terça-feira, 28 de abril de 2009

CULTURA MATERIAL E ETNICIDADE

Cultura Material: Artefatos fabricados pelo homem
(Museu Anita Garibaldi-SC)


Prof. Lic. Eduardo Melander Filho


Cultura material é aquilo que o Prof. Dr. Ulpiano Bezerra de Menezes, arqueólogo e ex-diretor do Museu do Ipiranga (Museu Paulista da USP), define como uma coisa física, um objeto construído pelo homem e que reflete a ação do homem sobre coisas físicas. Um testemunho, uma prova, um documento esvaziado das suas funções originais, mas que expressa a relação entre os homens, movimento (não estática), que intermedia outras realidades já não existentes. Algo invisível em seu conteúdo, que acima de tudo apresenta uma carga histórica de trabalho acumulado, portanto, produto humano.
Essas colocações preliminares, sob nosso ponto de vista, são importantes, pois o tema estará a todo o momento presente nesse texto.
Pensamos cultura material como vestígios que expressam as relações entre os homens, num sentido de se reconstruir as sociedades de épocas passadas e o modo de vida de suas populações.
O texto intitulado: “Cultura Material e História Cultural de Dolores Newton”, aborda a questão da relação entre história cultural e etnologia (estudo das culturas das etnias do presente). Afirma ela que os fenômenos culturais se apresentam sob três modalidades: idéias; do comportamento e dos objetos físicos (esse último, adjetivado num campo novo; o da antropologia material). Emprestando “Bohannan” em sua interpretação, “Dolores” considera a cultura material como fenômeno duas vezes codificado: na mente do artesão e na forma física do objeto (qualquer artefato construído pelo homem). Assim, o objeto é o melhor meio para se inferir no passado. Cita a “Suma Etnológica Brasileira”, que divide a discussão da cultura material em esferas: secular e sagrado – contraposição entre instrumental e simbólico (o uso do instrumento e o que ele significa para quem o possui).
Dolores ressalta que existem diversas formas de evidências que podem ser utilizadas nos estudos das populações indígenas: restos arqueológicos; documentos escritos por europeus e outros; tradição oral; mitologia; lingüística; antropologia física; genética; etc.
Vê a arqueologia como fonte primordial de evidências da história cultural. No entanto, define a etno-história, pelas fontes documentais escritas e pela tradição oral, enquanto que a história do período se constitui por documentos baseados em relatos europeus. Assim, a etnografia histórica seria a descrição do processo histórico.
Trabalha também, com conceitos de continuidade e mudança cultural, dados mensuráveis, adaptações ecológicas, permanência, etc., revelando profundamente sua filiação teórico-ideológica, e, consecutivamente, sua visão de mundo em relação ao Brasil.
Assim, dentro dessa perspectiva, a cultura material pode definir etnicidade, entendendo a cultura como uma totalidade e, portanto, histórica e em constante movimento e transformação.


FONTES:


MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura Material e Etnicidade. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 24 abr 2009 a 07 mai 2009. História, p. 2.

MELANDER FILHO, Eduardo. Cultura Material e Etnicidade. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 24 abr 2009 a 07 mai 2009. Disponível em: <
http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_9800c01086>. Acesso em 28 abr 2009.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

LESLIE WHITE E JULIUS STEWARD: O FUNCIONALISMO DA ANTROPOLOGIA AMERICANA

Leslie White

Prof. Lic. Eduardo Melander Filho


A concepção de cultura de Leslie White se baseia na distinção entre comportamento de signos e comportamento de símbolos. Signos são coisas ou eventos cujos significados são inerentes às suas formas físicas e os símbolos, coisas e eventos cujos significados são arbitrariamente colocados pelos seus utilizadores. Desse modo, somente o homem é capaz de ter comportamento baseado tanto em signos como em símbolos, sendo que a forma mais importante de símbolo é a linguagem humana (a escrita também o é), coisa que o animal é incapaz de produzir. Assim como o homem pode dar um significado arbitrário através do símbolo, ele mesmo, pelo uso constante e automático, pode transformar esse símbolo em signo (ex: o sinal vermelho=pare). O ser humano é o único capaz de transcender o limite das experiências sensoriais (visão, audição, tato, paladar e olfato) porque pode representar simbolicamente, o que o habilita a poupar e representar as suas experiências que se tornam parte de uma tradição (cultural) sempre cumulativa e progressiva. É através desse fluxo extra-somático (fora do corpo) de tradição que envolve tecnoeconomia, organização social e ideologia, ou simplesmente cultura, que o homem explora e se adapta ao mundo.
White vê a cultura como o artifício adaptativo pelo qual o homem se acomoda à natureza e vice versa. Ou seja, a cultura é o fluxo extra-somático que envolve subsistemas: tecnologia, organização social e ideologia, sendo que a tecnologia é o mais importante (determinante) de todos.
Steward concorda em termos gerais com a concepção evolucionista de White. Ambos defendem que o objetivo central da antropologia deve ser a descoberta de regularidades culturais através do tempo, ou seja, similidaridades (semelhanças). No entanto, Steward está mais preocupado com “culturas” ou “grupo de culturas” do que em “cultura” (como definição geral) em termos amplos como White concebe. Contrapondo-se à abordagem unilinear, em que as culturas passaram todas pelos mesmos estádios (estágios) ou estádios similares, adota a abordagem multilinear (várias linhas de evolução cultural) para lidar com as diferenças e similaridades culturais, através da comparação de sequências paralelas de desenvolvimento em áreas geográficas distintas e separadas.
Os antropólogos norte americanos não concebem a História como o estudo dos processos de transformação das sociedades nos seus mais diversos níveis (econômico, cultural etc.), mas sim como o registro dos eventos. A antropologia americana, na medida em que acredita que toda cultura se encontra em determinado estágio e que estágios similares são pré-determinados pelo grau de adaptação do grupamento humano ao meio ambiente, considera-se ahistórica. Assim sendo, um evento (histórico) qualquer pouca ou nenhuma influência terá na transformação ou evolução de uma cultura.
O funcionalismo americano numa perspectiva histórica em antropologia, leva à analogia orgânica (comparação com os organismos vivos), segundo a qual todo sistema é composto por elementos ou partes com funções distintas, porém inter relacionadas. A ausência ou a disfunção de qualquer desses elementos afeta o funcionamento do organismo como um todo.


FONTES:

MELANDER FILHO, Eduardo. Leslie White e Julius Steward: O Funcionalismo da Antropologia Americana. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 09 abr 2009 a 23 abr 2009. História, p. 2.

MELANDER FILHO, Eduardo. Leslie White e Julius Steward: O Funcionalismo da Antropologia Americana. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 09 abr 2009 a 23 abr 2009. P. 2. Disponível em: <
http://colunadoleitor.gazetadeinterlagos.com.br/#Noticia_a6a5941967>. Acesso em: 13 abr 2009.