terça-feira, 17 de junho de 2008

OS “PAULISTAS” QUE VIVERAM EM 8.000 aC

Megalobulimus



Professor Eduardo Melander Filho


Poucas pessoas sabem que há 10.000 anos atrás o homem já ocupava as cercanias da hoje cidade de São Paulo. Eram os sambaquieiros fluviais do Vale do Ribeira, cujos restos de sua cultura encontramos em toda aquela região.
Os Sambaquis, a rigor montanhas de conchas com dezenas de metros de altura, são em sua maioria grandes cemitérios milenares, onde os mortos e seus pertences eram cobertos por uma camada de conchas. Nos dias que se seguiam ao enterro faziam fogueiras entre e sobre os túmulos, onde cozinhavam as refeições rituais que consumiam ou serviam aos mortos. Assim, sucessivamente, novos túmulos eram construídos em torno e em cima dos anteriores, fazendo com que o cemitério crescesse sempre para cima.
Diferentemente dos Sambaquis litorâneos, era utilizado como cobetura das sepulturas o “megalobulimus” ao invés de conchas, que é um caracol terrestre da região, muito comum naquela época. Os homens também eram diferentes. Estudos arqueoantropológicos indicam que eles vieram do planalto, embora adotando a cultura do litoral.
Hoje já sabemos muitas coisas sobre eles através dos estudos dos vestígios encontrados em escavações arqueológicas. Restos de ossos calcinados de animais nos indicam que eram caçador-coletores e tinham o produto da caça como principal alimentação. Consumiam preás, cotias, pacas, capivaras, catetos, queixadas, antas, cervos, animais ainda hoje existentes na Mata Atlântica. Batedores, raspadeiras, percutores, machados, furadores, anzóis e outros artefatos feitos de pedra e ossos de animais também foram encontrados. Não produziam cerâmicas.
Centenas de esqueletos são encontrados nos Sambaquis, conservados pelo calcáreo dos caracóis. O “Homem de Capelinha”, do sítio de mesmo nome em Jacupiranga, foi datado de 9.000 anos atrás e é um dos mais antigos de toda América. Análises bio-antropológicas apontam semelhanças étnicas com “Luzia”, um esqueleto datado de 11.000 anos atrás, de um sítio em Minas Gerais. Ambos possuem características negróides.


FONTE:

MELANDER FILHO, Eduardo. Os “Paulistas” que Viveram em 8.000 aC. Jornal Gazeta de Interlagos, São Paulo, 13 a 26 jun 2008. Ciência, p.2.

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