terça-feira, 16 de setembro de 2008

O DETERMINISMO ECOLÓGICO NA ARQUEOLOGIA

Crânios fósseis expostos no I Congresso Internacional da SAB


Prof. Lic. Eduardo Melander Filho


A arqueologia, segundo os americanos, não é uma disciplina independente, mas sim um sistema metodológico ligado à antropologia. Essa antropologia americana, que se baseia no adaptacionismo ao meio ambiente (ecologismo) e não na transformação do meio ambiente pelo homem e vice versa, não pretende ser histórica. Na verdade, no geral, pretende mesmo descrever e não interpretar a realidade total do ser humano em toda a sua dimensão.
Descreve os componentes culturais levando em consideração as variações e semelhanças entre as culturas regionais e a dinâmica ou estática interna de cada cultura. Trabalha em quatro níveis: na cronologia (o que não necessariamente a torna diacrônica); na etnografia de culturas distintas; na comparação de culturas de uma região; na variação cultural (estática e dinâmica). Costume, período, tradição, estágio, etc., são outras classificações utilizadas por essa metodologia. Em termos evolutivos de estágios culturais, classifica as culturas indígenas em Bandos, Tribos, Chefias, Estados Antigos e Estados Industriais. Separa as áreas por tipos mais ou menos uniformes de ecologia, quase que pré determinando para essa área um certo modelo de estágio cultural adaptativo. É quase que um recorte automático. Há também a divisão de grandes áreas culturais, classificadas como Nucleares (as mais avançadas e de onde sairia a difusão cultural e tecnológica), Intermediárias (chefias) e Marginais (onde se encaixaria a Amazônia).
Dentro desse “esquema”, a mensurabilidade dos dados, a classificação pela funcionalidade, a descrição, a dedução pela universalidade já posta e proclamada, são as eleitas metodológicas. Entende-se, mas não se compreende. Descreve-se, mas não se explica.
Ana Roosevelt, arqueóloga americana que se contrapôs a essa corrente, apontou os problemas metodológicos desse “determinismo ecológico”. Segundo ela, a corrente, que foi implantada através de Julius Stewart, representava o imperialismo e neocolonialismo americano em busca de novos mercados e mão de obra barata, com base no conceito de dependência dos países latino americanos. Não é à toa a teoria das áreas nucleares, intermediárias e marginais, que viria justificar essa ideologia de dominação.
A interpretação dos povos amazônicos baseada no determinismo ecológico, conduzia a conclusões de que na Amazônia, pelo fato de ser uma floresta tropical com formações geológicas ácidas, seria impossível de se desenvolver uma cultura capaz de ir além da horticultura baseada na coivara. Portanto, a presença de cerâmica na região seria resultado da difusão cultural originária dos Andes ou Mesoamérica (regiões nucleares).
Ana Roosevelt não apenas comprovou a existência de Chefias e de populações extensas, como também provou o aparecimento de uma cerâmica na Amazônia ancestral que é a mais antiga das Américas. Se difusão houve, foi a partir da Amazônia.


FONTES:

MELANDER FILHO, Eduardo. O Determinismo Ecológico na Arqueologia. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 05 set 2008 a 18 set 2008. História, p. 2.

MELANDER FILHO, Eduardo. O Determinismo Ecológico na Arqueologia. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 05 set 2008 a 18 set 2008. P. 2. Disponível em: <
http://www.gazetadeinterlagos.com.br/colunadoleitor.html#2>. Acesso em: 16 set 2008.

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