segunda-feira, 11 de agosto de 2008

VOLUME ARQUITETÔNICO DOS SAMBAQUIS

Sambaqui Ponta da Garopaba - 24 m de altura
Sambaqui Ponta da Garopaba do Sul - Jaguaruna - SC



Professor Eduardo Melander Filho


No último artigo publicado nesse Jornal, escrevemos sobre os Sambaquis litorâneos, sua estrutura de construção, seu caráter funerário, sua cronologia e sua sistemática destruição pelas indústrias de mineração. Escrevemos também sobre os seus construtores, os sambaquieiros, que eram exímios remadores, de estatura baixa e viviam fundamentalmente da pesca. Diremos, então, no presente artigo, algo sobre o volume arquitetônico dos Sambaquis e o significado religioso e político de tal dimensão.
Muitos arqueólogos e estudiosos se perguntam o porquê dos Sambaquis terem atingido dezenas de metros de altura, tornando-se visíveis há quilômetros de distância, sendo verdadeiras montanhas construídas pelos homens pré-históricos que utilizaram para tal de uma arquitetura proposital. Em outras palavras: os Sambaquis tiveram suas construções planejadas com o propósito de serem vistos por outros. Faremos algumas analogias (comparações) a respeito.
Os templos gregos do período clássico (séc. V aC.) tiveram sua origem a partir de antigos túmulos de senhores micênicos transformados em objeto de culto com o passar do tempo. Apesar de estarem espalhados por toda a Polis (cidade num sentido amplo), o templo principal estava instalado na Acrópole, lugar mais alto da cidade, com o claro objetivo de ser visto à distância. Sua construção era monumental e identificava todo o território à sua volta.
A torre de Babel (que existiu realmente na antiga Babilônia) atingiu por volta de 90 m de altura. Viajantes antigos comentavam sobre sua impressionante monumentabilidade. Àqueles que de longe a viam, sabiam que todo o espaço circundante pertencia aos babilônios.
As pirâmides construídas pelos povos da Mesoamérica (maias, toltecas, astecas ou mexicas, etc.) eram também em sua maioria túmulos dos reis. Cada vez que um deles morria, construíam uma pirâmide maior sobre a anterior, fazendo com que se tornassem cada vez maiores e mais altas (os Sambaquis também cresciam dessa maneira). Os templos eram as construções mais visíveis das cidades (pela altura atingida).
Sobre as pirâmides do Egito, desnecessário dizer da relação Túmulo-Templo-Monumento (definidor de territorialidade), presente nos exemplos anteriores.
Os Sambaquis possuíam todas essas características. Eram cemitérios onde se enterravam sucessivamente, geração após geração, milhares de pessoas. Sabemos por analogia etnográfica (comparação com os indígenas atuais) que eram também lugar de “culto aos antepassados”, a religião dos sambaquieiros. Por fim, eram monumentos enormes, alguns com mais de 80 m de altura, visíveis à longa distância. Estavam ali como que dizendo aos que os observavam que toda aquela região pertencia aos sambaquieiros.
Os Sambaquis foram e ainda são as verdadeiras “Pirâmides” brasileiras.


Professor Melander é historiador e pesquisador em arqueologia pré-histórica brasileira.
Enviem comentários, sugestões ou perguntas para:
edmelander@hotmail.com


MELANDER FILHO, Eduardo. Volume Arquitetônico dos Sambaquis. Jornal Gazeta de Interlagos, São Paulo, 25 jul 2008 a 07 ago 2008. Ciência, p. 2.

MELANDER FILHO, Eduardo. Volume Arquitetônico dos Sambaquis. Jornal Gazeta de Interlagos, São Paulo, 25 jul 2008 a 07 ago 2008. p. 2. Disponível em:
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http://www.gazetadeinterlagos.com.br/colunadoleitor.html#4>. Acesso em: 07 ago 2008.

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