda hoje e o cidadão mais ilustre da Galícia recente. Adotou a definição de Stalin de nação, segundo a qual:<br /><br />“Nación é unha comunidade estáble, historicamente formada de idioma, de território, de vida econômica e de hábitos psicolóxicos reflexados nunha comunidade de cultura. Somentes a eisistência de tódolos signos distintivos, em conxunto, pode formar a nación”.<br /><br /><br />BIBLIOGRAFIA<br /><br />• A Câmara insta a quitar dos edifícios públicos os símbolos franquistas. Galícia Hoxe, 27 mar 2008. Disponível em: <http: ids="2" 101="" victimas="" ga="" web="">. Acesso em: 24 mai 2008.<br />• ALEXANDRE Bóveda. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: <http: b3veda="" org="" wiki="">. Acesso em: 28 mai 2008.<br />• ALFONSO Daniel Rodríguez Castelao. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: <http: org="" wiki="" castelao="">. Acesso em: 14 mai 2008.<br />• ANO DA MEMORIA 2006: AS VÍTIMAS, OS NOMES, AS VOCES E LUGARES. Site abonado pela Xunta de Galícia – Conselleria de Cultura e Desporte – Destinado ao registro histórico de desaparecidos e vítimas da repressão durante a Guerra Civil Espanhola e período posterior. Disponível em: <http: 101="" victimas="" ga="" web="" idc="1">. Acesso em: 24 mai 2008.<br />• ATLAS Histórico Mundial. Madrid: Ediciones Istmo, 1975. 2 v.<br />• CORNWELL, John. O Papa de Hitler: A História Secreta de Pio XII. Rio de Janeiro: Imago Editora, 2000.<br />• EL govern aprueba la primeira ley de Espana sobre fosas comunes. La Vanguardia, 25 mar 2008. Disponível em: <http: ids="2" 101="" victimas="" ga="" web="">. Acesso em: 24 mai 2008.<br />• ESCUDIER, Juan Carlos. Uma ley de la Memória para olvidar. El Confidencial, 16 dez 2006. Disponível em: <http: 101="" victimas="" ga="" pdf="" upload="" des="">. Acesso em: 28 mai 2008.<br />• ESPINOSA, Pedro. La espera del cementerio. El País, Madrid, 28 abr 2008. Disponível em: <http: ids="2" 101="" victimas="" ga="" web="">. 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É o que temos insistido em nossos artigos. Infelizmente não iremos mais, a partir dessa data, fazer publicações nesse jornal.<br />As razões são várias. Uma delas é que devemos dedicar mais tempo ao livro que estamos escrevendo. Outra razão é que estamos nos engajando no Movimento Garça Vermelha (Guarapiranga em Tupinambá), recém criado em defesa da nossa represa. É que recebemos notícias concretas de que, além do “gradeamento” das margens (Parque Nove de Julho), existe um projeto em andamento de construir uma “rodovia" (no sentido lato) adjacente à cerca. A população da área e também de fora não está sabendo, evidenciando algum tipo de desinformação proposital. E defesa do meio ambiente não combina com uma via de rodagem. Somos contra a esse projeto. Como nosso movimento está apenas iniciando, os interessados devem entrar em contato com <a href="mailto:movimentogarcavermelha@gmail.com">movimentogarcavermelha@gmail.com</a> a fim de obter informações dos nossos próximos passos. Posteriormente criaremos um blog.<br />Durante esses dois últimos anos, escrevemos 41 artigos publicados quinzenalmente pela Gazeta de Interlagos, versando sobre: História; Geografia; Arqueologia (inclusive regional); Antropologia; Sociologia; Filosofia e, também História Regional. Foram artigos de interesse da comunidade escolar docente e discente, localizada em escolas particulares, municipais estaduais dessa região. E, também, dirigidos às pessoas interessadas em contribuições de alto nível acadêmico, pois nosso intuito sempre foi o da excelência na produção do conhecimento. Nesse sentido, temos certeza da nossa responsabilidade na elevação da cultura científica como um todo e na implementação (neologismo) de novos horizontes mentais a serem conquistados por parte daqueles que leram e entenderam.<br />As mensagens que tentamos passar nos artigos foram: em relação à História, que somos conseqüência de nossos atos e de atos daqueles que vieram antes de nós, mas que o futuro é passível de transformação; à Geografia, que apenas somos pessoas de fato quando temos um lugar onde nascer, viver e morrer; à Arqueologia, que nossos antepassados milenares não eram tão diferentes de nós, pois amavam, cantavam e choravam seus mortos; à Antropologia, que as culturas humanas, embora diversas, são que nos fazem identificar com nossos próximos, nos definindo como os homens que somos; à Sociologia, que ninguém é capaz de viver sozinho e que existe algo mais além do que um “eu” indivíduo, que me transmite a um “eu” todo mundo; à Filosofia, que não vale a pena viver a vida sem um sentido para vivê-la, pois sem ética somos como animais comuns acuados e assustados, portanto perigosos.<br />Gostaríamos de agradecer a todos os leitores do Jornal que, sempre com carinho, nos estimularam nesse nosso caminho. Colocamo-nos à disposição de todos através do endereço eletrônico <a href="mailto:edmelander@hotmail.com">edmelander@hotmail.com</a> para qualquer tipo de consulta ou contato de qualquer caráter.<br />Continuaremos escrevendo e publicando artigos em nosso blog<br /><a href="http://edmelander.blogspot.com/">http://edmelander.blogspot.com/</a>, agora sem as ressalvas de um texto limitado por linhas limite, condição editorial que qualquer jornal impõe.<br />E como se dizia na Roma antiga: Ab inimicis possum mihi ipsi cavere, ab amicis vero non. O significado? A resposta fica para um momento futuro.<br />Desejamos, a todos e às suas famílias, um feliz natal e próspero ano novo. Nossos agradecimentos também ao Jornal Gazeta de Interlagos, que nos permitiu nessa trajetória.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Oratio Vultus Animi Est. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 04 dez 2009 a 16 dez 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. Oratio Vultus Animi Est. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 04 dez 2009 a 16 dez 2009. Edição 145, p. 2. Disponível em: <</span><a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/"><span style="font-size:85%;">http://www.gazetadeinterlagos.com.br</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 07 dez 2009.<br /></span><br /><span style="font-size:78%;">A versão em português que mais se aproxima da frase “ab inimicis possum mihi ipsi cavere, ab amicis vero non” (latim) é “que Deus me proteja dos amigos, que dos inimigos me protejo eu mesmo”, versão essa não publicada no jornal.</span> </div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-28295367323151295942009-11-25T14:01:00.003-02:002009-11-25T22:05:33.054-02:00LEV SEMYONOVICH VYGOTSKY: UMA PSICOLOGIA MARXISTA<div align="center"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sw3Fv65RmmI/AAAAAAAAB4U/l0TNpA-QxQ8/s1600/LEV_SEMYONOVICH_VYGOTSKY.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408196154595842658" border="0" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sw3Fv65RmmI/AAAAAAAAB4U/l0TNpA-QxQ8/s400/LEV_SEMYONOVICH_VYGOTSKY.jpg" /></a><span style="font-size:78%;"> Vygotsky<br /></span><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Professor Melander</span><br /><br />Até a primeira metade do séc. XIX, as variantes em relação aos processos mentais eram duas, ambas inspiradas em Descartes, que considerava o estudo científico do homem restrito ao corpo físico. Uma delas era a de Locke, que era uma concepção empirista da mente, cujas sensações seriam percebidas por estímulo ambiental. A outra era a de Kant, segundo o qual noções de espaço, tempo, conceito de quantidade, qualidade e relação eram originados na mente e não poderiam ser decompostos em elementos simples.<br />Na Segunda metade do séc. XIX, surgiram três novas variantes baseadas em: Darwin, que propôs um sistema de evolução único para todas as espécies regido por leis naturais; Fechner, que propôs em bases fisiológicas os eventos físicos e o funcionamento da mente pela lei natural e Sechenov que propôs uma teoria fisiológica do funcionamento dos processos mentais.<br />Essas três novas visões faziam levantar três novas questões: quais as relações entre comportamento humano e animal; quais as relações entre eventos ambientais e mentais e quais as relações entre processos psicológicos e fisiológicos.<br />Paralelamente surgiu o pensamento de Wilhelm Wundt, que considerava que os processos psicológicos superiores (lembrança voluntária, raciocínio dedutivo, etc.) não poderiam ser estudados pelos psicólogos experimentais, mas sim pelos estudos históricos dos produtos culturais (lendas, costumes, linguagem).<br />Após a I Grande Guerra, duas grandes linhas apareceram então: a de Pavlov, que estudava os reflexos condicionados (a partir de Sechenov) e renegava os processos psicológicos superiores (pensamento, linguagem, comportamento volitivo), considerando que os processos psicológicos eram compartilhados pelos homens e animais e da Gestalt que rejeitava a possibilidade de explicar processos mais complexos a partir de processos psicológicos simples, recusando a validade de analisá-los em seus constituintes básicos. A discussão mundial que se fazia mundialmente, particularmente na Rússia, era essa.<br />Em 1923, já em pleno desenvolvimento da Revolução Bolchevista, foi realizado o primeiro Congresso Soviético de Neurologia, onde aconteceu o grande debate. Chelpanov, diretor do Instituto de Psicologia de Moscou, adepto de Wundt e opositor ao behevionismo, considerava que o Marxismo poderia explicar a organização social da consciência, mas não as propriedades da consciência individual. Kornilov, na ocasião, criticou Chelpanov pelas bases idealistas e propôs a submissão da psicologia a uma estrutura Marxista, usando relações comportamentais como elos básicos. Após o congresso, Kornilov, assumindo o cargo que pertencia anteriormente a Chelpanov, reuniu uma equipe de jovens cientistas, entre os quais Vygotsky.<br />Em 1924, no Segundo Congresso, Vygotsky criticou Kornilov. Para ele, o Marxismo era não somente uma fonte de inspiração, mas acima de tudo um método científico que deveria ser levado a fundo na psicologia. Vygotsky considerava que a crise da psicologia poderia ser resumida em duas vertentes: uma filiada a Ciência Natural e que estudava aos processos elementares sensoriais e reflexos e outra filiada a Ciência Mental e que estudava aos processos psicológicos superiores. Vygotsky tentou uma síntese dos dois, adotando o método do materialismo dialético e propondo o símbolo (linguagem, sinais, etc.) como mediador entre o social e o indivíduo, formulando uma teoria marxista do funcionamento intelectual.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Lev Semyonovich Vygotsky: Uma psicologia marxista. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 19 nov 2009 a 03 dez 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. Lev Semyonovich Vygotsky: Uma psicologia marxista. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 19 nov 2009 a 03 dez 2009. Edição 144, p. 2. Disponível em: <</span><a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/"><span style="font-size:85%;">http://www.gazetadeinterlagos.com.br/</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 25 nov 2009.</span> </div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-43491469745824346372009-11-10T12:58:00.002-02:002009-11-10T13:01:54.658-02:00SAMBAQUIS: DE LIXO DE CONCHAS A CONSTRUÇÃO PROPOSITAL<div align="center"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Svl__IEHiiI/AAAAAAAAB30/O_3WcDAiE10/s1600-h/Sambaqui+Arroio+do+Tamarina+I+-+1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5402489950480861730" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Svl__IEHiiI/AAAAAAAAB30/O_3WcDAiE10/s400/Sambaqui+Arroio+do+Tamarina+I+-+1.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Escavações no Sambaqui Tamarina em São Francisco do Sul- Santa Catarina<br /></span><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Professor Melander<br /></span><br />Os arqueólogos e estudiosos dos Sambaquis no Brasil, que são montanhas de sepulturas cobertas de conchas sobrepostas e datam de 6.000 a 2.000 anos atrás, polemizavam em torno de duas correntes de interpretação. A primeira, denominada naturalista, avaliava os Sambaquis como produto de formação natural, sem interferência do homem em sua constituição. A segunda, artificialista, defendia como produto da intervenção humana.<br />Superada essa polêmica com a agregação quase que unânime em torno dos artificialistas, surge dentro desta corrente dois novos grupos: aqueles que defendem que os Sambaquis foram formados por sucessivas ocupações, por restos de detritos e de alimentos e aqueles que defendem o Sambaqui como lugar de sepultamento, segregado do local de habitação. A polêmica que se estabelece entre estas correntes, denominadas de “moradia” e de “cemitério”, é a que dá o tom do momento no debate entre os arqueólogos da velha e da nova geração.<br />Madu Gaspar, Paulo Dantas De Blasis e outros notórios acadêmicos, entendem o Sambaqui como o resultado de um trabalho social ordenado na construção de um marco paisagístico. Gaspar compara o estudo da construção de um Sambaqui com o estudo da construção de uma igreja. Para ela, a grande variabilidade de rituais funerários encontrados nos Sambaquis, nos acompanhamentos funerários e também nos corpos, indica o início de uma divisão social. Esse pensamento faz parte de uma corrente que pensa nos Sambaquis e Aterros, como os Tesos do Amazonas, como construções, portanto, com uma arquitetura proposital. Esse posicionamento intelectual suscita novas reflexões, pois para se construir um monumento paisagístico é necessário que haja uma ordem social que permita tal construção. Uma ordem social mais complexa, onde já se tenha aparecido indícios de divisão do trabalho.Tradicionalmente, as etapas de evolução tecnológica das populações em estudos no passado são classificadas de: paleoíndios, que são organizados em bandos pequenos em regime igualitário; período arcaico, organizados em grupos maiores de caçador-coletores ou coletor-pescadores, também em regime igualitário; e período formativo, organizados em tribos de agricultores ceramistas, igualitárias.<br />Os Sambaquieiros já foram classificados em todas essas etapas: como bando de nômades, residentes temporários dos assentamentos Sambaquieiros; como pescador-caçador-coletores, inclusive constituindo uma tradição lítica, assim como as tradições Umbu, Humaitá e Itaparica; e como ceramistas, assim como as tradições Tupi-Guarani, Amazônicas, Taquara-Itararé, Una, Aratú e Uru, pois no Maranhão (do Bacanga) há um Sambaqui em que foi encontrada a cerâmica mais antiga da América.<br />Na perspectiva da construção intencional de um monumento paisagístico, centro funerário de rituais ligados, provavelmente, por comparação etnográfica, ao culto dos antepassados, os grupos sociais não poderiam estar organizados em bandos ou tribos, mas em chefias (intermediário entre tribo e Estado antigo), organizações sociais que reuniam milhares de pessoas, em que também apareceriam diferenciações sociais. Dessa forma, o Sambaqui não pode ser visto como uma unidade isolada, mas sim integrante de um sistema maior de Sambaquis, que envolve toda uma região.<br />Essa é a grande questão hoje na discussão dos Sambaquis.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Sambaquis: de lixo de conchas a construção proposital. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 06 nov 2009 a 18 nov 2009. História, p. 2.</span></div><br /><div align="justify"><span style="font-size:85%;">.<br />MELANDER FILHO, Eduardo. Sambaquis: de lixo de conchas a construção proposital. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 06 nov 2009 a 18 nov 2009. Edição 143, p. 2. Disponível em: <</span><a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/"><span style="font-size:85%;">http://www.gazetadeinterlagos.com.br/</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 10 nov 2009.</span></div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-52494347845512069712009-10-29T15:41:00.003-02:002009-10-29T15:46:54.777-02:00FUNDAMENTOS DO POSITIVISMO<div align="center"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SunUxSoAfTI/AAAAAAAAB3o/Rh97JZWM2f8/s1600-h/Auguste_Comte.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5398079571658571058" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 276px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SunUxSoAfTI/AAAAAAAAB3o/Rh97JZWM2f8/s400/Auguste_Comte.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Augusto Comte</span><br /><p align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Prof. Eduardo Melander Filho<br /></span><br />Muitas pessoas leigas e até com formação acadêmica consideram o determinismo como equivalente (igual) ao positivismo. Na verdade, apesar do positivismo poder ser considerado como tal, o determinismo é constituído por uma série de outras doutrinas. Poderíamos dizer então em determinismos (e não apenas um): antropológico; biológico; genético; ambiental (de Skinner) e até teológico. Todas essas variantes podem ser caracterizadas pelo uso extremado das relações de causalidade, sendo que os mais radicais estendem o determinismo da natureza a todas as ações humanas. Kant estabeleceu a distinção entre o determinismo dos fenômenos naturais do livre arbítrio no campo ético, subentendendo que a oposição entre os dois poderia ser interpretada como negação da liberdade.<br />O positivismo de Augusto Comte, que é o filósofo mais importante dessa corrente no séc. XIX, sofreu influências de Saint Simon e Condorcet (no conceito de progresso). Professa a idéia de ciência como previsão e neutralidade política das ciências, afastando-se da teologia e tomando uma atitude agnóstica em relação à metafísica (considerada fantasia). Afirma o positivo (organizar, agregar, construir) como dados do sentido, excluindo o negativo (contradição), entendendo-o (o positivo) como real, útil, certo, preciso, relativo (se opõe ao absoluto), orgânico (holístico) e simpático (ações humanas são modificadas pelo afeto em oposição ao empático na hermenêutica que se refere à ligação espiritual entre estudioso e objeto de estudo).<br />Comte concebeu a História da humanidade em três estados (estágios). O primeiro seria o Teológico, considerado fictício. Seria a infância da humanidade, onde as perguntas principais eram: de onde viemos, para onde vamos. O segundo estado seria o Metafísico, já numa fase abstrata. Era a adolescência da humanidade, onde prevaleceriam entidades abstratas como: povo, éter, espírito, etc. Por último, o estado Positivo, estágio adulto, onde a ciência imperaria e não se procuraria mais saber o porquê, mas o como aconteceu.<br />Tendo como lema: “amor por princípio, ordem por base, progresso por fim”, Comte propõe copiar modelos da biologia para explicar o “organismo social”, definindo o progresso como uma lei da história da humanidade onde, pela ciência, se adquire o conhecimento. É o desenvolvimento da própria ordem. É uma dinâmica com o objetivo de afastar os riscos de convulsão e desordem social.<br />O conjunto do pensamento comteano caminha em direção ao determinismo dos fatos naturais, admitindo apenas a experiência como única fonte de saber e não se preocupando com as causas primordial (o surgimento do mundo) e final (qual o sentido da existência).<br />Obviamente que essa tendência a desenvolver conceitos ligados à ordem e estabilidade social, apelando aos princípios de tradição e autoridade, não agradou às correntes revolucionárias de então e atual, sendo o positivismo considerado por elas como reacionário. A caracterização da prática científica como neutra e apolítica também é criticada por quase todas as outras correntes de pensamento, sabedores que somos de que as pesquisas desenvolvidas em qualquer área do conhecimento (verbas são necessárias) dependem de decisão política que ultrapassa o âmbito da vontade do pesquisador (que também é política). Em última análise, são as forças políticas que compõem o Estado que definem o que é necessário ser produzido em termos de conhecimento.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Fundamentos do Positivismo. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 23 out 2009 a 05 nov 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. Fundamentos do Positivismo. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 23 out 2009 a 05 nov 2009. Edição 142, P. 2. Disponível em: <</span><a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/"><span style="font-size:85%;">http://www.gazetadeinterlagos.com.br/</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 29 out 2009.</span> </p></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-25791666952569931892009-10-24T14:49:00.002-02:002009-10-24T14:54:16.139-02:00AS RAZÕES DA ABOLIÇÃO<div align="center"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SuMwrkrccJI/AAAAAAAAB3U/MA3CtdB1VSc/s1600-h/Revolta+escrava.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396210303658389650" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 272px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SuMwrkrccJI/AAAAAAAAB3U/MA3CtdB1VSc/s400/Revolta+escrava.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Revolta escrava</span></div><div align="center"><span style="font-size:78%;"><br /></span><a href="http://2.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SuMwjdR3YeI/AAAAAAAAB3M/xGPV8dsMrtA/s1600-h/Navio+negreiro.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5396210164233101794" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 243px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SuMwjdR3YeI/AAAAAAAAB3M/xGPV8dsMrtA/s400/Navio+negreiro.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:78%;">Navio negreiro<br /></span><br /><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Eduardo Melander Filho<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">“A crescente necessidade de mão-de-obra numa economia cafeeira em expansão e a ascensão de grupos urbanos descontentes com a escravatura como sistema tornou a abolição uma necessidade. Por que então pode alguém perguntar, os primeiros passos em direção à abolição foram dados no fim da década de 1860 e nos primeiros anos de 1870, antes que estas duas forças pudessem ser consideradas muito fortes? E porque o tráfico de negros era proibido desde 1850? A resposta a estas duas perguntas deve ser encontrada na pressão da Inglaterra.”<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">GRAHAM, Richard. Escravidão, reforma e imperialismo. São Paulo, Perspectiva, 1979. Capítulo “As causas da abolição da escravatura do Brasil”, p. 67.</span><br /><br /><br /><br />“A pressão inglesa: Honra, interesses e dignidade”, texto de autoria de Jaime Rodrigues, trata do processo que levou ao fim do tráfico de escravos da África para o Brasil em 1850.<br />O autor parte da premissa de que, em relação à questão, as explicações mais freqüentes para o final do tráfico são as que privilegiam o papel da pressão inglesa ao Império, pressão essa que se acirrou na década de 1840. Tal argumento seria controverso por ser tomado como determinação histórica. Referindo-se a longa história do relacionamento anglo-lusitano, depois anglo-brasileiro, sobre a extinção do tráfico, enumera seqüencialmente os diversos acordos: Tratado de Aliança e Amizade de 1810 em que D. João se comprometia a manter o tráfico apenas com os territórios africanos que lhe pertenciam ou que ele tivesse “legítimas pretensões”; Congresso de Viena, onde se decidiu indenizar o governo português em 300.000 libras pela captura de navios a partir de 1812, segundo os ingleses por serem de outros paises, embora usassem bandeira portuguesa e perdão da dívida de 600.000 libras contraída em 1809; outro tratado firmado no Congresso de Viena abolindo o tráfico acima da linha do Equador (Costa da Mina), causando atritos entre traficantes e ingleses residentes nas capitanias; Convenção Adicional de 28/07/1817 regulamentando os pontos firmados em 1815, permitindo direito recíproco de visita aos navios, apressamento de navios de tráfico ao norte do Equador, dando indenizações por apressamentos indevidos, proibindo a captura de navios em águas territoriais, instituindo Comissões Mistas em Serra Leoa, Rio de Janeiro e Londres, nomeando Comissários Juízes e Comissários Árbitros e acordando que os africanos apreendidos seriam alforriados e utilizados como assalariados em prestação de serviços.<br />Conversações com os ingleses a respeito da extinção do tráfico se arrastavam desde 1808. No entanto era notório que os gabinetes conservadores ingleses da época adotaram o princípio de não reconhecer nenhum Estado no Novo Mundo que não tivesse abolido. Assim, as conversações após a independência giraram em torno da barganha do reconhecimento da independência em troca da garantia de abolição do tráfico. O reconhecimento veio em 1825, sendo assinado logo após o Tratado anglo-brasileiro de 13/11/1826, que previa o fim do tráfico para dali a três anos, mantendo os termos da Adicional de 1817. O tratado foi ratificado pela Coroa inglesa em 13.03.1827, permitindo conseqüentemente o tráfico legal até 13/03/1830.<br />Em 1826, quando a Assembléia Legislativa voltou a funcionar, o tema do tráfico foi o de maior destaque, discutindo o impasse criado pelas “ingerências externas”, o que feria a “soberania da nação”. Cunha Matos, em pronunciamento, negou a intenção filantrópica inglesa. Clemente Pereira propôs a extinção em 14 anos e não mais em três anos conforme o acordo, com a desculpa de que a economia nacional dependia do braço escravo. Havia uma extrema divergência entre o executivo e o legislativo quanto à questão. A Câmara, apesar de aceitar os termos do acordo a partir de 1827, continuou debatendo durante anos. Os debates giravam em torno aos efeitos negativos do tratado, que além de cercear as atribuições legisladoras da Assembléia, pois impunha penas e sujeitava súditos brasileiros aos tribunais estrangeiros (Araújo Lima apresentou emenda ao projeto Clemente, propondo julgamento de crimes de tráfico por tribunais brasileiros e não mais pela Comissão Mista), prejudicava o comércio brasileiro numa área que mais ele poderia competir: a África. Cunha Matos, nesse ínterim, continuava a definir o tráfico como “provedor de mão de obra e pilar da soberania brasileira”. A situação é melhor definida no trecho adiante, recortado do texto do autor: “A cidadania restrita aos proprietários, e a eles cabendo o direito político de decidir os rumos da “nação”, era uma maneira eficaz de afirmar, perante o exterior, que a soberania nacional passava antes pela consolidação do poder senhorial na sociedade brasileira. Consolidar essa ordem de coisas consistia, entre outros fatores, em regulamentar a sociedade por meio da criação do povo “melhorado” e da constante vigilância policial, bem como definir os limites do poder das autoridades na relação senhor-escravo...”. No entanto, um pouco antes de expirar o prazo de cessação do tráfico legal, o discurso “humanitário” tomou conta da Assembléia. O próprio Cunha Matos, numa guinada de 180 graus, advogou em discurso “o corte ao tráfico de escravos porque assim o exigia a humanidade”.<br />A partir de 1831, com a instalação da Regência, os Ministérios liberais subseqüentes tinham uma posição propícia ao término do tráfico. Por um tempo, no início, os “importadores” foram desencorajados em razão da perseguição que a frota inglesa promovia aos traficantes, perseguição essa que crescia dia a dia. Houve intensa repressão ao desembarque de negros de Pernambuco ao Pará. Foi em 1831 que também se votou a primeira lei abolindo o tráfico. Essa lei se transformou em “letra morta”, pois até 1837 o tráfico aumentou em vez de diminuir. No parlamento, os debates e posições dúbias a respeito do tema se prolongaram até 1850.<br />Os partidos políticos, sem exceção, adotavam posições distintas dependendo da situação. Frente aos “eleitores proprietários”, defendiam a permanência do tráfico. Frente à Coroa Imperial, propunham projetos de extinção do tráfico, devido aos problemas de relações exteriores. Nesse contexto, Caldeira Brant, o autor de 1831, apresentou novo projeto para revogar o anterior de sua autoria, acrescentando que os africanos livres que porventura tivessem sido comprados não poderiam reverter a sua situação, garantindo que os compradores não poderiam ser processados, deixando o ônus do crime para o traficante. Mas na prática, a lei vigente não tinha sido colocada em execução, pois até aquele momento nenhum proprietário havia sido punido de fato.<br />Com a maioridade de D. Pedro II, a Câmara foi dissolvida e só voltou a se reunir em 1843. Os liberais assumiram o Ministério em 1844, com a missão de elaborar novo tratado antitráfico, pois o anterior havia expirado naquele mesmo ano. Com a pressão, por um lado, dos ingleses que desde 1840 aumentaram o apressamento de navios e dentro de águas territoriais brasileiras, e de outro, dos senhores de terra que exigiam o fim da lei de 1831, houve um deslocamento do discurso da “mão de obra indispensável” como argumento de manutenção do tráfico” para “o perigo externo à soberania nacional”. “A ameaça à nação, representada pelas pressões inglesas, tornava-se mais forte do que a ameaça difusa da falta de mão de obra”, frase do autor.<br />As negociações com os ingleses entraram em colapso pela negativa brasileira de assinar um novo tratado de acordo com as proposições inglesas. Conseqüentemente, o governo inglês decidiu promulgar unilateralmente o “Bill Aberdeen” em 08/08/1845, que deliberava o julgamento de navios brasileiros traficantes como “piratas” em tribunais ingleses, capturando-os em qualquer lugar. Em 1848 foi aprovado o projeto Barbacena para evitar “o vexame da submissão aos ingleses”, exceto o artigo “14” que revogava a lei de 1831, cuja votação foi adiada para 1850. Outro trecho do texto é ilustrativo em relação ao problema inglês: “O agravante era a entrada dos navios ingleses em portos brasileiros para capturar tumbeiros, além da consciência da soberania ultrajada. Essa consciência, expressa por Silveira da Mota, não deixava de colocar na história do Brasil a aliança tácita entre traficantes, autoridades do Império e senhores para manter o tráfico em nome da manutenção da agricultura escravista, aliança agora rechaçada em razão da soberania ameaçada pelas agressões britânicas...”.<br />O apressamento de navios brasileiros, que já vinha num crescendo desde 1848, tornou-se gigantesco no ano de 1850. Nesse mesmo ano foi votada em Seção Secreta da Câmara a supressão do artigo “14” do projeto Barbacena, artigo que revogava a lei de 1831 e outras mudanças que ocorreram em 1837. Ficou assim garantida a equiparação jurídica do crime de tráfico com o de pirataria, o julgamento de traficantes sob a alçada da Auditoria da Marinha e dos proprietários sob a Justiça Comum.<br />O autor, por último, explica as razões que levaram a extinção efetiva do tráfico em 1850 e não em 1831. Entre os motivos:<br /><br />- Maior coesão de parcelas da elite política;<br />- Esgotamento do projeto de construção do mercado de mão de obra baseado no escravo como alicerce da produção;<br />- Vínculo entre corrupção dos costumes e escravidão;<br />- Manutenção do direito da propriedade existente;<br />- Pressão inglesa e a necessidade de garantir a soberania.<br /><br />Ressalte-se o medo dos proprietários pelas ações coletivas dos escravos contra o cativeiro em 1831, justificadas na compra de escravos no tráfico ilegal e a aceitação dos mesmos do fim do tráfico em 1850, pelas leis mais brandas aos proprietários que haviam comprado mão de obra no mercado ilegal. Por fim, a pressão inglesa do “Bill Aberdeen” reforçou o surgimento de um consenso entre os parlamentares.<br />Jaime Rodrigues, em relação à questão da pressão inglesa, muito embora não negue a sua importância, chega em determinados momentos a minimizá-la, segundo nossa interpretação.<br />Jaime caracteriza em dois os momentos que precedem à promulgação da lei de 1950: o momento em que se defendia a manutenção do tráfico, porque se precisava de suprimento de mão de obra escrava e o momento em que o perigo à soberania nacional era mais importante.<br />No primeiro momento havia o medo de que a ordem escravocrata estivesse em risco. Num país onde se buscava a consolidação do Estado Nacional baseado na ordem escravocrata e que essa consolidação ainda estava longe de se realizar, realmente era temerária qualquer atitude em oposição ao tráfico, pois isso colocaria em risco a própria base do sistema que se procurava construir. Mesmo assim, isso não evitou que fosse promulgada a lei de 1831, em cumprimento ao Tratado anglo-brasileiro de 1826, este sim aceito como condicionante ao reconhecimento da independência.<br />Apesar da lei promulgada, as medidas de contenção ao tráfico não foram implementadas, com clara conivência inclusive dos poderes constituídos. Por quê? A razão principal é que o Estado se encontrava num dilema. Por um lado, as revoltas que assolavam o país e que só acabaram no fim da década de 1840 e por outro, a obrigação de cumprir as obrigações internacionais que todo Estado deve cumprir. Somente em meados de 1850, quando o Estado baseado na ordem escravista está consolidado é que a questão do tráfico foi resolvida definitivamente. O autor sustenta no texto essa indecisão por parte o Estado através dos debates na Câmara. Posições dúbias, de protelação, de extensão de prazos de cumprimento aos acordos.<br />Por outro lado, embora a extinção do tráfico pudesse afetar a ordem estabelecida pela falta de suprimento de mão de obra, a discussão da instituição da escravidão nunca esteve em questão. Extinção do tráfico não era correlacionada à extinção da escravidão. Isso o autor evidencia no texto.<br />Assim, na década desde os primórdios, mas principalmente na década de 1840, sabia-se que a extinção do tráfico viria inevitavelmente. O problema era de convencimento, o que foi conseguido indiretamente pela pressão britânica e mais diretamente pela redução das conseqüências judiciais aos proprietários que usufruíram desse comércio ilegal durante o período.<br />Podemos assim concluir sobre o autor, que o fim do tráfico se deu por vontade do Estado, que se viu livre para tal decisão a partir do momento de sua consolidação como tal, com a respectiva ordem escravocrata garantida (direito de propriedade), sendo, porém, reforçado em sua decisão através do convencimento exercido pela pressão inglesa, que passa a ser um elemento secundário, ou pelo menos o não mais importante no entendimento da questão. Essa é nossa interpretação da leitura que o texto permite nesse ponto.<br />Já Richard Graham vê na pressão inglesa o fator fundamental para a extinção do tráfico. Muito embora o próprio autor reconheça o papel do Império, que exercia em 1850 controle sobre a nação e que a abundância de escravos ajudou na aprovação da lei, ele caracteriza o fim do tráfico como conseqüência direta da invasão dos portos brasileiros pela Inglaterra.<br />O autor vai mais longe. Enquanto Jaime Rodrigues separa a questão do tráfico da questão da escravidão, evidenciando o término da pressão inglesa em 1850, além de maximizar o papel do Estado no episódio, Graham propõe que a pressão inglesa se dava no sentido da extinção da própria escravidão, tanto que, em seu texto, refere-se à pressão inglesa que se manteve até o ano 1871 com a promulgação da Lei do Ventre Livre, quando então os britânicos param de intervir. Essas são as diferenças básicas entre ambos os enfoques sobre a questão. Sobre Graham, veremos mais a seguir.<br />Richard Graham, com o texto “Escravidão, Reforma e Imperialismo”, considera que duas forças de longo alcance se apresentam como explicações da causa da abolição da escravatura no Brasil: a ascensão do café no centro-oeste paulista e o efeito imediato da fuga de escravos.<br />Fazendo um balanço crítico da historiografia que trata da lei de 1888, que libertou mais de ¾ de milhão de escravos e, segundo essa historiografia, arruinou latifundiários e destruiu o sistema político de então, diz que se fica a impressão de que o parlamento promulgou tal lei por razões humanitárias e por pressão da opinião pública, incitada pelos abolicionistas. Acusa aos manuais brasileiros de enfatizarem a humanidade do Imperador e da Princesa, relegando ao esquecimento a pressão dos próprios escravos a seu favor. Faz citação a alguns autores que corroboram essa visão historiográfica: Clarence H. Haning, segundo o qual comícios, artigos, etc., reduziram a relutância do Parlamento abolicionista e Percy Alvin Martin, que se refere à campanha abolicionista e parlamentar e a ação voluntária de alguns senhores e só de passagem à omissão do exército em perseguir escravos fugitivos. E o autor propõe a questão: “Como o Parlamento escravista acabou com a escravatura por maioria esmagadora? Abandonaram seus vitais interesses em função de serem convencidos por discursos?”.<br />Todas essas explicações partem de teses secundárias. O papel dos abolicionistas foi importante, mas indiretamente, pois se utilizaram dos novos grupos urbanos que surgiram após a guerra do Paraguai, que estimulados pela propaganda, encorajaram a fuga em massa dos escravos. Quanto aos fazendeiros, legalizaram uma situação que já era de fato, evitando posterior perda de autoridade e posição social. A escassez de escravos já vinha de longa data. Influências e pressões externas foram as responsáveis por essa escassez e pelas medidas tomadas em favor dos escravos antes de 1871. Para se entender a ação das forças que levaram à abolição é necessário se entender as mudanças econômicas que se deram na época, que foram a ascensão das exportações de café e conseqüente expansão de plantios para novas regiões e o crescimento e importância das cidades.<br />A revolução Industrial na Europa do século XIX teve como algumas conseqüências o aumento da população urbana e do consumo de artigos de luxo, dentre os quais o café. Novas tecnologias empregadas no transporte marítimo e terrestre diminuíram o custo das mercadorias. Em conseqüência, as exportações cresceram de maneira acentuada. As exportações de café estimularam a construção de vias férreas e em 1868 novas linhas foram construídas de Santos ao centro-oeste Paulista, região cafeeira em expansão em detrimento ao decadente Vale do Ribeira. Com o avanço das fronteiras econômicas, o centro-oeste paulista se incorporou à economia monetária.<br />A ascensão desse “novo grupo de homens” do centro-oeste paulista, cuja origem não era ligada às tradições da terra, mas sim oriundos de um grupo menos favorecido de pequenos proprietários e negociantes (ao contrário dos fazendeiros do Vale do Paraíba), teve conseqüências notáveis. Esse grupo considerava a terra capital e não Status. Eram inovadores, usavam novas técnicas agrícolas e apoiaram, quando não as construíram, às estradas de ferro. Era um grupo que exigia uma fonte de mão de obra mais abundante do que a instituição da escravatura era capaz de oferecer. Esses novos fazendeiros “construtores de estradas de ferro” mostravam interesse na importação de trabalhadores para substituir o braço escravo.<br />Com crescimento do comércio exterior, novos grupos urbanos surgiram. Com o resultante crescimento do comércio nas cidades, novos estabelecimentos surgiram, como os bancos, Cias. de transporte, seguradoras, etc. Esses negócios exigiram o aproveitamento de moradores urbanos para o trabalho em escritórios, na burocracia administrativa, assim como no comércio em geral. Itu, Sorocaba e Campinas se transformam em centros distribuidores de gêneros alimentícios. Com o crescimento urbano, as áreas de monocultura deixam de ser auto-suficientes em termos de produção de alimentos.<br />Surgiram novas atitudes dissociadas dos valores ligados à terra. A influência da Europa era notável: moda vestuária, hábitos alimentares, arquitetura, etc. A ideologia dominante era a da “recompensa de acordo com a capacidade”. Três tipos urbanos que surgiram nessa época eram particularmente adeptos do fim da escravidão: oficiais militares, engenheiros e industriais. Os militares, muito dos quais engenheiros, procediam das cidades e tinham antipatia pela escravidão, além de desprezarem aos bacharéis. Industriais têxteis, muitos deles se transferiram da Bahia para o centro sul em busca de mão de obra assalariada. Os valores desses novos grupos urbanos eram ligados ao conceito de mudança e progresso, na crença numa sociedade de mobilidade social e no individualismo e na economia baseada no lucro. Tais valores exigiam a liberdade de contratar ou despedir.<br />Sempre segundo o autor, a necessidade de mão de obra nas fazendas de café, mais o aparecimento de grupos urbanos descontentes com a escravidão, “tornou a abolição uma necessidade”. No entanto, os primeiros passos no sentido da abolição foram dados no fim da década de 1860 e início da de 1870, antes que essas duas forças (novos fazendeiros e novos grupos urbanos) fossem fortes (como já o dissemos anteriormente).<br />O fim da década de 1870 se tornou favorável ao abolicionismo, pois a economia em expansão exigia mais força de trabalho que a escravidão pudesse dispor.<br />A causa imediata mais importante da abolição foi a fuga de escravos de São Paulo e Rio de Janeiro. Desde 1886 os escravos fugiam por “sua conta e risco”, dirigindo-se às cidades, que se tornaram “território livre” para os escravos. Não houve nenhum empenho na repressão por parte da burocracia do Estado e do Exército, que inclusive se recusou à perseguição. Nos primeiros meses de 1888, finalmente, os fazendeiros começaram a libertar seus próprios escravos para evitar que estes abandonassem as fazendas. Os abolicionistas há muito tempo levavam escravos que vieram depois de 1831 aos tribunais para conseguir sua libertação, mas somente após 1883 é que as sentenças começaram sair em favor dos escravos. Após 1888, os escravos desorientados, ficaram sem saber o que fazer com a sua liberdade.<br />Concluindo, o autor enumera uma série de conseqüências pós 1888:<br /><br />- Depressão geral no interior e empréstimos aos latifundiários;<br />- Deslocamento do centro de poder do Nordeste e Vale do Ribeira para o Centro-oeste paulista;<br />- Vitória no caminho da modernização;<br />- Enfraquecimento da Monarquia que tinha vínculos com latifundiários;<br />- Até os ex-escravos, agora assalariados, privados de senso de vitória, deram passo ao mundo moderno.<br /><br />Hebe M. Mattos de Castro, em “Laços de Família e Direitos no Final da Escravidão”, começa sua exposição relatando que a partir de 1850, houve a concentração da mão de obra escrava nas grandes fazendas de café, com a conseqüente subida do preço dos escravos e a gradativa perda desse segmento por parte da população livre. Foi essa mesma mão de obra escrava a responsável pela expansão cafeeira a leste e oeste. Essa força de trabalho das fazendas localizadas das novas regiões (centro-oeste paulista) correspondia a 90% e das antigas regiões (Vale do Paraíba) 50%.<br />A autora trata exatamente dessa experiência que foi para a escravidão, a introdução do tráfico interno em substituição ao externo após 1850. Durante esse período, se deu a erosão “por dentro” do regime escravocrata, que culminou com os escravos reivindicando direitos. Aquilo que era considerado como privilégio antes de 1850, após foram reivindicados como direitos.<br />O tráfico interprovincial proporcionou intensa transferência de mão de obra escrava para os centros cafeicultores. O regime de trabalho era de no mínimo 12 horas por dia, sem dia de descanso e até a refeição era servida diretamente no local de trabalho para que o tempo fosse o mais possível aproveitável. A grande maioria desses escravos vinha de outras regiões, cada qual com a sua realidade própria. Diferentemente do escravo africano, que era tirado de seu meio original e colocado numa realidade completamente nova, os oriundos do tráfico interno já possuíam uma experiência prévia a respeito. Em seus lugares de origem, muitos deles, principalmente aqueles que vinham das cidades, tinham alguns privilégios relacionados ao controle de seu próprio tempo, manutenção de família, roça própria, dias de folga, horas livres, pecúlio e possibilidade de alforria. Quando em contato com as novas realidades dos cafezais, esses escravos não aceitaram o novo regime de trabalho e a perda dos privilégios, embora não contestassem propriamente a ordem escravista. Mas a partir de 1860, essa ordem passou a ser contestada.<br />A violência andava lado a lado com o paternalismo, pois a própria violência tem limites. Promessas de alforria, favorecimento de plantéis de família, pedaços de terra, etc., constituíam instrumento de controle ligando-o ao vínculo patronal, através da concessão desses privilégios. Mas no cafezal a realidade era diferente. E quando os escravos começaram a “reivindicar antigos privilégios”, os fazendeiros compreenderam como “reivindicação de direitos”. A partir daí aconteceram muitas revoltas, não com o objetivo de fuga, mas para recuperar privilégios perdidos. É importante notar que esses movimentos aconteceram já bem antes do auge do movimento abolicionista de 1880. Já nessa época, negros fugiam. O fato é que após 1850 a escravidão se tornou muito mais violenta em todos os sentidos, com os escravos se recusando a trabalhar se não existissem as condições anteriores: a do cativeiro livre.<br />O papel do Estado também foi importante no sentido de transformar esses privilégios em direitos. Em 1869 foi promulgada a lei que proibia a separação de família, coisa que era rara antes de 1850 e que se tornou comum após, em função da expansão dos cafezais. Em 1871 veio a lei do ventre livre, que também reconheceu práticas que já eram costumeiras, como o direito ao pecúlio e o direito a comprar sua alforria. Essa lei passou por força do trono, assim como a lei dos sexagenários.<br />A lógica paternalista do domínio escravista consistia em transformar em concessão toda ampliação do espaço de autonomia no cativeiro. Como exemplo, a concessão da alforria, que bem administrada pelos senhores podia gerar cativos de confiança e dependentes leais. Filhos, irmãos e netos no cativeiro, prendiam os dependentes forros a seus ex-senhores. No entanto, quando nas fazendas paulistas surgiram movimentos de escravos a partir de noções preestabelecidas de castigo justo, de ritmos de trabalho aceitáveis, enfim, de noções de cativeiro justo e que a priori reconhecia o sistema, ficou claro que “a universalização de um padrão de comportamento senhorial (a concessão) pressupunha tacitamente no reconhecimento de “direitos” e isso era incompatível com a ordem escravista, colocando em xeque as bases de reprodução dessa própria ordem. Com direitos não há escravos. E assim a instituição da escravidão sofria, gradativamente, cada vez mais, de falta de legitimidade. Mesmo assim, num contexto de falta de mão de obra, as alforrias se multiplicaram até para, contraditoriamente, garantir essa mesma mão de obra, enquanto os movimentos escravos, cada vez mais politizados, pressionavam por “direitos universais” e não mais por “privilégios pessoais”. A situação é bem definida nesse trecho do texto em questão: “A defesa das alforrias em massa, que se generalizava entre muitos deles, buscava resgatar a ascendência moral sobre os cativos, em especial nas áreas escravistas menos tocadas pelo tráfico interno”. “Os que as advogavam confiavam não apenas na gratidão dos libertos, mas, sobretudo na força dos laços comunitários e familiares entre os cativos para mantê-los, se não nas fazendas, pelo menos na região”.<br />A concessão de alforria em massa incondicional foi o único meio de tentar se manter os ex-escravos nas fazendas. Esses senhores convertidos de última hora à causa abolicionista, acreditaram e jogaram pesado na gratidão dos libertos e na força dos laços familiares e comunitários. No entanto após o treze de maio, o sistema de trabalho proposto aos libertos foi um fracasso, uma parceria a eito, com a continuidade do trabalho comunitário supervisionado (feitor com outro nome) e divisão da safra. Entre as condições de permanência que os libertos impuseram era o do controle do seu tempo. Houve a quebra geral da autoridade senhorial, com ex-escravos se recusando a sair das fazendas, mesmo quando expulsos. Em conseqüência, houve a crise de abastecimento em 1889 com a quebra da safra desse ano.<br />A política emancipacionista Imperial, manteve sob tutela estatal ou privada sobre os libertos de 1831 (extinção do tráfico), 1871 (ingênuos) e 1885 (sexagenários), assim como alforriados por fundo de emancipação, privando-os de cidadania. Desde 1850, a legislação Imperial tendeu a transformar os costumes em direitos, mas mantendo a condição civil especial para os libertos. O Estado Imperial assegurou o fim do tráfico, o direito à família, mudou em direito a prática do pecúlio e acesso à alforria e proibiu o açoite em 1886.<br />Concluindo, Graham vê na pressão inglesa, necessidade de mão de obra para as plantações de café e ascensão de grupos urbanos, os fatores fundamentais para o fim da escravidão.<br />Como já dissemos anteriormente, considera que a pressão inglesa se dá até o ano de 1871, quando, a partir daí, cessa. Justifica que, até essa data, não havia grupos internos organizados e que, portanto, a própria assinatura da Lei do Ventre Livre se deu por pressão externa. Caracteriza o Império como ligado aos interesses patronais, que seriam contra qualquer medida que beneficiasse forças progressistas contra seus interesses de “classe”. Assim, todas as medidas tomadas pelo Império em favor do fim da escravidão, seriam resultantes de pressão de grupos contrários à ordem patriarcal e na ainda ausência deles, do baluarte do progresso mundial: a Inglaterra.<br />A partir de 1871, dois novos grupos se consolidaram enquanto grupos de pressão ao Império.<br />O primeiro deles foram os fazendeiros “empresários” do centro-oeste paulista, região de novo desbravamento. Esses novos proprietários, antigos pequenos donos de terras e comerciantes, eram empreendedores. Adotaram novas técnicas, construíram estradas, eram capitalistas enfim, em oposição aos antigos proprietários que eram ligados às tradições da terra e a um sistema de produção ultrapassado e que não cabe dentro do capitalismo. Foi esse novo grupo, que se posicionou contra o escravismo e pressionou pela extinção da escravidão e pela importação de mão de obra estrangeira e assalariada. Foram esses fazendeiros que no último momento darão alforria generalizada.<br />O segundo deles são os grupos urbanos que surgiram como conseqüência do crescimento das cidades em função do comércio exterior, grupos esses imiscuídos no comércio das cidades, nos serviços públicos, nas profissões liberais, nas forças armadas, etc. Enfim, são grupos das camadas médias urbanas, ligados às idéias e costumes advindos da Europa, que assimilaram conceitos de liberdade e individualismo, ou seja, de ideologia também capitalista. Foram esses grupos, também progressistas e avessos à ordem escravocrata, que, através da propagação de idéia, influenciarão diretamente os escravos no sentido da rebelião e fuga.<br />A lógica da análise de Graham baseia-se na “intervenção externa”. São fatores externos que efetivamente definem a história do período. Foi por influência Européia, via pressão inglesa, que o Império se viu forçado a tomar atitudes antiescravistas. Também por influência externa, surgiram os novos proprietários, que, capitalistas que eram, estavam ligados aos interesses econômicos centrados na Europa, através da produção de café para o mercado mundial. Os grupos urbanos eram ligados também aos valores de fora, assim como surgiram em conseqüência dessa mesma ligação externa. Em resumo: Capitalistas ingleses que, através da pressão, propiciaram o surgimento dos proprietários de terra capitalistas brasileiros e grupos urbanos ligados ao capitalismo, que pressionaram, através dos escravos e também diretamente, a decretar o fim da escravidão, que por sua vez, era antagônico ao desenvolvimento do capitalismo no Brasil, surgido por introdução Européia. Dentro dessa lógica, a escravidão é a antítese do capitalismo no Brasil.<br />Graham, além de negar qualquer papel de sujeito histórico aos escravos, sugere que os sujetos históricos brasileiros somente o são enquanto objetos históricos de outro sujeito, o capitalismo europeu.<br />Enquanto Graham procura uma lógica externa dos acontecimentos, Hebe de Castro procura na lógica interna a explicação do movimento histórico no período. Ela dá o papel de sujeito histórico aos escravos, agentes que são de sua própria luta, embora não negue o papel importante de outros movimentos como o abolicionismo. Dá status de autônomo aos movimentos dos escravos ao relatar que eles surgiram bem antes de outros movimentos estarem organizados. Esses movimentos, a princípio não contestatórios à ordem escravocrata, surgiram como expressão das contradições internas surgidas dentro do próprio sistema escravista.<br />A autora vê na questão dos privilégios concedidos aos escravos, que associados à pedagogia da violência, serviam de controle aos próprios escravos, o germe da destruição do mesmo sistema. Após o fim do tráfico em 1850, com o crescimento da demanda por braços escravos para o plantio de café, houve a introdução do tráfico interno. A concentração de escravos nos cafezais e o regime de trabalho intenso a que foram submetidos, em detrimento aos relativos privilégios concedidos pelos antigos patrões, resultou em violência e em movimentos reivindicatórios. A partir do momento em que as reivindicações de privilégios são generalizadas, portanto homogeneizadas, passam a ser reivindicações de direitos, entrando em choque com a lógica do regime escravista. É o início da autodestruição.<br />O Império teve um papel importante, pois ao transformar situações de tradição em direito, incentivou o processo. Nesse sentido, a autora percebe o Império como um elemento autônomo e não ligado aos interesses dos proprietários, conforme Graham sugeriu. Hebe define inclusive que o Império agiu em favor dos escravos desde 1831.<br />Quanto aos proprietários, no nosso entendimento, estavam perfeitamente integrados na economia capitalista mundial e que, no princípio, o sistema escravista serviu perfeitamente a estes propósitos. Com o passar do tempo, em função das contradições internas do próprio sistema de produção é que os problemas sugiram. Mesmo assim tentaram manter a escravidão até quando puderam, utilizando finalmente o subterfúgio da alforria geral, como tentativa de manter agregados às fazendas os ex-escravos.<br />Assim, enquanto Graham caracteriza os escravos como objetos históricos de sua liberdade, o Império comprometido com os proprietários escravistas e sujeito as pressões de toda a parte e o fim da escravidão como resultante dessas mesmas pressões externas, Hebe caracteriza os escravos como sujeitos históricos de sua liberdade, o Império como força autônoma e atuante em pró a abolição e o fim da escravidão como resultante da ação das diversas forças e contradições internas intrínsecas ao escravismo. É a lógica da contradição interna versus a lógica da coação externa.<br />Graham vê a extinção do tráfico de escravos e a abolição da escravatura como duas etapas dentro de um mesmo processo histórico, resultantes, ambas, de elementos externos ao escravismo no Brasil.<br />Hebe vê de maneira contrária. Entende que o processo que levou ao fim da escravidão foi longo e contínuo, reservando aos elementos internos do próprio escravismo o papel principal de agentes transformadores.<br />Por fim, Jaime Rodrigues, pelo que percebemos, situa-se numa posição intermediária, dando importância tanto aos elementos externos quanto aos internos.<br /><br /><br /><span style="font-size:180%;">2006</span></div><br /></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-9100498924023717842009-10-20T12:20:00.003-02:002009-10-20T12:25:43.183-02:00A QUESTÃO DO PATRIMÔNIO<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjALsibLAsojRcRFE0_z9kyqXiMYXXLUPteFYwrzV6c-AOO9STOxhw5qrio79og2nxkqQc1wqEN9fLEvuNj7m4RWMu7gdtnb_O2mCXiuQc5GWEJzg9AZP5uFzUsqj6o3jEAVPdv5RH_h1bg/s1600-h/DSC08480.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5394687628264631602" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjALsibLAsojRcRFE0_z9kyqXiMYXXLUPteFYwrzV6c-AOO9STOxhw5qrio79og2nxkqQc1wqEN9fLEvuNj7m4RWMu7gdtnb_O2mCXiuQc5GWEJzg9AZP5uFzUsqj6o3jEAVPdv5RH_h1bg/s400/DSC08480.JPG" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Capela de São Sebastião na ilha do Bororé em São Paulo-SP</span></div><p><span style="font-size:78%;"></span> </p><p align="justify"><span style="font-size:78%;"><span style="font-size:85%;">Eduardo Melander Filho</span></p><div align="center"><br /></div></span><div align="justify">A temática da preservação do patrimônio nacional, segundo nos indica Maria Cecília Londres Fonseca em seu livro “O patrimônio em processo – Trajetória da política federal de preservação no Brasil”, foi objeto de discussão, a partir de 1920, por parte de intelectuais que denunciaram o abandono de cidades históricas, que eram verdadeiro tesouro da nação. Os intelectuais modernistas adotaram um conceito de patrimônio a partir de idéias sobre artes, história, tradição e nação e foram os mesmos que assumiram o Sphan em 1936.<br />O modernismo foi um movimento que, dentre outros aspectos, nasceu sobre a crítica ao passadismo e a linguagem acadêmica de então, mas era constituído de diversas correntes estéticas e ideológicas.<br />Durante os anos 1920 houve uma baixa atuação política dos modernistas, que preferiram à área cultural. No final da década de 1920 e década de 1930 muitos se voltaram para a política militando no Partido Democrático (PD), que reuniu Paulo Prado, Paulo Duarte, Prudente de Morais Neto, Rubem Borba de Morais, Sérgio Milliet, Sérgio Buarque de Holanda, Mário de Andrade e outros.<br />Havia também os conservadores identificados com o grupo católico de Jacson de Figueiredo, editor da “Revista Ordem”, a quem se juntou Amoroso Lima.<br />Outros grupos conservadores voltados à militância política eram o “Verde Amarelo” de Menotti Del Picchia, Cassiano Ricardo, Cândido Mota Filho e Plínio Salgado e o “Anta”, de Plínio Salgado. Eram grupos anti-revolucionários, contra ideologias de esquerda. Defendiam a ordem e a restauração dos valores espirituais, tais como: o culto à pátria.<br />Em 1922, o movimento modernista se apresentou como anti-burguês, mas recebeu apoio e dinheiro da aristocracia cafeeira de São Paulo.<br />No ano de 1926, um grupo de escritores do nordeste, encabeçados por Gilberto Freire, lançou o “Manifesto Regionalista”, evocando os valores da cultura popular. Em Minas Gerais, grupos que giravam em torno das revistas “A Revista” e “Verde” não assumiram a perspectiva esboçada no localismo nordestino.<br />O mais interessante é que Mário de Andrade era um elemento único, pois não se encaixava em nenhum desses grupos.<br />Mário de Andrade foi professor do Conservatório de Música de São Paulo. Foi poeta, romancista, contista, cronista e etnógrafo. Assumiu na década de 1930 a direção do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, sob o governo de Armando Sales de Oliveira, membro do Partido Democrático.<br />A questão da identidade nacional era uma das preocupações centrais dos modernistas, que tinham uma visão crítica em relação ao “Brasil europeizado” e valorizavam o primitivo em nossa cultura. No entanto, achavam que esta identidade ainda estava por se construir. Não é a toa que no prefácio de “Macunaíma” aparece a frase: “não é tempo de se afirmar alguma coisa”, numa alusão de que a elaboração de uma versão de identidade nacional seria tarefa para o futuro.<br />Na arquitetura, o modernismo se valia do contato com a vanguarda européia de Lê Corbusier, paradoxalmente, contra o gosto burguês baseado no Ecletismo da “École das Beaux-Arts” francesa.<br />Os movimentos da década de 1920, tanto de intelectuais quanto políticos, tinham em comum a crítica aos modelos culturais e políticos da Velha República. Todos, apesar de heterogêneos, mobilizaram a opinião pública sob a égide da mudança. No entanto, a participação dos intelectuais modernistas na administração pública só se deu após a revolução de 1930.<br />Com a instituição do Estado Novo, houve um projeto de reforma administrativa, que se deu de fato com o objetivo de apresentar o Estado como legítimo representante da nação, nação essa entendida agora como “indivíduo coletivo” e não mais como “coleção de indivíduos”, segundo a definição liberal. O regime abriu espaços de participação aos intelectuais, muito embora tenha instalado a censura popular às massas.<br />Além da participação dos ideólogos do regime como: Francisco Campos, Azevedo Amaral, Oliveira Viana, Almir de Andrade e outros, houve a participação também daqueles que demonstravam certa reserva ao governo estabelecido.<br />Para a mobilização das massas foram criados símbolos especialmente para invocar a pátria, tais como: bandeira; hinos; efígie de Vargas; etc. No mesmo sentido, houve a nacionalização do ensino fundamental objetivando a criação de uma cultura nacional homogênea. O que preponderou, no entanto, não foi a busca de raízes populares que Mário de Andrade queria, mas sim a tentativa de fazer do catolicismo tradicional, do culto aos símbolos e líderes da pátria, a base mítica do Estado.<br />Quando Capanema assumiu o Ministério de Educação e Saúde, introduziu na instituição uma ampla reforma. Foram criados: o Instituto Nacional do Livro; o Serviço Nacional de Teatro; o Instituto Nacional de Cinema Educativo; o Serviço de Radiodifusão Educativa e o SPHAN, já com Rodrigo de Melo Franco de Andrade em sua direção. Também foram criados o Conselho Nacional de Cultura e o Conselho Consultivo do SPHAN.<br />Houve a criação, no período, de cursos superiores de Ciências Sociais. Primeiramente, a Escola Paulista de Sociologia e Política, em 1933. Depois, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. E, em 1935, a Universidade do Distrito Federal.<br />Nos anos 1930, a arquitetura moderna foi introduzida no Brasil. Arquitetos com ligações modernistas, tais como: Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Afonso Reidy, Marcelo e Milton Roberto, Atílio Correia Lima e outros, receberam apoio de Capanema com a nomeação de Lúcio Costa para a direção da Escola Nacional de Belas Artes em 1930, por influência de Rodrigo Melo de Franco de Andrade.<br />Capanema admitiu para trabalhar no Ministério de Educação e Saúde e em outras instituições ligadas a ele, intelectuais do modernismo, inclusive nomeando Carlos Drumond de Andrade como chefe de gabinete.<br />A relação dos modernistas com o Patrimônio Nacional foi definida a partir de duas dimensões: o sentido de ruptura e a eleição de Minas Gerais como tema e os mineiros como personagens nacionais.<br />Antônio Cândido avalia que em períodos anteriores ao surgimento do modernismo no Brasil, tanto no Império como na Velha República, os escritores eram, de uma maneira ou de outra, dependentes do Estado, pelo fato da maioria da população brasileira ser iletrada, fazendo com que o Estado exercesse uma espécie de mecenato. Daí que, por esta certa dependência, raríssimos foram os casos de escritores que exerceram em seus escritos algum tipo de crítica social ou política, principalmente aos regimes estabelecidos. Os modernistas surgem como uma ruptura desta tradição. Conforme sua frase (Antônio Cândido): “Na verdade, a missão dos modernistas extrapolava o campo estrito da literatura e dos contos. Tratava-se de, ao buscar definir os limites entre a criação literária e a militância política, repensar a função social da arte”.<br />Paulo Eduardo Jardim de Morais tem uma visão diferente. Os modernistas brasileiros, em contato com as vanguardas modernistas européias, perceberam que a modernização artística, no sentido de se romper radicalmente com o passado, só tinha algum sentido em países que tinham uma tradição já internalizada, o que não era o caso do Brasil, pois aqui a tradição ainda estava por se construir. Daí que a adesão total às teses européias do modernismo descaracterizaria o que o Brasil possui de particular, justamente o nacional. Optaram, por assim dizer, pela construção de uma tradição autêntica brasileira.<br />Ambos os autores apontam a peculariedade do caso brasileiro. O modernismo no Brasil avançou rumo à criação de uma nova linguagem estética no sentido de rompimento do passado, ao mesmo tempo em que se projetava na construção de uma tradição, no sentido da continuidade. Uma ambivalência renovadora e conservadora.<br />A relação entre os modernistas e Minas Gerais se estabeleceu a partir de algumas viagens anteriores realizadas por alguns de seus membros. Alceu Amoroso Lima e Rodrigo Melo Franco de Andrade descobriram o barroco mineiro em 1916. Lúcio Costa, quando visitou Diamantina em 1920, ficou admirado com a arquitetura colonial da cidade. Mário de Andrade tomou contato com a arte barroca brasileira da mesma forma, em 1924.<br />Por diversas razões, mineiros, cariocas e paulistas elegeram Minas Gerais como o berço da civilização brasileira.<br />Em 1916, Alceu Amoroso Lima publicou na “Revista Brasil” o artigo: “Pelo passado nacional”, relatando a viagem às Minas Gerais. Na mesma revista, Mário de Andrade publicou um artigo com o mesmo teor, em 1920. “A Revista”, periódico mineiro de Carlos Drumont de Andrade e Martins Almeida, abriu espaço editorial para a discussão da questão do patrimônio nacional. Lúcio Costa publicou em “O Jornal”, o artigo “Uma escola viva de Belas Artes”, defendendo a arquitetura colonial brasileira.<br />Além dos modernistas, Ricardo Severo proferiu uma conferência intitulada “A arte tradicional no Brasil”. Essa conferência foi um marco na tomada de posição dos arquitetos brasileiros em defesa da arquitetura colonial brasileira.<br />Todas essas atividades são antecedentes à criação do SPHAN. O poder público, frente a essas demandas dos intelectuais, respondeu de diversas formas.<br />Na década de 1920, foram criadas as Inspetorias Estaduais de Monumentos Históricos de Minas Gerais em 1926, da Bahia em 1927 e em Pernambuco em 1928.<br />Bruno Lobo foi convidado a elaborar um anteprojeto de lei para a defesa do patrimônio. Tal anteprojeto se tornou inviável, na medida em que atrelou a proteção à desapropriação.<br />O primeiro órgão federal de proteção efetiva ao patrimônio foi criado no Museu Histórico Nacional, por iniciativa de Gustavo Barroso.<br />A Inspetoria dos Monumentos Nacionais foi criada em 1934, dentro de uma perspectiva tradicionalista e patriota. A Inspetoria foi extinta com a criação do SPHAN.<br />A primeira grande iniciativa federal em relação ao patrimônio nacional foi a elevação de Ouro Preto à categoria de monumento nacional.<br />A partir de 1937, com a instituição do Estado Novo, o tema do patrimônio foi integrado ao projeto de construção nacional.<br />A entrada do Estado se deu de maneira definitiva em 1936, quando o ministro Capanema se mobilizou para a proteção dos monumentos e artes nacionais. Recorreu, então, a Mário de Andrade para a elaboração de um anteprojeto. O anteprojeto, em sua primeira versão, caracterizou-se por ultrapassar a visão de “bens isolados”, propondo o estabelecimento de uma instituição para cuidar da questão do patrimônio, em geral, de forma abrangente e articulada.<br />O SPHAN foi instalado experimentalmente em 1936, já sob direção de Rodrigo M. F. de Andrade, com a lei 378 de 13/01/1937. Compunha o órgão: a Divisão de Estudos e Tombamento – DET – ao qual se agregavam a Seção de Arte, Seção de História e o Arquivo Geral, e a Divisão de Conservação e Restauração – DCR. O SPHAN também se enraizava regionalmente através de distritos, possuindo vários Museus regionais que foram criados a partir de 1938. Participaram dessa primeira fase vários elementos, dentre os quais: Mário de Andrade, Rodrigo M. F. de Andrade (de 1936 a 1967), Lúcio Costa, chefe do DET (1937 a 1972), Carlos Drumond de Andrade, Afonso Arinos de Melo Franco, Prudente de Morais, Manuel Bandeira e outros.<br />O anteprojeto de Mário de Andrade foi preterido. No entanto era bastante avançado. Reunia no mesmo conceito, artes, manifestações eruditas e populares. Afirmava o caráter particular nacional e universal da arte autêntica.<br />Sua definição de arte se aproxima da concepção antropológica de cultura. Foram propostas oito categorias de arte:<br /><br />- Arte Arqueológica;<br />- Arte Ameríndia;<br />- Arte Popular;<br />- Arte Histórica;<br />- Arte Erudita Nacional;<br />- Arte Erudita estrangeira;<br />- Artes Aplicadas Nacionais;<br />- Artes Aplicadas Estrangeiras.<br /><br />Valorizava, sobretudo, o valor histórico, que se sobrepunha ao artístico, entendendo histórico como obras que, independente de seu valor artístico, constituem documentos para a nossa História Política.<br />O projeto dava destaque aos Museus Técnicos, que seriam museus pedagógicos, em que a técnica seria apresentada a serviço do conhecimento dos ciclos econômicos do Brasil.<br />Foram instituídos quatro Livros do Tombo, em que todas as obras tombadas seriam inscritas.<br />Quanto à participação popular, ela seria limitada à organização dos museus municipais. O alcance da participação popular, segundo o projeto, seria esse. Partia-se da idéia do intelectual como mediador entre os interesses populares e o Estado.<br />Com o golpe de 1937 e a imposição da ditadura, o que passou definitivamente foi o projeto organizado por Rodrigo J. M. de Andrade, voltado à questão da propriedade e aos meios jurídicos de como lidar com a questão. Surgiu a figura do “tombamento” como fórmula de compromisso entre direito individual, a propriedade e a defesa do interesse público, graças à constituição de 1934 que estabeleceu limites ao direito de propriedade, definindo a função social desta.<br />A orientação que o SPHAN adquiriu no processo de atribuição de valores a partir de então, inseriu-se na tradição européia de constituição do patrimônio nacional, a partir das categorias de História e Arte. O limite atingido pelo SPHAN foi dentro do conceito de monumento histórico expresso da Carta de Atenas de 1933.<br />A prioridade de tombamento foi dada ao que havia sobrado da arte colonial brasileira, em decorrência do processo de urbanização, comercialização ilegal de bens móveis por antiquários a colecionadores, além de que, para as populações locais, esses bens eram considerados “velharias”, dignas para “servir de lenha”. O conceito de civilização material adotado foi elaborado por Afonso Arinos de Melo Franco, que considerava que o elemento português predominava sobre o negro e o indígena, que haviam deixado poucos vestígios.<br />Na arquitetura, grandes quantidades de igrejas foram tombadas, dada a grande quantidade delas, segundo Lúcio Costa.<br />No conceito de “excepcionalidade”, de acordo com a legislação, predominou o caráter discricionário por parte dos agentes, pois não havia um critério definido. Aliás, os critérios em geral adotados pelo SPHAN eram sustentados pela autoridade dos agentes do órgão e não tanto por estudos e pesquisas, além de ser inacessível ao público em geral. Os próprios funcionários consideravam legítimo o exercício desta autoridade, pautando-se em que cabia ao Estado, na época, o papel de interpretar e de guardião dos valores culturais, em sintonia com os propósitos do Estado Novo.<br />Quanto à produção de conhecimento através do acervo resultante dos tombamentos, havia uma preocupação de que fosse objetiva, científica, visando subsidiar o trabalho de proteção e divulgar o conhecimento de arte e da história que o Brasil possui.<br />Os termos do decreto lei 25 de 30/11/1937 foram propositalmente genéricos, definindo o tombamento como um ato administrativo discricionário, fazendo com que as decisões fossem tomadas caso a caso. O estado de conservação do material também era um critério determinante no tombamento.<br />Embora não seja admitido, na prática, o Livro Arqueológico, Livro Etnográfico e Paisagístico e Livro de História, serviram para abrigar bens que, por estarem destruídos, adulterados e que não se havia interesse estético, não atenderiam critérios do Livro de Belas Artes.<br />Algumas constatações que podemos tirar sobre as características dos critérios:<br /><br />1- A constituição do patrimônio no Brasil teve uma preocupação eminentemente estética;<br />2- O rigor nas inscrições não foi uma preocupação imperativa nas primeiras décadas, mas sim a urgência de proteger;<br />3- Muitas vezes, a decisão sobre as inscrições partia de quem a propunha ou do inventariante, segundo critérios pessoais.<br /><br />Na década de 1960, a prioridade de inscrições foi para o Livro de História, mas ainda permaneciam os mesmos critérios em relação ao estudo da obra, dando-se preferência ao Barroco e depois ao estilo Neoclássico. Obras do estilo Eclético, que era a “ovelha negra” da arquitetura brasileira segundo os padrões dos arquitetos modernistas, somente três delas foram tombadas, assim mesmo por seu valor histórico.<br />Resumindo os critérios:<br /><br />a- O principal instrumento de escolha era a autoridade dos técnicos;<br />b- Prevaleceu a apreciação estética baseada nos cânones da arquitetura modernista;<br />c- O valor histórico dos bens não era objeto de maior atenção;<br />d- A prioridade era a de assegurar proteção legal para a inscrição no Livro dos Tombos, ficando em segundo plano o critério das inscrições.<br /><br />A equipe de Rodrigo era constituída, em predominância, por arquitetos, artistas plásticos, pesquisadores, fotógrafos, engenheiros, etc., caracterizando-se por uma grande coesão em torno de um projeto e um grande espírito de equipe. Havia o predomínio de arquitetos, juntando-se a eles, depois de duas décadas, museólogos e só recentemente, historiadores e cientistas sociais.<br />Tem-se a impressão que a instituição se unia contra os inimigos externos, que eram os proprietários de bens a serem tombados, intelectuais preteridos pela instituição, membros da igreja católica e a própria massa, que Rodrigo julgava como ainda não consciente do valor do patrimônio.<br />Daniel Pecant resumiu bem as relações entre o Estado e os intelectuais do novo regime no Estado Novo em duas observações:<br /><br />- Recorria aos intelectuais para alcançar a unidade orgânica da nação, pois era responsável pela identidade cultural brasileira;<br />- Não conhecia outra expressão da opinião pública que não fosse dos intelectuais.<br /><br />Tanto os intelectuais como o Estado Novo entendiam o povo como massa, sem canais próprios de expressão. No entanto, Mário de Andrade e os modernistas valorizavam positivamente o povo através de suas manifestações culturais, reconhecendo a criatividade e a presença viva e dinâmica de nossas raízes culturais.<br />Havia um acordo tácito que permitia a autonomia que o SPHAN possuía dentro do MES: o do não envolvimento dos intelectuais em outras esferas do governo, inclusive censura e propaganda. Havia um claro interesse do governo Vargas em cooptar intelectuais de prestígio para dentro do aparelho de Estado.<br />Silvano Santiago considera a trajetória de Mário de Andrade um exemplo de ambivalência dos modernistas da década de 1920 em relação à política. Ele faz uma citação de uma frase de Mário de Andrade que diz: “Os novos ainda buscam a ‘verdade’, filhos que são do ‘falido espírito burguês liberal’. Já os novíssimos, filhos das ‘diversas ditaduras socialistas ou fingidamente socialistas de agora’, já não se interessam (clercs traidores que são) pela busca da verdade, mas buscam uma ‘lei’”, numa alusão clara a Graciliano Ramos e Jorge Amado, que, pelas suas posições antifascistas e de esquerda, foram perseguidos pelo Estado Novo.<br />A aposentadoria de Rodrigo M. F. de Andrade ocorreu em 1967. Renato Soleiro, arquiteto, substituiu-o, dando fim ao período compreendido como “fase heróica” da instituição.<br />Sérgio Micele afirma em seu texto “SPHAN: refrigério da cultura oficial”, que o anteprojeto de Mário de Andrade não era politicamente viável na época de sua elaboração. No entanto, um confronto entre esta proposta e os rumos que o SPHAN assumiu na época, não contribui na solução dos impasses que hoje se apresentam.<br />Mário de Andrade representava o cosmopolitismo de uma sociedade complexa, apoiada no trinômio imigração-urbanização-industrialização e contrastava com projeto de vida das elites mineiras. A generosidade etnográfica de sua proposta entrou em contraste com a eleição do barroco como base da política preservacionista.<br />A criação do SPHAN representou um passo decisivo de um regime que se dedicava a construir uma identidade nacional. Intelectuais modernistas atuaram em consonância com este projeto, elegendo o barroco como “ponto de partida” para a construção da memória nacional.<br />Pela lista dos imóveis e monumentos tombados pelo SPHAN, percebe-se que ali estão representados “os espécimes característicos de todas as frações da classe dirigente brasileira, nas expressões públicas e privadas, leiga e eclesiástica, rural e urbana, e um extremo esquecimento dos grupos populares, das populações negras e povos indígenas”. Houve uma preferência clara aos bens de “pedra e cal” em detrimento de outras, pelo fato de os arquitetos serem os primeiros mentores da política preservacionista, indicando uma “queda” pelo monumentalismo.<br />A tradição preservacionista no Brasil nunca conseguiu superar a doutrina da “reintegração artística”, que nada mais é senão purificar o prédio a ser restaurado, eliminando quaisquer acréscimos posteriores à construção original.<br />Uma “mistura de proteção política e reduzido impacto intelectual, foi uma das sementes do passadismo culturalista, que passou a nortear as políticas preservacionistas”. Por conta da formação dos intelectuais da geração modernista que foi incorporada ao SPHAN, ele acabou se constituindo num organismo dedicado à salvação do abandono de exemplares arquitetônicos significativos esteticamente para a histórica das formas e estilos da classe dirigente. Em conseqüência, a questão do “retorno social” dos recursos públicos aplicados nunca foi resolvida.<br />Havia na época uma definição operacional restritiva aos acessos da cultura material das elites, o que deu margem ao fortalecimento de instituições concorrentes no trabalho de preservação dos patrimônios preteridos. O SPHAN, dentro deste contexto, transformou-se num “refrigério da cultura oficial”, autodefinindo-se como um organismo “técnico” e imune ao “clientelismo de balcão”, cujas atividades só poderiam ser avaliadas por especialistas. Outras agências não conseguiram operar da mesma maneira, pois possuíam outro tipo de “clientela”. O SPHAN só operava com duas: os arquitetos (que tinham representação) e os empreiteiros.<br />O SPHAN foi bem sucedido no duplo empenho de especialização e isolamento institucional.<br />O autor faz a colocação de que os novos interlocutores das políticas de preservação tendem a propor a democratização do acervo e dos debates à constituição do acervo.<br />Na França, a política de patrimônio foi dilatando suas fronteiras, abarcando quaisquer modalidades de expressão cultural. O conceito de patrimônio foi se antropolizando, mostrando-se sensível a qualquer experiência social. Essa política seria impossível se não contasse com respaldo social e mesmo eleitoral, no sentido de se garantir verbas públicas.<br />Deve-se lembrar que há um peso importante da cultura no contexto da política externa francesa. Há também um retorno dos investimentos no campo da preservação, através dos incentivos a setores da indústria cultural e ramos do artesanato de luxo.<br />A nova política de patrimônio não se guiou por critérios estéticos ou estilísticos, mas sim por critérios de representatividade etnográfica importados das ciências sociais.<br />Houve também a exigência da utilização socialmente produtiva dos bens preservados por parte dos beneficiários, com incentivos vários.<br />Nos Estados Unidos houve uma separação entre conservação e preservação, constituindo-se o primeiro pelo trabalho desenvolvido pelos museus, arquivos, etc., e o segundo, pelo patrimônio arquitetônico e ambiental inserido nos objetivos das políticas de planejamento urbano. Todo o trabalho de preservação se encontra nas mãos de associações e empreendimentos particulares, a maioria com fins lucrativos. Não há legislação protecionista.<br />Tanto na França quanto nos Estados Unidos, as políticas e os responsáveis (públicos e privados) pela preservação, tornaram-se acessíveis às demandas dos movimentos sociais, com critérios etnológicos e sociológicos, em detrimento do gosto burguês de origem européia.<br />O movimento preservacionista dos países desenvolvidos acabou se envolvendo com movimentos de preservação do meio urbano e meio ambiente, pela afirmação dos direitos das minorias à diferença.<br />No Brasil isso não ocorre. Aqui, a reorientação política para os interesses dos grupos populares, pode redundar numa “folclorização sofisticada”.<br />Há motivo de preocupação com a proposta de tombamento do próprio SPHAN na busca de justificar o “status quo” da instituição, eternizando um organismo “fóssil”.<br />Todos os problemas do Brasil se referem à questão da democratização, segundo o autor, que propõe a democratização do acervo, meios de acesso a ele, espaços de debate sobre ele e que se assegure a representatividade da comunidade afeita ao acervo.<br />Antes de tudo, são necessárias algumas considerações. O texto de Maria Cecília Londres Fonseca constituiu-se com a proposta de discutir a “fase heróica” do SPHAN, de sua fundação até a data de aposentadoria de Rodrigo M. F. de Andrade, enquanto que o texto de Sérgio Micele parte já para propostas e estudos de épocas posteriores também. Ambos os textos são peculiares, apresentando divergências pontuais mínimas, sendo a mais importante a que se refere ao anteprojeto de Mário de Andrade. Maria Cecília defende a tese de viabilidade do projeto, que, se fosse implantado à época, seria de um avanço considerável. Chega mesmo a sugerir que toda a trajetória do SPHAN foi devida ao preterimento daquela proposta. Sérgio Micele afirma que não, pois, segundo ele, o projeto era inviável para a época e que, portanto, essa questão está fora da ordem do dia quando se trata de discutir os rumos da preservação do patrimônio nacional nos dias de hoje.<br />Mas o que mais nos assusta são as convergências: ambos são taxativos em defender a proposta de Mário de Andrade e mesmo a postura do escritor em sua época, relacionada à ditadura getulista de direita. Retomaremos mais adiante com esta questão. Antes, vamos apresentar duas outras, que também são relevantes.<br />A primeira é a questão da “democratização” dos assuntos referentes ao patrimônio histórico cultural.<br />Tem-se defendido a “democratização” como se ela fosse a panacéia para todos os males. Se a tradição preservacionista no Brasil é ligada ao autoritarismo, ao elitismo intelectual e à dissociação com as massas, dá-lhe democratização que as coisas ficarão automaticamente resolvidas, como se a própria evocação à idéia já se constituísse num direcionamento infalível. Nesse raciocínio metafísico, a idéia adquire vida própria, instando o participante com seu sopro divino.<br />No Brasil, a idéia de democratizar sempre veio acompanhada, salvo exemplos concretos resultantes de atividades militantes de grupos de esquerda marxistas, da idéia de co-gestão, por um lado, em que os grupos ou comunidades adquirem a autonomia da operacionalização, mas não da decisão final sobre o que elaborar e das regras de funcionamento, e da idéia da auto-sustentação, por outro, jogando às populações tarefas que tradicionalmente são tarefas do Estado, que fica desobrigado, a partir daí, de prestar outra ajuda que não seja a de “conselhos” ou “receitas” através de “cartilhas”.<br />Obviamente que esta idéia nunca interessou ao capitalismo há tempos atrás, quando as únicas organizações populares progressistas das comunidades que existiam eram inspiradas no conceito histórico de luta de classes, conceito agregador. Mas hoje interessa, pois reforça as comunidades organizadas segundo o conceito antropológico de minoria, conceito desagregador.<br />Contudo, a simples possibilidade de democratização é um grande avanço. Avanço esse que deve ser garantido com reflexões sérias sobre o assunto. Deve-se rediscutir o papel do Estado, que no Brasil ainda detém o monopólio do “patrimônio”, sem, no entanto, desobrigá-lo de intervenção, principalmente no fornecimento de suporte financeiro e institucional.<br />Questão central é a de se discutir sim, critérios mais ou menos gerais, que, se não acadêmicos, ideológicos no sentido de fornecer subsídios para que as comunidades garantam a discussão local dos limites e abrangências em que a ação de preservação do patrimônio deve transitar.<br />Afirmamos isto porque se essa discussão não se estabelecer, democracia alguma vai livrar as comunidades de adotarem, por falta de opção cultural, aos mesmos critérios já estabelecidos baseados numa estética burguesa, pré-definidos por uma elite comprometida com as classes dominantes, ou aos critérios ditados pela indústria cultural, com formulações baseadas em premissas do pós-modernismo imperialista e dominador. E é aqui que entra a segunda questão.<br />Durante a “fase heróica” do IPHAN (antigo SPHAN) foram os arquitetos que prevaleceram, dando inclusive o tom da definição de patrimônio histórico e artístico nacional, baseado fundamentalmente em padrões estéticos das classes dominantes, assim como a “História” que se preservou foi através dos bens e monumentos de exaltação dessa mesma elite dirigente.<br />Não é preciso dizer que hoje são os cientistas sociais que detém o monopólio conceptual que define o patrimônio a ser preservado, inclusive o histórico, que passa a ser algo que constituí alguma tradição cultural mais ou menos perene dentro de uma comunidade.<br />Podemos dizer com certeza que, desde a criação do IPHAN (SPHAN), quem definiu a formulação do conceito de “historicidade” foram os arquitetos e, depois, os antropólogos.<br />Mas, o que é “histórico”, sob o ponto de vista do historiador? Não é pelo fato de a participação de historiadores ser pequena dentro das instituições dedicadas à preservação, que se justifica a ausência deles na formulação do conceito que, por sinal, é um conceito que deveria ser formulado necessariamente por... historiadores. No entanto tal não sucede, abrindo espaço para definições fundamentadas no dogmatismo estético ou no relativismo cultural.<br />É essa a tarefa que, no nosso modo de pensar, cabe aos historiadores na questão da preservação do patrimônio histórico e cultural. Se os historiadores não tomarem para si essa tarefa outros o farão, ou pior, cada qual definirá da maneira que lhe convier ou de acordo com suas necessidades de todos os tipos, abrindo espaço para que setores mais poderosos e melhores aparelhados em termos estruturais imponham sua “visão de mundo”, de acordo com interesses espúrios e de toda espécie.<br />Passamos então agora à questão relativa ao Mário de Andrade.<br />Ambos os autores defendem o anteprojeto de Mário de Andrade como avançado para a época. Ambos também realçam que, Mário de Andrade, era uma figura ímpar dentro do modernismo, que não participou de nenhuma agremiação política na época. Então vamos a algumas considerações.<br />Primeiramente, em relação ao movimento modernista, já durante a Semana de Arte Moderna em 1922, revelou-se antiliberal, propondo uma alternativa estética aos padrões europeus adotados nas artes e arquitetura “eclética”. Alguns intelectuais de esquerda se agregaram ao movimento, mas, no Brasil, aqueles que enveredaram nas atividades políticas eram eminentemente de direita. A entrada desses intelectuais no regime Vargas se deu com motivações, conforme veremos.<br />Em segundo lugar, há a tese de que Mário era uma figura única dentro do movimento, que não dá para definir em relação aos grupos de expressão. É preciso entender que Mario de Andrade era funcionário de carreira e o funcionalismo da época trabalhava de acordo com o conceito de que o funcionalismo do Estado deveria ser neutro politicamente e extremamente eficiente. Aliás, foi dentro deste conceito que o SPHAN foi constituído. Claro que ele tinha opiniões políticas e quando ele as manifestou foi à direita (vide comentário contra os socialistas, Graciliano Ramos e Jorge Amado). Daí sua atitude meio “em cima do muro”, atitude essa refletida também em todo o movimento modernista, que não optaram por uma “verdade”, mas a estavam procurando.<br />Em terceiro, no texto de Micele, ele descreve que Mário mais representava o cosmopolitismo de São Paulo e que seu anteprojeto refletia isso. No entanto Mário viajou a Minas Gerais em 1924, adotando a tese da mineiridade. E referiu-se com desdém quando comentou sobre o que sobrou de arquitetura em São Paulo. Mario de Andrade era “mineiro”.<br />Em quarto lugar, o anteprojeto, quando se referiu ao popular, não tinha nada de “avançado”, pois se dirigia ao folclore, às festas populares, ao pitoresco, ao exótico, tão bem ao gosto dos modernistas franceses, quase todas inseridas, de uma maneira ou de outra, dentro de contextos religiosos católicos, fosse uma expressão de minoria ou não. O papel relegado às massas na participação de projetos de preservação dá bem o tom da proposta excludente e elitista de Mário.<br />A quinta questão se refere à tese da ambivalência, que ao mesmo tempo era renovadora e conservadora, tese essa que aparece cada vez que se quer minimizar o regime de Vargas ou até mesmo justificar a participação dos intelectuais modernistas na direção do regime.<br />Tanto o fascismo italiano como o nazismo eram também ambivalentes. Baseavam-se na renovação moderna representada pelas ciências e pelo avanço tecnológico, num sentido e em direção ao progresso. Mas também eram conservadores no sentido de defender uma cultura ligada a um mito fundador: o Império Romano para os italianos e o Primeiro Reich para os alemães. Os modernistas brasileiros também eram pela renovação moderna, mas também procuravam uma cultura baseada numa “fundação”, que encontraram na arte mineira dos primeiros séculos. Os modernistas brasileiros eram tão ambivalentes quanto os fascistas e os nazistas.<br />Por último, para explicar a participação dos intelectuais modernistas no governo Vargas e Estado Novo, recorremos a Gramsci, quando escreveu sobre o papel do intelectual.<br />Gramsci, do Partido Comunista italiano, foi preso em 1925 pelos fascistas e condenado a vinte anos de prisão em 1928. Morreu no cárcere em 1937.<br />Durante o período de prisão, escreveu “Cadernos do Cárcere”, publicados de 1948 a 1951.<br />Véndrine nos mostra que o presidente do tribunal que condenou Gramsci disse que “é preciso impedir esse cérebro de funcionar durante vinte anos”.<br />Os “Quaderni” de Gramsci possuem duas questões centrais que são o papel das ideologias e o papel do intelectual na elaboração da ideologia. Preocupou-se em responder o porquê de as classes dirigentes arrastarem toda a sociedade, servindo-se de intelectuais.<br />Desenvolveu uma reflexão onde percebe que todos os homens possuem uma certa cultura e capacidades técnicas, por isso são intelectuais. Mas nem todos têm funções intelectuais na sociedade. Portanto é por sua função num determinado sistema que se define o intelectual do não intelectual. Em seguida faz uma distinção entre os intelectuais orgânicos, aqueles que são criados pelo sistema para garantir sua coesão e ideologia, e os intelectuais tradicionais, remanescentes das antigas camadas sociais. Ambos desempenham o papel de “consolidar” a ideologia da classe dominante, que será absorvida pelas demais classes. Os intelectuais participam do sistema em diversos graus e por isso nenhum deles é inocente no regime capitalista. Conseqüentemente, toda a revolução deve agregá-los por cooptação ou destruí-los inexoravelmente, dependendo das circunstâncias.<br />Gramsci se recusou a tratar todos os intelectuais como burgueses, pois eles constituem várias camadas que servirão, ou a classe dominante como intelectual orgânico, ou à classe que sobe como uma nova elite de militantes.<br />Podemos dizer que, longe de ser comunista, muito pelo contrário, Vargas seguiu (pela direita) o conselho de Gramsci no cooptação dos intelectuais. Podemos dizer também, que, como diz Gramsci, nenhum intelectual é inocente. Nesse sentido, Mario de Andrade não o era e seu comprometimento com o regime não foi apenas circunstancial, como muitos gostam de afirmar.<br />Existe uma áurea de “mito” rondando Mário de Andrade. É necessária uma desmistificação a fim de colocá-lo no lugar que lhe cabe na História.<br /><br /><br /><br /><span style="font-size:130%;">BIBLIOGRAFIA</span><br /><br /><br /><span style="font-size:85%;">ARANTES, Antonio Augusto. Documentos históricos, documentos de cultura. Texto.<br /><br />FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo – Trajetória da política federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro. Editora UFRJ/MinC-IPHAN. 2005.<br /><br />MICELI, Sergio. SPHAN: refrigério da cultura oficial. Texto.<br /><br />VÉDRINE, Hélène. As filosofias da História – Decadência ou crise. Rio de Janeiro, Zahar, 1997.</span></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-39949909626262934962009-10-12T09:41:00.005-03:002009-10-12T09:50:02.799-03:00PARAÍSO EM PORTO COLÔMBIA<div align="center"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/StMk7oxb_mI/AAAAAAAAB20/Y9DXWUlSwrM/s1600-h/DSC09614.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5391693785868271202" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/StMk7oxb_mI/AAAAAAAAB20/Y9DXWUlSwrM/s400/DSC09614.JPG" border="0" /></a><span style="font-size:78%;"> A beleza das garças e tuiuiús do Rio Grande</span></div><div align="center"><br /></div><div align="center"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/StMkyFQFOmI/AAAAAAAAB2s/xuVSri6VzOA/s1600-h/DSC09505.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5391693621714303586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/StMkyFQFOmI/AAAAAAAAB2s/xuVSri6VzOA/s400/DSC09505.JPG" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Biguás às margens do Rio Grande em Planura-MG<br /></span><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEFBefI2T3ljHJl8hETUyBe0o7R_-mvP1O7CjAsXF1TKu1JSkB1sYLOOtUUh1XkhQ3fgcWkyBm_qVxK7-FbxGBN3NbAcKM7juIEmxKMbXSHyFdv1BVnXDXvH_Ig7tTQxTvtXTlB86kFWAz/s1600-h/DSC09585.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5391693420506234674" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEFBefI2T3ljHJl8hETUyBe0o7R_-mvP1O7CjAsXF1TKu1JSkB1sYLOOtUUh1XkhQ3fgcWkyBm_qVxK7-FbxGBN3NbAcKM7juIEmxKMbXSHyFdv1BVnXDXvH_Ig7tTQxTvtXTlB86kFWAz/s400/DSC09585.JPG" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Águas do Rio Grande e do Rio Pardo que não se misturam<br /></span><br /><div><a href="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/StMkacD5MTI/AAAAAAAAB2c/AtW3dzHqpxE/s1600-h/Grande+Pintado.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5391693215520338226" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/StMkacD5MTI/AAAAAAAAB2c/AtW3dzHqpxE/s400/Grande+Pintado.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:78%;">Grande Pintado</span><br /><br /><br /><br /><div></div><div align="justify"><span style="font-size:85%;">Prof. Melander</span><br /><br />Conversando com freqüentadores do bar dos pescadores do jardim Bela Vista que são leitores assíduos desse jornal, além de já terem sugerido vários temas para os artigos que escrevemos nessa coluna, contaram-nos sobre a pescaria de Dourados enormes e Pintados de mais de 15 kg no Rio Grande da região de Porto Colômbia, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Como de início não acreditamos que peixes desse porte ainda poderiam existir em rios tão próximos à capital do nosso Estado (a região dista 500 km partindo de Interlagos), resolvemos conferir “in loco”.<br />O trecho do Rio Grande que visitamos é situado entre os municípios de Colômbia-SP e Planura-MG (antiga Porto Cemitério) e entre as barragens de Porto Colômbia e Marimbondo, que são duas das treze barragens que possui o referido rio. Entramos também por barco a motor no curso do Rio Pardo, atravessando sua desembocadura (no Rio Grande), adentrando alguns quilômetros em São Paulo (Estado). As águas desse rio são barrentas e quando se encontram com as do Rio Grande, cujas águas são claras, não se misturam, revelando um espetáculo semelhante ao encontro das águas do Rio Negro e Solimões na Amazônia.<br />A barragem (de Porto Colômbia) propriamente dita faz parte do Sistema Furnas e represa águas entre as cidades de Planura-MG e Guairá-SP. Considerada uma Usina Hidroelétrica de baixa queda (40 m de altura), começou a ser construída em 1969, sendo inaugurada em 1973. Nossa navegação se deu rio abaixo da barragem.<br />A beleza da região é indescritível, tamanha a variedade de paisagens, de flora e de fauna. O Rio Grande é um rio largo e nessa época do ano (setembro e outubro) está baixando, deixando à mostra a vegetação de sua área de várzea. Seu canal não é muito profundo, podendo se ver o fundo em determinados trechos. Em suas margens vadeiam desde ratões do banhado (castores) até bandos de capivaras, juntamente com aves de rapina, garças, tuiuiús, colhereiras, paturis, biguás, marrequinhos e outros bichos.<br />Realmente, segundo comprovamos, a região produz grandes Pintados, depois de anos em que se pensava que tinham desaparecido. Os pescadores, usando como iscas lambaris, tuviras, caborjas (cascudinhos), camarões de água doce, minhocas e artificiais, tiram muitos peixes daquelas águas, pescando tanto de “rodada” como "apoitados”. Espetáculo à parte é a pesca da Piapara, que reúne dezenas de barcos num determinado ponto do rio, “cevando” com misturas azedas e através de uma parafernália mecânica, na esperança de bons espécimes.<br />Além dos já citados Dourado, Pintado, Piapara e os utilizados como iscas vivas, existem outras espécies de peixes: Barbado; Cascudo; Cachara (Surubim); Curimbatá; Corvina de água doce (Pescada do Piauí); Jaú; Mandi-açú (Mandijuba ou Mandiúva); Mandi-chorão; Pacu; Piau-três- pintas; Piavuçú; Caranha; Tabarana; Traíra; Trairão; Tucunaré; Piranha; Acará e Jundiá.<br />Vale a pena conhecer aquele lugar, nem que seja apenas para se regalar com a natureza.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Paraíso em Porto Colômbia. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 09 out 2009 a 22 out 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. Paraíso em Porto Colômbia. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 09 out 2009 a 22 out 2009. Edição 141, p. 2. Disponível em: <</span><a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/"><span style="font-size:85%;">http://www.gazetadeinterlagos.com.br/</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 12 out 2009.</span> </div></div><br /></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-31215552633444340042009-10-04T21:37:00.006-03:002009-10-04T21:44:56.559-03:00REPRESA DO GUARAPIRANGA: MARAVILHA ARTIFICIAL<a href="http://1.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SslA_nuDGeI/AAAAAAAAB2U/MxsgrltFheU/s1600-h/DSC09474.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5388909890863569378" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SslA_nuDGeI/AAAAAAAAB2U/MxsgrltFheU/s400/DSC09474.JPG" border="0" /></a><br /><div><a href="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SslAzxipG6I/AAAAAAAAB2M/v6OYg8eyblY/s1600-h/DSC09469.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5388909687341652898" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SslAzxipG6I/AAAAAAAAB2M/v6OYg8eyblY/s400/DSC09469.JPG" border="0" /></a><br /><div><a href="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SslAkQt2DYI/AAAAAAAAB2E/-WsngUyINN0/s1600-h/DSC09472.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5388909420832230786" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SslAkQt2DYI/AAAAAAAAB2E/-WsngUyINN0/s400/DSC09472.JPG" border="0" /></a><br /><div align="center"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SslAWwDN0xI/AAAAAAAAB18/SaiSHtSaoow/s1600-h/DSC09473.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5388909188725199634" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SslAWwDN0xI/AAAAAAAAB18/SaiSHtSaoow/s400/DSC09473.JPG" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Garças na Represa do Guarapiranga<br /></span><br /><br /><div align="justify"><span style="font-size:85%;">Prof. Eduardo Melander Filho<br /></span><br />Inaugurada em 1908, a represa do Guarapiranga, que quer dizer “garças vermelhas” em Tupinambá segundo interpretação de alguns lingüistas, teve sua construção iniciada em 1906 pela “The São Paulo Railway, Light and Power Company Limited”, com a finalidade inicial de regular a vazão do rio Tietê, garantindo assim o fluxo necessário de água para alimentar a Usina Hidroelétrica de Parnaíba, localizada no município de mesmo nome. Apenas em 1928 é que sua finalidade foi ampliada para a de abastecer a cidade de água potável. A partir das décadas de 1930 e 1940, serviu também para alimentar a Represa Billings através do canal do Rio Pinheiros, represa essa cujo objetivo era o de movimentar as turbinas da Usina Hidroelétrica Henry Bordem, situada do município de Cubatão.<br />A Guarapiranga, que abarca os municípios de São Paulo, Embu-Guaçu e Itapecerica da Serra, é resultado do represamento do rio Guarapiranga, sendo alimentada por vários cursos d’água: rios Embu-Guaçu e Embu-Mirim; ribeirões Itaim, Lavras, Represa e Fazenda da Ilha; córregos Luzia, Itararé, Campo Fundo, Piqueri, Itupú, Guavirutuba, São José, Rio Bonito, Rio das Pedras, Tanquinho e Casa Grande.<br />Durante a grande cheia de 1976, a represa transbordou pela sua barragem situada na Capela do Socorro, colocando em risco sua própria existência e a vida de milhares de pessoas que seriam vitimadas pela gigantesca onda de água resultante do rompimento. Sacos de areia foram colocados para evitar maior escape d'água, fazendo com que a crise fosse momentaneamente superada. Posteriormente a altura da barragem foi aumentada, evitando assim possíveis problemas futuros semelhantes.<br />A partir da década de 1980 houve um aumento populacional em sua orla, resultado de invasão por loteamentos clandestinos e de uma política de ocupação mal definida por parte das prefeituras da região. Consequentemente houve uma elevação substancial do nível de poluição das águas, causado pelo escoamento de esgoto e lixo produzidos por essa concentração humana. Atualmente a situação começa a se reverter. Há mesmo um projeto de revitalização desde 2008, cujo objetivo é o de construir uma via panorâmica que circundará a represa, com calçada e ciclovia.<br />Hoje podemos considerar a Guarapiranga como um paraíso faunístico. Durante o ano todo vemos garças brancas, paturis, vários tipos de marrecos e quero-queros em suas margens. Bem-te-vis, sabiás laranjeira, pica-paus amarelos e vermelhos, tico-ticos, bandos de papagaios e maritacas, assim como gambás (saruês), esquilos (serelepes), corujas, gaviões e carcarás, são comuns nas áreas adjacentes, “invadindo” as residências mais próximas. Mas são os peixes, para os aficionados em pescarias, que se resumem em grande diversidade. Completam a lista de parte dos habitantes dessa maravilha artificial que já faz parte da natureza, as espécies: lambaris do rabo amarelo e vermelho; lambari-guassú; tambiú; sagüirú; acarás do tipo comum e Mussoline (testudo); tilápias preta e do Nilo; guarú; canivete; charutinho; muçum; enguia; cascudo; traíra; piranha (pirambeba); bagres comum e africano; piava; tabarana; mandi-chorão; tuvira e carpas diversas, além do mexilhão, camarão de água doce e caranguejo.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Represa do Guarapiranga: maravilha artificial. Gazeta de Interlagos, São Paulo,25 set 2009 a 08 out 2009. História, p.2.<br /></span></div><div align="justify"><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Represa do Guarapiranga: maravilha artificial. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 25 set 2009 a 08 out 2009. Edição nº 140, p. 2. Disponível em: <</span><a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/"><span style="font-size:85%;">http://www.gazetadeinterlagos.com.br/</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 04 out 2009</span></div></div></div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-64557623184535368352009-09-20T17:53:00.003-03:002009-09-20T18:01:09.519-03:00A MÚSICA DE PROTESTO DURANTE A DITADURA<div align="center"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SraWymGjfPI/AAAAAAAAB10/ZSZdoLk3EcI/s1600-h/Vandr%C3%A9.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5383656200533671154" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 325px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SraWymGjfPI/AAAAAAAAB10/ZSZdoLk3EcI/s400/Vandr%C3%A9.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Geraldo Vandre durante apresentação no Festival Internacional da Canção - Maracanazinho - 1968</span></div><div align="center"><span style="font-size:78%;"><br /></span><a href="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SraWrxP7toI/AAAAAAAAB1s/QqvoiJe5PSU/s1600-h/chico_buarque25011.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5383656083266713218" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 250px; CURSOR: hand; HEIGHT: 322px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SraWrxP7toI/AAAAAAAAB1s/QqvoiJe5PSU/s400/chico_buarque25011.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:78%;">Chico Buarque de Holanda</span><br /><br /><div align="justify"></div><br /><br /><div align="justify"><span style="font-size:85%;">Professor Melander<br /></span><br />A MPB de protesto surgiu como continuidade e, ao mesmo tempo, negação da bossa nova, movimento alienado da classe média da zona sul do Rio de Janeiro na década de l950, misto de samba e jazz, que se opunha à “ditadura do samba negro” dos morros cariocas, cujos temas eram a beleza da mulher, o mar, o ócio diletante, etc.<br />Sofreu influência ideológica dos dramaturgos do “Teatro de Arena” e dos “Centros Popular de Cultura” de inspiração comunista, dentro da estética proposta por Jdanov em 1948 (realismo socialista, clareza, simplicidade, tonalismo) e interpretação histórica baseada em Werneck Sodré, sobre a necessidade da revolução democrático-burguesa nacional para atingir a etapa capitalista antes da socialista (etapismo, reformismo).<br />A temática central mais comum era a do “dia que virá” e o discurso era dirigido ao favelado e ao sertanejo retirante. Os recursos musicais se baseavam no sistema tonal, nos acordes dissonantes de nona maior e nos ritmos sincopados regionais brasileiros.<br />Caracterizava-se pelo nacionalismo cultural e pelo anti-imperialismo americano.<br />Em termos práticos, poética e musicalmente, assumiram várias formas: ou de extrema simplicidade (ex: Caminhando = rima pobre, música consonante) ou de complexidade (ex: Sabiá e Ponteio = lírica sofisticada, música com acordes em nona com notável influência dos clássicos [Debussy]).<br />A música era incrementada de instrumentos regionais (viola, berimbau, etc.) e, quando não, havia a imitação sonora e seqüencial dos mesmos.<br />Estabeleceram-se, assim, as oposições: samba X jazz; música de raízes X música americana; compositor militante X compositor alienado; música de arte X música consumo; dissonância X consonância musical; viola caipira X guitarra; MPB X jovem guarda, tropicalismo, etc.<br />As origens históricas desse movimento remontam 1962, quando houve a cisão do PCB e do PC do B, em conseqüência da questão chinesa (rompimento de relações entre a China de Mao e a URSS). Após 1966, com o “racha do Comitê Central do Partidão (PCB), várias organizações surgiram, sendo que a maioria delas optou pela luta armada (a hora é agora). Surgiram assim várias correntes musicais que representavam ideologicamente esses mesmos grupos. É o que aconteceu no Festival da Record de 1967, quando muitas dessas correntes foram contempladas com prêmios.<br />Em 1968, porém, os acontecimentos transbordaram com a ofensiva do Tet no Vietnã, os estudantes nas ruas em Paris, a Primavera de Praga, os protestos anti-guerra nos EUA, a movimentação estudantil em São Paulo e Rio de Janeiro e a guerrilha em plena atividade.<br />Nesse contexto, durante as eliminatórias do Festival Internacional da Canção (Globo), os compositores “alienados” foram desclassificados logo de início por pressão “popular”, indicando a radicalização ideológica do momento.<br />No entanto, na final brasileira, ganhou “Sabiá” de Chico Buarque de Holanda e Tom Jobim, que era uma canção de exílio considerada “reacionária”, contra “Caminhando” de Geraldo Vandré, que era uma crítica ao pacifismo hippie das flores e um rompimento com o conceito do “ dia que virá” (quem sabe faz a hora, não espera acontecer).<br />Tanto Chico como Vandré sofreram ameaças por parte da ditadura. Vandré, entretanto, assumiu uma postura militante de enfrentamento em suas músicas. Chico, ao contrário, optou pelo “dia que virá” e não pela “a hora é agora”, conforme trecho de Sabiá: “vou voltar, sei que ainda vou voltar, para o meu lugar”.<br /><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br />MELANDER FILHO, Eduardo. A Música de Protesto Durante a Ditadura. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 11 set 2009 a 24 set 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. A Música de Protesto Durante a Ditadura. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 11 set 2009 a 24 set 2009. Edição 139, p. 2. Disponível em: <a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/">http://www.gazetadeinterlagos.com.br</a><www.gazetadeinterlagos.com.br>. Acesso em: 18 set 2009.<br /><br /><span style="font-size:130%;">ACESSO ÀS MÚSICAS E VÍDEOS CORRESPONDENTES DAS MÚSICAS RELACIONADAS NESSE ARTIGO:</span><br /><br />- O Ponteio de Edu Lobo e Capinam, com Marilia Medalha e Edu Lobo – 1967<br /></span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=GWPmnVjIC5E"><span style="font-size:85%;">http://www.youtube.com/watch?v=GWPmnVjIC5E</span></a><span style="font-size:85%;"><br /><br />- Caminhando ou Prá não dizer que não falei das flores de e com Geraldo Vandré – 1968<br /></span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=PDWuwh6edkY"><span style="font-size:85%;">http://www.youtube.com/watch?v=PDWuwh6edkY</span></a><span style="font-size:85%;"><br /><br />- Sabiá de Chico Buarque de Holanda e Tom Jobim com Cynara e Cybele – 1968<br /></span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=U9epAdaRXCk&feature=PlayList&p=F60D3DA7F43A4640&playnext=1&playnext_from=PL&index=24"><span style="font-size:85%;">http://www.youtube.com/watch?v=U9epAdaRXCk&feature=PlayList&p=F60D3DA7F43A4640&playnext=1&playnext_from=PL&index=24</span></a><span style="font-size:85%;"><br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES COMPLEMENTARES DE ARTIGOS ANTERIORES:<br /></span><br />MELANDER FILHO, Eduardo. São Paulo: um resumo histórico-social. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 28 ago 2009 a 10 set 2009. Edição 138, p. 2. Disponível em: <a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/">http://www.gazetadeinterlagos.com.br</a> <www.gazetadeinterlagos.com.br>. Acesso em: 18 set 2009.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. O “Se” na História. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 14 ago 2009 a 27 ago 2009. Edição 137, p. 2. Disponível em: <a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/">http://www.gazetadeinterlagos.com.br</a> <www.gazetadeinterlagos.com.br>. Acesso em: 18 set 2009. </span></div><br /></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-38786025619328358972009-09-02T10:10:00.002-03:002009-09-02T10:17:16.757-03:00SÃO PAULO: UM RESUMO HISTÓRICO-SOCIAL<div align="center"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sp5vjcfsPDI/AAAAAAAAB1U/SMlt_90TCfE/s1600-h/DSC09337.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5376857659862170674" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 266px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sp5vjcfsPDI/AAAAAAAAB1U/SMlt_90TCfE/s400/DSC09337.JPG" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Velejar na represa do Guarapiranga em cheia: uma das opções de lazer da cidade de São Paulo.<br /></span><div align="justify"><br /><br /><span style="font-size:85%;">Professor Melander</span><br /><br />A cidade de São Paulo foi fundada em 1554 pelos Jesuítas, junto a uma aldeia Tupi. Seu primeiro nome foi o de “São Paulo de Piratininga”, que em tupinambá quer dizer: peixe seco.<br />No transcorrer dos séculos XXVI, XXVII e XXVIII, serviu como residência e base de abastecimento dos bandeirantes, que adentravam no interior do continente em terras espanholas em busca de riquezas e a fim de escravizar os índios. Esses aventureiros falavam a língua geral brasileira, que era uma espécie de tupi antigo, e também o espanhol. A maioria mal sabia pronunciar algumas palavras em português.<br />Até a primeira metade do século XIX, São Paulo era uma cidade pequena, menor do que algumas cidades do interior paulista, como Campinas. A partir da segunda metade do século XIX, com a expansão do café e a construção de vias férreas para escoamento da produção, a cidade tornou-se um centro de entroncamento ferroviário, comércio e abastecimento, crescendo em conseqüência disso.<br />A imigração estrangeira e a libertação dos escravos fizeram com que São Paulo também tivesse seu crescimento populacional incrementado. Os italianos, em particular, se deslocaram para a cidade no final do século XIX e começo do XX, fugindo das duras condições de trabalho nas fazendas do interior e para onde haviam se dirigido quando chegaram ao Brasil.<br />Mas foi somente com Getúlio Vargas, a partir de 1932, que São Paulo entrou em vertiginoso crescimento industrial, devido às políticas de incentivo daquele presidente. A partir daí, nunca mais deixou de crescer.<br />Nova grande migração aconteceu na segunda metade do século XX, agora de nordestinos em geral, forneceu mão de obra não qualificada barata para a construção civil e também para determinados setores da indústria.<br />Hoje, São Paulo é uma das maiores cidades do mundo em termos populacionais. A região considerada “grande São Paulo”, que abarca os municípios circunvizinhos, possui mais de 15.000.000 de habitantes, perdendo na América Latina apenas para a cidade do México, que é a maior do mundo.<br />Obviamente que uma megalópole dessas proporções tem também grandes problemas a serem resolvidos, muitas vezes gerados pelo seu próprio gigantismo. Bairros ricos convivem com favelas, lado a lado. Grandes fortunas individuais coexistem com uma grande massa de desempregados e sem teto, desprovida de serviços públicos como saneamento, eletricidade regular, asfalto, hospitais, postos de saúde e escolas suficientes. Há todo um processo de marginalização da periferia da cidade, fazendo com que as pessoas, principalmente os jovens, não cultivem perspectivas para o futuro, permanecendo numa constante baixo-estima pessoal. A violência decorrente é fruto dessas contradições, assim como também da falta de ética e humanidade, muitas vezes agravada por forte desvio de personalidade individual.<br />Paralelamente, oportunidades únicas para a melhoria das condições de vida e de crescimento do horizonte mental se apresentam. A cidade possui os melhores hospitais, escolas, universidades, vida cultural e opções de lazer do país, além de oferecer muitas perspectivas de realização profissional.<br />São Paulo é uma cidade que oferece o que há de melhor no mundo, mas também o que há de pior.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTE:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. São Paulo: Um resumo Histórico-social. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 28 ago 2009 a 10 set 2009. História, p. 2. </span></div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-47387434671707054802009-09-02T09:43:00.002-03:002009-09-02T09:49:42.380-03:00O "SE" NA HISTÓRIA<div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWipxLqClHfhmPg0CexmEFENniwPbH01pTPMMAEtKxv_0b8sc9_hasa1NnHT6Hv_VjNTqskhXioEcD3F0vr9chiCwAF7GxRpJ3kyrmwVT0bUSuPvZMMXnVoTA1L-oY2hkHkoh0iGG9uTIx/s1600-h/DSC01615.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5376850950629062114" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWipxLqClHfhmPg0CexmEFENniwPbH01pTPMMAEtKxv_0b8sc9_hasa1NnHT6Hv_VjNTqskhXioEcD3F0vr9chiCwAF7GxRpJ3kyrmwVT0bUSuPvZMMXnVoTA1L-oY2hkHkoh0iGG9uTIx/s400/DSC01615.JPG" border="0" /></a><span style="font-size:78%;"> Universidade de São Paulo: Campus da capital<br /></span><div align="justify"><br /><br /><span style="font-size:85%;">Professor Melander</span><br /><br />Foi Platão quem primeiro professou a ideia, conforme os ideais socráticos, de que vencer a sabedoria pela ignorância e a essência pela aparência, utilizando uma retórica comprometida como “ganhar uma discussão a qualquer custo”, é sofisma, diminutivo pejorativo de “sophoi” (sabedoria), em oposição aos propósitos vinculados à busca incessante da verdade.<br />Os sofistas, dessa maneira, estariam mais propensos primeiramente à persuasão e por último à verdade. Em última análise, os sofismas ou falácias são tapeações bem montadas e destinadas a consecuções de práticas demagógicas.<br />Aristóteles, posteriormente, montou um esquema de prevenção, onde desenvolveu uma classificação tipológica dos sofismas conhecidos na época. Nela ele descreveu treze falácias ou argumentos falaciosos, dentre as quais o “contrafáccio” ou “hipótese contrária ao fato”, que é um argumento do tipo “se Judas não tivesse traído, Jesus teria sido crucificado?”.<br />Quando pensamos em História, pensamos imediatamente no passado, em fatos que aconteceram. Pensar, pois, em possibilidades outras de acontecimentos que poderiam surgir como alternativa contestatória aos fatos reais, seria no mínimo de temeridade certa, pois a matéria prima do historiador é a dos acontecimentos do passado e não dos possíveis acontecimentos que nunca se realizaram.<br />Para um historiador positivista, que pensa numa História descritiva e não interpretativa, a simples ideia da possibilidade de existir acontecimentos históricos não registrados em documentos deve ser considerada heresia.<br />Já para um historiador que pensa numa explicação teológica da História, o contrafáccio seria aceitável, pois, segundo ele, a História não seria mais do que uma ilustração dos desígnios divinos, uma alegoria em que os homens seriam apenas atores de Deus, que provariam através dos acontecimentos a pequenez humana e a Sua grandeza perante a trama formada por Ele mesmo. Aos que professam essa História baseada num “didatismo moral divino” é necessário se mostrar a todo o momento a ideia do contrário. Deus luta constantemente contra as forças opostas: as dos príncipes angelicais traidores. São eles mandados por “Lúcifer” ou “Mefistófeles dos gregos”, que “dá ordens a setenta e oito príncipes, que comandam seiscentas e sessenta e seis Legiões formadas cada uma delas por seis mil, seiscentos e sessenta e seis anjos caídos ou demoníacos”. A possibilidade de acontecimentos paliativos ou alternativos está a todo momento em colocação disponível, mesmo que, inexoravelmente, Ele, com seus vaticínios deíficos, sempre Se impôs, Se impõe e Se imporá perante a História, pois Ele era, é e será.<br />A princípio, os maiores adversários da hipótese contrária ao fato deveriam ser os historiadores marxistas, pois acreditamos que a História é uma ciência cujas experiências não se realizam em laboratório, mas sim nos próprios acontecimentos passados (a História é seu próprio laboratório). Assim, o processo histórico é definido como objeto de estudo, onde o coletivo se sobrepõe ao individual, a infra-estrutura à superestrutura, o econômico à sociedade. As realizações efetivas e concretas, portanto, seriam os parâmetros de uma análise marxista da História, o que implicaria numa noção analítica aplicável sobre os “acontecimentos reais” e não sobre os “hipotéticos”. Apesar disso, alguns historiadores marxistas, como é o nosso caso, consideramos aceitável a utilização do contrafáccio enquanto “indagação”, como algo presente na própria elaboração construtiva das ciências, mas não enquanto “imposição metodológica”.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTE:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. O “Se” na História. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 14 ago 2009 a 27 ago 2009. História, p. 2.</span></div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-25949111817264349012009-08-08T13:16:00.003-03:002009-08-08T13:20:31.840-03:00UMBU-CAJÁ E CAJÁ-MANGA: DE ONDE VIERAM?<div align="center"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sn2lagF2oaI/AAAAAAAABwg/2Ee0dVqc6Q0/s1600-h/umbu-caj%C3%A1"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5367628205605167522" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sn2lagF2oaI/AAAAAAAABwg/2Ee0dVqc6Q0/s400/umbu-caj%C3%A1" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">UMBU-CAJÁ</span></div><div align="center"><span style="font-size:78%;"><br /></span><a href="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sn2lPZLjSOI/AAAAAAAABwY/cQecGgD44mw/s1600-h/Cajamanga1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5367628014771456226" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sn2lPZLjSOI/AAAAAAAABwY/cQecGgD44mw/s400/Cajamanga1.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:78%;">CAJÁ-MANGA</span><br /><br /><div align="justify"></div><br /><br /><div align="justify"><span style="font-size:85%;">Professor Melander<br /></span><br />O Brasil sempre foi considerado um país de riquezas naturais, onde “se plantando tudo dá”. Por isso mesmo é que muitos consideram que a maioria das plantas domésticas que consumimos são originárias daqui, principalmente as frutas. Mais ainda: das Américas, porque as plantas não têm fronteiras nacionais, mas eco-geográficas e, em última análise, continentais. E é exatamente o confinamento de algumas espécies vegetais ou animais em sistemas ecológicos distintos que as faz evoluir, surgindo daí novas espécies.<br />Há 290 milhões de anos existia apenas um continente chamado Pangéia. Separou-se em dois blocos há 210 milhões de anos: a Laurásia (formada pelas atuais América do Norte, Eurásia e Groenlândia) e Gondwana (América do Sul, África, Antárdida, Austrália, Índia e Madagascar). A partir daí os continentes foram se separando, juntando-se uns aos outros posteriormente. A América do sul obteve sua separação da África há 140 milhões de anos, unindo-se à Antártida há 75 milhões de anos por um breve período. A América do Norte foi separada da atual Europa e Groenlândia há 40 milhões de anos. Somente há 5 milhões de anos foi que as Américas se juntaram através da América Central, dando origem a um intercâmbio de espécies animais e vegetais, após um longo período de isolamento. Há 10.000 anos começou o processo de domesticação de plantas e animais pelo homem, cujas espécies produzidas aqui eram distintas das do “velho mundo”. Apenas após o descobrimento das Américas é que essas plantas se disseminaram por todos os continentes.<br />Assim, relacionamos a origem da maioria da plantas consumidas no Brasil como alimentação. Plantas originárias da costa mediterrânica: Alcachofra, azeitona (oliveira), beterraba, repolho e rúcula. Originárias da Eurásia: Aspargo, castanha, couve e framboesa. Da Europa: Acelga, aipo, alface, alho-poró, almeirão, aveia, brócolos, champignon, coentro, morango, pêra, salsão, salsinha e tremoço. Da África: Bucha, café, dendê, jiló, maxixe, pimenta malagueta, quiabo, romã e sorgo. Da Oceania: Cajaraneira, fruta-pão e macadâmia. De origem asiática: Agrião, alho, ameixa, amêndoa, amora, anis-estrela, arroz, avelã, banana, berinjela, caqui, carambola, cebola, cebolinha, cenoura, centeio, cereja, cevada, cidra, couve-flor, damasco, erva-doce, ervilha, espinafre, figo, grão-de-bico, groselha, jaca, jambo, jambolão, kiuwi, laranja, lentilha, lima, limão, maçã, manga, marmelo, melancia, melão, nabo, nectarina, nêspera, noz, noz-moscada, pepino, pêssego, pimenta-do-reino, rabanete, ruibarbo, shiitake, soja, tâmara, tamarindo, tangerina, trigo e uva. Plantas de origem americana: Abacate, abacaxi, abóbora, abiu, abricó, abricó-do-pará, acerola, actimida, aipim, ajurú, amendoim, ananás, araçá, araçá-boi, araticum-do-campo, assai, babaçu, banana-do-brejo, baru, batata, batata-doce, biriba, buriti, cabeça-de-negro, cacau, cagaita, cajá, caju, camu-camú, castanha-do-pará, ceriguela, chiclet, chuchu, cupuaçu, embaúba, feijão, feijoa, fruta-do-conde, fruto-de-jacú, girassol, goiaba, graviola, guabiroba, guaraná, ingá, inhame, jabuticaba, jatobá, jenipapo, jussara, laranja-do-campo, limão bravo-do-brejo, maçaranduba, macaúba, mamão, mandioca, mangaba, maracujá, mari, maria preta, marolo, milho, murici, pepino-do-mato, pequi, pimentão, pimentas (quase todas conhecidas), pinha, pinhão, pitomba, pupunha, quina, sapoti, sapucaia, tabaco (fumo), taioba, tomate, tucumã, umbu, umbugueleira, urucum e uvaia.<br />Mas, e o umbu-cajá e o cajá-manga? O primeiro é um híbrido de origem americana e o outro procede da Oceania.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Umbu-cajá e Cajá-manga: de onde vieram? Gazeta de Interlagos, São Paulo, 31 jul 2009 a 13 ago 2009. História, p. 2. </span></div><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Umbu-cajá e Cajá-manga: de onde vieram? Gazeta de Interlagos, São Paulo, 31 jul 2009 a 13 ago 2009. P. 2. Disponível em: <</span><a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/136/colunadoleitor.html#3"><span style="font-size:85%;">http://www.gazetadeinterlagos.com.br/136/colunadoleitor.html#3</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 04 ago 2009</span></div><br /></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-53478619920219407052009-07-24T01:58:00.001-03:002009-07-24T02:01:16.929-03:00OS MARXISMOS DO SÉCULO XX<a href="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Smk_9PhoFbI/AAAAAAAABvc/amE8kllylfE/s1600-h/revolucaorussa3.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5361887152733427122" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 297px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Smk_9PhoFbI/AAAAAAAABvc/amE8kllylfE/s400/revolucaorussa3.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Professor Melander<br /></span><br />A celebração da modernidade, entendida como o conjunto de idéias oriundas do Iluminismo, modernidade esta que incita rumo à ciência e o progresso, a liberdade e a igualdade, a racionalidade e a autonomia, está presente no Manifesto Comunista de 1848 de Marx e Engels, entendendo-se que estas metas só podem ser atingidas plenamente muito além do capitalismo. Daí que o projeto político, científico e filosófico de Marx, se propunha a atingir este “além”. Marx entendia que a tarefa de superação das relações de produção capitalista estaria a cargo do movimento operário, que deveria ser suficientemente sólido e organizado para superar a ordem capitalista estabelecida.<br />Durante os primeiros vinte anos do século XX até a revolução “Bolchevique”, o movimento revolucionário de norte marxista parecia que de fato iria num curto prazo derrotar o capitalismo, naquilo que seria a “idade do ouro” do marxismo. Ocorreu também a introdução do marxismo nas ciências sociais, sendo Marx considerado um dos fundadores da sociologia.<br />Foi quando aconteceu o grande debate da sociologia contemporânea entre a teoria de Marx e a teoria de Max Weber sobre as origens do capitalismo, o papel da economia na vida social e política, classes sociais, leis de transformação social e a discussão sobre o socialismo. Foi, também, nessa época, que houve duas grandes cisões originárias destas reflexões. A primeira, de caráter político, designada de “controvérsia revisionista”, aconteceu após publicação dos artigos de Eduard Bernstein em “Die Neue Zeit” desde 1896. Bernstein apontava que o capitalismo dispunha de energia suficiente para superar suas crises, que seriam cada vez de menor intensidade, ao contrário da previsão de Marx. A segunda, de caráter epistemológico, envolveu os austro-marxistas Max Adler, Otto Bauer, Rudolf Hilferding e Karl Renner, que sob inspiração do neokantismo e positivismo de Ernst Mach, queriam transformar o marxismo numa ciência empírica, numa sociologia das sociedades capitalistas. Essa concepção foi contestada por vários teóricos, dentre os quais Gramsci e Lukacs.<br />Nos anos trinta e quarenta a ameaça causada pelo fascismo e capitalismo imperialista colocou em risco a existência do marxismo. O enfraquecimento do movimento socialista na Europa Ocidental, assim como o surgimento do estalinismo, foram indicativos reveladores deste processo. Nesse período, além da liquidação teórica e física de Plekanov, Bukharin, Riazanov e Trotsky pelo estalinismo, houve a duros custos a sobrevivência da reflexão austro-marxista e da Escola de Frankfurt na clandestinidade.<br />Nos anos cinqüenta, até aos anos setenta, o marxismo reapareceu com toda a força. A revolução chinesa, os movimentos de descolonização, a criação de novos países, a revolução cubana, o movimento estudantil da década de sessenta e a emergência de fortes partidos socialistas e comunistas, foram indicativos concretos desse reaparecimento.<br />No entanto, havia uma profunda crise no marxismo. A revolução húngara de 1956 e a repressão que se seguiu à invasão de tropas soviéticas, foi um marco divisório definitivo. Após os anos setenta, o marxismo foi declinando. Depois da queda do muro de Berlim e a derrocada dos regimes do bloco soviético, o marxismo praticamente desapareceu. Desapareceu? Há posições antagônicas a respeito, assim como interpretações diversas e distintas sobre a teoria marxista. Muitos consideram que o capitalismo se encontra em crise estrutural, pois a promessa contida nele de um progresso da humanidade não se cumpriu. Apesar disso, parece que não há alguma alternativa forte a ele nesse momento histórico. Por isso ele ressurgirá inexoravelmente como fonte de inspiração de futuras demandas sociais.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:</span><br /><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Os Marxismos do Século XX. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 17 jul 2009 a 30 jul 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. Os Marxismos do Século XX. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 17 jul 2009 a 30 jul 2009. P. 2. Disponível em: <</span><a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/135/colunadoleitor.html#3"><span style="font-size:85%;">http://www.gazetadeinterlagos.com.br/135/colunadoleitor.html#3</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 24 jul 2009.</span> </div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-6897660810875402652009-07-10T13:33:00.003-03:002009-07-15T15:59:38.732-03:00CULTURA E OPULÊNCIA DO BRASIL: OBRA DO PE. ANTONIL – PARTE I<div align="justify"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sldts4USgHI/AAAAAAAABuE/ssc3ePWWDhw/s1600-h/cultura+e+opulencia.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356870899579650162" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sldts4USgHI/AAAAAAAABuE/ssc3ePWWDhw/s400/cultura+e+opulencia.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:85%;">Prof. Melander</span><br /><br />No século IV aC. Xenofonte escreveu o tratado “Oikonomikos”, baseado em tradições Socráticas. Tratava-se de um diálogo filosófico com o intuito de estabelecer regras sobre a “arte de bem governar a casa”. Nesse tratado existe uma série de orientações de como o homem livre deve administrar a sua propriedade, se relacionar com os escravos e servos, com a esposa, com os filhos, etc. Aliás, o termo grego oikonomikos dá origem à palavra atual “economia”.<br />Essa “arte de bem governar” foi, durante a Idade Média, o padrão ideológico predominante no qual a Igreja se inspirava. Reproduzia o modelo do texto, tanto na construção formal dos seus documentos, quanto em termos éticos de como deveria ser o comportamento do Senhor Feudal em relação aos seus servos, familiares, vassalos e suseranos.<br />O Padre Jesuíta André João Antonil seguiu essa tradição na construção formal do seu escrito quando escreveu o livro “Cultura e Opulência do Brasil”, obra de importância transcendental para compreendermos o “sistema de engenhos de cana de açúcar”, publicada em 1711. A maneira de se escrever conforme os “antigos”, fazia parte da tradição à que nos referimos. Os Lusíadas tem o mesmo corpo de construção “poético” da Odisséia. Da mesma forma, Antonil tratava os Senhores de Engenho, de acordo com essa tradição, reconstruindo realidades da época a partir de linhas de construção de pensamento e métodos baseados na antiguidade grega, como sendo pessoas de cabedal e com capacidade de dirigir. Sugeriu os comportamentos “nobres” que eles deveriam manter com a sua família, iguais (homens livres), escravos, etc.<br />Essa visão, perfeitamente encaixada na ordem Estamental da Idade Média, refletia a necessidade, segundo o que percebemos na obra do autor, de regulamentar uma situação existente, ou seja, o enquadramento dos Senhores de Engenho dentro do “sistema vigente”, tornando-os passíveis da conquista da dignidade de um verdadeiro “fidalgo”.<br />O ponto de vista de Antonil era, possivelmente, o mesmo que na época tinham os Senhores de Engenho. Primeiro, pela notória influência cultural da Igreja, particularmente dos Jesuítas, na formação da sociedade e até das instituições do período. Segundo, pela própria condição de serem, praticamente, os únicos letrados da época, condição essa que lhes dava o monopólio da produção da ideologia dominante.<br />De qualquer forma, os Senhores de engenho não tinham uma vocação “capitalista” na acepção da palavra. Vinham para o Brasil com a perspectiva pessoal de enriquecimento rápido “nessa terra de mil oportunidades” e com o intuito de reforçar ou conquistar um título de nobreza. Ou seja, o objetivo era o de se acomodarem dentro do estamento social dominante.<br />A própria origem social deles era incerta. Sabemos que, originalmente, muitos Fidalgos despossuídos vieram para o Brasil. Na época de Antonil, muitos Jesuitas eram proprietários de Engenhos, o que revela um interesse mercantil por parte dos mesmos. E, também, cristãos novos (judeus convertidos ao cristianismo pela força ou voluntariamente). Indícios dessa rama são latentes. Até hoje, grandes famílias nordestinas pertencentes à oligarquia “terratenente” nacional, tem sobrenomes tais como: Carvalho, Silva, Cajazeira, Oliveira, etc.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:</span><br /><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura e Opulência do Brasil: Obra do Pe. Antonil – Parte I. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 19 jun 2009 a 02 jul 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura e Opulência do Brasil: Obra do Pe. Antonil – Parte I. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 19 jun 2009 a 02 jul 2009. P. 2. Disponível em: <</span><a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/colunadoleitor.html#2"><span style="font-size:85%;">http://www.gazetadeinterlagos.com.br/colunadoleitor.html#2</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 27 jun 2009.<br /><br />A segunda parte deste artigo pode ser acessada em: <</span><a href="http://edmelander.blogspot.com/2009/07/cultura-e-opulencia-do-brasil-obra-do.html"><span style="font-size:85%;">http://edmelander.blogspot.com/2009/07/cultura-e-opulencia-do-brasil-obra-do.html</span></a><span style="font-size:85%;">>.</span></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-67763435910460862332009-07-10T13:16:00.001-03:002009-07-10T13:19:39.112-03:00CULTURA E OPULENCIA DO BRASIL: OBRA DO PE. ANTONIL – PARTE II<a href="http://1.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sldp3rcJ5KI/AAAAAAAABt8/jQI_46vVNUY/s1600-h/8779_603.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356866687055029410" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 288px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sldp3rcJ5KI/AAAAAAAABt8/jQI_46vVNUY/s400/8779_603.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Prof. Melander</span><br /><br />A adoção de sobrenomes era uma prática compulsória, pois, na baixa Idade Média, servos e artesãos foram obrigados a vincular ao seu nome o status profissional ou servil camponês (Ferreira, Trigo), sendo, muitas vezes, obrigados a acrescentar também o nome do seu local de origem profissional (sua jurisdição Feudal). Aos Judeus, mesmo que convertidos (Cristãos Novos), deslocados dessa ordem por estarem proibidos de exercer uma profissão hereditária, restava a adoção de “apelidos alternativos” (em Portugal, adotaram nomes de plantas ou árvores). Isso não aconteceu apenas em Portugal, mas em toda a Europa. Na Alemanha, por exemplo, Reismann (plantador de arroz) era o servo ligado à gleba da terra de origem hereditária e Reisman (com um “n” a menos), era de origem judaica, sem relação nenhuma de vínculo feudal.<br />A ausência de um substrato social relevante e predominante na formação da “classe dos Senhores de Engenho” (não se entenda “classe” como classe imbuída num sistema capitalista), levava, necessariamente, a uma perspectiva mais integrada com a opção Estamental da Idade Média.<br />O discurso de Antonil era diferente do de Antônio Vieira. O primeiro, segundo várias biografias do autor, era contra os Cristãos Novos e a favor da escravidão indígena. Vieira, ao contrário, complicou-se com a Inquisição de Portugal por defender os Cristãos Novos, Judeus e a não escravização indígena. Na verdade eram duas perspectivas diferentes perante uma realidade nova à ordem Feudal, mas ambas no sentido de mantê-la. A de Antonil caminhava na direção de integrar os homens de sangue puro (Cristãos Velhos) ao “status quo”. Em relação aos índios, considerando o aumento de preço dos escravos negros em função de crises internas e externas que se apresentavam no contexto da época (Guerra de Sucessão Espanhola, descobrimento das “Minas Geraes”, fuga de escravos, Quilombo de Palmares, etc.), apoiava o “Aldeamento” sob tutela civil (a querela dos paulistas caçadores de índios), o que significava escravidão indígena, na prática. Padre Vieira, como podemos notar em seus famosos sermões da época, defendia o resgate da antiga ordem, com a suposição de que todos os que eram daqui, nativos (indígenas), nascidos (crioulos) ou vindos (o que incluía os Cristãos Novos), eram passíveis de conversão à disciplina da “Ordem de Deus”. Nesse sentido, Antonil se aproximava muito mais da nova ordem ligada ao Mercantilismo, embora, contraditoriamente, abraçasse as orientações anti-semitas da Inquisição. Propunha a defesa dos interesses dos Senhores de Engenho, tentando amenizar a rígida disciplina religiosa que impunha um trato menos severo a ser dado aos escravos e a obrigatoriedade de descanso dos mesmos nos feriados e festas religiosas.<br />Por fim, a obra de Antonil projeta, através de suas críticas e observações, a organização da produção açucareira dirigida rumo à “eficiência”, não num sentido de um aumento de produtividade que apontasse numa acumulação capitalista, mas sim em direção a uma maior lucratividade baseada na redução de perdas no aproveitamento da matéria prima e na redução de custos conseqüente.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura e Opulência do Brasil: Obra do Pe. Antonil – Parte II. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 03 jul 2009 a 16 jul 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura e Opulência do Brasil: Obra do Pe. Antonil – Parte II. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 03 jul 2009 a 16 jul 2009. P. 2. Disponível em: <</span><a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/134/colunadoleitor.html#2"><span style="font-size:85%;">http://www.gazetadeinterlagos.com.br/134/colunadoleitor.html#2</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 06 jul 2009.</span> </div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-65956645783575031102009-07-10T12:48:00.001-03:002009-07-10T12:51:23.859-03:00MUSEU DO IPIRANGA: MONUMENTO E MUSEU HISTÓRICO<div align="center"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SldjPK45CkI/AAAAAAAABt0/Oi8EGtOJdd0/s1600-h/MuseuPaulista.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356859394052655682" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 290px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SldjPK45CkI/AAAAAAAABt0/Oi8EGtOJdd0/s400/MuseuPaulista.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:78%;"> Museu Paulista da USP<br /></span><div align="justify"></div><br /><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Prof. Eduardo Melander Filho</span><br /><br />Logo após a proclamação da Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822 surgiu a proposta de se criar um monumento à Independência a ser erguido no próprio lugar do acontecimento, às margens do riacho do Ipiranga. Tal idéia somente foi concretizada 68 anos depois, com a inauguração do edifício-monumento em 1890.<br />O projeto arquitetônico do edíficio-monumento foi apresentado em 1883 pelo engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi, que no ano posterior foi contratado. Adotando o estilo eclético muito em voga na Europa nos finais do século XIX, Bezzi se inspirou num modelo de palácio renascentista.<br />Inicialmente o projeto previa um retângulo alongado e dois braços laterais, partindo da fachada principal e voltada para a cidade, na forma de um E. Por problemas financeiros foram abandonadas as alas.<br />Sua construção se deu entre 1885 e 1890. Para tal construção foi encarregado outro italiano: Luigi Pucci, que executou primeiramente a construção de uma maquete em gesso, onde foram reproduzidos todos os detalhes arquitetônicos e de decoração projetados.<br />Para executar a obra propriamente dita, Pucci utilizou mão de obra italiana, visto que em São Paulo não havia um operariado especializado em construções desse tipo. Utilizou-se também da técnica de construção por tijolo, servindo-se das olarias da região de São Caetano, novidade na época, pois a maioria das construções em São Paulo era baseada na técnica de “taipa-de-pilão”. As obras foram encerradas em 1890 e a inauguração do edifício aconteceu do dia 15 de novembro daquele mesmo ano.<br />O acervo do Museu Paulista da USP, que é conhecido popularmente como Museu do Ipiranga, tem sua origem em uma coleção reunida pelo Coronel Joaquim Sertório. A coleção foi adquirida em 1890 pelo Conselheiro Francisco de Paula Mayrink, que a doou ao Governo do Estado, juntamente com objetos da coleção Pessanha.<br />Em 1891, Alberto Löefgren, botânico da Comissão Geográfica e Geológica do Estado e recém indicado Diretor do Museu do Estado, recebeu a incumbência de organizar o acervo.<br />Em 1893 foi indicado Hermann von Ihering como novo Diretor do Museu. Foi quando recebeu a incumbência de transferir o acervo para o edifício-monumento.<br />No dia sete de setembro de 1895 a instituição foi oficialmente inaugurada, já com a nova designação de Museu Paulista.<br />Durante o transcorrer dos anos houve uma série de desmembramentos de parte dos acervos do Museu: em 1927 a seção de Botânica passou a integrar o Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal; em 1939 a seção de Zoologia passou a fazer parte da Secretaria de Agricultura dando origem ao Museu de Zoologia da USP; em 1989, os acervos arqueológicos e etnológicos foram transferidos para o Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.<br />Hoje o Museu Paulista da USP é um museu histórico, contando com um acervo de mais de 125.000 unidades, entre objetos, iconografia e documentação arquivística.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Museu do Ipiranga: Monumento e Museu Histórico. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 05 jun 2009 a 18 jun 2009. História, p. 2.</span></div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-77430461608280882652009-07-10T12:24:00.003-03:002009-07-10T12:30:25.837-03:00AS VÊNUS ESTEATOPÍGIAS<div align="center"> </div><div align="center"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0dcXtG3v8ZbWrwppCsYDN0FWBRGPG5H7s54QmhxzF4vtJNXdKH_gDJGnioRZggWUbR13DNCbMBE0-XswqDuVOsaFtb_BoD-HTLe8vIP9xeT3jENTmhkyu8avJb_66_Hpo2KPiv-44tySH/s1600-h/willendorfa-750805-771149.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356853346685727218" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 171px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0dcXtG3v8ZbWrwppCsYDN0FWBRGPG5H7s54QmhxzF4vtJNXdKH_gDJGnioRZggWUbR13DNCbMBE0-XswqDuVOsaFtb_BoD-HTLe8vIP9xeT3jENTmhkyu8avJb_66_Hpo2KPiv-44tySH/s400/willendorfa-750805-771149.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:78%;"> Vênus Willendorf</span> </div><div align="center"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsDIu5SeTxWFzygNmpocIGFADsjfqQu8J_KCUTpXIkiCWlrHQ5KppMbQR0MclUtYPIt3CoTdPmTAIukVgZHqB7nGiduG70NEmOEQ12l3KfUrJF5WJUlEERxECHKbEhvQH3tTBzhldj_bu8/s1600-h/Venus+de+Hohle+Fels.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356853188792512338" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 295px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsDIu5SeTxWFzygNmpocIGFADsjfqQu8J_KCUTpXIkiCWlrHQ5KppMbQR0MclUtYPIt3CoTdPmTAIukVgZHqB7nGiduG70NEmOEQ12l3KfUrJF5WJUlEERxECHKbEhvQH3tTBzhldj_bu8/s400/Venus+de+Hohle+Fels.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Vênus de Hohle Fels<br /></span><br /><div align="justify"></div><br /><br /><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Prof. Eduardo Melander Filho</span><br /><br />Há alguns dias foi publicado um artigo na revista científica “Nature”, onde se revelou a descoberta de uma Vênus do paleolítico superior (40.000 anos a 10.000 anos atrás) na Alemanha, que é uma estatueta de seis cm., esculpida em marfim de mamute e datada de 35.000 aC., sendo portanto a mais antiga de todas as já encontradas. É mais uma das “Vênus Esteatopígias”, que literalmente quer dizer: Vênus das nádegas gordas, em grego. São pequenas esculturas em diversos materiais, muitas vezes possuindo um furo por onde passaria um cordão, para ser usada como pingente em torno ao pescoço.<br />Batizada com o nome de Vênus de Hohle Fels, essa nova estatueta, assim como as demais, provavelmente estão ligadas a cultos de fertilidade do passado, sendo prova irrefutável de que o “pensamento simbólico” já fazia parte da humanidade há milhares de anos atrás. Relacionaremos então, com exclusividade aos leitores desse jornal, todas as Vênus Esteatopígias já encontradas na Europa e Mediterrâneo.<br />França: Vênus de Lê Roc-aux-Sorciers esculpida em rocha calcaria, da cultura magdaleniense; Vênus Impudica (marfim, 13.000 aC.); Dama de Brassempouy (marfim, cultura perdigordiense); Vênus de Lespugne (marfim de mamute, 21.000 aC.); Dama de Laussel (baixo relevo, 23.000 aC.); Vênus de Monpazier; Vênus de Tursac (20.000 aC.); Vênus de Mouthe (baixo relevo); Vênus de Sireil; Vênus de Abri Pato (baixo relevo); Vênus de Vic-le-Comte (cultura magdaleniense); Vênus de Magdelaine; Vênus de Cuissac (28.000 aC.); Vênus de Courbet (cult. magdaleniense); Vênus de Aix-em-Provence; Vênus de Milandes e Vênus de Pechialet (em osso). Suíça: Vênus de Neuchatel, que é um pingente datado de 11.000 aC. Áustria: Vênus de Galgenbery (30.000 aC.) e Vênus Willendorf (calcita, cultura. aurignense, 23.000 aC.). Itália: Vênus de Duas Cabeças; Vênus sem braços (marfim, 20.000 aC.); Busto feminino (calcita); Vênus de Nun (clorita, pingente); Vênus pintada de ocre (marfim, cult. gravetiense); Vênus de Savignano (cultura aurignense-perigordiense); Polichinela de Grimaldi (esteatita, 20.000 aC.); Vênus de Menton (esteatita); Figura não descrita (25.000 aC.); duas Vênus encontradas na Grotta delle Veneri (20.000 aC.) e Vênus de Chiozza. Bélgica: Vênus de Trou Magrite em marfim, da cultura gravetiense. República Checa e Eslováquia: Vênus Hiperestilizada (marfim); Vênus de Vestonice (argila e pó de osso cozidos, 24.000 aC.); Cabeça de mulher (marfim de mamute, 27.000 aC.); Vênus “Mulher com Cinto” (osso de mamute, cult. gravetiense); Vênus de Petrkovice (22.000 aC.) e Vênus de Moravany (osso de mamute, cult. gravetiense, 27.000 aC.).Ucrânia: oito estatuetas conhecidas como Vênus de Gagarino.Rússia: quatro Vênus de Kostienski (marfim e pedra, 23.000 aC.); Vênus de Maina; Vênus de Malta (Sibéria); Vênus estilizada (marfim de mamute, 22.000 aC.); Vênus pingente (marfim de mamute, 22.000 aC.); Vênus Jelisie Jewiczi (marfim de mamute); três Vênus Andeevo (20.000 aC.) e duas Vênus de Zaraysk em osso de mamute (20.000 aC.). Marrocos: Vênus de Tan-Tan. Espanha: Vênus pingente; Vênus abreviada e Vênus ideomorfa. Polônia: Vênus de Wilczyce, datado de 16.000 aC. Portugal: Vênus de Scoural (osso de rena) e Vênus da Toca do Pai Lopes (sílex). Finalmente a Alemanha, com a Vênus de Enger (14.000 aC.) e a recém encontrada Vênus de Hohle Fels.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. As Vênus Esteatopígias. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 22 mai 2009 a 04 jun 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. As Vênus Esteatopígias. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 22 mai 2009 a 04 jun 2009. P. 2. Disponível em: <</span><a href="http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_9800c01086"><span style="font-size:85%;">http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_9800c01086</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 03 jun 2009.</span> </div><br /></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-33725907413593041982009-07-10T12:00:00.000-03:002009-07-10T12:07:37.665-03:00CULTURA MATERIAL E A REVOLUÇÃO RUSSA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMtDiP_mbsF91jAgB6o9KLXEGBVDVgQU3UdP5d5bPaJJqWL_Z3qwsE2_wKmHsm3jQ5vmj_CWW2C18NpiO4Vjc1rgkAvW0e2xRiHKRczZi6PVqdo5mrvd8IsAjGbFYOSflRRAMwDUewriua/s1600-h/revolu%C3%A7%C3%A3o+russa.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356847982223355330" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 283px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMtDiP_mbsF91jAgB6o9KLXEGBVDVgQU3UdP5d5bPaJJqWL_Z3qwsE2_wKmHsm3jQ5vmj_CWW2C18NpiO4Vjc1rgkAvW0e2xRiHKRczZi6PVqdo5mrvd8IsAjGbFYOSflRRAMwDUewriua/s400/revolu%C3%A7%C3%A3o+russa.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Prof. Lic. Eduardo Melander Filho<br /></span><br /><br />Jean-Marie Pesez em seu texto “História da Cultura Material” faz um levantamento da cultura material a partir da instituição da “Academia de História da Cultura Material da URSS” por Vladimir Ilich Ulianov, popularmente chamado de Lênin. O autor nos indica que essa história está ligada extrinsecamente ao modelo evolucionista do século XIX e à necessidade teórica de uma explicação histórica ligada ao conceito de “Luta de Classes”.<br />Na URSS e em outros países, com a revolução bolchevista em curso, o conceito marxista de “materialismo histórico” de que as construções materiais eram produtos humanos e a relação dialética de transformação material homem/natureza era a ordem evidente, fortaleceu grandemente o movimento em defesa dessa conceitualização.<br />A arqueologia, que no século anterior se baseava em ser mero instrumento da história das artes, beneficiou-se grandemente na época com o desenvolvimento de concepções afeitas à materialidade dos objetos construídos pelo homem.<br />O autor, no entanto, faz uma ressalva importante na compreensão de sua teoria: a cultura material não tem utilidade por si mesma, só se revelar também uma utilidade em responder questões de nossa atualidade. Porém concorda, e isso é importante, que a relação entre os homens e os objetos é histórica.<br />Pesez aborda, a seguir, sobre a importância dos historiadores da “Escola dos Annales” no fortalecimento da idéia de cultura material. Cita: Marc Bloch, que escreveu sobre a paisagem rural; Lucien Fèbvre, que escreveu sobre o solo e o meio ambiente e, principalmente, Fernand Braudel e seus escritos sobre alimentação, todos esses trabalhos sobre a “Idade Média”.<br />Particularmente, levanto suspeitas sobre o caráter da própria historicidade da escola dos Annales como um todo, no sentido de uma “antropologia sincrônica” (não histórica) travestida de “história de longa duração” (uma história de transformações imperceptíveis). A confusão que a escola faz entre “cultura material” e “história da tecnologia” é desnorteante.<br />Mais adiante, o autor revela a polêmica ligada ao Instituto de História Natural da Polônia, quando surgiu autocrítica da entidade em relação à cultura material, que foi subestimada exatamente pelos conceitos sociais econômicos marxistas que a moviam, assim como aferiam no momento, crítica a tendência à independência da cultura material em relação às outras disciplinas.<br />No final do texto, Pesez, finalmente, assume sua real posição: defende, “através da cultura material, as relações sociais e os modos de produção das sociedades do passado”.<br />A cultura material de Jean-Marie Pesez, o que ele propõe ou defende, evidentemente é historicista por que se baseia nessa interpretação da história. Segundo suas palavras, a cultura material apresenta o interesse de reintroduzir o homem na história através da vivência material.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:</span><br /><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura Material e a Revolução Russa. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 08 mai 2009 a 21 mai 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura Material e a Revolução Russa. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 08 mai 2009 a 21 mai 2009. P. 2. Disponível em:</span></div><div align="justify"><span style="font-size:85%;"><</span><a href="http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_9800c01086"><span style="font-size:85%;">http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_9800c01086</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 22 mai 2009.</span> </div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-34143767978004158322009-04-28T20:40:00.003-03:002009-04-28T20:45:10.454-03:00CULTURA MATERIAL E ETNICIDADE<div align="center"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SfeUitCSIeI/AAAAAAAABnY/stCb0A9NA5Q/s1600-h/DSC06373.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5329892007941906914" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SfeUitCSIeI/AAAAAAAABnY/stCb0A9NA5Q/s400/DSC06373.JPG" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Cultura Material: Artefatos fabricados pelo homem</span></div><div align="center"><span style="font-size:78%;">(Museu Anita Garibaldi-SC)<br /></span><div align="justify"></div><br /><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Prof. Lic. Eduardo Melander Filho</span><br /><br /><br />Cultura material é aquilo que o Prof. Dr. Ulpiano Bezerra de Menezes, arqueólogo e ex-diretor do Museu do Ipiranga (Museu Paulista da USP), define como uma coisa física, um objeto construído pelo homem e que reflete a ação do homem sobre coisas físicas. Um testemunho, uma prova, um documento esvaziado das suas funções originais, mas que expressa a relação entre os homens, movimento (não estática), que intermedia outras realidades já não existentes. Algo invisível em seu conteúdo, que acima de tudo apresenta uma carga histórica de trabalho acumulado, portanto, produto humano.<br />Essas colocações preliminares, sob nosso ponto de vista, são importantes, pois o tema estará a todo o momento presente nesse texto.<br />Pensamos cultura material como vestígios que expressam as relações entre os homens, num sentido de se reconstruir as sociedades de épocas passadas e o modo de vida de suas populações.<br />O texto intitulado: “Cultura Material e História Cultural de Dolores Newton”, aborda a questão da relação entre história cultural e etnologia (estudo das culturas das etnias do presente). Afirma ela que os fenômenos culturais se apresentam sob três modalidades: idéias; do comportamento e dos objetos físicos (esse último, adjetivado num campo novo; o da antropologia material). Emprestando “Bohannan” em sua interpretação, “Dolores” considera a cultura material como fenômeno duas vezes codificado: na mente do artesão e na forma física do objeto (qualquer artefato construído pelo homem). Assim, o objeto é o melhor meio para se inferir no passado. Cita a “Suma Etnológica Brasileira”, que divide a discussão da cultura material em esferas: secular e sagrado – contraposição entre instrumental e simbólico (o uso do instrumento e o que ele significa para quem o possui).<br />Dolores ressalta que existem diversas formas de evidências que podem ser utilizadas nos estudos das populações indígenas: restos arqueológicos; documentos escritos por europeus e outros; tradição oral; mitologia; lingüística; antropologia física; genética; etc.<br />Vê a arqueologia como fonte primordial de evidências da história cultural. No entanto, define a etno-história, pelas fontes documentais escritas e pela tradição oral, enquanto que a história do período se constitui por documentos baseados em relatos europeus. Assim, a etnografia histórica seria a descrição do processo histórico.<br />Trabalha também, com conceitos de continuidade e mudança cultural, dados mensuráveis, adaptações ecológicas, permanência, etc., revelando profundamente sua filiação teórico-ideológica, e, consecutivamente, sua visão de mundo em relação ao Brasil.<br />Assim, dentro dessa perspectiva, a cultura material pode definir etnicidade, entendendo a cultura como uma totalidade e, portanto, histórica e em constante movimento e transformação.<br /><br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:</span><br /><br /><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura Material e Etnicidade. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 24 abr 2009 a 07 mai 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura Material e Etnicidade. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 24 abr 2009 a 07 mai 2009. Disponível em: <</span><a href="http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_9800c01086"><span style="font-size:85%;">http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_9800c01086</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em 28 abr 2009.</span> </div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-16062713354825676392009-04-13T10:42:00.004-03:002009-04-13T11:00:31.500-03:00LESLIE WHITE E JULIUS STEWARD: O FUNCIONALISMO DA ANTROPOLOGIA AMERICANA<div align="center"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SeNB0vSDZBI/AAAAAAAABnQ/rpvJMYAKalg/s1600-h/Leslie+White.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5324171558783247378" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 180px; CURSOR: hand; HEIGHT: 238px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SeNB0vSDZBI/AAAAAAAABnQ/rpvJMYAKalg/s400/Leslie+White.jpg" border="0" /></a><span style="font-size:78%;"> Leslie White<br /></span><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Prof. Lic. Eduardo Melander Filho<br /></span><br /><br />A concepção de cultura de Leslie White se baseia na distinção entre comportamento de signos e comportamento de símbolos. Signos são coisas ou eventos cujos significados são inerentes às suas formas físicas e os símbolos, coisas e eventos cujos significados são arbitrariamente colocados pelos seus utilizadores. Desse modo, somente o homem é capaz de ter comportamento baseado tanto em signos como em símbolos, sendo que a forma mais importante de símbolo é a linguagem humana (a escrita também o é), coisa que o animal é incapaz de produzir. Assim como o homem pode dar um significado arbitrário através do símbolo, ele mesmo, pelo uso constante e automático, pode transformar esse símbolo em signo (ex: o sinal vermelho=pare). O ser humano é o único capaz de transcender o limite das experiências sensoriais (visão, audição, tato, paladar e olfato) porque pode representar simbolicamente, o que o habilita a poupar e representar as suas experiências que se tornam parte de uma tradição (cultural) sempre cumulativa e progressiva. É através desse fluxo extra-somático (fora do corpo) de tradição que envolve tecnoeconomia, organização social e ideologia, ou simplesmente cultura, que o homem explora e se adapta ao mundo.<br />White vê a cultura como o artifício adaptativo pelo qual o homem se acomoda à natureza e vice versa. Ou seja, a cultura é o fluxo extra-somático que envolve subsistemas: tecnologia, organização social e ideologia, sendo que a tecnologia é o mais importante (determinante) de todos.<br />Steward concorda em termos gerais com a concepção evolucionista de White. Ambos defendem que o objetivo central da antropologia deve ser a descoberta de regularidades culturais através do tempo, ou seja, similidaridades (semelhanças). No entanto, Steward está mais preocupado com “culturas” ou “grupo de culturas” do que em “cultura” (como definição geral) em termos amplos como White concebe. Contrapondo-se à abordagem unilinear, em que as culturas passaram todas pelos mesmos estádios (estágios) ou estádios similares, adota a abordagem multilinear (várias linhas de evolução cultural) para lidar com as diferenças e similaridades culturais, através da comparação de sequências paralelas de desenvolvimento em áreas geográficas distintas e separadas.<br />Os antropólogos norte americanos não concebem a História como o estudo dos processos de transformação das sociedades nos seus mais diversos níveis (econômico, cultural etc.), mas sim como o registro dos eventos. A antropologia americana, na medida em que acredita que toda cultura se encontra em determinado estágio e que estágios similares são pré-determinados pelo grau de adaptação do grupamento humano ao meio ambiente, considera-se ahistórica. Assim sendo, um evento (histórico) qualquer pouca ou nenhuma influência terá na transformação ou evolução de uma cultura.<br />O funcionalismo americano numa perspectiva histórica em antropologia, leva à analogia orgânica (comparação com os organismos vivos), segundo a qual todo sistema é composto por elementos ou partes com funções distintas, porém inter relacionadas. A ausência ou a disfunção de qualquer desses elementos afeta o funcionamento do organismo como um todo.<br /><br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:</span><br /><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Leslie White e Julius Steward: O Funcionalismo da Antropologia Americana. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 09 abr 2009 a 23 abr 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. Leslie White e Julius Steward: O Funcionalismo da Antropologia Americana. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 09 abr 2009 a 23 abr 2009. P. 2. Disponível em: <</span><a href="http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_a6a5941967"><span style="font-size:85%;">http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_a6a5941967</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 13 abr 2009.</span> </div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-90135743782807020382009-03-30T17:40:00.002-03:002009-03-30T17:45:27.357-03:00NEANDERTHAL: ENTRE A HUMANIDADE PLENA OU PARCIAL<div align="center"><a href="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SdEvBOgvhjI/AAAAAAAABnI/BehGx0j73MU/s1600-h/punta-musteriense1a1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5319084333023069746" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 250px; CURSOR: hand; HEIGHT: 333px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/SdEvBOgvhjI/AAAAAAAABnI/BehGx0j73MU/s400/punta-musteriense1a1.jpg" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">Ponta Levallois do Musteriense<br /></span><div align="justify"><br /><br /><span style="font-size:85%;">Prof. Lic. Eduardo Melander Filho</span><br /><br /><br />Teria o Homo neanderthalensis desenvolvido consciência e consecutivamente linguagem simbólica, com a capacidade de produzir arte? Seria ele possuidor de uma humanidade igual à nossa?<br />Sabe-se que animais não possuem apenas conduta genética, mas também acumulam informações e aprendem. Existem vários tipos de conhecimento: o filogenético, que constitui o acumulado ao largo da evolução e gravado nos genes e o ontogenético, que se adquire durante a vida e são transmitidos através da cultura. O comportamento animal pode ser explicado pelo jogo entre impulsos e comportamentos reflexos, que são inatos e adquiridos. Não há qualquer tipo de consciência. Animais não são capazes de fazerem planos a longo prazo, nem de observarem a si mesmos, nisso consiste a consciência humana. Obviamente que os animais querem e sabem, mas não sabem que sabem, nem sabem que querem. A consciência humana se dirige a si mesma; somos conscientes de ter consciência e filosofamos sobre ela.<br />Descartes, com seu “cogito, ergo sum” (penso, logo existo), nos remete a outras verdades e nessa ordem: Deus e o mundo. São dois: um interno e outro externo, e a essência do interno é o pensamento e a consciência. Jerry Fodor, psicólogo, propõe a divisão da mente entre percepção, que é obtida por uma série de módulos independentes entre si e inatos e cognição, que é produzida em um sistema central que realiza operações mentais, ou seja, o pensamento.<br />Os Neanderthais desenvolveram, assim como nós, o modo técnico IV de lascamento, através da cultura Chatelperronense. Produziram materiais simbólicos, tais como: colares e anéis. No entanto, pelo fato de tal cultura aparecer somente depois do aparecimento do Aurinhense Cro-magnon (Homo sapiens), muitos dizem que a produção dos adornos se deu por imitação. Walter Neves mesmo afirma que os Neanderthais podem ter imitado sem dar valor simbólico. Os sítios Chatelperronense que conhecemos são:<br />- Sítio Saint Cesaire, onde foi encontrado parte de crânio e mandíbula de Neanderthal;- Caverna da Rena em Arcy-sur-Cure, onde encontraram restos fragmentários de Neanderthal. Foram encontrados também ferramentas, dentes e ossos perfurados ou em sulcos, contas e anéis de marfim, junto com fósseis marinhos também utilizados como adorno pessoal;- Sítio Quinçay, onde encontraram seis dentes perfurados na raiz.<br />Outras indústrias Neanderthais interpretadas como modo técnico IV, são as culturas Uluzziense na Itália, Szeletiense na Europa Central, Bachokiriense na Bulgária.<br />Enterravam também os seus mortos juntamente com mobiliário funerário, com todo o simbolismo que isso acareta. Dentre os sepultamentos e os adornos encontrados, podemos citar:<br />- Chifres de cabra selvagem com menino, em Teshik Jash, no Uzbequistão;<br />- Ossos de urso em cova com laje, em Régourdou, na França;<br />- Pedra lascada sobre o coração de um menino, em Dederiyeh, na Síria;<br />- Flores sobre os esqueletos de Shanidar, no Iraque;<br />- Pó de hematita sobre o esqueleto de Lê Moustier, na França.<br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. Neanderthal: Entre a Humanidade Plena ou Parcial. Gazeta de Interlagos. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 27 mar 2009 a 08 abr 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. Neanderthal: Entre a Humanidade Plena ou Parcial. Gazeta de Interlagos. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 27 mar 2009 a 08 abr 2009. P. 2. Disponível em: <</span><a href="http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_4c2e862543"><span style="font-size:85%;">http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_4c2e862543</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 30 mar 2009.</span> </div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5733240529260206467.post-82972761884248377972009-03-15T17:19:00.002-03:002009-03-15T17:24:32.778-03:00A CULTURA SEGUNDO EDWARD B. TYLOR E FRANZ BOAS<div align="center"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sb1jTL9tjbI/AAAAAAAABnA/VlGKpMZzF58/s1600-h/DSC03507.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5313512316647345586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 300px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_JDQSzthYXx0/Sb1jTL9tjbI/AAAAAAAABnA/VlGKpMZzF58/s400/DSC03507.JPG" border="0" /></a> <span style="font-size:78%;">A expressão cultural Assurinã representada por meio da pintura corporal</span><br /><div align="justify"><br /><span style="font-size:85%;">Proc. Lic. Eduardo Melander Filho<br /></span><br />Tylor definiu Cultura como a expressão da totalidade da vida social do homem, caracterizada pela sua dimensão coletiva, adquirida em grande parte inconscientemente e independente da hereditariedade biológica. Privilegiou a palavra Cultura por entender que Civilização remete a constituição de realizações materiais dos homens, perdendo o sentido quando se trata de sociedades primitivas. Para Tylor, a sua nova definição de Cultura, que era descritiva e não normativa (sem conceitos pré-determinados), tinha a vantagem de ser uma palavra “neutra” capaz de pensar em toda a humanidade. Acreditava na idéia de progresso, nos postulados evolucionistas, na unidade psíquica da humanidade (todos temos a mesma capacidade mental) e na concepção universalista da Cultura (a cultura enquanto algo de toda a humanidade). A grande contribuição de Tylor, foi sua tentativa de conciliar a evolução da Cultura e sua universalidade. Foi o primeiro a abordar os fatos culturais sob um prisma sistemático e geral.<br />Quando esteve no México, Tylor elaborou um método de estudos da evolução da cultura pelo exame das sobrevivências culturais (elementos culturais do passado que sobrevivem sem explicação plausível). Pensava ser possível, através desse método, reconstituir o conjunto cultural original, chegando a conclusão de que a cultura dos povos primitivos representava a cultura original da humanidade. Adotou, a partir daí, o método comparativo, pois as culturas singulares estavam ligadas umas as outras em um movimento de progresso cultural, sendo possível dessa maneira, estabelecer uma escala dos estágios da evolução humana.<br />Tylor postulava que entre primitivos e civilizados não havia uma diferença de natureza, mas de grau de avanço no caminho da cultura. Considerava também, em certos casos, a hipótese difusionista (que a partir de um povo determinada invenção se expandia aos outros através do contacto cultural) como explicação da similaridade entre traços culturais de duas sociedades, significando que, na possibilidade de difusão, as mesmas não estariam na mesma escala de evolução.<br />Por outro lado, a concepção de Cultura de Franz Boas é uma rejeição ao evolucionismo unilateral e difusionista. Em consequência, não adotava explicações de estágios ou fases culturais, assim como o conceito de raça. Procurava leis de evolução das culturas e leis de funcionamento das sociedades através do método indutivo (ver, ouvir, falar, escrever) e intensivo de campo. Priorizou o estudo da relação de parentesto.<br />Boas acreditava na autonomia das Culturas (relativismo cultural) e que cada cultura possui uma singularidade cultural (algo único). Segundo ele, a cultura se manifesta pelos costumes.<br />Entre 1883/1884, participou de uma expedição a Baffin como geógrafo. Lá realizou estudos sobre os Esquimós, onde percebeu que a organização social era determinada mais pela Cultura do que pelo meio ambiente.<br />Boas tomou como objeto de estudo a particularidade de cada Cultura. Apresentava-se como a contraposição ao evolucionismo do século XIX e foi o precursor da antropologia cultural norte americana. Foi também o fundador do método monográfico em antropologia.<br /><br /><br /><span style="font-size:130%;">FONTES:</span><br /><br /><span style="font-size:85%;">MELANDER FILHO, Eduardo. A Cultura Segundo Edward B. Tylor e Franz Boas. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 13 mar 2009 a 26 mar 2009. História, p. 2.<br /><br />MELANDER FILHO, Eduardo. A Cultura Segundo Edward B. Tylor e Franz Boas. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 13 mar 2009 a 26 mar 2009. P. 2. Disponivel em: <</span><a href="http://www.gazetadeinterlagos.com.br/colunadoleitor.html#2"><span style="font-size:85%;">http://www.gazetadeinterlagos.com.br/colunadoleitor.html#2</span></a><span style="font-size:85%;">>. Acesso em: 16 mar 2009.</span></div></div>edmelanderhttp://www.blogger.com/profile/05858943444794408765noreply@blogger.com14