segunda-feira, 11 de agosto de 2008

CONCEITOS DE CULTURA E CIVILIZAÇÃO

Johann Gottfried von Herder

Professor Eduardo Melander Filho


A palavra Cultura, resultante da evolução semântica do latim “cultura”, apareceu na França do século XVIII já com o significado de soma de saberes acumulados e transmitidos pela humanidade ao longo da história, associada às idéias de progresso, de evolução, de educação, de razão, de acordo com o ideário Iluminista da época. Expressava a oposição ao estado natural, sublinhando que o progresso nasce na instrução, ou seja, da cultura cada vez mais abrangente. Enquanto Cultura passou a designar os progressos dos indivíduos, a palavra Civilização, pertencente ao mesmo campo semântico que a anterior no idioma francês, ambas empregadas num sentido de “totalidade” e por isso escritas no singular, foi utilizada para designar os progressos coletivos. Civilização era entendida então como um processo de melhoria das instituições, da legislação, da educação. Um movimento que afetava toda a sociedade em oposição a irracionalidade e que deveria se estender a todos os povos que compunham a humanidade. A utilização de Cultura e Civilização se inscreveram assim numa concepção dessacralizada da História, já que a Filosofia se liberava da Teologia, inserida no contexto da racionalidade e nas idéias otimistas de progresso.
A palavra Kultur apareceu na língua alemã do século XVIII, como transposição exata do seu equivalente francês. A partir da segunda metade do século XVIII o termo foi adotado pela Burguesia intelectual alemã, já assumindo o sentido de um conjunto de valores espirituais baseados na ciência, na arte, na filosofia e na religião, em oposição à aristocracia cada vez mais preocupada em imitar o comportamento civilizado da corte francesa. Enquanto tudo o que era autêntico e que contribuia para o enriquecimento intelectual e espiritual era advindo da Cultura, o aparente, o superficial, a leviandade pertencia à Civilização. A Burguesia alemã, que diferentemente da francesa era alijada do poder, passou a denunciar o comportamento alienado da nobreza. Como a população em geral também não tinha cultura, a Burguesia passou a se ver como encarregada da missão de desenvolver e irradiar a cultura alemã. Dessa forma se passou da oposição social e política para a oposição nacional, procurando a unidade da Nação no plano da cultura. Essa procura de legitimação da Burguesia, transplantada na procura de legitimação cultural da Nação ainda dividida em diversos Principados se apoiou na especificidade da Cultura alemã e, por consequência, no particularismo das Culturas de todos os Povos, se opondo a noção francesa Universalista de Civilização.
Herder, em um texto de 1774, evocou a diversidade de culturas contra o universalismo do Iluminismo, considerando que cada povo, através de sua cultura própria, tinha um destino a realizar, tornando-se o precursor do conceito relativista de cultura. Assim, o conceito de cultura se ligou cada vez mais ao conceito de nação, constituindo-se num conjunto de conquistas artísticas, intelectuais e morais.

MELANDER FILHO, Eduardo. Conceitos de Cultura e Civilização. Jornal Gazeta de Interlagos, São Paulo, 08 ago 2008 a 21 ago 2008. História, p. 2.

MELANDER FILHO, Eduardo. Conceitos de Cultura e Civilização. Jornal Gazeta de Interlagos, São Paulo, 08 ago 2008 a 21 ago 2008. p. 2. Disponível em:
http://www.gazetadeinterlagos.com.br/colunadoleitor.html#3. Acesso em: 11 ago 2008.

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