quinta-feira, 13 de setembro de 2007

As Escavações de Pompéia: História e Balanço Geral

Herculano


Pompéia






1 - Introdução

A escolha do tema "Pompéia" foi devido ao conhecimento primário que tinhamos do assunto através dos livros e das imagens dos corpos "fossilizados" pelo magma depois da grande erupção do vulcão Vesúvio, que destruiu a cidade e todo o seu entorno no ano de 79 d.C.. Mesmo as edificações, que resistiram ao tempo, contribuiram na forte impressão de que uma parte significativa da história teria sido congelada através dos tempos e resistido na existência até os dias de hoje.
A importância das escavações dos sítios de Pompéia para a Arqueologia Clássica nos serviu também de motivação. Antes de se criar uma sistematização de dados como consequência de um interesse mais cientifico, grande parte das peças retiradas desses espaços ia para o interior das residências de famílias ricas, que financiavam a coleta desse material, principalmente objetos de arte, com o objetivo puro e simples de aumentarem o acervo de suas coleções particulares. Dessas práticas depredatórias, no entanto, é que surgiram os procedimentos criteriosos atuais no trato de material coletado das escavações, que situa o objeto dentro de seu contexto arqueológico original, proporcionando a possibilidade de se "reconstruir" toda uma época a partir dos vestígios encontrados.

2 - Os sítios arqueológicos de Pompéia

2.1 - O mapa geral das escavações

As escavações em Pompéia se iniciaram em 1748, sob os auspícios do monarca Carlos de Bourbon. Foram relizados trabalhos esporádicos, pois não existia uma planta organizada da cidade para conhecer seus limites e principalmente delimitar as áreas de intervenção. O primeiro lugar a ser explorado foi a necrópole do lado de fora da Porta de Herculano. Muitas pinturas em murais foram encontradas e se perderam por desconhecerem a fragilidade do material. O simples contato direto com o objeto foi determinante para o seu desaparecimento.
Até século XVIII, grande parte da coleta de materiais arqueológicos foi financiada pela nobreza, que começava a decair socialmente. Esse espaço foi preenchido pela burguesia, desejosa, assim como o grupo anterior, em colecionar peças antigas.
Carlos de Borboun aproveitou o interesse de alguns dos financiadores de escavações para criar a Academia de Herculano, com o objetivo de desenvolver uma clientela específica para visitar os monumentos. Nessa época foram encontrados o achado de Júlia Félix, a Vila de Cícero, a Porta de Herculano, o Sepulcro e a Vila de Diomede, os Teatros, o Fórum Miangular e o Templo de Ísis.
Entre 1806-1815, quando ocorreu a invasão francesa, houve um aprimoramento no tipo de escavação desenvolvida e nos resultados obtidos com os trabalhos.
Com José Bonaparte aconteceram importantes mudanças. Foram contratados mais de seiscentos e oitenta e oito civis para trabalhar nas escavações. Sua irmã, Caroline, ajudou na implementação de projetos e na publicação de mapas para determinar os limites da cidade. François Mazois realizou seus grandes trabalhos nesse mesmo período ( 1809-1813 ).
A unificação da Itália fez com que as escavações tomassem uma nova direção. Sob o comando de Giuseppe Fiorelli, os objetivos traçados foram: a sistematização, principalmente do material que havia sido recuperado; a preservação dos registros e conservação das pinturas, mantendo-as no próprio sítio. Interessou-se em montar um acervo para o museu de Nápoles. Em cinco de fevereiro de 1863, foi um dos organizadores de uma expedição que encontrou quatro corpos cujas características faciais, as dobras de roupas e os corpos contorcidos, estavam intactos. Animais e algumas espécimes vegetais também foram achados. O produto usado para determinar o contorno desses vestígios foi gesso, que preencheu todos os espaços à mostra.
Num terceiro momento, apareceu a figura de Amadeu Maiuri, responsável pelas escavações de 1924 a 1961, onde ruas foram descobertas, privilegiando-se as principais vias de acesso da cidade, tomando um cuidado todo especial com as edificações. Com a descoberta da Vila dos Mistérios, todo o perímetro da cidade antiga estava agora conhecido. Começaram então, a partir daí, as escavações para abaixo dos estratos solidificados pela erupção de 79 d.C..
Atualmente a preocupação maior é a preservação daquilo que foi descoberto. Principalmente depois das restrições orçamentárias.

2.2 - Instituições participantes e a equipe de Superintendência de Pompéia

Dentre os pesquisadores de várias partes do mundo e de diferentes áreas de conhecimento, destacam-se alguns profissionais: o Professor Annamaria Ciarelo, que trabalha com plantas; o Professor Stampone, com seus estudos sobre ervas daninhas; o Professor Buffone e o seu estudo sobre “lithotheca”; e outros. Vários trabalhos especiais são realizados, como a realização de uma coleta de amostras de mármores coloridos para identificação e classificação, e estudos em geomorfologia, saúde publica, na área de nutrição, em materiais de composição dos metais, vidros, cerâmicas, matemáticos e astronômicos, assim como na tentativa de reconstrução de possíveis maquinários. Estão envolvidas nesses estudos as Universidades de Oregon, de Adelaide, de Cambridge, de Modena e a própria Superintendência Arqueológica de Pompéia, coordenadora dos trabalhos. Objetivando-se como um órgão independente do Ministério da Cultura desde 1997, a Superintendência funciona com autonomia financeira, administrativa, organizacional e científica. Sua responsabilidade é a de preservar o Patrimonio Cultural. Está dividida em duas instâncias: o conselho executivo, com um superintendente, que gerencia a cidade com um adjunto, o sênior; e o Conselho Fiscal, formado por um representante do Ministério do Tesouro, dois oficiais do Ministério da Cultura e mais representantes locais. Responsabilizam-se por um espaço dividido em vinte e três comunas, onde estão os quatro locais mais importantes para os estudos arqueológicos: Pompéia; Herculano; Estábia e Oplontis; acrescendo também o museu Boscoreale. Todos estes locais estão abertos ao publico.

2.3 - Novos projetos

A grande preocupação atual dos arqueólogos é a preservação de murais, onde aparecem as representações das divindades e dos hábitos do cotidiano. São temas dessas representações: a ostentação dos proprietários; as eleições; os objetos comuns e outros mais.
Para ajudar na identificação de pinturas, usa-se a tecnologia em 3D nos vestígios materiais, que foi cedida por uma empresa norte-americana, a Kacira, e desenvolvida com finalidade de restauração. O uso dessa tecnologia permitiu a implantação de um banco de dados, principalmente de plantas e prospectos de terra examinadas. É o correspondente ao laser-varredura empregado no solo. A tecnologia desenvolvida será importante para uma outra pesquisa em andamento de caráter geofísico, relacionada à condição estrutural das edificações. Pretende-se iniciar outros trabalhos num local próximo a Porta Estábia, que há muito tempo estava sendo deixada em segundo plano em termos de prioridade nas escavações arqueológicas.
O cronograma para o ano de 2005 contempla também a admissão de alunos de várias partes do mundo maiores de 18 anos, que mediante o pagamento U$ 3.500,00 de matrícula, poderão passar algumas semanas na região sob a responsabilidade de dez supervisores encarregados de organizar, acompanhar e orientar pequenos grupos de no máximo 20 alunos, garantindo a eles total dedicação na implementação de tarefas pertinentes a área arqueológica, com seus métodos e teorias.

3. Contextualização histórica

3.1 - A historia de Pompéia

Localizada a trinta metros acima do nível do mar, provavelmente possuiu um porto na desembocadura do rio Sarno. A cidade foi construída pelos Oscos ao pé do Vesúvio no século VI a.C. e manteve contato cultural com os gregos de Cumas e com os etruscos. No século V a.C. esteve sob o domínio dos samnitas. Com a expansão romana que se deu entre os anos de 343 a.C. a 290 a.C., passou a sofrer a influência direta deles. Rebelou-se em 90 a.C. juntamente com outras cidades, mas foi derrotada depois de dez anos de luta. Passou a se chamar Cornelia Veneria depois dessa derrota. Porém, foi com Augusto e Tibério (27 a.C. a 37 d.C.), que a cidade conheceu grande desenvolvimento, principalmente na área de construções de edificações. Tem um traçado em xadrez e as ruas pavimentadas com blocos de pedras e ladeadas por calçadas. Nas casas dos patrícios, combinavam-se elementos como o átrio e o peristilo. Anos depois, em 62 d.C., a cidade sofreu um grande terremoto. Mas foi apenas alguns anos mais adiante que sofreu sua total destruição com a erupção vulcânica do Vesúvio em 79 d.C.
Temos dados escritos sobre a catástrofe. São as cartas de Plínio, o Jovem, para Tácito, falando de seu tio Plínio, o Velho, que ao sair em socorro da população no comando da frota de Misena, morreu vitimado pela catástofre.

3.2 - As cidades circundantes atingidas pela erupção: Estábia e Herculano

3.2.1 - Herculano

As escavações arqueológicas na cidade de Herculano se iniciaram em 1738. Até 1828, foi utilizada a técnica de túneis subterrâneos. A partir de então, continuaram a "céu aberto". Em 1875 foram interrompidas, tendo sido retomadas somente em 1927 com o arqueólogo Amedeo Maiuri, que liderou as escavações até 1958. Já em 1942, todo o parque arqueológico era conhecido. Entre 1960 e 1969, os trabalhos se concentraram no setor norte da insula VI. E nas últimas duas décadas, se desenvolvem ao sul, na antiga linha costeira.
Foram encontrados na área doze galpões com entrada em arco, que funcionavam como abrigos de barcos e armazéns. Muitas pessoas aí tentaram se proteger dos efeitos da erupção. Foram encontrados trezentos esqueletos nessa área. Outro fato interessante é que foi encontrado também um barco de madeira, que ainda espera o trabalho de restauração.
A Vila dos Papiros, descoberta por acaso por Carlo Weber em 1750, começou a ser escavada em 1991. Até agora, somente o átrio da residência veio à luz. Outras partes da “Villa” estão sob propriedades ainda não expropriadas. Na área sudoeste, um edifício grande, algumas casas e um complexo térmico foram encontrados.
A erupção do Vesúvio, em 79 a.C., atingiu a cidade na madrugada de 24 de agosto. Um enorme redemoinho de gás e cinza fina em alta temperatura varreu a cidade. A fúria foi tal que muitas estátuas foram encontradas arrancadas de suas bases, a metros de distância. Muitos fugiram. Outros procuraram abrigo nas construções junto à praia, mas não escaparam da mortal nuvem. Nos dias seguintes, outras erupções ocorreram e mais poeira foi expelida, deixando a cidade sob um manto de vinte e três metros de cinza. Isso acabou preservando muitos materiais orgânicos, como madeira, tecido, esqueletos, papiro.
Segundo a tradição herdada de Dionísio de Halicarnasso, Herculano foi fundada por Hércules (daí o nome) ao retornar de sua viagem à Espanha. Ela está, assim, integrada a toda uma tradição, na Itália, de fundação mítica das cidades. Posteriormente, segundo Estrabão, foi ocupada por Oscos, Etruscos, Pelasgos e Samnitas. Em 89 a.C., a localidade participou da chamada guerra social, ou seja, a guerra dos “socii”, ou aliados de Roma, contra seu domínio. Foi derrotada juntamente com as outras, submetendo-se ao processo de municipalização romano. Foi planejada com uma divisão em lotes regulares de terra. Houve também, na época de Augusto, longo trabalho de reconstrução e restauração de edifícios públicos: o aqueduto; os templos da área sagrada; as termas do subúrbio e as centrais; o ginásio.
A cidade se estendia por uma área de 20 hectares e tinha uma população de 4.000 habitantes. As casas maiores tinham o sistema de “compluvium” e “impluvium”, para aproveitar a água das chuvas. Mas havia também o aqueduto e uma rede de tubulações sob as vias principais, para onde escoavam a água e os detritos das casas que estavam conectadas.
Os “banhos” ou "termas", tinham função fundamental, já que nem todos possuíam sistema de água em casa. Além disso, as termas eram importantes na vida social da cidade, onde muitas pessoas podiam ali se encontrar e conversar. Vários serviços eram oferecidos, como massagem, sauna, óleos. Mulheres e homens tinham horários específicos para freqüentarem alternadamente.
3.2.2 - Estábia

Como em Pompéia e Herculano, as escavações começaram por iniciativa do Bourbon Carlos III, em 1749. Os trabalhos se iniciaram na Villa S. Marco (1749-1754), Villa do Pastor (1754) e Villa de Ariadne, com o complexo adjacente (1757-1762). As escavações foram interrompidas por treze anos e retomadas em 1775 na Villa de Ariadne. Foram interrompidas novamente em 1782. Em 1881, M. Ruggiero publicou os documentos dos trabalhos desenvolvidos sob os Bourbon.
Os trabalhos sistemáticos em S. Marco e Ariadne só se reiniciaram em 1950, sob a direção de D'Orsi. Em 1962, foram definitivamente interrompidos e os afrescos retirados de seu local de origem e enviados para o que viria a ser o núcleo do “Stabian Antiquarium”.
Estábia está localizada a cinco quilômetros de Pompéia, na estrada que conduz a Sorrento. A descoberta, na área, de trezentas sepulturas numa necrópole, fornece indícios de que a ocupação do sítio data do século VII a.C. A qualidade dos objetos encontrados nas tumbas e as cerâmicas coríntia, calcedônia, ática e etrusca, sugerem que a cidade tinha grande importancia comercial. Sua localização era estratégica, tanto para a via marítima quanto a terrestre.
O general romano Sila, destruiu a cidade depois de sua derrota na guerra social, o que é significativo para se entender sua importância na região. Mas ela se recuperou e cresceu novamente. No cume do monte Varano, os romanos construíram esplêndidas Villas, com cômodos espaçosos, banhos e pórticos, tudo muito bem decorado. As “insula” rurais eram projetadas como fazendas para o cultivo de vários produtos agrícolas. Foram encontrados debulhadores de trigo, celeiros e prensas de vinho.
Foi enterrada juntamente com outras cidades vizinhas na erupção de 79 a.C.. Entretanto, um marco de milha localizado na estrada que conduz a Nucéria, indica que este caminho já estava reaberto quarenta anos depois do desastre.

4 - Panorama geral das construções de Pompéia

4.1 - Administração pública e os edifícios públicos de serviço

A administração pública romana do século I d.C., era formada pelo conjunto de três segmentos: o popular ou "populus"; o conselho de decuriões e os quatro administradores.
O primeiro segmento tem em seu grupo cidadãos livres do sexo masculino, cuja função era a de ratificar ou não as decisões tomadas pelo conselho dos decuriões. Por sua vez, estes controlavam toda vida pública. Para se alcançar essa posição era necessário, além de boa reputação, que o candidato tivesse uma profissão honrada e que fosse rico para poder arcar com suas despesas, já que não era uma função remunerável.
Outro cargo disputado e de grande prestígio era o de Aediles. Responsabilizava-se pela manutenção dos edifícios e das estradas públicas, com o controle também dos mercados, funcionando primeiro como um administrador, depois como polícia para manter a ordem.
Os cinco principais edifícios de Pompéia, identificados através das escavações são: o Fórum; a Basílica; os Arcos memoriais; o Macellum e o Edifício de Eumachia.

4.1.1 - Fórum

Localizado na intersecção de duas ruas principais do centro urbano original, o edifício era o quadrado principal da cidade, onde o tráfego de carros era proibido. Era cercado por todos os lados por edifícios religiosos, políticos e de negócio. No século I a.C., estátuas comemorativas celebrando a casa imperial foram colocadas no lado sul e na frente dos edifícios administrativos da cidade.

4.1.2 - Basílica

Edifício da administração da justiça e dos negócios. Faz parte da planta elaborada para criar monumentos dentro da cidade na época. Tem um formato retangular, com três naves, conservando reminiscências artísticas do primeiro estilo visto em Pompéia, onde se privilegiava o uso de mármores de características muito simples .

4.1.3 - Os arcos memoriais ( Arco de Calígula )
Também foi erigido como parte da celebração da família imperial. O nome dado a esse monumento é dedicado a Calígula.

4.1.4 - Macellum

Sua construção data do século I a.C.. Possuí um grande pórtico de entrada, com estátuas comemorativas de cidadãos ilustres e um telhado de formato cônico. No interior, temos uma parte que provavelmente era reservada para a venda de carne e peixe e também um espaço para banquetes em honra ao imperador, que usufruia de um sacellum no centro. Na parte noroeste do edifício, também encontramos afrescos com figuras mitológicas.

4.1.5 - Edifício de Eumachia

Provavelmente serviu de mercado para o comércio de lã. Seu nome é dedicado a uma figura ilustre.

4.2 – As casas de Pompéia

4.2.1 – A casa típica romana dos abastados.

A arquitetura das casas Romanas, obviamente das categorias sociais mais ricas e sofisticadas sob o ponto de vista cultural, se baseava numa construção retangular.
Havia nessas construções várias divisões internas, muitas das quais permanecem nominalmente até os dias de hoje.
As divisões internas de uma casa típica de Pompéia, considerando que nessa cidade residiam pessoas de muitas posses, tão importantes a ponto de mostrarem simbolicamente o seu poder e a sua “estirpe superior” ao público em geral, representavam em si a própria vida de um cidadão Romano.
Em geral as casas “nobres” possuíam um “vestíbulo”, que era a entrada principal da residência, um “lararium”, onde se venerava os “Lares” protetores da família e os “Penates” ancestrais, e um “tablinium”, que era o escritório de negócios. Além disso, havia o “oecus”, que era uma sala íntima, a cozinha, banhos, latrinas, tudo isso orquestrado em andares inferiores e superiores.
Mas realmente o centro da vida residencial de um romano, desenvolvia-se em torno de três cômodos:
- O “atrium”, que era um salão amplo e muito decorado, com teto inclinado para dentro e que recebia toda a água da chuva da residência, teto esse chamado de “compluvium”. A água produzida pela chuva caía numa piscina chamada de “impluvium”. Através de uma canaleta, essa água era armazenada numa cisterna para uso comum da família. Posteriormente, já na época de Pompéia, o “impluvium” transformou-se num elemento decorativo da casa, na medida em que já naqueles tempos, a água era canalizada;
- O “peristylo” ou “porticum”, um corredor ornado de colunas, que muitas vezes cercava um jardim central. A partir dessa “praça”, em torno dela, se originam vários dos demais aposentos residenciais, inclusive os quartos de dormir. Era considerada a área central da casa;
- O “triclinium”, que era a sala de jantar, onde os bancantes de reclinavam nos “clines”, daí o termo que nomina o aposento.

4.2.2 – Algumas casas da escavação.

A seguir, iremos descrever criticamente, alguns dos aspectos principais das casas escavadas em Pompéia, na medida em que, para nós, seria impossível elaborar um relato mais abrangente de todas as conseqüências das escavações.
Assim, vamos na tentativa da construção de uma visão generalizante, sem esquecer das especificidades, das casas de Pompéia.

4.2.2.1 – Casa de Vênus.

Foi bombardeada em 1943 pelas forças americanas, que, aliás, eram conhecidas por não respeitarem nenhum monumento histórico. Haja vista o bombardeio do Monastério de Monte Cassino, de construção milenar e sede simbólica dos Beneditinos. Recentemente tal desprezo se concretizou com o saqueio por parte de tropas americanas, do tesouro arqueológico Sumério e Babilônico, guardado pelo Iraque.
Redescoberta em 1952, sua fama deve-se principalmente a uma pintura situada na parede sul. Nesse afresco, descreve-se um jardim luxuoso cercado de flora e fauna. Com elementos de costumes elencados em três painéis, nos quais se insere uma janela central, que reflete a ilusão de se abrir para o mar, onde Vênus se encontra com dois Querubins.

4.2.2.2 – Casa de Menander.

Uma construção antiga de 1.800 metros quadrados. Pertencia possivelmente a Pompéia Sabina, esposa de Nero.
A casa possuía um atrium com impluvium de mármore. Havia também um pequeno templo para Lares e o gênio espírito da vida da cabeça da casa. Havia pinturas com cenas da guerra de Tróia. No salão verde, o peristylo, um afresco de querubins nas vinhas, além de cenas descritivas do grego Menander, daí o nome da casa.

4.2.2.3 – Casa de Ceius.

Casa que pertencia possivelmente a Ceius Secundos, segundo gravura de campanha política gravada na face da casa.
Destaca-se afresco onde se representa cena de grande caça pintada na parede do jardim.

4.2.2.4 – Casa de Amorini Dorati.
O nome da casa é devido aos querubins reapresentados no “laminate do ouro”, hoje no museu de Nápoles, que decorou um dos quartos da residência.
Era de propriedade de Pompeu Habitus, parente de Pompéia Sabina.
A construção que era antiga, primordialmente conta com jardim de onde saem os quartos, um dos quais apresenta uma roseta de mosaico preto e branco decorativa. No jardim, decorações com relevos de mármores representando o mundo natural e Dionísio. No peristylo, divindades egípcias como Anúbis com cabeça de chacal, Isis e Serápis, além de um laralium.

4.2.2.5 – Casa de Vettii.

“Slogans” de campanha política – grafites de campanha – nos indicam que a casa pertencia ao Vettii.
Na entrada da propriedade, apresenta-se Priapus descansando seu membro enorme na placa de uma escada. No lararium, lares de genius pintados em representação. Nas fontes do jardim, estátuas que em combinação refletem ricas cenas, particularmente a estátua de Priapus incluída nesse contexto. Atrium com compluvium constituído e decorado com calhas de terracota.

4.2.2.6 – Casa de Meleager.

A pintura com Meleager e o Atalanta na entrada, dão o nome à casa.
O Oecus – sala de recepção – é no estilo corínthio e com colunas, raridade na época em Pompéia. A construção apresenta quartos que saem de um atrium com impluvium central.

4.2.2.7 – Casa de Pansa.

Construção de por volta de 140-120 a.C., de propriedade de Cneo Alleius Nigidius Maius, comerciante da Campânia.

4.2.2.8 – Casa do poeta trágico.

Casa típica do estilo atrium. O nome vem do mosaico na tablinium, agora no Museu de Nápoles, mandado para lá juntamente com outras pinturas, tais como: sátiros; Adameus; Al cestis; episódios da Ilíada; Ariadne abandonada por Teseu; etc...
Na entrada, mosaico famoso do Cão acorrentado com a inscrição “Cavem Cani” – cuidado com o cão – talvez em parcimônia relacionada ao cão Cérbero.
A casa foi descoberta em 1824.

4.2.2.9 – Casa do Fauno.

É a maior casa de Pompéia com 3000 metros quadrados de construção, cujo início data de um século antes de Cristo, com várias alterações subseqüentes.
Apresenta um atrium com telhado sustentado por quatro colunas. A construção possui latrina, terma, cozinha, etc... No centro do impluvium, uma estátua de bronze do Fauno. Daí o nome da casa.
O mosaico de Alexandre, hoje no Museu de Nápoles, com cenas da Batalha de Isso, representando a vitória sobre o Rei Persa, é o mais famoso e representativo expoente artístico dessa cidade escavada, no que se refere ao conhecimento público.
A propriedade original dessa casa permanece desconhecida até os dias de hoje.

4.2.2.10 – Casa do tocador de cítara.

O edifício, com obra iniciada no século anterior ao nascimento de Cristo, apresenta 2.700 metros quadrados de construção.
Deve seu nome a uma estátua de bronze de Apolo localizada no peristylo, hoje no Museu de Nápoles.

4.2.2.11 – Casa de Julius Polibius.

Construção também antiga. Apresenta lararium com lares, gênio e Agathodemone da serpente, o protetor da cabeça da casa. Foram encontrados utensílios de mesa valiosos e, também, estátua de bronze de Apollo.

4.2.2.12 – Casa do lararium de Achilles.

O que se destaca nessa casa é o relevo pintado em fundo azul no lararium, com cena que representa a luta de Aquiles com Heitor.

4.2.2.13 –Casa de Caecilius Jucundus.

Construção em pedra calcaria de Sarno, com início, antes da ampliação, anterior à era Cristã. São famosos seus dois relevos, um deles roubado, no lararium. Apresenta à esquerda do tablinium um retrato do molde do banqueiro Caecilius.
Segundo um arquivo encontrado em que constam inscrições contábeis, relações de vendas de bens e escravos e aluguéis coletados, em que se relaciona também comissão de 1 a 4%, ao que tudo indica, a referência ao nome é possivelmente real.

4.2.2.14 – Casa de Apollo.

Pode ter pertencido a A. Herenuleius Communis, segundo um anel encontrado e recolhido em 1830. Apresenta estátuas de caça de Apolo, hoje no Museu de Nápoles. Na entrada do tablinium, uma pintura pequena de Vênus. Na casa, um mosaico de Aquiles e Ulisses e afrescos com cenas relacionadas ao mito de Apolo.

4.2.2.15 – Casa do cirurgião.

As descobertas mais importantes nessa casa foram instrumentos cirúrgicos metálicos – ferro e bronze – encontrados e muitos conservados. Agulhas, pontões, fórceps, bisturis, etc..., muito semelhantes aos similares atuais, foram resgatados arqueologicamente nessa construção que é uma das casas mais antigas de Pompéia.

4.2.2.16 – Casa de Sallustio.

Foi bombardeada também de 1943 pelos americanos. Cabe ressaltar que no setor comandado pelos ingleses, não houve durante a segunda guerra bombardeiro a sítios históricos, ao contrário dos yanques.
Um anel encontrado em 1806 sugere que a casa pertencia a Cassius Libanius e não a Sallustio. No entanto, tal comprovação não se efetivou de fato.
Relevante nessa casa é uma corça de bronze incrustada na borda do impluvium.

4.2.2.17 – Casa de Octavius Quartio.

Conhecida também como casa de Loreio Tiburtino. Lá foram encontradas estátuas com alusão ao Egito, assim como afrescos com temas mitológicos.
Foram encontradas também três piscinas para peixes no jardim atravessado por árvores alinhadas e que foram restauradas recentemente.

4.2.2.18 – Casa do Varrão Selvagem.

Casa de estilo atrium, apresenta como destaque uma cena de caça pintada na parede traseira do jardim.

4.2.2.19 – Casa dos mosaicos geométricos.

Casa de mais de sessenta quartos. Destaca-se decoração do assoalho em mosaico branco e preto num dos cômodos com padrões geométricos.

4.2.2.20 – Casa da fonte pequena.

Casa do estilo atrium, apresenta telhas com dobra no compluvium, que se dirigem a um tubo no centro do impluvium.

4.2.2.21 – Casa do padeiro.

Casa de construção antiga, foi uma das grandes padarias dentre às trinta e cinco existentes em Pompéia na época do desastre. Possuía um hortus no jardim e a residência era no piso superior.
Nas escavações, foram encontradas maquinarias para trigo, bacias d’água, forno e até um esqueleto de mula.

4.2.2.22 – Casa do navio Europa.

Os quartos saem do peristylo. No jardim, foram encontrados vestígios arqueológicos de plantações de cebolas, repolho, uvas, plantas exóticas, cereja, pêssego, árvores de pistache – de origem oriental – sementes diversas em 28 vasos de terracota, limões – introduzidos pelos Hebreus - para uso medicinal, lavar a boca e proteger a roupa armazenada dos insetos.

4.2.2.23 – Casa do Jardim de Hercules.
Conhecida também como casa do fabricante de perfume, apresentou nas análises paleobotânicas, indícios de que a terra adjacente ao jardim foi utilizada primeiramente para plantio de ervas de essências para fragrâncias.
O altar a Hércules com estátua de mármore, dá o nome primordial da casa.

4.2.2.24- Casa do Dioscuri.

Descoberta em 1828-1829, é uma das casas mais suntuosas da Pompéia pré-desastre.
O atrium estilo corinthio é destaque.

4.2.2.25 – Jardim dos fugitivos.

Não é propriamente uma casa. É um vinhedo, segundo fontes arqueológicas de pesquisa.
Entre 1860 e 1875, Giuseppe Fiorelli trabalhou nessa área, introduzindo gesso em cavidades ocas que se apresentavam em meio a cinza vulcânica petrificadas, inaugurando novo método de recuperação histórica ou de indícios arqueológicos. É graças a ele e ao seu método, que hoje temos a imagem congelada daqueles que morreram em conseqüência da erupção do Vesúvio e 79 a.C. É também, nesse sítio particular, que se encontraram centenas de fugitivos da erupção e que morreram no local, recuperados por Fiorelli em sua forma final. Daí a importância desse subsítio específico.

4.3 – Os templos

4.3.1 – Templo de Asceplius ou Júpiter Meilichius.

Localizado perto de Porta Stábia.
Construção iniciada em 80 a.C., possivelmente em homenagem a Júpiter Meilichius – doce como o mel – e adorado junto com Hera e Afrodite.
Nos inícios, há possibilidade de ter sido templo de Asclépius e Hygea.

4.3.2 – Templo de Isis.

Foi reconstruído por Popidius Ampliatus após o terremoto do ano 62 d.C.
Apresentava nichos laterais com estátuas de Anúbis e Harpokrates, este ligado ao culto de Isis.
Em destaque o purgatorium, que era área com piscina d’água para purificação.

4.3.3 – Santuário público de Lares.

Erigido para os Deuses protetores da cidade e não das casas e famílias, em expiação pública diante do prodigium, o terremoto de 62 d.C.
Em destaque a decoração em mármore e o altar sacrifical erguido no centro do templo.

4.3.4 – Templo de Júpiter.

Obra originária de 80 a.C. possuía podium elevado e uma estátua de Júpiter.
Transformado em Capitólio já na época da catástrofe, em elegia a tríade Júpiter, Juno e Minerva.

4.3.5 – Templo de Vênus.

Com construção inicial em 80 a.C. na borda do Monte Pompéia, possuía pórticos com mármore e era o mais suntuoso da cidade.

4.3.6 – Templo de Apollo.

Santuário mais antigo da cidade, data de 575-550 a.C. os indícios de sua primeira construção, que depois foi ampliada.
Possuía podium elevado com escadas na entrada. Elementos gregos de arquitetura faziam parte do ambiente. As estátuas de Apolo e Diana do templo, hoje estão no Museu de Nápoles.

4.3.7 – Templo Dórico.

Obra que foi iniciada em 50 a.C., era uma construção retangular em homenagem a Athena e Hercules com onze colunas de cada lado na parte mais longa e sete de cada lado na parte mais curta.

4.3.8 – Templo da Fortuna Augusta.

Em adoração à Fortuna Redux, foi construído por M. Tullius em honra ao Imperador Augustus.
Possuía colunas de mármore em estilo corinthio e uma grande estátua da Fortuna.

4.3.9 – Templo de Vespasiano.

Erigido em adoração ao “gênio” do imperador, possuía quatro colunas na entrada, uma estátua do imperador, um altar de mármore contendo a cena do sacrifício do touro.

4.4 – Teatros de Pompéia

4.4.1 – O Teatro Grande.

Com capacidade para 5.000 espectadores, decorado com mármores e estátuas, era onde recebia o espetáculo dos gladiadores.

4.4.2 – O Teatro Pequeno.

Era um teatro para leituras de textos poéticos e cenas musicais.
Com construção inicial em 80a.C., possuía um telhado acústico e uma área reservada para figuras proeminentes da cidade, da mesma maneira que também no Teatro Grande havia essa distinção.

4.4.3 – Quadriporticus.

Também originário de 80 a.C., era usufruído durante os intervalos dos espetáculos dos outros dois teatros anteriormente citados.
Nos anos finais que antecederam a catástrofe, serviu como abrigo aos gladiadores.

4.4.4 – Amphitheatro.

Construído por Q. Valgus e M. Porcius, é o monumento de espetáculo público mais bem preservado em termos arqueológicos.
Com capacidade para 20.000 espectadores, era dividido em três áreas explicitas: a dianteira e mais baixa para os proeminentes; a retaguarda e mais alta para os pobres.
Foi onde, segundo relato de Tacitus, ocorreu o episódio conhecido como Pompéia versus Nocera – povoado próximo – em 59 d.C.
Durante um espetáculo de combate entre gladiadores promovido por Livineius Régulos, as torcidas de uma cidade e outra começaram, primeiro gracejos entre si, depois ofensas verbais. A seguir, pedras foram arremessadas e confrontos armados aconteceram. Corpos mutilados apareceram, principalmente de Nocera.
O caso foi para o Senado de Roma, que transferiu para os Cônsules, que devolveram ao Senado.
Por fim, Livineius e os outros líderes do confronto foram exilados por 10 anos de Pompéia, pena que foi abolida em 62 d.C., em função do terremoto.

4.4.5 – Palaestra Grande.

Era um edifício grande e retangular, onde funcionavam associações de juventude para propaganda do Imperador.
Lá foram encontradas várias vítimas do vulcão e que propiciaram muitos moldes de gesso.
O lado sul da construção dá para uma latrina antiga que era “limpada” por um canal de água.

4.4.6 – Samnita Palaestra.

Edifício situado atrás do templo de Isis e de forma retangular era onde aconteciam competições atléticas.
Posteriormente, já na época do desastre, funcionava como local de reuniões de associação político-militar de adultos.

4.5 – O Mosaico de Alexandre

Destacamos essa obra artística e mais famosa sob o ponto de vista da divulgação da arqueologia Pompeística, que resolvemos dar destaque especial, muito embora já tenhamos comentado acerca da “Casa do Fauno”, onde foi encontrada.
A obra é um mosaico em cores branca, amarela, preta e vermelha, que mede 313 cm por 582 cm. Representa a batalha de Isso acontecida em 333 a.C., quando se enfrentaram as tropas da Macedônia e Grécia contra as tropas Persas.
Na representação inscrita no mosaico, Alexandre aparece na cela de Bucéfalos, seu cavalo, enfrentando Dario III, o rei persa.

5 – Aspectos do Cotidiano

5.1 – O espetáculo dos gladiadores

Os indícios que nos permitem reconstituir a cultura que envolve a lutas entre gladiadores em Pompéia, são fundamentalmente extraídos de 73 anúncios pintados e quase que perfeitamente preservados, que versam sobre a organização, distribuição de prêmios entre os espectadores do espetáculo, prêmios estes como jóias, comida, etc.
Havia todo um comércio adjacente ao evento. Mesmo os gladiadores eram objetos de compra ou aluguel por parte dos mais ricos.
Toda uma propaganda, além das inscrições de parede ou mesmo panfletos, era oferecida. Havia procissões com pompa, com Éditos e Músicos em chamamento aos eventos, populares em todo o Império Romano.
No evento, pela manhã, se executavam condenados. À tarde, combate entre os gladiadores. Havia o venatio: gladiadores versus bestas; bestas executando condenados; bestas versus bestas; etc...
A luta entre gladiadores começava geralmente com 20 pares deles lutando entre si. O “missio” – fim da luta – era mais comum do que se imagina hoje.
Existiam vários tipos de gladiadores: Traex, Retiarius, Secutor, Controretiarius, Murmillo e Samnes, cada qual usando armaduras e armamentos próprios.
O local de treinamento era o ludus, que em Pompéia situava-se no Quadriporticus. Foram encontrados durante as escavações realizadas nesse local, alguns esqueletos e vários capacetes, que são modelos indicativos da cultura da época.

5.2 – O trabalho

Começava-se a trabalhar a partir do nascer do sol, ao amanhecer. Geralmente o regime de trabalho era de oito horas por dia, embora existissem exceções.
O transporte na cidade era propiciado por carros puxados geralmente por mulas.
Havia lojas que tinham caixeiros viajantes e vendedores de rua com carros puxados por bestas.
Artesãos empregavam escravos como mão de obra não especializada.
Quem melhor ganhava, em termos financeiros, eram os padeiros, ourives – artesão de ouro e prata – e trabalhadores de bronze.
Os artistas eram considerados simples artesãos. Participava dessa categoria de trabalhadores a população de mais baixa renda ou estrangeira.
Havia também feiras com tendas, toldos, cestas e mercadorias de todo o tipo.
Os escravos eram comprados no Fórum. Eram oferecidos com cartaz na garganta, onde se divulgava sua idade e habilidades. Na cidade de Pompéia, a maioria deles era de serviço doméstico ou professor. Eles também tinham direito a “alforria” – talvez não exatamente esse termo que é ligado à escravidão recente na América – e a compra da liberdade.

5.3 – A indústria de lãs em Pompéia

O processamento da lã para fabricação de tecidos em geral, envolve até hoje várias etapas. Ela deve ser lavada, secada e, em seguida, cardada. Depois, girada num processo de fiação e tecida. Esse, em resumo, é o processo geral.
Em Pompéia, como em todo o Império e mundo civilizado na época – Ecumenoi – havia lavadeiras que lavavam as telas novas. Em seguida eram colocadas no pestatoi com água e soda. Na ausência de soda, comum por sinal, usava-se urina humana ou animal, que depois de um processo de fermentação natural, transformava-se numa substância neutra, literalmente, amoníaco. Esse amoníaco misturado à argila, servia, num processo posterior, a amaciação do tecido, que logo em seguida era enxaguado e colocado para secagem, última etapa.
Em Pompéia havia um complexo comercial que girava em torno da lã. Foram localizados treze estabelecimentos de processamento da lã (lavagem e cardagem), sete de girar (fiar) e tecer, nove de tingir e dezoito de lavagem final. Encontraram-se também vários recipientes espalhados pelas ruas; grandes urinóis coletores da matéria prima da amônia.

5.4 – A alimentação.

O cidadão romano fazia seu almoço ao alvorecer. Consumia-se nessa refeição: pão; queijos; vegetais e sobras da noite anterior.
Ao meio dia era feita outra refeição, geralmente nas tavernas que eram numerosas em Pompéia. Pão liso, peixes, frituras, embutidos, doces e frutas, faziam parte desse cardápio completo.
O jantar começava às quatro horas da tarde e era servido no triclinium. De antepasto, eram servidos ovos e azeitonas. Logo depois: carnes; peixes e, finalmente, frutas.
Durante o jantar, que o participante reclinava-se no “cline” apoiado pelo cotovelo esquerdo, havia apresentações de música e dança, além de recitações de poemas.
Após o jantar propriamente dito, bebidas das mais diversas, com predominância do vinho, eram servidas indefinidamente.
Foram encontrados vários objetos e utensílios domésticos em escavações na cidade de Pompéia, tais como: bacias; jarros e vidros diversos.
Sabemos que os romanos comiam com as mãos. No entanto, foram encontradas colheres e facas, idênticas às que utilizamos hoje.
Consumiam também vinhos tintos ou brancos, puros, com mel, com especiarias ou curtidos em ervas. Cultivavam o gosto pelo garum, um condimento típico produzido em Pompéia, que era um “picles” de peixe fermentado ao sol e salgado, muitas vezes curtidos no vinho, vinagre ou ervas. Bebiam a Posca, que era vinagre misturado com água.

5.5 – A preparação da parede para o afresco.

A parede era preparada, aplicando-se sete camadas de uma mistura de cal com pó de mármore. Após isso, uma última da mesma mistura, mas bem fina. A partir daí, depois de bem seca, podia-se pintar a vontade.
Essa técnica é, até hoje, uma das melhores em termos de conservação temporal de afrescos, imitada também, por inúmeros povos.

5.6 – O culto dos mortos.

A morte para os Romanos equivalia à contaminação. Para isso, era necessária a elaboração de rituais de purificação e expiação. Privar um corpo do enterro ou rituais de sepultamento causaria repercussões negativas no destino da alma do defunto.
Até o século I d.C., o costume predominante no Império era o da incineração de cadáveres. A partir daí, a inumação se tornou vigente. Na época da tragédia em Pompéia, mais se utilizava a inumação do que a cremação.
O túmulo era marcado com um símbolo e o cadáver recebia uma moeda, que era introduzida na boca – ou duas cobrindo cada olho, segundo costume grego – para pagar o barqueiro dos Infernos, Caronte, pela travessia do rio que separa o mundo dos vivos do dos mortos.
Os ritos de purificação começavam após o funeral, quando um banquete era oferecido. Rituais duravam nove dias. Depois, oferendas eram dadas aos defuntos e outro banquete funerário era realizado.
Havia a Parentália – festa dos mortos – que era realizada de primeiro a vinte e um de fevereiro. No último dia da Parentália eram oferecidas cerimônias públicas aos mortos.
Os cemitérios romanos eram todos erigidos fora dos muros da cidade. No caso de Pompéia, como em outras cidades do Império, após cada porta de saída havia uma necrópole, que em termos arqueológicos na cidade analisada, adotam o nome de tais portões.
Os monumentos funerários refletem e expressam as diferenças sociais dos enterrados. Havia túmulos em série produzidos por construtores e que serviam aos menos favorecidos, assim como terrenos e projetos de mausoléus vendidos isoladamente a alguns indivíduos, seguramente mais ricos.
Não temos notícias de columbários – hoje chamados de túmulos pombais – em Pompéia, talvez por ser uma cidade eminentemente de veraneio e, pelo menos grande parte de sua população, rica.

5.7 – As necrópoles da cidade.

5.7.1 – Necrópole de Porta Nocera.

Em destaque nessa escavação, edifício funerário construído por Eunachia. Apresenta nichos com estátuas e meias colunas decoradas.

5.7.2 – Necrópole de Porta Vesúvio.

Túmulo do Tufa, com aspectos de túmulo para mulheres importantes, onde está sepultada Arellia Tertúlia. Há também o túmulo de Septumia, além do túmulo monumental de C. Vistorius Prisco, com cerca e altar coberto.

5.7.3 – Necrópole de Porta Nola.

São três túmulos importantes, dentre os quais, os de M. Obélio Firmo e Aesquilia Polla.

5.8 – O abastecimento de água.

No século VI a.C., havia na cidade 39 poços perfurados que alimentavam, através de baldes puxadas por cordas, o abastecimento de água da cidade, que possivelmente nessa época, era minúscula pelos padrões atuais e em comparação com Pompéia na época do evento.
Posteriormente, o abastecimento de água era garantido pelo regime de chuvas, através do sistema da captação de telhados inclinados, o compluvium, e piscina receptora que canaliza a água a uma cisterna subterrânea, o impluvium.
Na época de Augustus, foi construído o Aquae do Castellum, que consistia em três encanamentos principais e diversas torres d’água na cidade, tornando obsoleto o sistema de coleta das chuvas, coisa que reduziu o impluvium a um elemento decorativo.

5.9 – A medida do tempo.

Na época, o dia era dividido em 12 horas e a noite também. No entanto, como a duração do dia depende da época do ano, as horas, rigorosamente, não correspondiam a uma medida exata para todo o ano. Se compararmos com o horário atual, haveria uma variação de horário, para mais ou para menos. Somente no equinócio da primavera ou do outono, a medida das horas equivaleria, mais ou menos, à medida moderna e atual.
Utilizava-se para medir as horas dos Sundiais. Comum desde o século IV a.C., era uma vara – gnomom – que moldava sua sombra num seletor. O pulso de disparo d’água foi introduzido bem posteriormente.
O calendário Romano, no princípio, era de 10 meses. Depois passou a 12 meses e 355 dias por ano. Por fim, na época de Júlio César, foi introduzido o calendário Juliano, semelhante ao Grecoriano dos dias atuais.

5.10 – As termas.

A utilização das termas era um costume que manifestava uma concepção de tempo livre. Todo homem livre ia às termas. Pagavam uma pequena taxa. Havia também vários serviços com vários preços subseqüentes. Alugavam-se ou vendiam-se roupas, óleos, etc...
As seções eram separadas para homens e mulheres, que compareciam na parte da manhã. Os homens eram atendidos a partir dàs 13,30 horas e, muitas vezes, adentravam a noite ( lanternas foram encontradas nesses estabelecimentos ).
Nas termas, começavam geralmente com o banho quente no caladarium, que ficava ao lado do laconicum (banho turco). Depois, passavam ao quarto intermediário, de transição, o tepidarium, para finalmente mergulhar em água fria na última sala de banho, o frigidarium.
Usavam toalhas de linho e soda como sabão. A Spatula Strigile servia para raspar da pele os óleos e barros utilizados.

5.11 – Campanha política.

Em Pompéia, após várias escavações, apareceram grafites nas paredes de diversos prédios, pintados e vermelho e preto, relativos a campanhas políticas. Nelas os candidatos seguiam, normalmente, o seguinte roteiro:
- diziam a sua idade;
- reforçavam sua boa conduta moral;
- evocavam sua ascendência;
- colocavam “slogans” e promessas eleitorais;
- diziam-se apoiados por comerciantes e políticos;
- propunham troca de favores.

5.12 – As prostitutas.

Lupanare (bordel, de lupa=prostituta) era o nome do bordel mais organizado de Pompéia. Possuía cinco quartos no andar térreo e outros tantos no superior. O prédio em que funcionava o conluio possuía latrina, camas de pedras com “colchões”, pinturas com posições eróticas, etc...
As prostitutas eram escravas gregas ou orientais. A renda pertencia ao proprietário, o lenone.
O preço dos serviços de uma prostituta dessa casa de Pompéia variava ao equivalente de duas a oito jarras de vinho.

5.13 – As plantações.

Através da paleobotânica, podemos hoje saber o que se produzia, em termos de vegetais, na Pompéia antiga.
O Laboratório Aplicado de Pesquisa da Superintendência de Pompéia, que é aberto aos visitantes, mantém uma plantação atrás do Anfiteatro, que é uma tentativa de recuperação do plantio da época antiga. Há ali, indicação de vários tipos de plantas.
Os estudos paleobotânicos indicam uma classificação de acordo com o emprego dessas plantas, que são:
- tipo de terra;
- o vinho produzido;
- as frutas;
- produtos farmacêuticos;
- produtos de perfumaria (duas espécies que agora são selvagens);
- temperos.

Há também estudos de conservação e de cozimento antigo.
O estudo de sementes, madeiras, frutas, polens, traços de cultivo e irrigação da época antiga, está avançado e propiciou ao responsável pela pesquisa, o Professor T. Pescatore da Universidade de Sannio, a elaborar um catálogo bem amplo.
Há um levantamento das plantas de uso médico abrangente. Sabe-se que nos arredores do Anfiteatro havia vinhedos, pomares e cultivo de essências. Também pêssego e limão. Na área norte da cidade, cultivava-se cereal. Na área leste, legumes e plantas têxteis.
Havia também salgueiros e carvalhos, além de outras espécies, algumas das quais, hoje extintas.

6. Bibliografia consultada e complementar

Bibliografia consultada:

CARPICECI, Alberto Carlo. Pompeii: 2000 years ago. Firenze: Bonechi, 1977.

ETIENNE, Robert. Pompeii: the day a city died. London: Thames and Hudson, 1994.

GRANDE Enciclopédia Larousse, São Paulo: Nova Cultura, 1998.

KOCH, Herbert. Arte romano. Barcelona: Labor, 1930.

LESING, Erich. Pompeii. Paris: Terrail, 1996

STANFORD UNIVERSITY. Serviços e produtos oferecidos pela universidade. Disponível em: www.stanford.edu/group/pompeii.htm. Acesso em: 15 mai 2005.

Bibliografia Complementar:

ALLISON, P.M. Pompeian Households: An Analysis of the Material Culture. Los Angeles, 2004

BON, S. E. and Jones, R. Sequence and space in Pompeii. Oxford, 1997

CHIARAMONTE TRERÉ, C. Nuovi contributi sulle fortificazioni pompeiane. Milan, 1986

DE CARO, S. “Nouve nell’area fuori Porta Nola a Pompei”, in: Cronache Pompeiane 5, 1979

DOBBINS, J.J. Problems of Chronology, Decoration, and Urban Design in the Forum at Pompeii, in: AJA 98, 1994

ELLIS, S.J.R. “The distribution of bars at Pompeii: archaeological, spatial and viewshed analyses”. In: Journal of Roman Archaeology 17 ( forthcoming 2004 )

GUZZO, P.G. (ed.). Pompei 1998-2003: L’Esperimento dell’Autonomia. Milano, 2003

SOMMELLA, P. Urbanistica Pompeiana. Nuovi momenti di studio. Roma, 1994

ZACCARIA RUGGIU, A. Spazio privato e spazio pubblico nella città Romana. Rome, 1995
Texto de Eduardo Melander Filho e Maurício Esteves
2005

2 comentários:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom

Anônimo disse...

Sempre tive curiosidade sobre a vida em Pompéia. Achei bastante esclarecedor, parabens!
Ines Tinoco