quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Escavações Arqueológicas num Sambaqui Fluvial - Parte II


FOTO: O arqueólogo Levy Figute, um dos coordenadores do projeto.

2.3 – AS ATIVIDADES EM LABORATÓRIO

As atividades em laboratório começaram a se desenvolver tão logo retornamos das atividades em campo. Nesse ínterim, aproveitamos para refazer as fichas de nível de escavação por estarem preenchidas de maneira indevida, impossibilitando sua compreensão.
A realização dessa gama de atividades, todas com o envolvimento meu e da Quéfren, obedeceu a um critério de etapas, as quais passamos a descrever.

FOTO - Secagem de material recolhido em escavação. Coluna da esquerda, de cima para baixo: NPs. 2434, 2488, 2326, 2374 e 2386. Coluna do meio, de cima para baixo: NPs. 2406, 2431, 2438, 2521. Coluna da direita, de cima para baixo: NPs. 2393, 2375 e 2433.

2.3.1- Lavagem e secagem do material recolhido na escavação.
Atividade desenvolvida no laboratório de lavagem durante os dias 28/092006, 01/10/2006, 02/10/2006, 04/10/2006 e 05/10/2006, quando encerramos essa etapa. Por se tratar de material, em sua maioria, composto por ossos e fragmentos muito pequenos, foi um trabalho demorado.

2.3.2- Distribuição do material na mesa de trabalho.

Fizemos a distribuição por nível de origem, organizados em linhas verticais, em contraste com os outros colegas que elegeram a linha horizontal. Embora a base de organização fosse o nível, dentro dele, mantivemos a separação por NPs. Optamos por este sistema pela falta de espaço disponível e melhor aproveitamento visual da distribuição.
Esse trabalho foi desenvolvido durante os dias 09/10/2006, 10/10/2006 e 19/10/2006.

2.3.3- Classificação da arqueofauna.

Trabalho que consistiu na separação por categorias de queima (normal, queimado, carbonizado, calcinado), por grupos de animais (mamíferos, anfíbios, peixes, aves, répteis, etc...), por espécies e por tipo de ossos. Envolveu estudos prévios sobre ossos humanos e de animais, assim como consulta de manuais especializados no assunto. Além disso, recebemos preciosas orientações do pessoal especialista nessa área. Foi o trabalho que maior tempo tomou, não só pelas minúcias, mas, também, por se tratar de material minúsculo em sua grande parte, no nosso caso.
Durante o processo de classificação, encontramos mais dois artefatos ósseos que haviam passados despercebidos na primeira instância. Receberam o número de sua NP de origem. Estão assim registrados:

Nível 40 – 50

- NP- 2433 – ponta óssea
- NP- 2433 – anzol

As atividades de classificação do material recolhido se desenvolveram durante os dias 26/10/2006, 03/11/2006, 09/11/2006, 14/11/2006, 16/11/2006 e 23/11/2006.

FOTO- Arqueofauna, líticos e artefatos ósseos recolhidos na quadrícula D-34 do sítio do Moraes distribuídos por linhas de nível na mesa de trabalho.

2.3.4 – Colagem de material fragmentário

Foram atividades que desenvolvemos entre ou nos dias das outras , colando fragmentos com o objetivo de tentar a identificação do animal a que pertencia e à parte do seu corpo que lhe correspondia. Nesse sentido, tivemos grande sucesso.
Foram quatro casos, conforme o que relatamos a seguir.

a- Onze fragmentos da NP- 2431. Refere-se àquele afloramento ósseo que despontou sobre o início do concheiro no nível 40 – 50. Durante a decapagem, o osso se desfez em contato com o ar. Colamos oito dos onze fragmentos e conseguimos identificá-lo. É um fêmur que supúnhamos, inclusive com a identificação positiva de um quase especialista, fosse humano. A expectativa durou pouco. Trata-se de um fêmur de mamífero grande, possivelmente um Cervo ou Anta, segundo nosso especialista chefe, Levy Figuti.


FOTO- Onze fragmentos de ossos da NP- 2431 – nível 40 – 50

b- Três fragmentos da NP- 2488. Refere-se ao osso incrustado na parede sul que também se fragmentou, nível 40 – 50. Após a colagem, foi identificado como um fragmento de fêmur ou tíbia de grande mamífero, possivelmente Onça ou Anta.

c- Três fragmentos da NP- 2519, que também se fragmentou, no nível 70 – 80. Colado, percebemos que se trata de uma vértebra de cauda de Anta.

d- Quatro fragmentos de concha da NP- 2360, nível 10 – 20. Colado três dos quatro fragmentos, o resultante foi identificado como fragmento de um Caracol marinho, pela espessura de sua carapaça. Não foi possível identificar a espécie.

FOTO- Fêmur de Cervo ou Anta – NP- 2431 – nível 40 – 50

Realizamos os trabalhos de colagem nos dias 31/10/2006, 07/11/2006, 08/11/206 e 09/11/2006.

2.3.5- Caracterização, classificação e numeração dos líticos.

O trabalho de classificação dentro da tipologia lítica, de verificação da constituição do seu material e numeração própria a este tipo de material, foi efetuado no dia 16/11/2006. No dia 03/12/2006, realizamos também os trabalhos de medição do material.
A maioria do material é constituída por lascas produzidas por debitagem e percussão, batedores de materiais diversos, além de raspadores, um deles feito do resto de um machado.


FOTO- Raspador feito de resto de machado quebrado, de basalto.

Relacionamos, a seguir, todos os líticos, juntamente com os dados produzidos pela nossa observação. As medidas estão designadas pelo maior comprimento, maior largura e maior espessura.

Nível 10 – 20

- Mo 1676 – Raspador em seixo lascado por debitagem – quartzo – NP- 2347 – Z= 354 cm – 11,0 x 8,4 x 3,5 cm.
- Mo 1691 – Raspador feito sobre machado quebrado – basalto – NP- 2333 – Z=346 cm – 11,8 x 6,8 x 2,7 cm
- Mo 1677 – lasca – sílex – NP- 2360 – 2,2 x 1,2 x 0,7 cm



FOTO – Raspador em quartzo lascado por percussão e debitagem.

Nível 20 – 30

- Mo 1678 – lasca – NP- 2375 – 3,1 x 2,9 x 0,6 cm
- Mo 1683 – lasca – basalto – NP- 2374 – 2,7 x 2,6 x 0,7 cm
- Mo 1684 – lasca – basalto – NP- 2374 – 2,0 x 2,0 x 0,4 cm
- Mo 1685 – lasca – quartzo – NP- 2374 – 2,0 x 1,4 x 0,6 cm
- Mo 1686 – lasca - basalto – NP- 2374 – 2,8 x 1,9 x 0,4 cm
- Mo 1687 – lasca – quartzo – NP- 2374 – 2,2 x 1,5 x 0,8 cm
- Mo 1688 – lasca – quartzo – NP- 2374 – 3,2 x 2,1 x 0,9 cm
- Mo 1689 – lasca – basalto – NP- 2374 – 3,1 x 1,7 x 0,5 cm
- Mo 1690 – lasca – quartzo – NP- 2375 – 1,5 x 1,2 x 0,8 cm
- NP- 2374 – 4 lascas
- NP- 2375 – 2 lascas

Nível 30 – 40

- Mo 1679 – batedor – quartzo – NP- 2388 – Z= 368 – 6,8 x 6,2 x 3,2 cm
- Mo 1680 – batedor – basalto – NP- 2389 – Z= 372 – 6,5 x 6,1 x 4,2 cm
- Mo 1681 – batedor – rocha básica – NP- 2391 – Z= 371 – 5,3 x 4,7 x 4,2 cm
- Mo 1682 – batedor – rocha básica – NP- 2392 – Z= 364 – 11,2 x 7,4 x 4,7 cm

Nível 40 – 50

- NP- 2434 – 8 lascas

Nível 70 – 80

- Mo 1692 – lasca – basalto – NP-2521 – 2,2 x 1,7 x 0,7 cm

2.3.6- Medição da arqueofauna maior.

Providenciamos também as medições da arqueofauna, no dia 04/12/2006, quando também fizemos as medições dos artefatos, conforme relacionamos abaixo.

- NP- 2360 – Caracol marinho – nível 10 – 20 – 3,2 x 1,6 x 0,5 cm
- NP- 2431 – fêmur de Cervo ou Anta – nível 40 – 50 – 11.8 x 2,0 x 2,0 cm – espessura do osso: 0,4 cm
- NP- 2488 – frag. de fêmur ou tíbia de Onça ou Anta – nível 40 – 50 – 7,6 x 2,6 x 1,2 – espessura do osso: 0,8 cm
- NP- 2519 – vértebra da cauda de Anta – nível 70 – 80 – 3,7 x 3,4 x 2,2 cm
- NP- 2521 – cabeça de tíbia de Anta – nível 70 – 80 – 3,8 x 2,8 x 2,2 cm


FOTO- Possivelmente trata-se de uma cabeça de tíbia de Anta.

2.3.7- Os artefatos ósseos.

Os artefatos ósseos foram lavados separadamente do conjunto do material, deixados também separadamente em um recipiente próprio para tal procedimento. No entanto, tivemos acesso a eles. Fizemos as medições dos objetos, juntamente com a arqueofauna grande e em mesma data. Vamos relacionar especificamente este material, a fim de subsidiar as reflexões que faremos em cima de todo o material coletado.



FOTO- De cima para baixo: ponta óssea, NP- 2468; osso com sinais de trabalho, NP- 2437; anzol, NP- 2433; ponta óssea, NP- 2433; ponta óssea, NP- 2520 e anzol, NP- 2480.

Os artefatos encontrados da quadrícula D-34 foram os abaixo relacionados.

- NP- 2468 – ponta óssea – nível 50 – 70 – y= 20 cm – x= 31 cm – z= 395 cm – 3,9 x 0,6 x 0,3 cm
- NP- 2437 – osso com sinais de trabalho – nível 50 – 60 – y= 38 cm – x= 37 cm – z= 388 cm – 6,9 x 1,1 x 0,9 cm
- NP- 2433 – anzol – nível 40 – 50 – 2,5 x 0,9 x 0,3 cm
- NP- 2433 – ponta óssea – nível 40 – 50 – 2,0 x 0,5 x 0,4 cm
- NP- 2520 – ponta óssea – nível 70 – 80 cm – 3,8 x 1,3 x 0,4 cm
- NP- 2480 – anzol – nível 60 – 70 – 3,1 x 0,5 x 0,4 cm



FOTO - Fragmento de fêmur ou tíbia de Onça ou Anta.

2.3.8- Registro em inventário da arqueofauna.

Nas páginas próximas, há o registro de toda a classificação da arqueofauna que fizemos, NP por NP, nível por nível, com totalizações separadas por classe de animais, espécies identificadas, tipo de ossos ou vestígios, por categoria de queima, etc...
Com esse último tópico, encerramos a descrição do trabalho que desenvolvemos nesse último período.
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Eduardo Melander Filho
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2006









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