sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Leslie White e Steward: o funcionalismo da antropologia americana



A concepção de cultura de Leslie White se baseia na distinção entre comportamento de signos e comportamento de símbolos. Signos são coisas ou eventos cujos significados são inerentes às suas formas físicas e os símbolos, coisas e eventos cujos significados são arbitrariamente colocados pelos seus utilizadores. Desse modo, somente o homem é capaz de ter comportamento baseado tanto em signos como em símbolos, sendo que a forma mais importante de símbolo é a linguagem humana, coisa que o animal é incapaz de produzir. Assim como o homem pode dar um significado arbitrário através do símbolo, ele mesmo, pelo uso constante e automático, pode transformar esse símbolo em signo (o sinal vermelho=pare). O ser humano é o único capaz de transcender o limite das experiências sensoriais porque pode representar simbolicamente, o que o habilita a poupar e representar as suas experiências que se tornam parte de uma tradição cumulativa e progressiva. É através desse fluxo extra-somático de tradição que envolve tecnoeconomia, organização social e ideologia, ou simplesmente cultura, que o homem explora e adapta-se ao mundo.
White vê a cultura como o artifício adaptativo pelo qual o homem acomoda-se à natureza e vice versa, exercendo essas funções ao aproveitar a energia livre colocando-a para trabalhar para a sua espécie. Ou seja, a cultura é o fluxo extra-somático que envolve sub sistemas: tecnologia, organização social e ideologia, sendo que a tecnologia é o mais importante (determinante) de todos.
Steward concorda em termos gerais com a concepção evolucionista de White. Ambos defendem que o objetivo central da antropologia deve ser a descoberta de regularidades culturais através do tempo, ou seja, similidaridades. No entanto, Steward está mais preocupado com “culturas” ou “grupo de culturas” do que em “cultura” em termos amplos como White concebe. Contrapondo-se a abordagem unilinear, em que as culturas passaram todas pelos mesmos estádios ou estádios similares, adota a abordagem multilinear, para lidar com as diferenças e similaridades culturais, através da comparação de sequências paralelas de desenvolvimento em áreas geográficas distintas e separadas.
Os antropólogos norte americanos não concebem a História como o estudo dos processos de transformação da sociedades nos seus mais diversos níveis (econômico, cultural etc.), mas sim como o registro dos eventos. A antropologia americana, na medida em que acredita que toda cultura encontra-se em determinado estágio e que estágios similares são pré-determinados pelo grau de adaptação do grupamento humano ao meio ambiente, considera-se ahistórica. Assim sendo, um evento qualquer pouca ou nenhuma influência terá na transformação ou evolução de uma cultura.
O funcionalismo dos antropólogos americanos é a metodologia da exploração da interdependência dos elementos que compõem um determinada cultura. O funcionalismo numa perspectiva histórica em antropologia leva à analogia orgânica, segundo a qual todo sistema é composto por elementos ou partes com funcões distintas porém inter relacionadas. A ausência ou a disfunção de qualquer desses elementos afeta o funcionamento do organismo, como um todo. O funcionalismo distingue o sincrônico do diacrônico, separando aquilo que é desenvolvimento (progresso) da função (visão ahistórica).


Eduardo Melander Filho



2001

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