sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Leslie White e Steward: o funcionalismo da antropologia americana



A concepção de cultura de Leslie White se baseia na distinção entre comportamento de signos e comportamento de símbolos. Signos são coisas ou eventos cujos significados são inerentes às suas formas físicas e os símbolos, coisas e eventos cujos significados são arbitrariamente colocados pelos seus utilizadores. Desse modo, somente o homem é capaz de ter comportamento baseado tanto em signos como em símbolos, sendo que a forma mais importante de símbolo é a linguagem humana, coisa que o animal é incapaz de produzir. Assim como o homem pode dar um significado arbitrário através do símbolo, ele mesmo, pelo uso constante e automático, pode transformar esse símbolo em signo (o sinal vermelho=pare). O ser humano é o único capaz de transcender o limite das experiências sensoriais porque pode representar simbolicamente, o que o habilita a poupar e representar as suas experiências que se tornam parte de uma tradição cumulativa e progressiva. É através desse fluxo extra-somático de tradição que envolve tecnoeconomia, organização social e ideologia, ou simplesmente cultura, que o homem explora e adapta-se ao mundo.
White vê a cultura como o artifício adaptativo pelo qual o homem acomoda-se à natureza e vice versa, exercendo essas funções ao aproveitar a energia livre colocando-a para trabalhar para a sua espécie. Ou seja, a cultura é o fluxo extra-somático que envolve sub sistemas: tecnologia, organização social e ideologia, sendo que a tecnologia é o mais importante (determinante) de todos.
Steward concorda em termos gerais com a concepção evolucionista de White. Ambos defendem que o objetivo central da antropologia deve ser a descoberta de regularidades culturais através do tempo, ou seja, similidaridades. No entanto, Steward está mais preocupado com “culturas” ou “grupo de culturas” do que em “cultura” em termos amplos como White concebe. Contrapondo-se a abordagem unilinear, em que as culturas passaram todas pelos mesmos estádios ou estádios similares, adota a abordagem multilinear, para lidar com as diferenças e similaridades culturais, através da comparação de sequências paralelas de desenvolvimento em áreas geográficas distintas e separadas.
Os antropólogos norte americanos não concebem a História como o estudo dos processos de transformação da sociedades nos seus mais diversos níveis (econômico, cultural etc.), mas sim como o registro dos eventos. A antropologia americana, na medida em que acredita que toda cultura encontra-se em determinado estágio e que estágios similares são pré-determinados pelo grau de adaptação do grupamento humano ao meio ambiente, considera-se ahistórica. Assim sendo, um evento qualquer pouca ou nenhuma influência terá na transformação ou evolução de uma cultura.
O funcionalismo dos antropólogos americanos é a metodologia da exploração da interdependência dos elementos que compõem um determinada cultura. O funcionalismo numa perspectiva histórica em antropologia leva à analogia orgânica, segundo a qual todo sistema é composto por elementos ou partes com funcões distintas porém inter relacionadas. A ausência ou a disfunção de qualquer desses elementos afeta o funcionamento do organismo, como um todo. O funcionalismo distingue o sincrônico do diacrônico, separando aquilo que é desenvolvimento (progresso) da função (visão ahistórica).


Eduardo Melander Filho



2001

Entrevista com Carlos Matus: uma resenha crítica.



Entrevista com Carlos Matus: uma resenha crítica.


Prólogo

Por simples curiosidade aguçada enveredamos no tema. Primeiramente por uma crítica que fizemos em relação a um vídeo que assistimos do Walter Barelli, no qual ele mostrava um fluxograma sobre a Educação e sua problemática, baseado inicialmente numa pesquisa quantitativa. Em parte estávamos corretos, pois o método PES é fundamentalmente qualitativo e na nossa opinião uma pesquisa probabilística não se aplica como alavanca de um planejamento. Aliás, o resultado do fluxograma ficou óbvio demais: a população não dá o devido peso à Educação (um dos nós críticos). Depois, pela defesa velada que o Prof. Dr. Moacyr Gadotti fez daquela argumentação, apresentando a todos a sugestão, para quem o quisesse, de se faver um trabalho sobre o livro "Entrevista com Carlos Matus: O método PES", de Franco Huertas. Aceitamos essa tarefa no ato, pelo desafio implícito.
Propriamente somos todos de origens distintas e com trajetórias distintas de vida. Essas origens e trajetórias, ou seja, nossa história particular de vida e nossa inserção na história universal (dizendo em termos Hegelianos), é o que nos define no momento. Procuramos e sim um caminho para o futuro sem a negação do nosso passado. Esse passado se constitui de tradições de luta, constituídas durante os tempos em que vivemos. Acreditávamos e ainda acreditamos numa sociedade igualitária, socialista, livre na acepção da palavra e sem classes sociais. Mas grandes questões ainda estão para serem respondidas: Reforma ou revolução? Centralismo democrático (não burocrático) ou descentralização? Via pacífica ou pelo enfrentamento? Atuar somente na legalidade ou também legitimamente na ilegalidade? Optar pela institucionalidade ou também por outras formas e contra a institucionalidade?
Em suma, essas questões são questões de fundo estratégico. Abrir mão de alguma das táticas é abrir mão de movimentos precisos. Pessoalmente consideramos que o revolucionário deve atuar em todas a frentes possíveis sem abdicar de nenhuma. A única coisa que não abrimos mão de fato é da revolução em favor da reforma.
Aí está o ponto crítico. A diferença entre reforma e revolução não é uma diferença tática, mas estratégica.
Nesse sentido o entrevistado se coloca num campo eminentemente reformista e delimitado ao institucional. Apesar disso, a proposta do Planejamento Estratégico Situacional de Matus nos impressionou profundamente. Institucionalmente pode ser uma ferramenta poderosa de democratização e em rumo à eficácia e, por que não, eficiência (cremos mesmo que o PNE foi parcialemente elaborado a partir dessas premissas). E, por tratar-se de um instrumental, são válidas as tentativas de reestruturação, baseadas nessa proposta, de partidos progressistas (sic), no sentido de combater a forte tendência à burocratização daqueles que se definem como ‘partido de massas’.
“Entrevista com Carlos Matus” é um livro que vale a pena de ser lido.

O método PES

“Eles não sabem que não sabem”. É assim que Matus começa a classificar uma das duas resistências ao PES. A primeira é a resistência ativa. A segunda, a citada, a da “segunda ignorância”, a passividade.
O autor desenvolve o Planejamento Estratégico Situacional, a partir de uma crítica ao sistema tradicional de planejamento, deplorando o determinismo das “leis de mercado”, porém, não renegando o mercado como algo positivo em si.
Segundo ele, um planejamento precede e preside a ação para criar o futuro. Não para predizê-lo, mas para preveni-lo. Assim, abre-se uma aposta estratégica em cima de possibilidades futuras, e não sobre um destino imutável. “Agir como se fosse ocorrer, ocorrerá”.
Matus delimita bem a história como um campo de possibilidades e não como algo predeterminado por leis imutáveis e mensuráveis. Da mesma maneira, assim como não se pode prever o futuro pela incerteza do que ocorrerá, pode-se prever na vastidão da potencialidade da incerteza das coisas, de que tudo é possível e passível de planejamento alternativo. “O que nos surpreendem nas surpresas é o momento em que ocorrem”. Basta uma vez para se apreender com os erros, pois ele é suficiente para se estabelecer um método. Nesse sentido, as improvisações nas emergências são margeadas pela nulidade.
Em continuação, Matus considera o planejamento como uma ferramenta de liberdade. Ou seja, apresenta-se ao homem as alternativas de criar pelas possibilidades ou resignar-se com a passividade do destino.
Classificando as abordagens que hoje os decisores (de Estado, Empresas, etc.) dão sobre vários tipos de planejamentos que existem e que se mesclam umas com as outras, Matus sugere três enfoques:
1 - O planejamento tradicional que é baseado no determinismo positivista e que se utiliza da estatística e da econometria (não economia na acepção da palavra) como guias, ignorando a política;
2 - O planejamento estratégico corporativo que se utiliza de diversos ductos, que embora oitenta por cento seja baseado no determinismo, há mais diferenças do que semelhanças entre esse e o anterior;
3 - A futorologia, a prospectiva e a análise de grande estratégia, que pensa num planejamento de longo prazo levando em consideração a solidariedade (positiva ou negativa) e o atores políticos presentes no processo.

Numa tentativa de comparação entre o planejamento estratégico tradicional e o PES, poderíamos dizer que enquanto o tradicional utiliza-se do diagnóstico de verdade única, da teoria econômica determinista positivista, da visão de um único ator (Estado, empresa, etc.) e tenta explicar a realidade, o PES utiliza-se da análise situacional (várias verdades), da consideração de todos os aspectos da vida humana, da visão de vários atores e procura o significado das diferenças entre as explicações. No planejamento tradicional apenas um explica. No PES há a determinação de quem explica, verificando-se as explicações diferentes de cada ator, diferenciando-as dentro de uma mesma realidade, considerando que existem respostas diferentes a perguntas diferentes (assimetria das explicações).
Estabelece-se assim no PES, um primeiro caminho: diagnóstico (pesquisa) – situação – plano (processamento). Para problemas atuais, um planejamento reativo. Para os potenciais, um planejamento proativo.
Matus projeta o PES em quatro momentos distintos.
O primeiro momento é o Explicativo. É quando se estabelece o que “foi, é e o que tende a ser”. Nele relaciona-se os problemas, buscando-se suas causas. Utiliza-se, para isso, da construção de um fluxograma situacional que descreve e explica os problemas e seu fluxo de maneira vetorial (positivo ou negativo, direção em que afeta as regras, acumulações, fluxo e VDP ((vetor de descrição de um problema))). A divisão do fluxograma é a seguinte:
-produção social, onde se relacionam as várias dimensões da realidade (econômica, social, ideológica, etc.);
-acumulações sociais, que são os produtos e produtores de fatos sociais, onde se localizam os atores;
-regras básicas, que são acumulações sociais e que condicionam os limites de atuação no jogo, que podem estar sob controle ou não.

O segundo momento é o Normativo. É quando se estabelece “o que deve ser”. É onde se desenha o projeto capaz de mudar a realidade, capaz de transformar ou influir numa Situação Inicial para uma Situação Objetivo. É o projeto de transformação situacional.
O momento seguinte é o Estratégico. É onde se analisa a viabilidade de transformar o normativo em realidade. Analisam-se também questões tais como poder e capacidade.
Por fim, o último momento é o Tático-Operacional. É o momento, finalmente, das ações destinadas a operarem as mudanças.
Obviamente o PES é algo complexo e que deve ser conduzido tecnicamente por especialistas. No entanto, no cerne de sua proposta, está a aliança do político com o técnico. A aliança da teoria com a prática, ou praxis.
Na complexidade do PES, o autor trabalha em cima de vários conceitos: viabilidade; decisão; operação transitória; operação estável; operação (unidade básica de ação de um ator para mudar a realidade); OP (operação principal ao nó crítico); OK (operação de apoio a OP); nó crítico, processamento tecnopolítico (OP mais OK); motivação; ator; VCR (vetor de recursos críticos do jogo); VP (vetor de peso de um ator); viabilidade; decisão; operação transitória; operação estável; metaestratégia; tática; estratégia e acumulação de forças.
Sua visão de planejamento sofre forte influência militar. Em suas citações traduz Von Clausewitz, segundo o qual “tática é o uso da força em combate, e estratégia é o uso do combate para alcançar o objetivo da guerra”, com o que concorda o autor (pg. 72). Em outro trecho reproduz a palavras de Von Moltke: “não há plano que resista ao contato com o inimigo” (pg. 114). Contudo, Matus que se declara um adepto da descentralização, pensa de maneira diferente da organização de um exército prussiano. Define estratégia como uma cadeia de eventos táticos (OP), situando a eficácia tática no critério da eficácia estratégica, o que permite conceber a vitória do fraco sobre o forte. Concebe como meios estratégicos (recursos, poder, etc.) fatores tais como: imposição, persuação, negociação (cooperativa, conflitiva e mista), mediação, julgamento em tribunais, coação, confronto, dissuasão e guerra.

Considerações finais

A obra de Matus traduz um conhecimento sobre o tema magistral. A proposta do PES é na realidade uma das mais avançadas no campo do planejamento estratégico. Porém, nosso conhecimento sobre o tema é escasso, pois o último contato que tivemos com planejamento desse tipo (e tradicional) foi há mais de dez anos. Contudo, parafraseando o próprio Matus que diz: “Esse jovem inteligente, amestrado e ensinado a imitar, vai depois ao exterior e lá assimila, acriticamente, com excesso de respeito, tudo o que vem de um mundo que lhe parece superior, e submete-se a ele, entrega-se e renuncia às próprias raízes.” (pg. 63 – o grifo é nosso); nos arriscaremos a formular algumas pequenas críticas.
Carlos Matus é contundente na sua crítica ao determinismo positivista e à incapacidade dos governantes latino-americanos de utilizarem instrumentos de governo eficazmente. Aliás, declara mesmo que as estruturas de Estado estão falidas e que merecem uma reestruturação completa, no que o PES seria um instrumento importante. No entanto reconhece que a onda neoliberal de esvaziamento do Estado deixa esse com poucos recursos para investir nos serviços públicos em geral. Ora, a reorganização das forças produtivas desencadeada pelo “Consenso de Washington” e por essa mesma onda neoliberal consequente, propõe exatamente uma nova ordem baseada na administração eficaz da escassez de recursos. É uma contradição, pois o PES se encaixa exatamente nessa mesma orientação.
Essa mesma reorganização do trabalho adota métodos, entre os quais, de horizontalização do processo produtivo, eliminando assim o controle vertical do trabalho, que passa a ser controlado de maneira também horizontal, através da relação “produto/cliente”, formando um círculo interminável que se lança à sociedade como um todo, reproduzindo essa mesma relação. As unidades produtivas (produto/serviços) são constituída de grupos de trabalho “democráticos” (sic), cuja ideologia necessária é a de manutenção do grupo como produtivo: interdisciplinaridade, reciclagem constante, respeito às diferenças, tolerância, etc. Obviamente que essa forma de organização típica da empresa moderna tem a tendência de se reproduzir no aparelho de Estado e nas instituições, e daí, para o conjunto da sociedade. Esse tipo de proposta não é exatamente o que o PES se propõe a executar, inclusive no campo da própria Educação, reproduzindo assim na escola a forma de organização social da empresa moderna?
Matus também propõe a aplicação do PES em partidos políticos progressistas. Já demos nossa opinião no prólogo. No entanto, a experiência de partidos de “quadros” ainda não está enterrada. Basta notar organizações guerrilheiras de diversos matizes que proliferam e são várias. A opção definitiva por um partido de “massas” é uma opção definitiva pelo reformismo e pela institucionalidade. Nesse sentido, o PES é uma proposta com essas características.



Bibliografia utilizada:

HUERTA, Franco. Entrevista com Carlos Matus: O método PES. São Paulo: Fundap, 1996.

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Eduardo Melander Filho

Resenha

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2001






quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O Credo de Nicéia


O Credo de Nicéia



Credo in Deum Patrem omnipotentem, creatorem coeli et terrae,
et in Iesum Christum, Filium eius unicum, Dominum nostrum,
qui conceptus est de Spiritu Sancto, natus ex Maria Virgine,
passus sub Pontio Pilato, cruxifixus, mortuus et sepultus, descendit ad inferno (vel ad inferos),
tertia die resurrexit a mortuis,
ascendit ad coelos, sedet ad dextram Dei Patris omnipotentis,
inde venturus est iudicare vivos et mortuos,
Credo in Spiritum Sanctum,
sanctam Ecclesian catholicam, sanctorum communionem,
remissionem peccatorum,
carnis resurrectionem,
et vitam aeternam.

O Cortiço: Uma metáfora bem atual.


O CORTIÇO: Uma metáfora bem atual.


“O cortiço”, romance de Aloísio Azevedo, foi publicado em 1890. Nele ou autor trata da “saga” de João Romão, português inescrupuloso, que juntando dinheiro com muito sacrifício, compra um estabelecimento comercial no bairro de Botafogo na cidade do Rio de Janeiro. Amasiando-se com Bertoleza, uma escrava fugida possuidora de algumas economias e de uma quitanda, João Romão a transforma em seu “burro de carga”, apropriando-se de todas suas posses. Com o dinheiro de Bertoleza, João Romão compra algumas terras e constroe algumas casinhas para aluguel. O negócio se expande e em pouco tempo o terreno enche-se de “cubículos”, imediatamente alugados por causa da grande procura de habitações. Para contentar Bertoleza, seu amásio lhe providencia uma carta de alforria falsa, perpetuando assim o ciclo de exploração. No terreno vizinho vem morar Miranda, outro português, mas de classe elevada, que não se dá com João Romão e não vê com bons olhos aquele cortiço apinhado de brancos, pretos, mulatos, lavadeiras, malandros, vadios, assassinos, etc.. Vários tipos residem no cortiço: a Machona, lavadeira gritalhona, com muitos filhos de pais diferentes; Alexandre, o mulato pernóstico; Pombinha, a mocinha que é desencaminhada pelas más companhias; Rita Baiana, mulata faceira que é amigada com Firmo, o malandro valentão; Jerônimo e sua mulher; e outros. João Romão compra uma pedreira que lhe dá muito dinheiro. No cortiço há muitas festas, destacando-se nelas Rita Baiana como dançarina e mulher sensual e provocante, o que causa ciúmes em Firmo, que acaba brigando com Jerônimo por esse motivo. Após abater o rival a golpes de capoeira e navalha mandando-o para o hospital, Firmo foge para outro cortiço que os inquilinos de João Romão chamam de “Cabeça de Gato”, sendo chamados em retribuição de “Carapicus”. Saindo do hospital, Jerônimo prepara uma emboscada, matando a pauladas ao Firmo, fugindo com Rita Baiana e abandonando sua mulher. Em vingança, os moradores do “Cabeça de gato” invadem o local dos “Carapicus” travando enorme briga e causando um incêndio no cortiço. João Romão, agora com muito dinheiro, reconstrói o cortiço dando-lhe nova feição. A fim de realizar o antigo sonho de casar-se com uma mulher de “fina educação”, João Romão aproxima-se de Zulmira, filha de Miranda, através da intermediação de Botelho, um velho parasita que recebe vinte mil contos de réis pela realização do serviço. Armando um plano para livrar-se de Bertoleza, João Romão entra em contato com os antigos donos da escrava, denunciando seu paradeiro. Quando a polícia chega, Bertoleza suicida-se com a mesma faca que estava limpando peixes para a refeição de João Romão .
Para entendermos a obra é necessário entendermos o autor. Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, nasceu em São Luis do Maranhão em 1857 e faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 1913. É o fundador da Cadeira número quatro da Academia Brasileira de Letras.
Filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo e de Dona Emília Amália Pinto de Magalhães, Aluísio carrega o estigma de ser fruto de uma união ilegítima, pois sua mãe havia casado anteriormente com um rico e ríspido comerciante português aos dezessete anos, abandonando-o por causa de brutalidades sofridas. Essa condição influenciou sem dúvidas na escolha das temáticas de seus livros e na caracterização dos seus personagens.
Haveria alguma semelhança entre o primeiro marido da mãe e João Romão?
Aluísio embarcou para o Rio de Janeiro em 1876, matriculando-se na Imperial Academia de Belas Artes, hoje Escola Nacional de Belas Artes. Para manter-se, fazia caricaturas para os jornais da época, como o Fígaro, O Mesquetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada. Sua habilidade o ajudaria mais adiante na construção dos seus personagens, que, de uma forma ou outra, são caricaturizados. De volta a São Luis, publica em 1879 o romance “Uma Lágrima de Mulher”. Ajuda também a lançar o jornal anticlerical “O Pensador” que defendia a abolição da escravatura. Em 1881 lança o romance “O Mulato” que tratava da questão do preconceito racial, livro que fez grande sucesso, reconduzindo-o à Corte no Rio de Janeiro. Nessa nova fase, Aluísio passou a publicar seus romances em folhetins de jornais da época, que a princípio, eram obras menores. Posteriormente, surgiu uma nova preocupação: a observação e análise dos agrupamentos humanos, a degradação das casas de pensão e sua exploração pelos imigrantes, principalmente o português. Dessa preocupação é que surgiriam duas de suas melhores obras: “Casa de Pensão” (1884) e ‘O Cortiço” (1890). De 1882 a 1895 escreveu romances, contos e crônicas, e também peças de teatro em colaboração com Artur de Azevedo e Emílio Rouède. A partir de 1895 abraçou a carreira diplomática, viajando por muitos países até o seu falecimento na Argentina, aos cinquenta e seis anos de idade.
Suas obras são: “Uma Lágrima de Mulher” (1880); “O Mulato” (1881); “Mistério da Tijuca” (1882), reeditado como “Girândola de Amores”; “Memórias de Um Condenado” (1882), reeditado como “A Condessa Vésper”; “Casa de Pensão” (1884); “Filomena Borges” (1884); “O Homem” (1887); “O Coruja” (1890); “O Cortiço” (1890); “Demônios” (1895); “A Mortalha de Alzira” 1894); “Livro de Uma Sogra” (1895) .
A visão de mundo que o autor possui é a visão de mundo das elites do seu tempo. Em “O Cortiço”, Aluísio caracteriza seus personagens como primários, reduzindo-os ao grotesto e mesmo ao animalesco. O cortiço é algo como que uma aberração que gira em torno do português João Romão, de seu crescimento e de sua ganância. Seus moradores vivem nos limites da legalidade, da moral, da sociedade, da decência, da humanidade enfim, à semelhança e imagem de seu proprietário, este sim o verdadeiro sujeito histórico e autoridade de fato pela sua condição de possuidor do local. O autor obviamente é influenciado pelas idéias naturalistas da época, como o darwinismo e o determinismo: a raça e o meio determinam os indivíduos e os grupamentos sociais. Pressupõe-se dentro desses parâmetros, um projeto autoritário de construção da nação.
Duas versões cinematográficas da obra em questão foram produzidas, pelo que temos notícia. A primeira versão foi produzida em 1946 por Lulu Barros e não tivemos acesso à produção. A segunda, produzida por Edgard de Castro sob o selo da Embrafilmes – Argos futuro do Brasil, foi editada em 1977. Participam do elenco de atores, grandes nomes das artes cênicas nacional , hoje conhecidos mais como “atores globais” de novelas, tais como: Betty Faria, Mário Gomes, Armando Bogus, Beatriz Segall, Ítala Nandi, Maurício do Valle, entre outros. É essa versão que nos interessa sob o ponto de vista de análise.
A edição em vídeo aparece num momento histórico bem delimitado. É um momento de definições políticas, tanto por parte da ditadura e os governistas de direita, quanto por parte da esquerda jogada na clandestinidade e a oposição legal partidária de centro ou, no máximo, centro-esquerda. O ano de 1977 é o ano de acirramento do movimento estudantil (invasão da PUC), das exigências de anistia, abertura política e livre organização dos trabalhadores. É o pré-momento de mobilizações que culminariam com a conquista de sindicatos importantes como o dos Bancários em São Paulo (1978), as greves dos metalúrgicos em São Paulo conduzida pela oposição (MOUMSP-1979), a greve dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo (1980) e a fundação do Partido dos Trabalhadores (1980).
Nesse contexto, os argumentos centrais da obra apontam na direção de um futuro incerto. É a metáfora do fim da escravidão com o fim da repressão, da proclamação da república com o fim da ditadura. Ao mesmo tempo, revela em proposta uma identidade social entre as épocas: o povo ausente de seus destinos, a mercê das decisões das elites e das reivindicações das futuras elites. É o alijamento eterno das populações marginais que “nunca, de fato, estiveram integradas permanentemente num processo produtivo e político decisório”.
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Eduardo Melander Filho
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Resumo da resenha crítica sobre "O Cortiço" de Aloísio Azevedo.
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2001

Padre André João Antonil e os Senhores de Engenho: Uma reflexão sobre sua obra "Cultura e Opulência do Brasil".


Padre André João Antonil e os Senhores de Engenho: Uma reflexão sobre sua obra "Cultura e Opulência do Brasil".




No século IV a.C., Xenofonte escreveu o tratado “Oikonomikos”, baseado em tradições Socráticas. Tratava-se de um diálogo filosófico com o intuito de estabelecer regras sobre a “arte de bem governar a casa”. Nesse tratado existe uma série de orientações de como o homem livre deve administrar a sua propriedade, se relacionar com os escravos e servos, com a esposa, com os filhos, etc... Aliás, o termo grego oikonomikos dá origem à palavra atual “economia”.
Essa “arte de bem governar” foi, basicamente, durante a Idade Média, o padrão ideológico predominante no qual a Igreja se inspirava. Reproduzia o modelo do texto, tanto na construção formal dos seus documentos, quanto em termos éticos de como deveria ser o comportamento do Senhor Feudal em relação aos seus servos, familiares, vassalos e suseranos.
Antonil, ao que nos parece, seguiu essa tradição na construção formal do seu escrito (a obra em questão). A maneira de se escrever conforme os “antigos”, fazia parte da tradição à que nos referimos. Os Lusíadas tem o mesmo corpo de construção “poético” da Odisséia. Da mesma forma, Antonil tratava os Senhores de Engenho, de acordo com essa tradição, reconstruindo realidades da época a partir de linhas de construção de pensamento e métodos baseados na antiguidade Grega, como sendo pessoas de cabedal e com capacidade de dirigir. Sugeriu os comportamentos “nobres” que eles deveriam manter com a sua família, iguais (homens livres), escravos, etc...
Essa visão, perfeitamente encaixada na ordem Estamental da Idade Média, refletia a necessidade, segundo o que percebemos na obra do autor, de regulamentar uma situação existente, ou seja, o enquadramento dos Senhores de Engenho dentro do SISTEMA VIGENTE, tornando-os passíveis da conquista da dignidade de um verdadeiro “FIDALGO”.
O ponto de vista de Antonil era, possivelmente, o mesmo que na época tinham os Senhores de Engenho. Primeiro, pela notória influência cultural da Igreja, particularmente dos Jesuítas, na formação da Sociedade e até das instituições do período. Segundo, pela própria condição de serem, praticamente, os únicos letrados da época, condição essa que lhes dava o monopólio da produção da ideologia dominante.
De qualquer forma, os Senhores de engenho não tinham uma vocação “capitalista” na acepção da palavra. Vinham para o Brasil com a perspectiva pessoal de enriquecimento rápido “nesta terra de mil oportunidades” e com o intuito de reforçar ou conquistar um título de nobreza. Ou seja, o objetivo era o de acomodarem-se dentro do ESTAMENTO SOCIAL DOMINANTE.
A própria origem social deles era incerta. Sabemos que, originalmente, muitos Fidalgos despossuidos vieram para o Brasil. Na época de Antonil, muitos Jesuitas eram proprietários de Engenhos, o que revela um interesse Mercantil por parte dos mesmos. E, também, cristãos novos. Indícios dessa rama são latentes. Até hoje, grandes famílias nordestinas pertencentes à oligarquia “terratenente” nacional, tem sobrenomes tais como: Carvalho, Silva, Cajazeira, Oliveira, etc... A adoção desses sobrenomes era uma prática compulsória, pois anteriormente ao século XV, servos e artesãos foram obrigados a vincular ao seu nome o status profissional ou servil camponês (Ferreira, Trigo), sendo, muitas vezes, obrigados a acrescentar também o nome do seu local de origem profissional (sua jurisdição Feudal). Aos Judeus, e mesmo aos Cristãos Novos, deslocados dessa ordem por não estarem incluídos oficialmente num compromisso hereditário servil ou corporativo, restava a adoção de “apelidos alternativos” (em Portugal, adotavaram nomes de plantas ou árvores). Isso não aconteceu apenas em Portugal, mas em toda a Europa. Na Alemanha, por exemplo, Reismann (plantador de arroz) era o servo ligado à gleba da terra de origem hereditária e Reisman (com um “n” a menos), é de origem judaica, sem relação nenhuma de vínculo feudal.
A ausência de um substrato social relevante e predominante na formação da “classe dos Senhores de Engenho” (não se entenda “classe” como classe imbuída num Sistema Capitalista), levava, necessariamente, a uma perspectiva mais integrada com a opção ESTAMENTAL.
O discurso de Antonil era diferente do de Antônio Vieira. O primeiro, segundo várias biografias do autor, era contra os Cristãos Novos e a favor da escravidão indígena. Vieira, ao contrário, complicou-se com a Inquisição de Portugal por defender os Cristãos Novos e a não escravização indígena. Na verdade eram duas perspectivas diferentes perante uma realidade nova à ordem FEUDAL, mas ambas, no sentido de mantê-la. A de Antonil caminhava num sentido de integrar os homens de sangue puro (Cristãos Velhos) ao “stato quo”. Em relação aos índios, considerando o aumento de preço dos escravos negros em função de crises internas e externas que se apresentavam no contexto da época (Guerra de Sucessão Espanhola, descobrimento das “Minas Geraes”, fuga de escravos, Quilombo de Palmares, etc...), apoiava o “Aldeamento” sob tutela civil (a querela dos Paulistas caçadores de índios), o que significava escravidão indígena, na prática. Vieira, como podemos notar em seus famosos sermões, da época, defendia o resgate da antiga ordem, com a suposição de que todos os que eram daqui, nativos (indígenas), nascidos (crioulos) ou vindos (o que incluía os Cristãos Novos), eram passíveis de conversão à disciplina da “Ordem de Deus”. Nesse sentido, Antonil se aproximava muito mais da nova ordem ligada ao MERCANTILISMO, embora, contraditoriamente, abraçasse as orientações anti-semitas da Inquisição. Propunha a defesa dos interesses dos Senhores de Engenho, tentando amenizar a rígida disciplina religiosa que impunha um trato menos severo a ser dado aos escravos e a obrigatoriedade de descanso dos mesmos nos feriados e festas religiosas.
Por fim, a obra de Antonil projeta, através de suas críticas e observações, a organização da produção açucareira dirigida rumo à “EFICIÊNCIA”, não num sentido de um aumento de produtividade que apontasse rumo ao CAPITALISMO propriamente dito, mas sim em direção à uma maior lucratividade baseada na redução de perdas no aproveitamento da matéria prima e na redução de custos conseqüente.
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Eduardo Melander Filho
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1999

As Escavações de Pompéia: História e Balanço Geral

Herculano


Pompéia






1 - Introdução

A escolha do tema "Pompéia" foi devido ao conhecimento primário que tinhamos do assunto através dos livros e das imagens dos corpos "fossilizados" pelo magma depois da grande erupção do vulcão Vesúvio, que destruiu a cidade e todo o seu entorno no ano de 79 d.C.. Mesmo as edificações, que resistiram ao tempo, contribuiram na forte impressão de que uma parte significativa da história teria sido congelada através dos tempos e resistido na existência até os dias de hoje.
A importância das escavações dos sítios de Pompéia para a Arqueologia Clássica nos serviu também de motivação. Antes de se criar uma sistematização de dados como consequência de um interesse mais cientifico, grande parte das peças retiradas desses espaços ia para o interior das residências de famílias ricas, que financiavam a coleta desse material, principalmente objetos de arte, com o objetivo puro e simples de aumentarem o acervo de suas coleções particulares. Dessas práticas depredatórias, no entanto, é que surgiram os procedimentos criteriosos atuais no trato de material coletado das escavações, que situa o objeto dentro de seu contexto arqueológico original, proporcionando a possibilidade de se "reconstruir" toda uma época a partir dos vestígios encontrados.

2 - Os sítios arqueológicos de Pompéia

2.1 - O mapa geral das escavações

As escavações em Pompéia se iniciaram em 1748, sob os auspícios do monarca Carlos de Bourbon. Foram relizados trabalhos esporádicos, pois não existia uma planta organizada da cidade para conhecer seus limites e principalmente delimitar as áreas de intervenção. O primeiro lugar a ser explorado foi a necrópole do lado de fora da Porta de Herculano. Muitas pinturas em murais foram encontradas e se perderam por desconhecerem a fragilidade do material. O simples contato direto com o objeto foi determinante para o seu desaparecimento.
Até século XVIII, grande parte da coleta de materiais arqueológicos foi financiada pela nobreza, que começava a decair socialmente. Esse espaço foi preenchido pela burguesia, desejosa, assim como o grupo anterior, em colecionar peças antigas.
Carlos de Borboun aproveitou o interesse de alguns dos financiadores de escavações para criar a Academia de Herculano, com o objetivo de desenvolver uma clientela específica para visitar os monumentos. Nessa época foram encontrados o achado de Júlia Félix, a Vila de Cícero, a Porta de Herculano, o Sepulcro e a Vila de Diomede, os Teatros, o Fórum Miangular e o Templo de Ísis.
Entre 1806-1815, quando ocorreu a invasão francesa, houve um aprimoramento no tipo de escavação desenvolvida e nos resultados obtidos com os trabalhos.
Com José Bonaparte aconteceram importantes mudanças. Foram contratados mais de seiscentos e oitenta e oito civis para trabalhar nas escavações. Sua irmã, Caroline, ajudou na implementação de projetos e na publicação de mapas para determinar os limites da cidade. François Mazois realizou seus grandes trabalhos nesse mesmo período ( 1809-1813 ).
A unificação da Itália fez com que as escavações tomassem uma nova direção. Sob o comando de Giuseppe Fiorelli, os objetivos traçados foram: a sistematização, principalmente do material que havia sido recuperado; a preservação dos registros e conservação das pinturas, mantendo-as no próprio sítio. Interessou-se em montar um acervo para o museu de Nápoles. Em cinco de fevereiro de 1863, foi um dos organizadores de uma expedição que encontrou quatro corpos cujas características faciais, as dobras de roupas e os corpos contorcidos, estavam intactos. Animais e algumas espécimes vegetais também foram achados. O produto usado para determinar o contorno desses vestígios foi gesso, que preencheu todos os espaços à mostra.
Num terceiro momento, apareceu a figura de Amadeu Maiuri, responsável pelas escavações de 1924 a 1961, onde ruas foram descobertas, privilegiando-se as principais vias de acesso da cidade, tomando um cuidado todo especial com as edificações. Com a descoberta da Vila dos Mistérios, todo o perímetro da cidade antiga estava agora conhecido. Começaram então, a partir daí, as escavações para abaixo dos estratos solidificados pela erupção de 79 d.C..
Atualmente a preocupação maior é a preservação daquilo que foi descoberto. Principalmente depois das restrições orçamentárias.

2.2 - Instituições participantes e a equipe de Superintendência de Pompéia

Dentre os pesquisadores de várias partes do mundo e de diferentes áreas de conhecimento, destacam-se alguns profissionais: o Professor Annamaria Ciarelo, que trabalha com plantas; o Professor Stampone, com seus estudos sobre ervas daninhas; o Professor Buffone e o seu estudo sobre “lithotheca”; e outros. Vários trabalhos especiais são realizados, como a realização de uma coleta de amostras de mármores coloridos para identificação e classificação, e estudos em geomorfologia, saúde publica, na área de nutrição, em materiais de composição dos metais, vidros, cerâmicas, matemáticos e astronômicos, assim como na tentativa de reconstrução de possíveis maquinários. Estão envolvidas nesses estudos as Universidades de Oregon, de Adelaide, de Cambridge, de Modena e a própria Superintendência Arqueológica de Pompéia, coordenadora dos trabalhos. Objetivando-se como um órgão independente do Ministério da Cultura desde 1997, a Superintendência funciona com autonomia financeira, administrativa, organizacional e científica. Sua responsabilidade é a de preservar o Patrimonio Cultural. Está dividida em duas instâncias: o conselho executivo, com um superintendente, que gerencia a cidade com um adjunto, o sênior; e o Conselho Fiscal, formado por um representante do Ministério do Tesouro, dois oficiais do Ministério da Cultura e mais representantes locais. Responsabilizam-se por um espaço dividido em vinte e três comunas, onde estão os quatro locais mais importantes para os estudos arqueológicos: Pompéia; Herculano; Estábia e Oplontis; acrescendo também o museu Boscoreale. Todos estes locais estão abertos ao publico.

2.3 - Novos projetos

A grande preocupação atual dos arqueólogos é a preservação de murais, onde aparecem as representações das divindades e dos hábitos do cotidiano. São temas dessas representações: a ostentação dos proprietários; as eleições; os objetos comuns e outros mais.
Para ajudar na identificação de pinturas, usa-se a tecnologia em 3D nos vestígios materiais, que foi cedida por uma empresa norte-americana, a Kacira, e desenvolvida com finalidade de restauração. O uso dessa tecnologia permitiu a implantação de um banco de dados, principalmente de plantas e prospectos de terra examinadas. É o correspondente ao laser-varredura empregado no solo. A tecnologia desenvolvida será importante para uma outra pesquisa em andamento de caráter geofísico, relacionada à condição estrutural das edificações. Pretende-se iniciar outros trabalhos num local próximo a Porta Estábia, que há muito tempo estava sendo deixada em segundo plano em termos de prioridade nas escavações arqueológicas.
O cronograma para o ano de 2005 contempla também a admissão de alunos de várias partes do mundo maiores de 18 anos, que mediante o pagamento U$ 3.500,00 de matrícula, poderão passar algumas semanas na região sob a responsabilidade de dez supervisores encarregados de organizar, acompanhar e orientar pequenos grupos de no máximo 20 alunos, garantindo a eles total dedicação na implementação de tarefas pertinentes a área arqueológica, com seus métodos e teorias.

3. Contextualização histórica

3.1 - A historia de Pompéia

Localizada a trinta metros acima do nível do mar, provavelmente possuiu um porto na desembocadura do rio Sarno. A cidade foi construída pelos Oscos ao pé do Vesúvio no século VI a.C. e manteve contato cultural com os gregos de Cumas e com os etruscos. No século V a.C. esteve sob o domínio dos samnitas. Com a expansão romana que se deu entre os anos de 343 a.C. a 290 a.C., passou a sofrer a influência direta deles. Rebelou-se em 90 a.C. juntamente com outras cidades, mas foi derrotada depois de dez anos de luta. Passou a se chamar Cornelia Veneria depois dessa derrota. Porém, foi com Augusto e Tibério (27 a.C. a 37 d.C.), que a cidade conheceu grande desenvolvimento, principalmente na área de construções de edificações. Tem um traçado em xadrez e as ruas pavimentadas com blocos de pedras e ladeadas por calçadas. Nas casas dos patrícios, combinavam-se elementos como o átrio e o peristilo. Anos depois, em 62 d.C., a cidade sofreu um grande terremoto. Mas foi apenas alguns anos mais adiante que sofreu sua total destruição com a erupção vulcânica do Vesúvio em 79 d.C.
Temos dados escritos sobre a catástrofe. São as cartas de Plínio, o Jovem, para Tácito, falando de seu tio Plínio, o Velho, que ao sair em socorro da população no comando da frota de Misena, morreu vitimado pela catástofre.

3.2 - As cidades circundantes atingidas pela erupção: Estábia e Herculano

3.2.1 - Herculano

As escavações arqueológicas na cidade de Herculano se iniciaram em 1738. Até 1828, foi utilizada a técnica de túneis subterrâneos. A partir de então, continuaram a "céu aberto". Em 1875 foram interrompidas, tendo sido retomadas somente em 1927 com o arqueólogo Amedeo Maiuri, que liderou as escavações até 1958. Já em 1942, todo o parque arqueológico era conhecido. Entre 1960 e 1969, os trabalhos se concentraram no setor norte da insula VI. E nas últimas duas décadas, se desenvolvem ao sul, na antiga linha costeira.
Foram encontrados na área doze galpões com entrada em arco, que funcionavam como abrigos de barcos e armazéns. Muitas pessoas aí tentaram se proteger dos efeitos da erupção. Foram encontrados trezentos esqueletos nessa área. Outro fato interessante é que foi encontrado também um barco de madeira, que ainda espera o trabalho de restauração.
A Vila dos Papiros, descoberta por acaso por Carlo Weber em 1750, começou a ser escavada em 1991. Até agora, somente o átrio da residência veio à luz. Outras partes da “Villa” estão sob propriedades ainda não expropriadas. Na área sudoeste, um edifício grande, algumas casas e um complexo térmico foram encontrados.
A erupção do Vesúvio, em 79 a.C., atingiu a cidade na madrugada de 24 de agosto. Um enorme redemoinho de gás e cinza fina em alta temperatura varreu a cidade. A fúria foi tal que muitas estátuas foram encontradas arrancadas de suas bases, a metros de distância. Muitos fugiram. Outros procuraram abrigo nas construções junto à praia, mas não escaparam da mortal nuvem. Nos dias seguintes, outras erupções ocorreram e mais poeira foi expelida, deixando a cidade sob um manto de vinte e três metros de cinza. Isso acabou preservando muitos materiais orgânicos, como madeira, tecido, esqueletos, papiro.
Segundo a tradição herdada de Dionísio de Halicarnasso, Herculano foi fundada por Hércules (daí o nome) ao retornar de sua viagem à Espanha. Ela está, assim, integrada a toda uma tradição, na Itália, de fundação mítica das cidades. Posteriormente, segundo Estrabão, foi ocupada por Oscos, Etruscos, Pelasgos e Samnitas. Em 89 a.C., a localidade participou da chamada guerra social, ou seja, a guerra dos “socii”, ou aliados de Roma, contra seu domínio. Foi derrotada juntamente com as outras, submetendo-se ao processo de municipalização romano. Foi planejada com uma divisão em lotes regulares de terra. Houve também, na época de Augusto, longo trabalho de reconstrução e restauração de edifícios públicos: o aqueduto; os templos da área sagrada; as termas do subúrbio e as centrais; o ginásio.
A cidade se estendia por uma área de 20 hectares e tinha uma população de 4.000 habitantes. As casas maiores tinham o sistema de “compluvium” e “impluvium”, para aproveitar a água das chuvas. Mas havia também o aqueduto e uma rede de tubulações sob as vias principais, para onde escoavam a água e os detritos das casas que estavam conectadas.
Os “banhos” ou "termas", tinham função fundamental, já que nem todos possuíam sistema de água em casa. Além disso, as termas eram importantes na vida social da cidade, onde muitas pessoas podiam ali se encontrar e conversar. Vários serviços eram oferecidos, como massagem, sauna, óleos. Mulheres e homens tinham horários específicos para freqüentarem alternadamente.
3.2.2 - Estábia

Como em Pompéia e Herculano, as escavações começaram por iniciativa do Bourbon Carlos III, em 1749. Os trabalhos se iniciaram na Villa S. Marco (1749-1754), Villa do Pastor (1754) e Villa de Ariadne, com o complexo adjacente (1757-1762). As escavações foram interrompidas por treze anos e retomadas em 1775 na Villa de Ariadne. Foram interrompidas novamente em 1782. Em 1881, M. Ruggiero publicou os documentos dos trabalhos desenvolvidos sob os Bourbon.
Os trabalhos sistemáticos em S. Marco e Ariadne só se reiniciaram em 1950, sob a direção de D'Orsi. Em 1962, foram definitivamente interrompidos e os afrescos retirados de seu local de origem e enviados para o que viria a ser o núcleo do “Stabian Antiquarium”.
Estábia está localizada a cinco quilômetros de Pompéia, na estrada que conduz a Sorrento. A descoberta, na área, de trezentas sepulturas numa necrópole, fornece indícios de que a ocupação do sítio data do século VII a.C. A qualidade dos objetos encontrados nas tumbas e as cerâmicas coríntia, calcedônia, ática e etrusca, sugerem que a cidade tinha grande importancia comercial. Sua localização era estratégica, tanto para a via marítima quanto a terrestre.
O general romano Sila, destruiu a cidade depois de sua derrota na guerra social, o que é significativo para se entender sua importância na região. Mas ela se recuperou e cresceu novamente. No cume do monte Varano, os romanos construíram esplêndidas Villas, com cômodos espaçosos, banhos e pórticos, tudo muito bem decorado. As “insula” rurais eram projetadas como fazendas para o cultivo de vários produtos agrícolas. Foram encontrados debulhadores de trigo, celeiros e prensas de vinho.
Foi enterrada juntamente com outras cidades vizinhas na erupção de 79 a.C.. Entretanto, um marco de milha localizado na estrada que conduz a Nucéria, indica que este caminho já estava reaberto quarenta anos depois do desastre.

4 - Panorama geral das construções de Pompéia

4.1 - Administração pública e os edifícios públicos de serviço

A administração pública romana do século I d.C., era formada pelo conjunto de três segmentos: o popular ou "populus"; o conselho de decuriões e os quatro administradores.
O primeiro segmento tem em seu grupo cidadãos livres do sexo masculino, cuja função era a de ratificar ou não as decisões tomadas pelo conselho dos decuriões. Por sua vez, estes controlavam toda vida pública. Para se alcançar essa posição era necessário, além de boa reputação, que o candidato tivesse uma profissão honrada e que fosse rico para poder arcar com suas despesas, já que não era uma função remunerável.
Outro cargo disputado e de grande prestígio era o de Aediles. Responsabilizava-se pela manutenção dos edifícios e das estradas públicas, com o controle também dos mercados, funcionando primeiro como um administrador, depois como polícia para manter a ordem.
Os cinco principais edifícios de Pompéia, identificados através das escavações são: o Fórum; a Basílica; os Arcos memoriais; o Macellum e o Edifício de Eumachia.

4.1.1 - Fórum

Localizado na intersecção de duas ruas principais do centro urbano original, o edifício era o quadrado principal da cidade, onde o tráfego de carros era proibido. Era cercado por todos os lados por edifícios religiosos, políticos e de negócio. No século I a.C., estátuas comemorativas celebrando a casa imperial foram colocadas no lado sul e na frente dos edifícios administrativos da cidade.

4.1.2 - Basílica

Edifício da administração da justiça e dos negócios. Faz parte da planta elaborada para criar monumentos dentro da cidade na época. Tem um formato retangular, com três naves, conservando reminiscências artísticas do primeiro estilo visto em Pompéia, onde se privilegiava o uso de mármores de características muito simples .

4.1.3 - Os arcos memoriais ( Arco de Calígula )
Também foi erigido como parte da celebração da família imperial. O nome dado a esse monumento é dedicado a Calígula.

4.1.4 - Macellum

Sua construção data do século I a.C.. Possuí um grande pórtico de entrada, com estátuas comemorativas de cidadãos ilustres e um telhado de formato cônico. No interior, temos uma parte que provavelmente era reservada para a venda de carne e peixe e também um espaço para banquetes em honra ao imperador, que usufruia de um sacellum no centro. Na parte noroeste do edifício, também encontramos afrescos com figuras mitológicas.

4.1.5 - Edifício de Eumachia

Provavelmente serviu de mercado para o comércio de lã. Seu nome é dedicado a uma figura ilustre.

4.2 – As casas de Pompéia

4.2.1 – A casa típica romana dos abastados.

A arquitetura das casas Romanas, obviamente das categorias sociais mais ricas e sofisticadas sob o ponto de vista cultural, se baseava numa construção retangular.
Havia nessas construções várias divisões internas, muitas das quais permanecem nominalmente até os dias de hoje.
As divisões internas de uma casa típica de Pompéia, considerando que nessa cidade residiam pessoas de muitas posses, tão importantes a ponto de mostrarem simbolicamente o seu poder e a sua “estirpe superior” ao público em geral, representavam em si a própria vida de um cidadão Romano.
Em geral as casas “nobres” possuíam um “vestíbulo”, que era a entrada principal da residência, um “lararium”, onde se venerava os “Lares” protetores da família e os “Penates” ancestrais, e um “tablinium”, que era o escritório de negócios. Além disso, havia o “oecus”, que era uma sala íntima, a cozinha, banhos, latrinas, tudo isso orquestrado em andares inferiores e superiores.
Mas realmente o centro da vida residencial de um romano, desenvolvia-se em torno de três cômodos:
- O “atrium”, que era um salão amplo e muito decorado, com teto inclinado para dentro e que recebia toda a água da chuva da residência, teto esse chamado de “compluvium”. A água produzida pela chuva caía numa piscina chamada de “impluvium”. Através de uma canaleta, essa água era armazenada numa cisterna para uso comum da família. Posteriormente, já na época de Pompéia, o “impluvium” transformou-se num elemento decorativo da casa, na medida em que já naqueles tempos, a água era canalizada;
- O “peristylo” ou “porticum”, um corredor ornado de colunas, que muitas vezes cercava um jardim central. A partir dessa “praça”, em torno dela, se originam vários dos demais aposentos residenciais, inclusive os quartos de dormir. Era considerada a área central da casa;
- O “triclinium”, que era a sala de jantar, onde os bancantes de reclinavam nos “clines”, daí o termo que nomina o aposento.

4.2.2 – Algumas casas da escavação.

A seguir, iremos descrever criticamente, alguns dos aspectos principais das casas escavadas em Pompéia, na medida em que, para nós, seria impossível elaborar um relato mais abrangente de todas as conseqüências das escavações.
Assim, vamos na tentativa da construção de uma visão generalizante, sem esquecer das especificidades, das casas de Pompéia.

4.2.2.1 – Casa de Vênus.

Foi bombardeada em 1943 pelas forças americanas, que, aliás, eram conhecidas por não respeitarem nenhum monumento histórico. Haja vista o bombardeio do Monastério de Monte Cassino, de construção milenar e sede simbólica dos Beneditinos. Recentemente tal desprezo se concretizou com o saqueio por parte de tropas americanas, do tesouro arqueológico Sumério e Babilônico, guardado pelo Iraque.
Redescoberta em 1952, sua fama deve-se principalmente a uma pintura situada na parede sul. Nesse afresco, descreve-se um jardim luxuoso cercado de flora e fauna. Com elementos de costumes elencados em três painéis, nos quais se insere uma janela central, que reflete a ilusão de se abrir para o mar, onde Vênus se encontra com dois Querubins.

4.2.2.2 – Casa de Menander.

Uma construção antiga de 1.800 metros quadrados. Pertencia possivelmente a Pompéia Sabina, esposa de Nero.
A casa possuía um atrium com impluvium de mármore. Havia também um pequeno templo para Lares e o gênio espírito da vida da cabeça da casa. Havia pinturas com cenas da guerra de Tróia. No salão verde, o peristylo, um afresco de querubins nas vinhas, além de cenas descritivas do grego Menander, daí o nome da casa.

4.2.2.3 – Casa de Ceius.

Casa que pertencia possivelmente a Ceius Secundos, segundo gravura de campanha política gravada na face da casa.
Destaca-se afresco onde se representa cena de grande caça pintada na parede do jardim.

4.2.2.4 – Casa de Amorini Dorati.
O nome da casa é devido aos querubins reapresentados no “laminate do ouro”, hoje no museu de Nápoles, que decorou um dos quartos da residência.
Era de propriedade de Pompeu Habitus, parente de Pompéia Sabina.
A construção que era antiga, primordialmente conta com jardim de onde saem os quartos, um dos quais apresenta uma roseta de mosaico preto e branco decorativa. No jardim, decorações com relevos de mármores representando o mundo natural e Dionísio. No peristylo, divindades egípcias como Anúbis com cabeça de chacal, Isis e Serápis, além de um laralium.

4.2.2.5 – Casa de Vettii.

“Slogans” de campanha política – grafites de campanha – nos indicam que a casa pertencia ao Vettii.
Na entrada da propriedade, apresenta-se Priapus descansando seu membro enorme na placa de uma escada. No lararium, lares de genius pintados em representação. Nas fontes do jardim, estátuas que em combinação refletem ricas cenas, particularmente a estátua de Priapus incluída nesse contexto. Atrium com compluvium constituído e decorado com calhas de terracota.

4.2.2.6 – Casa de Meleager.

A pintura com Meleager e o Atalanta na entrada, dão o nome à casa.
O Oecus – sala de recepção – é no estilo corínthio e com colunas, raridade na época em Pompéia. A construção apresenta quartos que saem de um atrium com impluvium central.

4.2.2.7 – Casa de Pansa.

Construção de por volta de 140-120 a.C., de propriedade de Cneo Alleius Nigidius Maius, comerciante da Campânia.

4.2.2.8 – Casa do poeta trágico.

Casa típica do estilo atrium. O nome vem do mosaico na tablinium, agora no Museu de Nápoles, mandado para lá juntamente com outras pinturas, tais como: sátiros; Adameus; Al cestis; episódios da Ilíada; Ariadne abandonada por Teseu; etc...
Na entrada, mosaico famoso do Cão acorrentado com a inscrição “Cavem Cani” – cuidado com o cão – talvez em parcimônia relacionada ao cão Cérbero.
A casa foi descoberta em 1824.

4.2.2.9 – Casa do Fauno.

É a maior casa de Pompéia com 3000 metros quadrados de construção, cujo início data de um século antes de Cristo, com várias alterações subseqüentes.
Apresenta um atrium com telhado sustentado por quatro colunas. A construção possui latrina, terma, cozinha, etc... No centro do impluvium, uma estátua de bronze do Fauno. Daí o nome da casa.
O mosaico de Alexandre, hoje no Museu de Nápoles, com cenas da Batalha de Isso, representando a vitória sobre o Rei Persa, é o mais famoso e representativo expoente artístico dessa cidade escavada, no que se refere ao conhecimento público.
A propriedade original dessa casa permanece desconhecida até os dias de hoje.

4.2.2.10 – Casa do tocador de cítara.

O edifício, com obra iniciada no século anterior ao nascimento de Cristo, apresenta 2.700 metros quadrados de construção.
Deve seu nome a uma estátua de bronze de Apolo localizada no peristylo, hoje no Museu de Nápoles.

4.2.2.11 – Casa de Julius Polibius.

Construção também antiga. Apresenta lararium com lares, gênio e Agathodemone da serpente, o protetor da cabeça da casa. Foram encontrados utensílios de mesa valiosos e, também, estátua de bronze de Apollo.

4.2.2.12 – Casa do lararium de Achilles.

O que se destaca nessa casa é o relevo pintado em fundo azul no lararium, com cena que representa a luta de Aquiles com Heitor.

4.2.2.13 –Casa de Caecilius Jucundus.

Construção em pedra calcaria de Sarno, com início, antes da ampliação, anterior à era Cristã. São famosos seus dois relevos, um deles roubado, no lararium. Apresenta à esquerda do tablinium um retrato do molde do banqueiro Caecilius.
Segundo um arquivo encontrado em que constam inscrições contábeis, relações de vendas de bens e escravos e aluguéis coletados, em que se relaciona também comissão de 1 a 4%, ao que tudo indica, a referência ao nome é possivelmente real.

4.2.2.14 – Casa de Apollo.

Pode ter pertencido a A. Herenuleius Communis, segundo um anel encontrado e recolhido em 1830. Apresenta estátuas de caça de Apolo, hoje no Museu de Nápoles. Na entrada do tablinium, uma pintura pequena de Vênus. Na casa, um mosaico de Aquiles e Ulisses e afrescos com cenas relacionadas ao mito de Apolo.

4.2.2.15 – Casa do cirurgião.

As descobertas mais importantes nessa casa foram instrumentos cirúrgicos metálicos – ferro e bronze – encontrados e muitos conservados. Agulhas, pontões, fórceps, bisturis, etc..., muito semelhantes aos similares atuais, foram resgatados arqueologicamente nessa construção que é uma das casas mais antigas de Pompéia.

4.2.2.16 – Casa de Sallustio.

Foi bombardeada também de 1943 pelos americanos. Cabe ressaltar que no setor comandado pelos ingleses, não houve durante a segunda guerra bombardeiro a sítios históricos, ao contrário dos yanques.
Um anel encontrado em 1806 sugere que a casa pertencia a Cassius Libanius e não a Sallustio. No entanto, tal comprovação não se efetivou de fato.
Relevante nessa casa é uma corça de bronze incrustada na borda do impluvium.

4.2.2.17 – Casa de Octavius Quartio.

Conhecida também como casa de Loreio Tiburtino. Lá foram encontradas estátuas com alusão ao Egito, assim como afrescos com temas mitológicos.
Foram encontradas também três piscinas para peixes no jardim atravessado por árvores alinhadas e que foram restauradas recentemente.

4.2.2.18 – Casa do Varrão Selvagem.

Casa de estilo atrium, apresenta como destaque uma cena de caça pintada na parede traseira do jardim.

4.2.2.19 – Casa dos mosaicos geométricos.

Casa de mais de sessenta quartos. Destaca-se decoração do assoalho em mosaico branco e preto num dos cômodos com padrões geométricos.

4.2.2.20 – Casa da fonte pequena.

Casa do estilo atrium, apresenta telhas com dobra no compluvium, que se dirigem a um tubo no centro do impluvium.

4.2.2.21 – Casa do padeiro.

Casa de construção antiga, foi uma das grandes padarias dentre às trinta e cinco existentes em Pompéia na época do desastre. Possuía um hortus no jardim e a residência era no piso superior.
Nas escavações, foram encontradas maquinarias para trigo, bacias d’água, forno e até um esqueleto de mula.

4.2.2.22 – Casa do navio Europa.

Os quartos saem do peristylo. No jardim, foram encontrados vestígios arqueológicos de plantações de cebolas, repolho, uvas, plantas exóticas, cereja, pêssego, árvores de pistache – de origem oriental – sementes diversas em 28 vasos de terracota, limões – introduzidos pelos Hebreus - para uso medicinal, lavar a boca e proteger a roupa armazenada dos insetos.

4.2.2.23 – Casa do Jardim de Hercules.
Conhecida também como casa do fabricante de perfume, apresentou nas análises paleobotânicas, indícios de que a terra adjacente ao jardim foi utilizada primeiramente para plantio de ervas de essências para fragrâncias.
O altar a Hércules com estátua de mármore, dá o nome primordial da casa.

4.2.2.24- Casa do Dioscuri.

Descoberta em 1828-1829, é uma das casas mais suntuosas da Pompéia pré-desastre.
O atrium estilo corinthio é destaque.

4.2.2.25 – Jardim dos fugitivos.

Não é propriamente uma casa. É um vinhedo, segundo fontes arqueológicas de pesquisa.
Entre 1860 e 1875, Giuseppe Fiorelli trabalhou nessa área, introduzindo gesso em cavidades ocas que se apresentavam em meio a cinza vulcânica petrificadas, inaugurando novo método de recuperação histórica ou de indícios arqueológicos. É graças a ele e ao seu método, que hoje temos a imagem congelada daqueles que morreram em conseqüência da erupção do Vesúvio e 79 a.C. É também, nesse sítio particular, que se encontraram centenas de fugitivos da erupção e que morreram no local, recuperados por Fiorelli em sua forma final. Daí a importância desse subsítio específico.

4.3 – Os templos

4.3.1 – Templo de Asceplius ou Júpiter Meilichius.

Localizado perto de Porta Stábia.
Construção iniciada em 80 a.C., possivelmente em homenagem a Júpiter Meilichius – doce como o mel – e adorado junto com Hera e Afrodite.
Nos inícios, há possibilidade de ter sido templo de Asclépius e Hygea.

4.3.2 – Templo de Isis.

Foi reconstruído por Popidius Ampliatus após o terremoto do ano 62 d.C.
Apresentava nichos laterais com estátuas de Anúbis e Harpokrates, este ligado ao culto de Isis.
Em destaque o purgatorium, que era área com piscina d’água para purificação.

4.3.3 – Santuário público de Lares.

Erigido para os Deuses protetores da cidade e não das casas e famílias, em expiação pública diante do prodigium, o terremoto de 62 d.C.
Em destaque a decoração em mármore e o altar sacrifical erguido no centro do templo.

4.3.4 – Templo de Júpiter.

Obra originária de 80 a.C. possuía podium elevado e uma estátua de Júpiter.
Transformado em Capitólio já na época da catástrofe, em elegia a tríade Júpiter, Juno e Minerva.

4.3.5 – Templo de Vênus.

Com construção inicial em 80 a.C. na borda do Monte Pompéia, possuía pórticos com mármore e era o mais suntuoso da cidade.

4.3.6 – Templo de Apollo.

Santuário mais antigo da cidade, data de 575-550 a.C. os indícios de sua primeira construção, que depois foi ampliada.
Possuía podium elevado com escadas na entrada. Elementos gregos de arquitetura faziam parte do ambiente. As estátuas de Apolo e Diana do templo, hoje estão no Museu de Nápoles.

4.3.7 – Templo Dórico.

Obra que foi iniciada em 50 a.C., era uma construção retangular em homenagem a Athena e Hercules com onze colunas de cada lado na parte mais longa e sete de cada lado na parte mais curta.

4.3.8 – Templo da Fortuna Augusta.

Em adoração à Fortuna Redux, foi construído por M. Tullius em honra ao Imperador Augustus.
Possuía colunas de mármore em estilo corinthio e uma grande estátua da Fortuna.

4.3.9 – Templo de Vespasiano.

Erigido em adoração ao “gênio” do imperador, possuía quatro colunas na entrada, uma estátua do imperador, um altar de mármore contendo a cena do sacrifício do touro.

4.4 – Teatros de Pompéia

4.4.1 – O Teatro Grande.

Com capacidade para 5.000 espectadores, decorado com mármores e estátuas, era onde recebia o espetáculo dos gladiadores.

4.4.2 – O Teatro Pequeno.

Era um teatro para leituras de textos poéticos e cenas musicais.
Com construção inicial em 80a.C., possuía um telhado acústico e uma área reservada para figuras proeminentes da cidade, da mesma maneira que também no Teatro Grande havia essa distinção.

4.4.3 – Quadriporticus.

Também originário de 80 a.C., era usufruído durante os intervalos dos espetáculos dos outros dois teatros anteriormente citados.
Nos anos finais que antecederam a catástrofe, serviu como abrigo aos gladiadores.

4.4.4 – Amphitheatro.

Construído por Q. Valgus e M. Porcius, é o monumento de espetáculo público mais bem preservado em termos arqueológicos.
Com capacidade para 20.000 espectadores, era dividido em três áreas explicitas: a dianteira e mais baixa para os proeminentes; a retaguarda e mais alta para os pobres.
Foi onde, segundo relato de Tacitus, ocorreu o episódio conhecido como Pompéia versus Nocera – povoado próximo – em 59 d.C.
Durante um espetáculo de combate entre gladiadores promovido por Livineius Régulos, as torcidas de uma cidade e outra começaram, primeiro gracejos entre si, depois ofensas verbais. A seguir, pedras foram arremessadas e confrontos armados aconteceram. Corpos mutilados apareceram, principalmente de Nocera.
O caso foi para o Senado de Roma, que transferiu para os Cônsules, que devolveram ao Senado.
Por fim, Livineius e os outros líderes do confronto foram exilados por 10 anos de Pompéia, pena que foi abolida em 62 d.C., em função do terremoto.

4.4.5 – Palaestra Grande.

Era um edifício grande e retangular, onde funcionavam associações de juventude para propaganda do Imperador.
Lá foram encontradas várias vítimas do vulcão e que propiciaram muitos moldes de gesso.
O lado sul da construção dá para uma latrina antiga que era “limpada” por um canal de água.

4.4.6 – Samnita Palaestra.

Edifício situado atrás do templo de Isis e de forma retangular era onde aconteciam competições atléticas.
Posteriormente, já na época do desastre, funcionava como local de reuniões de associação político-militar de adultos.

4.5 – O Mosaico de Alexandre

Destacamos essa obra artística e mais famosa sob o ponto de vista da divulgação da arqueologia Pompeística, que resolvemos dar destaque especial, muito embora já tenhamos comentado acerca da “Casa do Fauno”, onde foi encontrada.
A obra é um mosaico em cores branca, amarela, preta e vermelha, que mede 313 cm por 582 cm. Representa a batalha de Isso acontecida em 333 a.C., quando se enfrentaram as tropas da Macedônia e Grécia contra as tropas Persas.
Na representação inscrita no mosaico, Alexandre aparece na cela de Bucéfalos, seu cavalo, enfrentando Dario III, o rei persa.

5 – Aspectos do Cotidiano

5.1 – O espetáculo dos gladiadores

Os indícios que nos permitem reconstituir a cultura que envolve a lutas entre gladiadores em Pompéia, são fundamentalmente extraídos de 73 anúncios pintados e quase que perfeitamente preservados, que versam sobre a organização, distribuição de prêmios entre os espectadores do espetáculo, prêmios estes como jóias, comida, etc.
Havia todo um comércio adjacente ao evento. Mesmo os gladiadores eram objetos de compra ou aluguel por parte dos mais ricos.
Toda uma propaganda, além das inscrições de parede ou mesmo panfletos, era oferecida. Havia procissões com pompa, com Éditos e Músicos em chamamento aos eventos, populares em todo o Império Romano.
No evento, pela manhã, se executavam condenados. À tarde, combate entre os gladiadores. Havia o venatio: gladiadores versus bestas; bestas executando condenados; bestas versus bestas; etc...
A luta entre gladiadores começava geralmente com 20 pares deles lutando entre si. O “missio” – fim da luta – era mais comum do que se imagina hoje.
Existiam vários tipos de gladiadores: Traex, Retiarius, Secutor, Controretiarius, Murmillo e Samnes, cada qual usando armaduras e armamentos próprios.
O local de treinamento era o ludus, que em Pompéia situava-se no Quadriporticus. Foram encontrados durante as escavações realizadas nesse local, alguns esqueletos e vários capacetes, que são modelos indicativos da cultura da época.

5.2 – O trabalho

Começava-se a trabalhar a partir do nascer do sol, ao amanhecer. Geralmente o regime de trabalho era de oito horas por dia, embora existissem exceções.
O transporte na cidade era propiciado por carros puxados geralmente por mulas.
Havia lojas que tinham caixeiros viajantes e vendedores de rua com carros puxados por bestas.
Artesãos empregavam escravos como mão de obra não especializada.
Quem melhor ganhava, em termos financeiros, eram os padeiros, ourives – artesão de ouro e prata – e trabalhadores de bronze.
Os artistas eram considerados simples artesãos. Participava dessa categoria de trabalhadores a população de mais baixa renda ou estrangeira.
Havia também feiras com tendas, toldos, cestas e mercadorias de todo o tipo.
Os escravos eram comprados no Fórum. Eram oferecidos com cartaz na garganta, onde se divulgava sua idade e habilidades. Na cidade de Pompéia, a maioria deles era de serviço doméstico ou professor. Eles também tinham direito a “alforria” – talvez não exatamente esse termo que é ligado à escravidão recente na América – e a compra da liberdade.

5.3 – A indústria de lãs em Pompéia

O processamento da lã para fabricação de tecidos em geral, envolve até hoje várias etapas. Ela deve ser lavada, secada e, em seguida, cardada. Depois, girada num processo de fiação e tecida. Esse, em resumo, é o processo geral.
Em Pompéia, como em todo o Império e mundo civilizado na época – Ecumenoi – havia lavadeiras que lavavam as telas novas. Em seguida eram colocadas no pestatoi com água e soda. Na ausência de soda, comum por sinal, usava-se urina humana ou animal, que depois de um processo de fermentação natural, transformava-se numa substância neutra, literalmente, amoníaco. Esse amoníaco misturado à argila, servia, num processo posterior, a amaciação do tecido, que logo em seguida era enxaguado e colocado para secagem, última etapa.
Em Pompéia havia um complexo comercial que girava em torno da lã. Foram localizados treze estabelecimentos de processamento da lã (lavagem e cardagem), sete de girar (fiar) e tecer, nove de tingir e dezoito de lavagem final. Encontraram-se também vários recipientes espalhados pelas ruas; grandes urinóis coletores da matéria prima da amônia.

5.4 – A alimentação.

O cidadão romano fazia seu almoço ao alvorecer. Consumia-se nessa refeição: pão; queijos; vegetais e sobras da noite anterior.
Ao meio dia era feita outra refeição, geralmente nas tavernas que eram numerosas em Pompéia. Pão liso, peixes, frituras, embutidos, doces e frutas, faziam parte desse cardápio completo.
O jantar começava às quatro horas da tarde e era servido no triclinium. De antepasto, eram servidos ovos e azeitonas. Logo depois: carnes; peixes e, finalmente, frutas.
Durante o jantar, que o participante reclinava-se no “cline” apoiado pelo cotovelo esquerdo, havia apresentações de música e dança, além de recitações de poemas.
Após o jantar propriamente dito, bebidas das mais diversas, com predominância do vinho, eram servidas indefinidamente.
Foram encontrados vários objetos e utensílios domésticos em escavações na cidade de Pompéia, tais como: bacias; jarros e vidros diversos.
Sabemos que os romanos comiam com as mãos. No entanto, foram encontradas colheres e facas, idênticas às que utilizamos hoje.
Consumiam também vinhos tintos ou brancos, puros, com mel, com especiarias ou curtidos em ervas. Cultivavam o gosto pelo garum, um condimento típico produzido em Pompéia, que era um “picles” de peixe fermentado ao sol e salgado, muitas vezes curtidos no vinho, vinagre ou ervas. Bebiam a Posca, que era vinagre misturado com água.

5.5 – A preparação da parede para o afresco.

A parede era preparada, aplicando-se sete camadas de uma mistura de cal com pó de mármore. Após isso, uma última da mesma mistura, mas bem fina. A partir daí, depois de bem seca, podia-se pintar a vontade.
Essa técnica é, até hoje, uma das melhores em termos de conservação temporal de afrescos, imitada também, por inúmeros povos.

5.6 – O culto dos mortos.

A morte para os Romanos equivalia à contaminação. Para isso, era necessária a elaboração de rituais de purificação e expiação. Privar um corpo do enterro ou rituais de sepultamento causaria repercussões negativas no destino da alma do defunto.
Até o século I d.C., o costume predominante no Império era o da incineração de cadáveres. A partir daí, a inumação se tornou vigente. Na época da tragédia em Pompéia, mais se utilizava a inumação do que a cremação.
O túmulo era marcado com um símbolo e o cadáver recebia uma moeda, que era introduzida na boca – ou duas cobrindo cada olho, segundo costume grego – para pagar o barqueiro dos Infernos, Caronte, pela travessia do rio que separa o mundo dos vivos do dos mortos.
Os ritos de purificação começavam após o funeral, quando um banquete era oferecido. Rituais duravam nove dias. Depois, oferendas eram dadas aos defuntos e outro banquete funerário era realizado.
Havia a Parentália – festa dos mortos – que era realizada de primeiro a vinte e um de fevereiro. No último dia da Parentália eram oferecidas cerimônias públicas aos mortos.
Os cemitérios romanos eram todos erigidos fora dos muros da cidade. No caso de Pompéia, como em outras cidades do Império, após cada porta de saída havia uma necrópole, que em termos arqueológicos na cidade analisada, adotam o nome de tais portões.
Os monumentos funerários refletem e expressam as diferenças sociais dos enterrados. Havia túmulos em série produzidos por construtores e que serviam aos menos favorecidos, assim como terrenos e projetos de mausoléus vendidos isoladamente a alguns indivíduos, seguramente mais ricos.
Não temos notícias de columbários – hoje chamados de túmulos pombais – em Pompéia, talvez por ser uma cidade eminentemente de veraneio e, pelo menos grande parte de sua população, rica.

5.7 – As necrópoles da cidade.

5.7.1 – Necrópole de Porta Nocera.

Em destaque nessa escavação, edifício funerário construído por Eunachia. Apresenta nichos com estátuas e meias colunas decoradas.

5.7.2 – Necrópole de Porta Vesúvio.

Túmulo do Tufa, com aspectos de túmulo para mulheres importantes, onde está sepultada Arellia Tertúlia. Há também o túmulo de Septumia, além do túmulo monumental de C. Vistorius Prisco, com cerca e altar coberto.

5.7.3 – Necrópole de Porta Nola.

São três túmulos importantes, dentre os quais, os de M. Obélio Firmo e Aesquilia Polla.

5.8 – O abastecimento de água.

No século VI a.C., havia na cidade 39 poços perfurados que alimentavam, através de baldes puxadas por cordas, o abastecimento de água da cidade, que possivelmente nessa época, era minúscula pelos padrões atuais e em comparação com Pompéia na época do evento.
Posteriormente, o abastecimento de água era garantido pelo regime de chuvas, através do sistema da captação de telhados inclinados, o compluvium, e piscina receptora que canaliza a água a uma cisterna subterrânea, o impluvium.
Na época de Augustus, foi construído o Aquae do Castellum, que consistia em três encanamentos principais e diversas torres d’água na cidade, tornando obsoleto o sistema de coleta das chuvas, coisa que reduziu o impluvium a um elemento decorativo.

5.9 – A medida do tempo.

Na época, o dia era dividido em 12 horas e a noite também. No entanto, como a duração do dia depende da época do ano, as horas, rigorosamente, não correspondiam a uma medida exata para todo o ano. Se compararmos com o horário atual, haveria uma variação de horário, para mais ou para menos. Somente no equinócio da primavera ou do outono, a medida das horas equivaleria, mais ou menos, à medida moderna e atual.
Utilizava-se para medir as horas dos Sundiais. Comum desde o século IV a.C., era uma vara – gnomom – que moldava sua sombra num seletor. O pulso de disparo d’água foi introduzido bem posteriormente.
O calendário Romano, no princípio, era de 10 meses. Depois passou a 12 meses e 355 dias por ano. Por fim, na época de Júlio César, foi introduzido o calendário Juliano, semelhante ao Grecoriano dos dias atuais.

5.10 – As termas.

A utilização das termas era um costume que manifestava uma concepção de tempo livre. Todo homem livre ia às termas. Pagavam uma pequena taxa. Havia também vários serviços com vários preços subseqüentes. Alugavam-se ou vendiam-se roupas, óleos, etc...
As seções eram separadas para homens e mulheres, que compareciam na parte da manhã. Os homens eram atendidos a partir dàs 13,30 horas e, muitas vezes, adentravam a noite ( lanternas foram encontradas nesses estabelecimentos ).
Nas termas, começavam geralmente com o banho quente no caladarium, que ficava ao lado do laconicum (banho turco). Depois, passavam ao quarto intermediário, de transição, o tepidarium, para finalmente mergulhar em água fria na última sala de banho, o frigidarium.
Usavam toalhas de linho e soda como sabão. A Spatula Strigile servia para raspar da pele os óleos e barros utilizados.

5.11 – Campanha política.

Em Pompéia, após várias escavações, apareceram grafites nas paredes de diversos prédios, pintados e vermelho e preto, relativos a campanhas políticas. Nelas os candidatos seguiam, normalmente, o seguinte roteiro:
- diziam a sua idade;
- reforçavam sua boa conduta moral;
- evocavam sua ascendência;
- colocavam “slogans” e promessas eleitorais;
- diziam-se apoiados por comerciantes e políticos;
- propunham troca de favores.

5.12 – As prostitutas.

Lupanare (bordel, de lupa=prostituta) era o nome do bordel mais organizado de Pompéia. Possuía cinco quartos no andar térreo e outros tantos no superior. O prédio em que funcionava o conluio possuía latrina, camas de pedras com “colchões”, pinturas com posições eróticas, etc...
As prostitutas eram escravas gregas ou orientais. A renda pertencia ao proprietário, o lenone.
O preço dos serviços de uma prostituta dessa casa de Pompéia variava ao equivalente de duas a oito jarras de vinho.

5.13 – As plantações.

Através da paleobotânica, podemos hoje saber o que se produzia, em termos de vegetais, na Pompéia antiga.
O Laboratório Aplicado de Pesquisa da Superintendência de Pompéia, que é aberto aos visitantes, mantém uma plantação atrás do Anfiteatro, que é uma tentativa de recuperação do plantio da época antiga. Há ali, indicação de vários tipos de plantas.
Os estudos paleobotânicos indicam uma classificação de acordo com o emprego dessas plantas, que são:
- tipo de terra;
- o vinho produzido;
- as frutas;
- produtos farmacêuticos;
- produtos de perfumaria (duas espécies que agora são selvagens);
- temperos.

Há também estudos de conservação e de cozimento antigo.
O estudo de sementes, madeiras, frutas, polens, traços de cultivo e irrigação da época antiga, está avançado e propiciou ao responsável pela pesquisa, o Professor T. Pescatore da Universidade de Sannio, a elaborar um catálogo bem amplo.
Há um levantamento das plantas de uso médico abrangente. Sabe-se que nos arredores do Anfiteatro havia vinhedos, pomares e cultivo de essências. Também pêssego e limão. Na área norte da cidade, cultivava-se cereal. Na área leste, legumes e plantas têxteis.
Havia também salgueiros e carvalhos, além de outras espécies, algumas das quais, hoje extintas.

6. Bibliografia consultada e complementar

Bibliografia consultada:

CARPICECI, Alberto Carlo. Pompeii: 2000 years ago. Firenze: Bonechi, 1977.

ETIENNE, Robert. Pompeii: the day a city died. London: Thames and Hudson, 1994.

GRANDE Enciclopédia Larousse, São Paulo: Nova Cultura, 1998.

KOCH, Herbert. Arte romano. Barcelona: Labor, 1930.

LESING, Erich. Pompeii. Paris: Terrail, 1996

STANFORD UNIVERSITY. Serviços e produtos oferecidos pela universidade. Disponível em: www.stanford.edu/group/pompeii.htm. Acesso em: 15 mai 2005.

Bibliografia Complementar:

ALLISON, P.M. Pompeian Households: An Analysis of the Material Culture. Los Angeles, 2004

BON, S. E. and Jones, R. Sequence and space in Pompeii. Oxford, 1997

CHIARAMONTE TRERÉ, C. Nuovi contributi sulle fortificazioni pompeiane. Milan, 1986

DE CARO, S. “Nouve nell’area fuori Porta Nola a Pompei”, in: Cronache Pompeiane 5, 1979

DOBBINS, J.J. Problems of Chronology, Decoration, and Urban Design in the Forum at Pompeii, in: AJA 98, 1994

ELLIS, S.J.R. “The distribution of bars at Pompeii: archaeological, spatial and viewshed analyses”. In: Journal of Roman Archaeology 17 ( forthcoming 2004 )

GUZZO, P.G. (ed.). Pompei 1998-2003: L’Esperimento dell’Autonomia. Milano, 2003

SOMMELLA, P. Urbanistica Pompeiana. Nuovi momenti di studio. Roma, 1994

ZACCARIA RUGGIU, A. Spazio privato e spazio pubblico nella città Romana. Rome, 1995
Texto de Eduardo Melander Filho e Maurício Esteves
2005

sábado, 8 de setembro de 2007

Peter Melander Graf Von Holzappel



Peter Melander Graf Von Holzappel



Peter Melander, conde de Holzappel, nasceu em 17/05/1585 em Nieder-Hadamar, região do Rio Lahn, afluente da margem direita do Rio Reno e morreu em 17/05/1648 em Augsburgo. Foi um oficial superior, comandante em chefe das Forças Armadas conjuntas do Santo Império (Sacro Império Romano Germânico) e da Liga Católica até sua morte sobre o campo de batalha, durante a Guerra dos Trinta Anos.
Era filho de camponeses. Criado num protestantismo muito severo, foi em 1615 que começou sua carreira militar, primeiro a serviço das Províncias Unidas (atual Holanda) e depois da República de Veneza.
Em 1620 já era comandante em chefe de um regimento suiço em Bâle. Recebeu seu primeiro alto posto de comando em 1633, quando foi nomeado Tenente-General e Conselheiro Militar secreto do Landgrave Wilhelm V. De Hesse-Cassel. O Landgrave era aliado dos suecos, se bem que Melander combateu com os seus soldados de Hesse contra as tropas imperiais. Ele lhes infligiu muitíssimas derrotas : tomada de Hamm em 26/05/1634 ; em 27/06/1634, vitória sobre as forças da Liga Católica comandados pelo General Von Bönnighausen que foi forçado a se retirar ao outro lado do Reno.
Depois da morte do Landgrave Wilhelm no outono de 1637, sua viuva, a Landgravina Amalie Elisabeth, prosseguiu na política de oposição à casa dos Habsburgos, continuando a política de seu falecido marido. Mas Melander não quis mais continuar nesse caminho. Ele abandonou no transcorrer do mês de julho de 1640 o comando supremo das Forças Armadas de Hesse e foi então procurar os favores do Imperador, oferecendo-lhe o préstimo de seus serviços. Foi assim que em 23/12/1641, Melander foi elevado à dignidade de Conde do Império sob o nome de Von Holzappel e em 15/02/1642 lhe foi conferido o título de Marechal do Império.
Em 1643 Melander reclamou para sí a região de Esterau e obteve a pequena senhoria de Holzappel com a permissão do Imperador de usufruir de independência territorial com o título de Conde de Holzappel, subordinado diretamente ao Império.
Só voltou a pegar em armas em 1645, durante o ataque de Carl Gustaf Wrangel em Westphalia. Ocupou a cidade episcopal de Paderborn em 30/11/1646. Assumiu o comando supremo das Forças Armadas Imperiais em substituição de Matthias Gallas, dirigindo suas tropas em direção a Boêmia em julho de 1647. Juntou-se às suas forças um exército de 10.000 bávaros comandados por Gronsfeld, mas os desacordos entre os dois generais os conduziram à separação. Os aliados de Melander recuaram em direção do Danúbio em janeiro de 1648, sofrendo ataques das forças de coalisão franco-suecas de Turenne e Wrangel, não longe da cidade de Zusmarshausen. Melander, que estava nas proximidades, se lançou à batalha, sendo mortalmente ferido por duas balas de fusil. Morreu em consequência dos ferimentos em Augsbourgo em 17/05/1648.
Hoje poucos se lembram de Melander. Ele foi no entanto um chefe guerreiro valoroso que todos os beligerantes da Guerra dos Trinta anos desejavam tê-lo ao seu lado.


Traduzido e versionado do francês para o português por Eduardo Melander Filho


O texto original em francês pode ser encontrado em:

WIKIPÉDIA: l'encyclopédie libre. Peter Melander. Disponível em: < http://fr.wikipedia.org/wiki/Peter_Melander >. Acesso em: 08 set 2007.
2007