sexta-feira, 10 de julho de 2009

CULTURA E OPULÊNCIA DO BRASIL: OBRA DO PE. ANTONIL – PARTE I

Prof. Melander

No século IV aC. Xenofonte escreveu o tratado “Oikonomikos”, baseado em tradições Socráticas. Tratava-se de um diálogo filosófico com o intuito de estabelecer regras sobre a “arte de bem governar a casa”. Nesse tratado existe uma série de orientações de como o homem livre deve administrar a sua propriedade, se relacionar com os escravos e servos, com a esposa, com os filhos, etc. Aliás, o termo grego oikonomikos dá origem à palavra atual “economia”.
Essa “arte de bem governar” foi, durante a Idade Média, o padrão ideológico predominante no qual a Igreja se inspirava. Reproduzia o modelo do texto, tanto na construção formal dos seus documentos, quanto em termos éticos de como deveria ser o comportamento do Senhor Feudal em relação aos seus servos, familiares, vassalos e suseranos.
O Padre Jesuíta André João Antonil seguiu essa tradição na construção formal do seu escrito quando escreveu o livro “Cultura e Opulência do Brasil”, obra de importância transcendental para compreendermos o “sistema de engenhos de cana de açúcar”, publicada em 1711. A maneira de se escrever conforme os “antigos”, fazia parte da tradição à que nos referimos. Os Lusíadas tem o mesmo corpo de construção “poético” da Odisséia. Da mesma forma, Antonil tratava os Senhores de Engenho, de acordo com essa tradição, reconstruindo realidades da época a partir de linhas de construção de pensamento e métodos baseados na antiguidade grega, como sendo pessoas de cabedal e com capacidade de dirigir. Sugeriu os comportamentos “nobres” que eles deveriam manter com a sua família, iguais (homens livres), escravos, etc.
Essa visão, perfeitamente encaixada na ordem Estamental da Idade Média, refletia a necessidade, segundo o que percebemos na obra do autor, de regulamentar uma situação existente, ou seja, o enquadramento dos Senhores de Engenho dentro do “sistema vigente”, tornando-os passíveis da conquista da dignidade de um verdadeiro “fidalgo”.
O ponto de vista de Antonil era, possivelmente, o mesmo que na época tinham os Senhores de Engenho. Primeiro, pela notória influência cultural da Igreja, particularmente dos Jesuítas, na formação da sociedade e até das instituições do período. Segundo, pela própria condição de serem, praticamente, os únicos letrados da época, condição essa que lhes dava o monopólio da produção da ideologia dominante.
De qualquer forma, os Senhores de engenho não tinham uma vocação “capitalista” na acepção da palavra. Vinham para o Brasil com a perspectiva pessoal de enriquecimento rápido “nessa terra de mil oportunidades” e com o intuito de reforçar ou conquistar um título de nobreza. Ou seja, o objetivo era o de se acomodarem dentro do estamento social dominante.
A própria origem social deles era incerta. Sabemos que, originalmente, muitos Fidalgos despossuídos vieram para o Brasil. Na época de Antonil, muitos Jesuitas eram proprietários de Engenhos, o que revela um interesse mercantil por parte dos mesmos. E, também, cristãos novos (judeus convertidos ao cristianismo pela força ou voluntariamente). Indícios dessa rama são latentes. Até hoje, grandes famílias nordestinas pertencentes à oligarquia “terratenente” nacional, tem sobrenomes tais como: Carvalho, Silva, Cajazeira, Oliveira, etc.

FONTES:

MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura e Opulência do Brasil: Obra do Pe. Antonil – Parte I. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 19 jun 2009 a 02 jul 2009. História, p. 2.

MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura e Opulência do Brasil: Obra do Pe. Antonil – Parte I. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 19 jun 2009 a 02 jul 2009. P. 2. Disponível em: <
http://www.gazetadeinterlagos.com.br/colunadoleitor.html#2>. Acesso em: 27 jun 2009.

A segunda parte deste artigo pode ser acessada em: <
http://edmelander.blogspot.com/2009/07/cultura-e-opulencia-do-brasil-obra-do.html>.

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