terça-feira, 10 de novembro de 2009

SAMBAQUIS: DE LIXO DE CONCHAS A CONSTRUÇÃO PROPOSITAL

Escavações no Sambaqui Tamarina em São Francisco do Sul- Santa Catarina

Professor Melander

Os arqueólogos e estudiosos dos Sambaquis no Brasil, que são montanhas de sepulturas cobertas de conchas sobrepostas e datam de 6.000 a 2.000 anos atrás, polemizavam em torno de duas correntes de interpretação. A primeira, denominada naturalista, avaliava os Sambaquis como produto de formação natural, sem interferência do homem em sua constituição. A segunda, artificialista, defendia como produto da intervenção humana.
Superada essa polêmica com a agregação quase que unânime em torno dos artificialistas, surge dentro desta corrente dois novos grupos: aqueles que defendem que os Sambaquis foram formados por sucessivas ocupações, por restos de detritos e de alimentos e aqueles que defendem o Sambaqui como lugar de sepultamento, segregado do local de habitação. A polêmica que se estabelece entre estas correntes, denominadas de “moradia” e de “cemitério”, é a que dá o tom do momento no debate entre os arqueólogos da velha e da nova geração.
Madu Gaspar, Paulo Dantas De Blasis e outros notórios acadêmicos, entendem o Sambaqui como o resultado de um trabalho social ordenado na construção de um marco paisagístico. Gaspar compara o estudo da construção de um Sambaqui com o estudo da construção de uma igreja. Para ela, a grande variabilidade de rituais funerários encontrados nos Sambaquis, nos acompanhamentos funerários e também nos corpos, indica o início de uma divisão social. Esse pensamento faz parte de uma corrente que pensa nos Sambaquis e Aterros, como os Tesos do Amazonas, como construções, portanto, com uma arquitetura proposital. Esse posicionamento intelectual suscita novas reflexões, pois para se construir um monumento paisagístico é necessário que haja uma ordem social que permita tal construção. Uma ordem social mais complexa, onde já se tenha aparecido indícios de divisão do trabalho.Tradicionalmente, as etapas de evolução tecnológica das populações em estudos no passado são classificadas de: paleoíndios, que são organizados em bandos pequenos em regime igualitário; período arcaico, organizados em grupos maiores de caçador-coletores ou coletor-pescadores, também em regime igualitário; e período formativo, organizados em tribos de agricultores ceramistas, igualitárias.
Os Sambaquieiros já foram classificados em todas essas etapas: como bando de nômades, residentes temporários dos assentamentos Sambaquieiros; como pescador-caçador-coletores, inclusive constituindo uma tradição lítica, assim como as tradições Umbu, Humaitá e Itaparica; e como ceramistas, assim como as tradições Tupi-Guarani, Amazônicas, Taquara-Itararé, Una, Aratú e Uru, pois no Maranhão (do Bacanga) há um Sambaqui em que foi encontrada a cerâmica mais antiga da América.
Na perspectiva da construção intencional de um monumento paisagístico, centro funerário de rituais ligados, provavelmente, por comparação etnográfica, ao culto dos antepassados, os grupos sociais não poderiam estar organizados em bandos ou tribos, mas em chefias (intermediário entre tribo e Estado antigo), organizações sociais que reuniam milhares de pessoas, em que também apareceriam diferenciações sociais. Dessa forma, o Sambaqui não pode ser visto como uma unidade isolada, mas sim integrante de um sistema maior de Sambaquis, que envolve toda uma região.
Essa é a grande questão hoje na discussão dos Sambaquis.

FONTES:

MELANDER FILHO, Eduardo. Sambaquis: de lixo de conchas a construção proposital. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 06 nov 2009 a 18 nov 2009. História, p. 2.

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MELANDER FILHO, Eduardo. Sambaquis: de lixo de conchas a construção proposital. Gazeta de Interlagos, São Paulo, 06 nov 2009 a 18 nov 2009. Edição 143, p. 2. Disponível em: <
http://www.gazetadeinterlagos.com.br/>. Acesso em: 10 nov 2009.

Um comentário:

Anônimo disse...

excelente matéria, sucinta, deu me uma nova visão sobre minha pesquisa, parabens. Abraços.