segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

A HUMANIDADE DO NEANDERTHAL

Homo sapiens (Cro-magnon)




Homo neanderthalis


A ORIGEM DO HOMEM



A chegada do homem na Europa se deu há mais ou menos 1,8 milhão de anos atrás. O aparecimento do Homo neanderthalis na Europa e do Homo sapiens na África, que depois também se dirigiu á Europa, tornaram possível a convivência dos dois mais avançados animais do gênero Homo. Teria também o neanderthalis status de humanidade? E o que seria humanidade? Para alguns, se atinge a humanidade quando se apresenta a capacidade de atribuir significados às coisas e de representá-las simbolicamente, ou então, quando aparecem criaturas com grande capacidade de resolução de problemas complexos e de pensamentos abstrato existencial.
Os neanderthalis não foram os nossos antepassados. Nossa origem remonta há milhões de anos atrás, quando surgiu a vida na terra. Formas superiores de vida apareceram apenas recentemente, em termos evolutivos: os vertebrados há 450 milhões de anos; os anfíbios há 350 milhões de anos; os répteis há 300 milhões de anos; os mamíferos há 220 milhões de anos e as aves há 150 milhões de anos. Entre o homem atual e o chipanzé, que é o parente mais próximo, existem apenas 1,6% de genes diferentes, o equivalente numérico de 50 ou 100 genes.
Gibões, orangotangos, gorilas e chipanzés, pertencem à família dos Pongídeos e os homens, à família dos Hominídeos. Todos pertencem à grande família dos Hominóides e todos tiveram, num momento do passado, um antepassado comum. Desse antepassado, gerações após gerações, foram surgindo espécies que deram origem a todas as outras. Em grau de distância temporal do homem, estão os gibões, depois os orangotangos, os gorilas (Gorilla gorilla) e, por último, as duas espécies de chipanzés, o comum e o pigmeu ( Pan troglodytes e Pan paniscus).
Com o estabelecimento de antepassados a cada uma das espécies atuais dos Pongídeos, o mesmo aconteceu com os Hominídeos. Podemos assim estabelecer várias espécies pré Homo, que possivelmente sejam antepassados desse gênero humano. Em ordem decrescente por antiguidade:
Aegyptopithecus
Sahelanthropus tchadensis
Orrorin tugenensis
Ardipithecus kadaba e ramidus
Australopithecus anamensis, afarensis, africanus e garhi
Paranthropus aethiopicus, boisei e robustos
Até os Australopithecus, o que define formalmente a possível ancestralidade do homem é a postura ereta, assim como o bipedalismo. Eram muito semelhantes aos macacos e não podiam ser considerados ainda humanos.
O Sahelanthropus tchadensis foi encontrado no Chade e datado em 7 milhões de anos AP.
O Orrorin tugenensis, encontrado no Quênia, datado 6 milhões de anos AP.
O Ardipithecus ramidus foi encontrado na Etiópia. Foi datado em 4,5 milhões de anos AP. Eram habitantes das florestas úmidas. Comiam frutas, brotos, caules macios e folhas frescas, como o chipanzé. No entanto, seus caninos já começavam a se reduzir.
O Australopithecus anamensis, encontrado no Quênia e datado em 4,17 e 4,07 milhões de anos AP, apresentava molares maiores, dentes com desgastes nas coroas centrais, provavelmente por consumir vegetais que exigiam prolongada mastigação.
O Australopithecus afarensis, com datação entre 4 e 2,9 milhões de anos AP, foi encontrado na Tanzânia e Etiópia por Donald Johanson. Tinha alimentação vegetariana e postura ereta. Era um pouco maior que os chipanzés, cerca de 135 cm e 45 kg para os machos e 105 cm e 30 kg para as fêmeas. O famoso fóssil de Lucy pertence a essa espécie, que estava adaptada mais no andar ereto do que no quadrupedalismo. A caixa craniana media 500 cc.
O Australopithecus africanus foi datado de 3 a 2,5 milhões de anos AP e foi encontrado na África do Sul, nas cavernas de Taung, Sterkfortein e Makapansget. São similares aos afarensis, com tamanho de cérebro igual. No entanto, apresentam molares maiores, próprios para vegetais que requerem uma alimentação mais prolongada.
Há uma rama lateral, que possivelmente se originou nos Australopithecus afarensis, ou mesmo nos Australopithecus ananensis, assim como também o gênero Homo, que são os Paranthropus.
Os Paranthropus são muito parecidos corporalmente com os Australopithecus, a ponto de muitos o identificarem naquele gênero. No entanto, seu aparelho mastigador parece ter se especializado para processar vegetais duros e abrasivos, em resposta às mudanças climáticas que ocorreram há 2,6 milhões de anos AP e que propiciaram o surgimento do próprio gênero Homo. Parece que, enquanto os Homo se especializavam cada vez mais em comer carne, os Paranthropus se especializaram em gramíneas dos espaços abertos, caindo num beco evolutivo sem saída. O Paranthropus aethiopicus foi datado de 2,6 milhões AP. O Paranthropus boisei foi encontrado no leste da África e o Paranthropus robustos no sul da África.
O Homo habilis, encontrado na Etiópia, Quênia e Tanzânia, foi datado em 2,3 a 1,5 milhões de anos AP. Evoluiu de uma espécie próxima ao Australopithecus africanus, segundo o arqueólogo Juan Luis Arsuaga (provavelmente do Australopithecus garhi de 2,5 milhões de anos AP). Na verdade, não era muito diferente dos Australopithecus. Apresenta um crânio de 600 cc., mas há crânios maiores e menores. Richard Leakey achou um crânio de 752 cc.. O Homo habilis possui uma cara menor que o Australopithecus e grandes molares. Habitou paisagens abertas como as savanas atuais, que surgiram naquela época em função de mudanças climáticas, com a expansão das savanas.
A nova espécie teve um aumento no cérebro, possivelmente para ter capacidade de trabalhar com uma cartografia mais ampla de um espaço aberto e detalhes que não existem numa floresta fechada, como o vôo das aves, movimento de carniceiros, etc... O Homo habilis foi a primeira espécie que produziu instrumentos. Os primeiros líticos fabricados foram encontrados na região de Afar, na Etiópia, datados em 2,5 milhões de anos AP. Essas lascas foram produzidas de uma forma que é classificada como modo técnico I, ou Olduvaiense. São instrumentos biológicos, ou seja, estendiam a morfologia do indivíduo. Provavelmente eles produziam os líticos a partir de necessidades imediatas e não como consequência de um planejamento prolongado, resultado do mantenimento por longo tempo da idéia de fabricar um instrumento. Procurava-se um atributo nos artefatos e não uma forma permanente.
Bernard Wood, que foi o descobridor do Homo habilis, descobriu também outro espécime a que deu o nome de Homo rudolfenses, muito embora hoje se aceite que esta última é apenas uma variante da primeira.
O Homo rudolfenses difere da anterior por possuir uma face mais achatada e larga, molares e pré-molares mais alargados com coroas e raízes mais complexas, possuindo também um crânio maior.
Mais avançado do ponto de vista evolutivo, o Homo ergaster chegou a conviver com o Homo habilis em algumas regiões. Encontrado no lago Turkana, no Quênia, apresentou datação de 2 a 1 milhões de anos AP. O corpo mudou em relação aos anteriores, apresentando proporções semelhantes a nossa. Seu crânio foi medido em 800 ou 900cc. Surgiu com o Homo ergaster uma nova indústria lítica, o modo técnico II ou Acheulense. Os artefatos produzidos apresentavam formas pré-determinadas, indicando que a intenção de fabricá-los existia antes na mente do autor. No entanto, os primeiros fósseis do Homo ergaster foram encontrados juntamente a artefatos produzidos pelo modo técnico I, indicando que o modo técnico II se tratava de inovação cultural. São comedores de carne ou carniça, prática que os Homo habilis já haviam começado. São os primeiros a sair da África e povoar a Ásia e a Europa, através de migração em escala.
Eugene Dubois encontrou em Trinil, na ilha de Java, uma abobada craniana, juntamente com um molar e um fêmur, batizando o espécime de Pithecanthropus erectus, que posteriormente foi classificado como Homo erectus. Possuía uma medida craniana de 813 a 1050 cc. A maioria considera o Homo erectus, apesar de ser mais robusto, a mesma espécie que o Homo ergaster. Foi encontrado em Java com datação de 1,8 milhão de anos AP. Na China, foi achado junto a líticos de 2 milhões de anos AP. Em Dmanisi, na Geórgia, foi encontrada uma mandíbula datada de 1,5 a 1,2 milhão de anos AP. Os fósseis achados fora da África, indicam que o Homo erectus não usava do modo técnico II para fabricar instrumentos, talvez por ter saído da África antes de que a técnica fosse inventada.
Alguns fósseis de Homo erectus foram achados no sítio de Swartkrans na África do Sul, que foram originalmente classificados como Telanthropus capensis. Dois crânios e uma face encontrados em Sagiran, na ilha de Java, também foram classificados de início como Meganthropus.



AS ERAS GEOLÓGICAS E A EVOLUÇÃO HUMANA NA EUROPA


Todos os fósseis com mais de 1,8 milhão de anos AP se enquadravam na era geológica Plioceno, que terminou nessa época. O Homo ergaster viveu em parte do Plioceno e no Quaternário. Foi quando se deu o povoamento da Eurásia, no limite entre o Terciário e o Quaternário. Foi justamente no Quaternário em que houve o resfriamento geral do planeta, especialmente no último milhão de anos, dando início às Glaciações. O mar chegou a baixar até 100 m dos níveis atuais durante esse período, que é também conhecido como Pleistoceno.
No Pleistoceno, houve épocas glaciais e interglaciais, quando a temperatura aumentava as vezes até os padrões dos dias de hoje. Nos períodos glaciais, os picos máximos de temperaturas baixas eram classificados como estádios e nos mais amenos, mesmo assim extremamente gelados, de interestádios. Os períodos glaciais recebem o nome de quatro afluentes do rio Reno, a saber: Gunz; Mindel; Riss e Wurm. Na Alemanha e Holanda recebem outros nomes: Menap; Elster; Saale e Weichsel. Para os interglaciais: Cromer; Holstein e Eem.
Foi durante o Pleistoceno Inferior, de duração entre 1,8 milhão e 780 mil anos AP, que houve o primeiro povoamento da Europa, por volta de 800 mil anos AP. Esses povoadores não eram nem Homo erectus e nem Homo ergaster, mas sim de espécie mais moderna. Fósseis encontrados em Gran Dolina na Espanha apresentam 1000 cc de crânio. Esse novo espécime foi classificado por alguns como Homo heidelbergensis. Arsuaga prefere classificá-lo como Homo antecessor, por que o Homo heidelbergensis é imediatamente anterior ao Homo neanderthalis. Usavam o modo técnico I na fabricação de líticos, da mesma maneira usada no oriente. Foram encontradas fortes evidências indicando que esse grupo colonizador praticava o canibalismo.
No Pleistoceno Médio, que durou entre 780 mil e 127 mil anos AP, foi o período em que viveu o aí sim Homo heidelbergensis, há 500 mil anos AP. Foram encontrados líticos bifaces da indústria Acheulense do modo técnico II. O período em que se produziram artefatos pelos modos técnicos I e II é chamado de Paleolítico Inferior.
Foi no Pleistoceno Superior que viveu o Homo neanderthalensis, entre 127.000 e 40.000 anos atrás, dando início à cultura lítica Musteriense ou modo técnico III de lascamento, no período que corresponde ao Paleolítico Médio. Com o aparecimento do Cro-magnon há 40.000 anos atrás, houve a introdução do modo técnico IV, que alguns Neandertais também utilizaram. As duas espécies conviveram durante 10.000 anos, justamente na fase mais dura da última glaciação, até o desaparecimento completo do Neanderthal. Na Península Ibérica, o modo técnico IV está representado pelas culturas Aurinhense, Gravetiense, Solustrense, Madelense e Chatelperronense.
Há 10.000 anos se iniciou o Holoceno e o Mesolítico, com as culturas de Jericó e Catal Huyuk na Turquia. Somente 2.000 anos após é que o Mesolítico chegou a Espanha. Com a revolução do Neolítico se iniciou a economia de produção.
São várias as tecnologias utilizadas na construção de artefatos durante todo o período exposto anteriormente e as peças produzidas são de diversas características. A tecnologia chamada de modo I é baseada em ferramentas simples feitas a partir de pequenas lascas retiradas de um pequeno seixo. O modo II é caracterizado por ferramentas que necessitam de concepção e preparação mais extensiva, como os “choppers” bifaciais. No modo III, grandes núcleos são previamente moldados a partir da retirada de grandes lascas e, então, utilizadas como uma fonte de lascas mais uniformes que são retocadas para produzir uma grande variante de artefatos. O modo IV é caracterizado por finas lâminas de pedra produzidas a partir de um núcleo preparado. O modo V, que não tratamos nesse trabalho, consiste-se de tecnologia microlítica da produção de objetos pequenos e delicados.



AS CARACTERÍSTICAS DOS NEANDERTHAIS


Os Neanderthais tinham algumas diferenças de traços, em comparação com os humanos modernos, chamados de arcaísmos. Os humanos modernos em Israel há 100.000 anos atrás também possuíam alguns desses traços, assim como outros modernos. Os cérebros eram similares, sendo o do Neanderthal um pouco maior. Fazendo uma projeção adaptativa, os Neanderthais eram brancos (pela Europa glacial) e os Cro-magnons escuros (pela África tropical).
Foram os Neanderthais que inventaram o modo técnico III de produção de líticos, utilizando uma técnica especial de lascamento chamada Levallois. Tal técnica exigia um planejamento complexo.
O toro supra orbital dos Neanderthais era bem desenvolvido e possuíam dois arcos semi circulares que se fundiam. A testa era mais plana e o calvário era comprido – o nosso tende a ser redondo -, com o ocipital projetado para trás. Tinha uma diferença acentuada na abertura nasal, com a cavidade nasal funcionando como radiador e o rosto com aparência pontuda. O esqueleto, além da protuberância ocipital, possuía os ossos dos dedos mais robustos, o ante braço curto, grande caixa toráxica, púbis longa e tíbia e fíbula curtas (Baseado em Churchill – 1998). Possuíam ainda grandes quadris, estatura menor e troncos largos. Pesavam uma média de 76 kg. e sua estatura atingia de 1,70 m. a 1,80 m. A musculatura era muito mais desenvolvida que a nossa.
Os primeiros esqueletos de Homo sapiens de tipo moderno, foram encontrados nas sepulturas de proto Cro-magnons da caverna de Jebel Qafzeh e abrigo de Skhul, com datação de 100.000 anos atrás. Produziam utensílios Musterienses como os Neanderthais e possuíam ainda alguns traços arcaicos, como as arcadas dos olhos protuberantes.
Os primeiros humanos que entraram na Europa, os Cro-magnons, eram altos e magros, com 176 cm. os homens e 163 cm. as mulheres, segundo amostras de há 18.000 anos.



A ALIMENTAÇÃO NA EUROPA PLEISTOCÊNICA


Os Neanderthais, assim como os próprios Cro-magnons, provavelmente se utilizavam de vários tipos de alimentação, inclusive aproveitando-se da coleta. Havia vários recursos como os que existiam na Península Ibérica na época, que poderiam ser consumidos, tais como: bolotas, folha de lúzuda, fruto das faias, brotos e cadáveres recém descongelados na primavera; tubérculos de conopólio, diversas raízes, tubérculos, brotos e caça de herbívoros no verão; frutos carnosos, ameixeiras bravas, zimbro, groselhas, amoras, framboesas, morangos, avelãs e bolotas no outono; mel, formigas e seus ovos, larvas de madeira, cogumelos e trufas durante todos os períodos, menos inverno.
Foram encontrados fósseis de Rena em ocupações Neanderthais do Musteriense, restos de Megaloceros e Alce Irlandês em sítios tanto Neanderthais como de Cro-magnon e Dholes em sítios Neanderthais. Ambos competiam na caça com Leopardos e Leões.
Em Sima de los Huesos, exames dentários em fósseis ali encontrados, revelaram desgaste causado pelo consumo de vegetais abrasivos, como sementes, raízes e tubérculos.
Após a chegada do Cro-magnon, houve uma ampliação dos alimentos consumidos pelas populações, com a pesca adquirindo grande importância. Ostras e mariscos também, conforme revelam sambaquis europeus do Mesolítico.
Mark Roberts, arqueólogo que dirige as escavações do sítio de Boxgrove, descobriu indícios de esquartejamentos, com as marcas de descarnamento nos ossos respectivos, de Megaceros, Cervos, Bisões e Rinocerontes, datados de 500.000 anos AP. Grande parte dos ossos possuía marcas de esquartejamento, que eram anteriores às marcas deixadas por animais nos ossos, indicando que aqueles animais foram caçados, segundo opinião do arqueólogo. Bem provável que os homens daquela época tanto caçassem como fossem carniceiros.
Em Schoningen foi encontrado 1 metro de lança de madeira sob um fóssil de cavalo, datado de 400.000 anos AP. Na verdade eram quatro lanças de 1,82 m., 2,25 m., 2,30 m., além da anterior fragmentada em 4 partes. Foram feitas de tronco de Pícea, uma árvore conífera. Pesavam por volta de 2 kg. Não se sabe se foram fabricadas para serem arremessadas ou para serem usadas como "estoque".
Nos povoados de Torralba Del Moral e Ambrona, foram encontrados restos de elefantes fósseis associados a bifaces e outros instrumentos, sugerindo uma caçada indiscriminada de 47 elefantes, hipótese essa contestada.
No sítio de Áridas foram encontrados 2 elefantes esquartejados, cujos ossos não mostravam marcas de dentes de animais. Os instrumentos de esquartejamento foram lascados ali mesmo.
Juan Luis Assuerga chega a conclusão de que os recursos de coleta eram muito limitados no inverno e que, portanto, as populações deviam sobreviver do aproveitamento da carne pela caça ou como carniceiros, ou ambos.



INSTRUMENTOS DE CAÇA


Os primeiros humanos modernos que entraram na Europa foram os Aurinhenses, em cujos sítios foram encontradas pontas longas de osso e chifre usados em azagaias na extremidade de um cabo de madeira. Nos sítios Neanderthais, foram encontradas pontas de pedra da cultura Musteriense. O propulsor (Atl-atl), os que resistiram ao tempo, são de chifre de cervo ou rena ou de marfim decorados. São objetos de prestígio que apareceram em período posterior ao Aurinhense e Gravetiense, há 20.000 AP, na cultura Solustrense. A flecha mais antiga conhecida tem 11.000 anos. Importante colocar que, possivelmente, o Cro-magnon e o Neanderthal caçavam de maneira diferente; enquanto o primeiro matava à distância, o segundo se aproximava da caça para enfrentá-la.



AS CONDIÇÕES DE VIDA DO NEANDERTHAL


A mortalidade entre os Neanderthais, por comparação com os povos etnográficos caçadores coletores atuais, era maior. A mortalidade infantil era de 35% e a de adultos jovens de 25%, apresentando apenas 5% de velhos.
Os Neanderthais sofriam vários tipos de lesões à semelhança dos vaqueiros, por ficarem perto da caça e receberem escoriações em conseqüência. Pelo grande número de lesões que as ossadas apresentam, é bem provável de que foram cuidados por outros da sua espécie, se não seriam incapazes de sobreviver com os ferimentos.
Em Atapuerca foram colocados a salvo dos carniceiros, num poço de 14 m de profundidade, numa caverna, os corpos de 32 hominídeos, jogados pelos Neanderthais, num indicativo de prática funerária.



HUMANIDADE E CONSCIÊNCIA


Animais não possuem apenas conduta genética, também acumulam informações e aprendem. Existem vários tipos de conhecimento: o filogenético, que constitui o acumulado ao largo da evolução e gravado nos genes, e o ontogenético, que se adquire durante a vida e são transmitidos através da cultura. O comportamento animal pode ser explicado pelo jogo entre impulsos e comportamentos reflexos, que são inatos e adquiridos. Não há qualquer tipo de consciência. Animais não são capazes de fazer planos a longo prazo, nem de observarem a si mesmos, nisso consiste a consciência humana. Obviamente que os animais querem e sabem, mas não sabem que sabem, nem sabem que querem. A consciência humana se dirige a si mesma; somos conscientes de ter consciência e filosofamos sobre ela.
Descartes, com seu “cogito, ergo sum”, nos remete a outras verdades e nessa ordem: Deus e o mundo. São dois: um interno e outro externo, e a essência do interno é o pensamento e a consciência.
Jerry Fodor, psicólogo, propõe a divisão da mente entre percepção, que é obtida por uma série de módulos independentes entre si e inatos, e cognição, que é produzida em um sistema central que realiza operações mentais, ou seja, o pensamento.



LINGUAGEM E SIMBOLISMO


Como apareceram a consciência e a linguagem, juntas ou separadas? Darwin dizia que a evolução da mente não diferia da do corpo, num processo lento e contínuo. Walace, ao contrário, via num único salto qualitativo e não gradual.
Philip Lieberman, concluindo que os órgãos que produzem a fala ficavam num intermediário entre um adulto e um lactante humanos no Neanderthal, projetou as variantes possíveis num computador. O resultado foi a emissão de um som diferente em razão de o Neanderthal possuir um palato mais na frente e um som nasal. Manifestou também, segundo a experiência, incapacidade de produzir as letras i, u, a, k e g. Mesmo assim, Lieberman concluiu que o Neanderthal tinha base mental para se comunicar por meio de palavras e de símbolos.



INDICATIVOS DE “HUMANIDADE”


Os indicadores de capacidades humanas superiores mais importantes, podem ser enumerados conforme abaixo:
- Fabricação de instrumentos;
- Posse do fogo;
- Chorar pelos seus mortos e tratá-los com respeito.
Segundo Arsuaga, todas essas atividades podem ser feitas sem a fala e por imitação – falar também é imitação -, mas revelam um alto grau de consciência. Segundo Noble e Davison, em oposição a esse pensamento, não se pode haver consciência sem a fala.
Na caverna Swartkrans, na África do Sul, foram encontradas cinzas que foram interpretadas como resultantes de atividades humanas há 1 milhão de anos AP, provavelmente do Homo ergaster. Porém, pode também ser resultante de ação da natureza.
Os Neanderthais usavam de forma sistemática a caverna de Kebala, em Israel, onde foram encontradas diversas fogueiras junto a um esqueleto de 60.000 anos.
O biface produzido há 1,5 milhão AP, revela busca deliberada, planejada e consciente de uma forma. Maior consciência revela aqueles que usaram da técnica Levallois, como os Neanderthais e os proto Cro-magnons.
Os enterramentos Neanderthais em cavernas e de Cro-magnons em cavernas e ao ar livre, assim como o enterramento de Sima de los Huessos, implica em planejamento e consciência.



OS ENTERRAMENTOS RITUAIS


Os proto Cro-magnon apareceram no Oriente Médio por volta de 100.000 anos AP, enquanto que os Neanderthais apareceram nessa mesma região posteriormente, por volta de 60.000 anos AP. Não se sabe se mantiveram relações culturais – o proto Cro-magnon desapareceu da região logo após a chegada dos Neanderthais -, mas ambos desenvolveram a cultura Musteriense, faziam o fogo e tinham a prática do enterramento. Foram encontrados indícios de enterramentos rituais de ambas as espécies, conforme abaixo:
Proto Cro-magnon
- Crânio e chifre de cervo com uma criança na caverna Qafzeb em Israel;
- Mandíbula de javali entre as mãos, no abrigo de Skhul, em Israel;
Neanderthal
- Chifres de cabra selvagem com menino, em Teshik Jash, no Uzbequistão;
- Ossos de urso em cova com laje, em Régourdou, na França;
- Pedra lascada sobre o coração de um menino, em Dederiyeh, na Síria;
- Flores sobre os esqueletos de Shanidar, no Iraque;
- Pó de hematita sobre o esqueleto de Lê Moustier, na França.



CAPACIDADE SIMBÓLICA DO NEANDERTHAL


Os Neanderthais desenvolveram também o modo técnico IV, através da cultura Chatelperronense. Produziram materiais simbólicos, tais como colares e anéis. No entanto, pelo fato de tal cultura aparecer somente depois do aparecimento do Aurinhense Cro-magnon, muitos dizem que a produção dos adornos se deu por imitação. Walter Neves mesmo afirma que os Neanderthais podem ter imitado sem dar valor simbólico. Os sítios Chatelperronense são:
- Sítio Saint Cesaire, onde foi encontrado parte de crânio e mandíbula de Neanderthal;
- Caverna da Rena em Arcy-sur-Cure, onde encontraram restos fragmentários de Neanderthal. Foram encontrados também ferramentas, dentes e ossos perfurados ou em sulcos e contas e anéis de marfim, junto com fósseis marinhos também utilizados como adorno pessoal;
- Sítio Quinçay, onde encontraram 6 dentes perfurados na raiz.
Outras indústrias Neanderthais interpretadas como modo técnico IV, são as culturas Uluzziense na Itália, Szeletiense na Europa Central, Bachokiriense na Bulgária.



O SIMBOLISMO DOS CRO-MAGNON


Sobre os Cro-magnons, sabe-se que eles se pintavam, se não em vida, nos enterramentos, pelas sepulturas com ocre vermelho abundante. É característico o uso de objetos pessoais em forma de adornos. Vênus paleolíticas, provavelmente para serem usadas penduradas no pescoço, foram encontradas. São da cultura Gravetiense, de 28.000 a 20.000 AP. Características também são as decorações em objetos utilitários do Madaleniense, tais como bastões de mando e propulsores. É nesse período, no Paleolítico Superior, que aparecem os estilos.



CONSIDERAÇÕES FINAIS


Quando falamos do Neanderthal, várias dúvidas se manifestam. Afinal, trata-se do membro mais próximo da nossa espécie, se não geneticamente, pelo menos no imaginário. Além das indagações filosóficas que tal proximidade propõe, algumas questões concretas se apresentam. Indubitavelmente não são de resposta fácil e nem é essa nossa intenção; a de ter a pretensão de respondê-las. No entanto, algumas considerações merecem e devem ser feitas.
Muito se pergunta sobre o relacionamento antigo do Neanderthal com os humanos modernos. Seriam espécies com um mesmo ancestral imediato? Seria o Neanderthal o antecessor direto do homem? Homo sapiens neanderthalensis e Homo sapiens sapiens ou Homo neanderthalensis e Homo sapiens? Existem duas teorias científicas que tentam dar explicações a essas indagações.
A primeira é a que se baseia na origem africana do homem moderno, segundo a qual o Homo sapiens apareceu na África por volta de 120.000 anos AP e o Neanderthal na Europa há 300.000 anos AP, origens portanto distintas e separadas amplamente na temporalidade. O ancestral comum recuaria a milhares de anos, talvez milhões, no tempo. Por essa hipótese, o Homo sapiens substituiu na Europa o Homo neanderthalis há 30.000 AP.
A segunda teoria, chamada de visão multirregionalista, percebe a transformação evolutiva como uma mudança contínua dentro de uma linhagem geneticamente coesa. Assim, não haveria um rompimento, por exemplo, entre o Homo erectus e o Homo sapiens, pois eles formariam um contínuo evolutivo. Em conseqüência, existiria apenas uma espécie: o Homo sapiens.
A teoria multirregionalista, muito embora pareça se basear numa estranha “unidade entre a humanidade”, na verdade, contém alguns elementos ideológicos perigosos. Quando se fala em uma só espécie atemporal, diante das evidências perfeitamente notáveis entre as formas diferentes de fósseis “ancestrais”, na medida em que não se consideram essas diferenças como sendo de “espécie”, obviamente poderão considerá-las de “raça”. E isso não é novidade nenhuma. Já se foi dito que os “arianos” seriam uma mistura do Neanderthal e Cro-magnon. Por isso, além das evidências científicas que já se mostraram, optamos pela teoria da origem africana.
Importante é ressaltar que, recentemente, foi feita um estudo genético através de análise de DNA de ossos de Neanderthal. O resultado foi que há uma diferença muito expressiva entre o DNA Neanderthal e do homem moderno, para que houvesse possibilidade de cruzamento. No entanto, essa ainda é uma questão em aberto. Mesmo em hipótese contrária, não se saberia dizer se híbridos resultantes teriam a capacidade de reprodução.
Outras questões se colocam em relação ao Neanderthal, que são de difícil explicação, tais como: a humanidade do Neanderthal; a capacidade de inventar um modo técnico IV de produção lítica e as causas do seu desaparecimento. Muitas discussões tem sido feitas e muitas hipóteses levantadas. No entanto, preferimos parar por aqui porque qualquer divagação sobre esses temas seria mera especulação.
Questão relevante é a de como se deu a ocupação do mundo pelo Homo sapiens. Existem também várias teorias a respeito, a maioria apoiada por uma ou outra pesquisa genética. Parte concorda numa única saída humana da África.
Martha Mirazón Larhs, baseada em evidências genéticas, propõe três levas humanas de colonização.
A primeira aconteceu há 100.000 anos a partir da África e foi em direção ao Oriente Médio, onde, segundo Walter Neves, não conseguiram avançar por questões climáticas; o frio era forte demais. Esse agrupamento humano foi constituído pelos proto Cro-magnons, segundo Arsuaga, que desapareceu não se sabe como há 60.000 anos, dando lugar às ocupações Neanderthais, que haviam se expandido para o Oriente Médio a partir da Europa.
A segunda leva saiu da África há 70.000 anos ou 60.000 anos e foi em direção à Austrália, passando pela Ásia. Segundo Walter Neves, o clima tropical favoreceu essa rota. Os descendentes dessa leva são os aborígenes australianos. Provavelmente outras etnias foram influenciadas geneticamente por essa grande migração, como a população Dravítica da Índia atual e mesmo os Sumérios no passado, que, segundo consta, foram resultado de uma imigração oriunda daquela região. Uma ramificação secundária poderia também ter se desviado para as Américas, dando origem a uma população negroide. O fóssil de “Luzia” seria o representante antepassado desse grupo.
Por fim, uma última leva africana em 50.000 AP. Esse grupo já dominava o modo técnico IV, próprio do Paleolítico Superior. Foi essa horda humana que colonizou a Europa, o Oriente Médio, Ásia e Eurásia, passando posteriormente às Américas e substituindo na Europa os Neanderthais.






BIBLIOGRAFIA


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Eduardo Melander Filho



2006

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Marina Melander, uma vida em prol da Educação - Segunda parte

Profa. Marina Melander Coutinho
Jornal "Gazeta de Interlagos" - 14/12/2007 a 20/12/2007


Biografia - Segunda parte





Marina Melander, uma vida em prol da Educação


Eduardo Melander Filho




Em 01/02/96, foi transferida para E. E. Professora Beatriz Lopes de acordo com a reorganização das Escolas Estaduais. Lá exerceu, a partir de 24/06/1996, a função de Coordenador Pedagógico, até a data de seu afastamento por motivo de doença.
Seu ingresso na rede pública municipal foi em 10/02/1992, quando foi nomeada Professora Titular de Ensino Fundamental II, conseguida através de aprovação em concurso público. Assumiu sua titulariedade na E. M. P. G. Dr. Manoel de Abreu. Em 01/02/1996, transferiu-se para a E. M. P. G. Paulo Setúbal (25), onde permaneceu até seu afastamento involuntário. Participou também de muitos eventos e cursos.
Casou-se com Gessé Carvalho de Coutinho em 22 de setembro de 1979. Sua única filha, Tathyana Melander Coutinho, nasceu em 06 de fevereiro de 1984.
A professora Marina Melander Coutinho era possuidora de grande erudição. Conhecedora profunda de lingüística e de filologia compreendia como ninguém nossa língua e nossa ortografia. Mas sua menina dos olhos era a literatura. Possuía uma biblioteca com muitas centenas de livros, uma verdadeira coleção antológica da literatura em língua portuguesa e universal, além de também antológicas obras da filosofia.
Profissional responsável que era, manejava com maestria os recursos do idioma. Mestra competente, dominava não só sua área de conhecimento, mas conhecedora que era também de outras disciplinas, transitava facilmente nos temas interdisciplinares. Seu currículo acumulado demonstra claramente sua intenção do aprender permanente.
Professora por vocação, optou preferencialmente pelo exercício do magistério na escola pública e na periferia da cidade, pois sempre estudou em escolas públicas e localizadas na periferia. Tinha uma relação maternal com os alunos, porém sempre mantendo o princípio da autoridade não autoritária. Sua casa era uma extensão da escola.
Cidadã acima de tudo, transmitia aos seus alunos, com didática e exemplo pessoal, o exercício da cidadania. Trabalhava na formulação de uma consciência crítica. Protestos, sem terras, miséria, violência urbana, destruição do meio ambiente, dívida externa, criminalidade, discriminação, corrupção, movimento operário e outros afins, eram temas preferenciais onde se mesclavam literatura e discussão social.
Educadora que era, referenciava-se em Paulo Freire. Sua inspiração era o livro “Pedagogia do Oprimido”. Utilizava em aula textos de Frei Beto, Leonardo Boff e outros mais do mesmo quilate. Compreendia que a educação é uma forma de intervenção no mundo.
Marina foi uma professora competente, educadora consciente, colega afável, amiga leal, filha dedicada, tia carinhosa, irmã solidária, esposa compreensiva e mãe cuidadosa. Generosa é a palavra mais completa.
A professora Marina Melander Coutinho faleceu no dia 20 de abril de 2001. Em vida, ela fazia constantemente a pé o percurso de três quilômetros que separam a E. E. Profa. Beatriz Lopes da E. M. E. F. Paulo Setúbal. É uma agradável ironia que uma escola localizada nesse mesmo caminho tenha recebido o seu nome.
As últimas palavras que escreveu numa dedicatória no livro “Era dos Extremos” de Eric Hobsbawm, dizia: “Ao meu irmão não posso escrever, mas deixar pensamentos; esses ninguém pode apagar”. Essa frase define o caráter de Marina.






Fontes:


-MELANDER FILHO, Eduardo. Marina Melander, uma vida em prol da Educação. Jornal Gazeta de Interlagos, São Paulo, 06 dez 2007 a 13 dez 2007. Biografia-primeira parte, página 2.

-MELANDER FILHO, Eduardo. Marina Melander, uma vida em prol da Educação. Jornal Gazeta de Interlagos, São Paulo, 06 dez 2007 a 13 dez 2007. Disponível em: < http://www.gazetadeinterlagos.com.br/opiniaodoleitor.html>. Acesso em: 08 dez 2007.


-MELANDER FILHO, Eduardo. Marina Melander, uma vida em prol da Educação. Jornal Gazeta de Interlagos, São Paulo, 14 dez 2007 a 20 dez 2007. Biografia-segunda parte, página 2.


-MELANDER FILHO, Eduardo. Marina Melander, uma vida em prol da Educação. Jornal Gazeta de Interlagos, São Paulo, 14 dez 2007 a 20 dez 2007. Disponível em: <http://www.gazetadeinterlagos.com.br/opiniaodoleitor.html>. Acesso em: 17 dez 2007.






Este texto é a segunda parte da versão reduzida da "Biografia da Profa. Marina Melander Coutinho. Para acessar a primeira parte, entre em: http://edmelander.blogspot.com/2007/12/marina-melander-uma-vida-em-prol-da.html




sábado, 8 de dezembro de 2007

Marina Melander, uma vida em prol da Educação

Marina Melander Coutinho



Jornal "Gazeta de Interlagos" - 6/12/2007 a 13/12/2007


Biografia - Primeira Parte


Marina Melander, uma vida em prol da Educação


Eduardo Melander Filho




Marina Melander, nome de solteira, nasceu no dia 25 de fevereiro de 1953, em Rio Cinzas, município situado ao norte do Estado do Paraná. Filha de Eduardo Melander e de Dona Marina Bastos Melander, era a única mulher dos três filhos do casal. Descendente de imigrantes escandinavos oriundos do II Reich Alemão, germânicos oriundos do Império Austro-húngaro e ibéricos da República de Portugal, Marina era uma mescla étnica e cultural, características essas tão próprias do povo brasileiro.

Passou sua infância em sua cidade natal, a não ser em dois breves períodos alternados em que a família residiu em São Paulo. Rio Cinzas era uma cidade pequena e o ambiente tranqüilo de cidade do interior, o convívio com gente simples, o contacto constante com caldos culturais diversos, tudo isso, influenciaram na formação da sua personalidade.

Iniciou seus estudos formais no Grupo Escolar de Rio Cinzas, onde foi aluna de 1959 a 1961, cursando até a segunda série do primário. Participou também, na época, de um grupo de teatro infantil patrocinado pela Paróquia local.

Completou seus estudos primários na E. A. Dr. Miguel Vieira Ferreira, onde cursou de 1962 a 1963, diplomando-se. Matriculou-se então na E. E. Padre Francisco João de Azevedo, onde freqüentou o ginásio de 1964 a 1967, concluindo-o.

Estudou de 1968 a 1970 no Instituto Estadual de Educação Professor Alberto Conte, onde finalizou o curso de Científico Biologia. Esse foi um período de grande agitação nos meios estudantis e culturais, ocasião em que o governo militar decretou o AI-5. Foi também uma época em que os festivais de música estudantis (secundaristas) aconteceram em vários colégios da região, a exemplo dos grande festivais de MPB. Marina ganhou vários deles como intérprete. Aprovada em concurso vestibular, ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, onde estudou entre 1973 e 1978, diplomando-se ao final do curso. Recebeu os títulos de Bacharel em Letras de Português e Armênio pela Fac. de Filosofia, Ciências e Letras da USP e de Licenciatura de Ensino em Idiomas e Literatura Portuguesa e Armênia pela Faculdade de Educação da USP.

Durante o período de faculdade, Marina cursou várias outras disciplinas, com o intuito de acrescentar mais ao seu conhecimento. Assim sendo, frequentou aulas de Latim, Grego, Sânscrito, Romeno, Tupi Antigo, Toponímia, dentre outras, que lhe deram espaço fundamental no aprofundamento dos estudos linguísticos e filológicos. Em função dessa erudição adquirida, recebeu um convite do governo na República Socialista da Romênia para um curso de pós graduação ao nível de mestrado nesse país e outro de idêntico conteúdo da República Socialista Soviética da Armênia, ambos em regime de bolsa de estudos. Marina gentilmente declinou aos convites, já que não poderia ficar longe de seu país e de seus pais, a quem dedicou-se profundamente até o final de sua vida.

Marina começou a trabalhar desde cedo, aos 14 anos de idade. Mas foi a partir de 1978 que começou a lecionar em regime de eventualidade.

Iniciou sua carreira na rede pública estadual, com sua nomeação para exercer o cargo de professora III em 24/12/1986, como conseqüência de aprovação em concurso público. Assumiu seu cargo na E. E. Professora Vera Athayde Pereira, onde exerceu suas funções até a data de 08/02/1993, quando obteve remoção para a E. E. Padre Francisco João de Azevedo. Nessa nova escola, exerceu a função de Coordenador Pedagógico no período compreendido entre 01/03/1994 a 06/02/1995.


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Fonte:


-MELANDER FILHO, Eduardo. Marina Melander, uma vida em prol da Educação. Jornal Gazeta de Interlagos, São Paulo, 06 dez 2007 a 13 dez 2007. Biografia-primeira parte, página 2.


-MELANDER FILHO, Eduardo. Marina Melander, uma vida em prol da Educação. Jornal Gazeta de Interlagos On Line, São Paulo, 06 dez 2007 a 13 dez 2007. Disponível em: < http://www.gazetadeinterlagos.com.br/opiniaodoleitor.html>. Acesso em: 08 dez 2007.


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Esta é uma versão reduzida da Biografia da Professora Marina Melander Coutinho, que pode ser encontrada em sua íntegra neste Blog.